3552 Sem Memórias - Capítulo 6
Quando a porta se abriu, três pessoas vestidas com mantos dourados entraram no vagão, seguindo Teta e Épsilon, cada uma com um estilo próprio que se mesclava ao uniforme. A primeira usava uma máscara teatral representando o gênero da comédia, com a estampa Γ em sua roupa, e empunhava um rifle de assalto.
A segunda usava uma máscara oposta, representando o gênero da tragédia, com a estampa de um I em sua roupa, e carregava um fuzil de precisão semi-automático.
Por fim, a terceira segurava um fuzil de precisão ameaçador e sua máscara teatral era neutra, nem alegre, nem triste, apenas neutra. Ela não usava capuz, permitindo que seu longo rabo de cavalo ruivo fosse visível.
— Vocês demoraram! — reclamou Épsilon.
— Detesto o método de transporte que Alfa está utilizando. Por isso, pedi que ele diminuísse a velocidade — explicou a última mulher a entrar, provavelmente a mesma que havia gritado anteriormente.
— Logo você se acostuma, não tenha medo — tranquilizou a primeira mulher.
— Onde está Mi? — Ela procurava pelo líder da equipe.
— Alfa o enviou para lidar com alguns lacaios. Ele sentiu dois usuários muito fortes da Caveira que foram enviados para o roubo — respondeu Teta de forma ríspida.
— Quantos deles no total? — indagou a segunda mulher.
— Alfa disse que são mais de cinquenta, mas consigo sentir mais de novecentas pessoas no trem. Não posso afirmar com exatidão quantos já foram eliminados por Mi e quais são aliados ou inimigos — esclareceu Teta.
— Aqui você só é útil em situações sem civis. Mas você atuava muito bem em proteger nossos agentes nos atentados terroristas — comentou Épsilon, sentando-se em uma das caixas do vagão.
— E vocês ainda iam explodir o trem e matar todos esses civis inocentes! — intervim, indignado ao saber da presença de civis a bordo.
— Eles não são do nosso povo. Na lista de prioridades, estão em segundo lugar — respondeu calmamente Teta.
— Desde quando ele começou a se importar com os outros? — perguntou a mulher com a máscara da tragédia.
— Gostaria que o irmão dele também tivesse mudado antes de vir para cá, talvez ele ainda estivesse no cargo de Ômega — murmurou Épsilon para Teta.
— Eu te- tenho um irmão? — perguntei, com a voz trêmula, enquanto apoiava o peso do meu corpo em uma das caixas.
— Parabéns, imbecil — disse Teta, virando sua cabeça para Épsilon.
— Ele fala demais e faz de menos — respondeu a mulher com a máscara neutra com desprezo.
— Desculpe, Delta, não foi minha intenção! — Ele falou claramente arrependido.
— Meu irmão, onde ele está? — Ainda havia esperança para mim.
— Temos ordens expressas de não falar sobre nada do seu passado — Falou Delta.
— Mas ele está vivo?
Todos os seis não queriam responder à pergunta. Uma tensão se estabelecia no ar. Eu não tinha coragem de perguntar novamente, e eles também não pareciam ter coragem de me responder. A tensão só cessou quando a porta do vagão se abriu e Mi entrou por ela, segurando várias máscaras de gás.
— Elas chegaram. Os vagões dos passageiros estavam contaminados com gás sonífero. Tomem cuidado. Os tanques de gás já foram desligados; provavelmente não teremos mais problemas, mas mesmo assim devemos nos prevenir — Ele falou, soltando as máscaras no chão.
— O time está completo? — Delta municiou seu rifle.
— Agora estamos com força total. Podemos iniciar nosso plano de tomada do trem. Mi, conseguiu determinar onde Drake está? — disse Épsilon.
— Ele está preso no vagão dos maquinistas. Escutei uma conversa de que ele foi baleado durante um confronto nesse vagão — Mi apontou com sua espada para os diversos buracos de bala.
— E quem será o brilhante líder desse grupo? — questionou Épsilon olhando para Mi e Delta.
— Delta e Mi são os líderes respectivos de seus esquadrões. Vocês devem trabalhar juntos. Atualmente, o número de inimigos é de cinquenta e um. Dois deles são extremamente perigosos. Então vou atualizar a missão: Matar todos os inimigos, resgatar Drake em segurança e recuperar os frascos de adrenalix puros. — Alfa havia tomado controle do segundo cadáver que estava em nosso vagão.
Observando a situação, usei toda a minha coragem e falei:
— Qual o seu interesse em resgatar Drake?
— Drake é um dos poucos generais do exército de extermínio que não se vende por dinheiro. A Caveira dificilmente irá corromper a sua moral. Fico mais tranquilo sabendo que você está seguro com ele.
— O que aconteceu com Ômega? Ele era o meu irmão?
— Ômega é passado, e nós não falamos de passado, nós falamos de futuro.
— A vaga de Ômega continua aberta? — Essa pergunta de Épsilon quebrou completamente minha esperança.
— Sim, continuo procurando um substituto adequado para o cargo. Agora concentrem-se na missão. Nusquam, você veio até aqui para salvar Drake ou salvar a sua consciência?
— Vim salvar os dois. Drake confiou em mim, e eu desejo retribuir isso. — Havia agora uma vontade de lutar intrínseca ao meu coração.
— Nada feito. Quando conversei com você, queria saber os seus verdadeiros desejos. Você ainda não está apto para lutar. Por enquanto, apenas observe. A equipe pode resolver tudo.
— Qual a minha habilidade?
— Você irá sentir quando for o momento certo. Sua primeira dose de adrenalix pode demorar para começar a circular na sua corrente sanguínea. Agora preciso me retirar, tenho outros assuntos para tratar. — O cadáver caiu no chão e voltou à sua posição normal.
Todos respiraram fundo e olharam uns para os outros, esperando que alguém tomasse a iniciativa.
— Vamos criar um plano de combate eficiente? Mi, o que você viu durante o seu passeio? — Delta se sentou ao lado de Épsilon.
— Muito bem armados, fuzis de serviço do exército de extermínio e algumas armas de menor calibre para uso secundário. Não fui capaz de determinar quem seria o líder deles ainda. Outra observação importante são os seus códigos, são números, cada um deles possui um número de identificação.
— Como eles estão organizados? — perguntou Teta.
— Pelo que observei, dois vigias em cada vagão. Ainda existem cinquenta e um inimigos dentro do trem, e existem doze vagões de passageiros antes de se chegar aos vagões principais, onde nossa carga está. — Mi falava enquanto seu relógio de pulso exibia um holograma do trem.
— São então vinte e sete assaltantes nos quatro vagões principais. Eu consigo captar a presença de trinta e uma almas. — Teta apontava no holograma os vagões.
— Podemos concluir que três são os maquinistas e o outro tem uma função desconhecida, talvez um prisioneiro? — disse a mulher com a máscara de teatro da comédia.
— Gama está certa, provavelmente é um refém. Todos os seguranças foram mortos, então não temos que nos preocupar com intervenções externas. — Épsilon recarregava sua arma.
— O cativo seria o general? Mas por qual motivo eles manteriam o general vivo? — Delta estava pensativa sobre os próximos passos da equipe.
— Ele está muito longe para que eu possa determinar se é ele mesmo, mas decorei seus batimentos cardíacos. Então, se chegarmos perto o suficiente, poderei identificá-lo com precisão. — Teta era de todos nós a pessoa mais confiante.
— Eu tenho um plano. Mi deverá ir à frente lidando com os vigias, enquanto eu e Iota daremos apoio com nossas armas de longo alcance. Ao chegarmos nos vagões principais, Mi, disfarçado, poderá ir até a cabine de controle e parar o trem. Teta e Gama poderão, com sua capacidade ofensiva, invadir a cabine e assim resgatamos Drake e a carga — Delta expôs a ideia de combate.
— Esqueceram de mim nesta equação — gritou Épsilon.
— Sua função é a mais simples, fique aqui com Nusquam — respondeu Delta.
— Mas eu quero lutar! — Eu estava determinado a entrar em combate.
— Isso está fora de questão, não insista— repreendeu Mi em tom firme.
— Eu concordo com o plano. Acho que, na situação em que estamos, é a melhor estratégia. É uma pena que Alfa não possua receptáculos dentro das fortalezas, ele poderia facilmente acabar com a nossa missão aqui. — Iota, a mulher que usava a máscara da tragédia, concordou.
— Alguém contra? — questionou Delta à equipe.
— Negativo. — Mi respondeu.
Épsilon foi o único a levantar a mão.
— Você não conta. — Teta resmungou, encarando-o nos olhos.
Épsilon deu um sorriso nervoso e abaixou a mão.
— Todos prontos?
Com a afirmação, sim, de todos, os cinco saíram do vagão em direção à batalha.
Eu queria ir e lutar, mas sabia que se eu fosse para um combate real não teria chances de vencer. Sentei ao lado de Épsilon e ficamos ali, olhando um para o outro até que o trem parasse.
— Eles já conseguiram? — Fiquei surpreso pela velocidade com que eles completaram o plano.
— Com certeza não. Foi outra coisa que parou o trem. — Épsilon abriu a porta lateral e olhou para o lado de fora. O sol brilhava radiante; nós havíamos saído do túnel e não estávamos mais no subterrâneo.
— Onde estamos? — Eu tentava me acostumar com a claridade repentina do dia.
— Parece uma das antigas guaritas de vigia. Antigamente usávamos uma dessas como esconderijo. Existem muitas guaritas abandonadas construídas sobre o caminho da ferrovia, então esse era o destino deles. Enquanto debatíamos sobre o plano, eles pegaram um desvio.
Eu podia ver uma velha rua asfaltada muito desgastada e do outro lado um muro alto de cor cobre e um portão de ferro entreaberto. Mas a paz e tranquilidade daquele local foram interrompidas pelo barulho de armas de fogo; o confronto havia começado.