3552 Sem Memórias - Capítulo 8
A primeira luta pelos “prêmios” estava prestes a começar. Hermes, com suas enormes asas, e Mi, acompanhado de sua espada. Mi retirou seu casaco e o colocou sobre um banco na praça, aproximando-se de Hermes sem desembainhar sua espada.
— Está com medo, espadachim? Não pode acertar o que está fora do seu alcance — provocou Hermes.
— Quando entro em batalha, nunca falo. O silêncio é uma dádiva — respondeu Mi, retirando sua espada da bainha e apontando-a para Hermes.
Hermes voou em direção a Mi em alta velocidade, mas poucos metros antes de alcançá-lo, freou bruscamente, revelando a verdadeira força de sua habilidade. Das suas asas, penas amarelas foram lançadas em direção a Mi, que desviou delas com imensa facilidade, usando sua espada. Para qualquer pessoa desprevenida, seria difícil escapar da velocidade das penas.
— Do que é feita sua espada? Minhas penas, potencializadas pelo poder de Ares, podem perfurar qualquer objeto! — exclamou Hermes, surpreso.
Mi respondeu apenas com um dedo em sinal de silêncio.
Hermes empregava todas as suas artimanhas para tentar atingir Mi, mas todas falhavam. Durante toda a batalha, Mi permaneceu praticamente imóvel, exceto pela mão esquerda que segurava firmemente o sabre.
Hermes voava ao redor de Mi, buscando incessantemente por uma brecha, e suas emoções eram claramente visíveis: raiva e surpresa predominavam em seu semblante. Em uma ação desesperada, Hermes investiu em direção a Mi.
O chão foi manchado de sangue. Na tentativa de expor Mi, Hermes acabou por armar uma armadilha para si mesmo. Mi se esquivou habilmente do ataque de Hermes e conseguiu atingir levemente o braço esquerdo de seu oponente com a ponta de sua espada, causando um corte superficial que fez o sangue jorrar.
Enquanto eu era o único do nosso grupo a vibrar com o golpe bem-sucedido, os demais permaneciam absortos em seus próprios pensamentos. Do outro lado, os membros da Caveira observavam o desenrolar da luta com perplexidade.
A raiva de Hermes era visível em seu semblante. Ao olhar para seu próprio sangue e apontar para Mi, ele gritou:
— Alguns têm seus corações despedaçados por amor, mas o seu será despedaçado por minhas próprias mãos.
Mi não se deixou abalar, mantendo a mesma concentração que tinha demonstrado antes, ele enfrentou os ataques de Hermes com habilidade. Enquanto o chão se enchia das penas lançadas por Hermes, suas asas começavam a encolher a cada investida, indicando que ele estava próximo de seu limite.
Em sua segunda investida, Hermes lançou uma chuva de projéteis na direção de Mi, mas para sua surpresa, Mi havia desaparecido diante de nossos olhos incrédulos, utilizando sua habilidade adrenalix para se camuflar no ambiente.
— Onde você está, verme? — Hermes começava a perder energia, visivelmente exausto.
Então, ele cometeu um erro crucial. Durante toda a luta, Hermes havia mantido uma distância segura de Mi, nunca se aproximando a menos de dois metros, exceto quando avançou em sua arrancada inicial e sofreu um pequeno corte no braço. Agora, tentando localizar Mi e exausto pelo esforço da batalha, Hermes desceu dos céus e interrompeu seu voo.
Nesse momento, ele sangrou novamente. Um verdadeiro fantasma havia surgido no campo de batalha, cortando e retalhando sem ser visto. Utilizando meus conhecimentos básicos sobre a adrenalix até então, deduzi a habilidade de Mi: camuflagem. Como um polvo ou um camaleão, ele se misturava ao ambiente, tornando-se invisível. Hermes, agora ferido em seus braços e asas, em um ato desesperado, lançou suas penas restantes em todas as direções. Uma delas permaneceu suspensa no ar, enquanto um líquido vermelho escorria por ela.
— Acertei! — Hermes vibrava de emoção.
Nesse momento, Mi apareceu exatamente onde a pena havia fincado, incapaz de desviar do ataque de Hermes. Apontando sua espada para ele, Mi avançou com uma velocidade impressionante. Não houve chance de defesa; Hermes caiu no chão gravemente ferido. Mi havia atacado com toda a sua força, enquanto sua perna sangrava devido ao golpe de Hermes, não sendo, contudo, um ferimento grave.
— Encerramos por aqui. — Mi deu as costas para o seu oponente e seguiu em nossa direção.
— Eu ainda posso lutar. — Hermes tentou se levantar do chão, mas sua situação era terrível. Estava exausto pela luta árdua e gravemente ferido na barriga.
— Seus ferimentos são demasiado graves. Se lutar mais, não resistirá a eles. Ainda há muito para viver, quem sabe ter uma família e continuar seu legado. Seu líder já disse para nós o objetivo desse embate, todos nós desejamos evitar mortes desnecessárias.
Mi se aproximou de nós, arrancando a pena de sua perna. Enquanto isso, Hermes foi carregado por seu grupo e levado para ser tratado. O clima estava tenso; embora a batalha tivesse sido curta, fora sangrenta, especialmente para o lado da Caveira. Seus membros discutiam entre si sobre quem seria o próximo a lutar. Ao meu lado, cinco lutadores permaneciam em silêncio desde que entramos na luta, em contraste com a agitação e barulho do lado oposto.
Finalmente, um dos maiores lutadores da Caveira quebrou o silêncio. Com uma imponente estatura e músculos definidos, sua careca brilhava sob a luz do sol. Levantando-se de seu grupo, ele caminhou até o centro da praça e declarou:
— Não me importa quem será meu oponente. Escolham o desafiante.
— Tudo bem, eu me candidato — disse Épsilon, dirigindo-se ao centro da praça, agora marcada por furos e penas.
— Como sou generoso, vou deixar você me acertar primeiro. — O oponente apontou para o seu rosto.
— Pensei que vocês levassem as lutas a sério — zombou Épsilon com desdém.
Assim, a segunda batalha estava prestes a começar. Tínhamos a vantagem de um a zero, mas sabíamos que tudo poderia mudar a partir daquele momento.