A Adaga de Ouro - Capítulo 1
11 de maio de 2040, Frankfurt, Nova Alemanha.
— Awnn! — bocejou o garoto, afastando a preguiça do corpo.
— Thomas, o café já está na mesa. Desça depois de se arrumar! — chamou a mãe do menino, organizando alguns livros na estante. Ela sorria, antecipando a surpresa que havia preparado para o filho.
E assim começava mais um dia na vida de Thomas, com o canto dos pássaros e a brilhante luz do sol invadindo seu quarto.
Após se arrumar, desceu as escadas e procurou por alguém que costumava recebê-lo com festa assim que levantava.
Ao entrar na sala de estar, deparou-se com um homem de cabelos longos ajustando um quadro na parede. Era Marko, seu pai, que tinha um sorriso travesso no rosto.
— Acho que enlouqueci de vez — disse o homem, coçando a cabeça.
— Como assim?
— Como assim, “Como assim?”? — respondeu o homem, deixando o garoto ainda mais perplexo. — Não é todo dia que se vê um fantasma andando pela sala! Eu te vi morrer ontem mesmo!
— Ahn?
— Pensei que nunca mais iria acordar. — O homem se jogou no chão e começou a chorar, claramente atuando e brincando com o fato de Thomas ter acordado tarde para a escola.
— Haha. Muito engraçado, pai — respondeu o menino com sarcasmo.
— Tudo bem! — Marko levantou-se num pulo e, em seguida, continuou falando em um tom mais sério. — Melhor tomar seu café antes que se atrase para a escola.
— Antes de ir… já ia me esquecendo… — Thomas se jogou nos braços de seu pai e lhe deu um rápido abraço. — Bom dia, pai.
— Bom dia também, filho… agora vamos lá.
Thomas seguiu em direção à cozinha com Marko e encontrou nela uma mesa bem posta, com um bolo de aniversário no centro.
Seus pais prepararam uma surpresa, mas como não dava muita importância a essas coisas, não estranhou a falta de menção anterior.
— Surpresa! — exclamaram Marko e Melissa em uníssono.
— Parabéns, filho — disse a mãe, segurando um presente em mãos.
— Feliz aniversário, Gasparzinho! — acrescentou o parente, segurando uma pequena caixa preta com detalhes dourados.
“Que caixa chique!”, pensou Thomas ao ver o presente. Em seguida, agradeceu a seus pais:
— Obrigado, mãe… e pai, sério que o senhor ainda está nessa piada? De qualquer forma, muito obrigado. Amo vocês!
— Aproveite, garoto. Não é todo dia que se faz quinze anos. Vou te contar um segredo: depois disso, os presentes acabam. — Marko lançou um olhar invejoso e falou num tom triste.
Por conta da piada, um silêncio se instaurou no local.
— Enfim! Venha ver os seus presentes e depois tome seu café da manhã. Você já acordou tarde e falta pouco tempo para o colégio. Não queremos que se atrase ainda mais. — Num instante, a mulher acabou com o clima estranho que ficou depois da piada.
— Ok! — O menino abriu um sorriso e fez um sinal de joinha para a mãe, aprovando a atitude dela.
— Sério que vocês vão me ignorar? — disse Marko, insatisfeito.
Enquanto isso, a mulher e o rapaz conversavam entre si, ignorando-o:
— Filho, olha aqui o que eu comprei para você! — Após falar isso, abriu o papel de embrulho do presente e revelou a edição limitada de um livro de contos antigos escrito por Charles Strauss.
— Não acredito que a senhora conseguiu achar esse livro! Obrigado mãe, de novo.
— Ahem! — Marko pigarreou, tentando chamar a atenção para si e, logo depois, começou a expressar sua insatisfação. — Não vou ser deixado de fora assim! Olha aqui, Thomas! Esse é o meu presente para você! — Ele abriu a caixa rapidamente, como se estivesse desesperado, e a colocou bem diante de seu filho.
— O-o que é isso? — perguntou o jovem, intrigado com o objeto.
Dentro da caixa havia uma adaga de ouro tão puro que mesmo uma criança poderia notar a veracidade.
— E então, o que achou? Legal, né? — O homem se animou e, então, sorriu.
Thomas pensou por um instante antes de responder, seu foco foi tomado pela adaga.
Em sua cabeça agora havia uma nuvem de dúvidas: “Onde meu pai arranjou isso? Com que dinheiro? Para que irei usar?”, por isso, resolveu perguntar.
— Pai, eu tenho algumas perguntas. Primeiro: onde o senhor arranjou isso? Segundo: com que dinheiro? Porque nós não somos ricos assim! Terceiro: para que eu vou usar uma faca, ainda por cima de ouro? — Ele não conseguiu conter sua raiva perante o presente, pois achou que se tratava de mais uma das brincadeiras de Marko.
O pai do menino mudou sua feição animada e ficou sério:
— Primeiro: isso não importa! Segundo: não gastei nada, é uma relíquia! Terceiro: você deveria agradecer e não ficar questionando tanto! E não é uma faca, mas sim uma adaga! É muito diferente!
Os dois discutiram como duas crianças, e Melissa, que até então observara calada, se viu obrigada a intervir.
— Calem a boca! — Explodiu de raiva — Céus… essas suas brincadeiras me dão nos nervos. Eu sei que esse é o jeito de vocês, mas acho que às vezes deveriam ter pena de uma jovem e bela moça como eu. — Se acalmou depois de gritar, repousou a cabeça em uma de suas mãos e continuou falando mais calmamente. — Sobre a adaga… Thomas, ela é uma herança da família do seu pai. Trate de aceitá-la bem porque é uma verdadeira relíquia passada entre gerações, embora eu também ache um pouco inútil se não puder vendê-la.
— Ouviu, garoto? Uma “verdadeira relíquia”. Como é que se diz mesmo? — falou Marko, ignorando o último comentário de sua esposa sobre a adaga ser inútil.
— Está bem… muito obrigado. É que eu pensei que era só mais uma das suas piadas.
— Eu aceito as desculpas. Enfim, deixaremos os presentes no seu quarto antes de você sair. Por enquanto, vamos somente aproveitar o momento. — disse em um tom brincalhão.
E assim todos se sentaram à mesa, desfrutando da refeição.
Logo depois, Thomas se despediu e partiu para a escola, carregando consigo a curiosidade sobre o presente misterioso que recebera.
Assim que o jovem saiu, Marko mostrou-se preocupado.
Havia mais naquela adaga do que estava disposto a contar a seu filho e esposa, e ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que revelar a verdade sobre sua família e a herança que o garoto agora carregava.
Naquele momento, ninguém podia imaginar a tragédia que o destino reservava.