A Adaga de Ouro - Capítulo 4
Thomas continuou correndo pela rua principal com a caixa de seu presente em mãos, ocasionalmente desviando de outras amebas menores que encontrava pelo caminho.
À sua frente, era possível ver pessoas correndo, e atrás, a ameba continuava a persegui-lo enquanto devorava o que estava em seu caminho: carros, pessoas e todo tipo de detrito.
O interior do corpo do monstro era como um ácido potente, capaz de corroer qualquer tecido em instantes. Portanto, o que entrava em contato não subsistia por muito tempo.
O garoto conseguiu notar isso ao ver pessoas perdendo os membros quando as criaturas menores conseguiam cobri-los.
Não havia muitas amebas gigantes além daquela que estava perseguindo Thomas. As que havia não estavam muito próximas, mas era possível vê-las mesmo a quarteirões de distância devido ao seu extenso tamanho.
As menores estavam espalhadas atacando os cidadãos, como se tivessem algum tipo de inteligência e coordenação. Por algum motivo, elas não se atacavam.
O jovem continuou tentando despistar o monstro passando por outras ruas e desviando em becos, mas nada o fazia desistir.
“Droga! Esse monstro realmente quer me devorar! Por que ele não desiste?!”, pensou, já quase esgotado de tanto correr.
Ele quase não tinha mais forças para continuar com sua fuga.
Sua esperança estava quase esvaindo, mas continuou correndo.
Passou por mais algumas ruas e becos até que finalmente despistou a ameba.
Ou foi o que pensou.
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A criatura encontrou-o de alguma forma. E não havia mais nenhuma chance de fuga porque sua energia já tinha se esgotado.
Numa última tentativa, olhou para todos os lados para ver se encontrava algo que pudesse ajudá-lo.
Quando estava prestes a ser devorado, viu uma escada de mão num beco entre dois prédios que levava para a primeira plataforma de um lance de escadas que ia do primeiro ao último andar, criando uma espécie de varanda para cada apartamento.
Ignorou o próprio cansaço, segurou firmemente a caixa da adaga, e forçou seu corpo a se mover na esperança de percorrer o curto caminho.
A cada passo que dava, seu corpo parecia estar se rasgando por dentro, e seus pulmões pareciam falhar.
Um esforço desse nível era demais para um sedentário como ele.
“Eu preciso chegar a tempo!”, era esse o seu único pensamento.
O monstro continuou indo atrás dele. Até que, subitamente, cessou a perseguição.
Thomas olhou de relance para trás e viu que a gosma gigante estava parada.
Um alívio percorreu seu corpo, mas foi logo preenchido por terror quando retomou sua visão à frente.
Uma ameba ainda maior apareceu próxima dali, numa rua ao lado direito. Sua largura era o suficiente para cobri-la de uma calçada à outra.
Ao ver isso, o rapaz tentou desviar para a rua à esquerda, mas se deparou com um grande grupo de amebas pequenas.
Felizmente, aquele grupo não notou sua presença por estar atacando outras pessoas, mas aquele caminho com certeza não era uma boa escolha.
Agora, ele tinha apenas duas opções: continuar correndo em direção a centenas de amebas pequenas ou voltar e tentar sobreviver contra duas gigantes.
Nenhuma delas era racional. Ambas levariam eventualmente à sua morte. No entanto, por algum senso de heroísmo, resolveu voltar e enfrentar as criaturas.
“Pelo menos eu posso ganhar algum tempo para outras pessoas fugirem dessas aberrações!”
Então ele voltou e encarou de frente as amebas com um olhar confiante, mas ao olhar para o tamanho delas em comparação com o dele, desistiu até mesmo da ideia de comprar algum tempo.
“Quem eu quero enganar? Eu não vou durar nem um segundo contra esses monstros!”
Não somente a menor, mas as duas agora estavam inertes.
Nisso, Thomas viu uma oportunidade para voltar a correr em direção à escada.
Então ele correu novamente.
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Já estava próximo da escada. Alguns metros e finalmente escaparia desse pesadelo, pois estava confiante de que conseguiria subir as escadas rápido o suficiente para não ser pego.
Pelo que percebeu pelo caminho, as criaturas, mesmo as maiores, não devoravam construções, então ele estaria seguro.
“Eu vou conseguir!”
O que ele não esperava era as amebas voltarem a se mexer.
Naquele momento, as duas começaram a se mexer em ordem.
Primeiro veio a anterior perseguidora, que estava na rua central, e depois a maior, na rua à direita.
Elas iam fechando o rapaz, que não teve outra escolha senão recuar para a rua onde se encontrava o grupo de pequenas gosmas.
O jovem já não conseguia correr tão rápido quanto antes devido ao cansaço. Tanto que tomou apenas alguns metros de distância da escada antes de colapsar no chão por não ter mais força nas pernas.
Isso foi o suficiente para sua perseguidora anterior conseguir chegar perto o bastante para atacar.
“Não há mais o que fazer. Ela vai me devorar! Eu não quero morrer!”
Num último impulso, sabendo que iria morrer, levantou-se do chão, olhou para a criatura e gritou com todas as suas forças:
— Mãe, pai! Eu amo vocês!
Ele sabia que provavelmente ninguém iria ouvir, mas ainda assim gritou.
Talvez não tenha sido por conta de seu grito, mas por um instante, a ameba parou de se mover. E foi devorada pela sua própria companheira.
— Mas o quê?! — Sua surpresa foi tanta que acabou falando em voz alta. Até suspirou de alívio, como se antes tivesse se preocupado sem motivo.
Se tivesse percebido antes a situação em que estava, não teria feito isso.
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As amebas se juntaram e tornaram-se uma só, crescendo o suficiente para chegar no quinto andar do prédio, onde estavam as plataformas.
Naturalmente, a visão da escada fora totalmente preenchida. A única rota de fuga do garoto foi fechada.
Lembranças de toda sua vida vieram à tona; até mesmo coisas simples como o gosto de comidas favoritas na infância.
“Então é assim que você se sente antes de morrer.”
O monstro caminhou em direção ao menino lentamente.
Ele lutava para se manter de pé. Suas pernas tremiam, em parte pelo medo e em parte pelo esforço excessivo.
Apertou firmemente a caixa de sua adaga, que segurou o tempo todo e não abandonou mesmo após cair no chão.
“Pai, eu te agradeço por me dar essa adaga. Provavelmente não será o suficiente para lidar com esse monstro, mas ao menos eu não vou morrer sem lutar… e pensar que eu iria precisar dela algum dia.”, pensou Thomas enquanto abria a caixa e revelava a adaga de ouro.
Em seguida, empunhou a arma em uma das mãos e largou a caixa no chão.
A criatura continuou caminhando.
Thomas levantou a adaga, reta, bem à frente de seu corpo com as duas mãos, na esperança de que, de alguma forma, ao menos conseguisse atingir o monstro antes de morrer.
Seus olhos se fecharam involuntariamente devido ao medo.
E a aberração continuou avançando.
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Naquela rua, o silêncio era quase completo, com exceção do barulho que a ameba fazia enquanto ficava cada vez mais próxima do menino.
— Blurp! Slurp! Blurp! — Esse era o som do monstro se contraindo e relaxando para andar.
O rapaz resolveu abrir os olhos por um instante e viu que a gosma gigante estava quase colada a ele.
Suas mãos começaram a vacilar e suas pernas a ceder.
Para ele, seu destino já estava traçado e estava pronto para morrer ali mesmo.
Afinal, o que uma pequena adaga poderia fazer contra um monstro capaz de devorar carros em questão de segundos?
Assim pensou, mas quando a ameba chegou próxima o suficiente e encostou na adaga, começou a se desmanchar e virar um tipo de líquido ainda um pouco viscoso, mas sem forma.
O garoto não entendeu nada. Apenas caiu de joelhos no chão, exausto.
Não teve muito tempo para descansar, embora. Porque as amebas pequenas já haviam devorado suas presas e notaram a sua presença.
Logo, por conta da dor que percorria todo seu corpo, precisou andar quase se arrastando em direção à escada.
Ele subiu a escada e andou até a plataforma do quinto andar, onde se jogou depois de se certificar que sua adaga estava segura ao seu lado, e ficou deitado.
“O que diabos eu devo fazer agora?”, ponderou por um instante, antes de cair no sono por exaustão.
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Quando acordou, já era noite, e a chuva, que se prolongou por muito tempo, já tinha passado.
Embora seu corpo ainda estivesse rígido, decidiu levantar para ver seus arredores.
Então ele pegou sua adaga, colocou na cintura, embaixo da camiseta, e desceu um pouco na plataforma, aproximadamente até o primeiro andar. Como a arma não estava afiada, não deveria ter problemas em se mover.
Dali de cima, viu que muitas amebas ainda percorriam o perímetro.
Além disso, parecia que o exército tinha se movido para enfrentar a calamidade.
Alguns soldados perambulavam tentando atacar as criaturas com suas armas, mas falharam completamente.
As armas, mesmo as mais potentes, não faziam nada contra elas. Dependendo do tamanho, apenas paravam dentro do corpo delas e eram corroídas ao ponto de desaparecer.
No caso das pequenas, as balas apenas atravessavam.
Nem mesmo as armas de plasma faziam qualquer efeito.
Um grupo enorme apareceu logo depois, e eles não puderam mais resistir. Cem soldados altamente treinados foram completamente exterminados.
O menino assistiu aquela cena aterrorizado.
“Então nem mesmo o exército pode parar aquelas coisas?! Como diabos eu fui capaz de derrotar uma, e ainda daquele tamanho?! Ou melhor, como vou sair daqui se nem o exército consegue?! Uma hora ou outra precisarei sair pra comer. Tenho sorte que esses bichos não sobem aqui, mas ainda preciso dar um jeito de sair. Eu ainda nem passei em casa para ver como está minha mãe. Espero que ela esteja bem.”
Foi exatamente no momento em que pensou nisso que um carro do exército chegou. Nele, havia apenas uma pessoa, aparentemente, um homem de meia-idade.
Thomas observou o homem da plataforma.
Não conseguia imaginar o motivo pelo qual alguém viria sozinho para aquele lugar cheio de monstros. Ainda mais alguém trajado com um uniforme de oficial.
O garoto era capaz de reconhecer esses uniformes pomposos de longe. Alguns parentes de seu pai eram oficiais do exército, então já tinha visto essas roupas antes.
De onde estava, conseguia ver que o oficial estava fumando dentro do carro com uma janela entreaberta.
Esse desleixo, para o jovem, passava um ar de confiança, visto que o homem não estava se preocupando com a imensa quantidade de amebas por ali.
Ao finalizar o cigarro, o homem jogou a bituca pela janela ao lado direito do carro¹, abriu-a um pouco mais e bradou repentinamente, olhando em direção à plataforma onde Thomas estava:
— Até quando vai ficar aí, garoto?! Eu acredito que não queira ficar aí para sempre, né?!
O rapaz não sabia que já tinha sido notado.
O oficial continuou:
— Não abuse da minha boa vontade! Se quiser sair daí então entra no carro logo!
“Não sei se devo confiar num estranho assim, mas ele me parece uma boa pessoa, apesar de falar rudemente. Além disso, ele é do exército então deve ser no mínimo confiável. Não é como se eu tivesse outra opção, afinal. Com o carro talvez a gente consiga passar por essas amebas pequenas e até encontrar minha mãe.”
— Calma aí, já estou descendo! — disse Thomas, já correndo em direção à escada de mão para descer.
As amebas não estavam tão próximas da escada e o carro estava bem perto dela. Isso deu tempo para o jovem correr e entrar no veículo.
O motorista imediatamente deu partida no carro e saiu daquela rua. Depois, seguiu caminho em ruas onde não haviam muitas amebas, para evitá-las.
Dentro do veículo, por alguns minutos, não houve nenhuma palavra. Até que finalmente Thomas abriu a boca:
— O que estava fazendo por aqui, senhor? Não vejo motivo pelo qual alguém iria para um lugar lotado daqueles monstros.
— Essas crianças de hoje em dia, vou te contar, não sabem nem iniciar uma conversa. Não perguntam nem o nome daquele com quem querem conversar e já procuram satisfazer suas curiosidades. Mas eu até concordo em partes quando dizem que essa geração tem ficado mais inteligente — lamuriou em sussurros e aumentou o tom de voz em seguida. — Garoto, vamos começar pelo básico, tudo bem pra você?
— Tudo sim.
— Pois bem. Meu nome é Paul, sou um general do exército e meu sobrenome por agora não importa muito. Se for do seu interesse, basta olhar em meu uniforme. E qual o seu?
— Me chamo Thomas, senhor Paul, senhor!
Ele ficou estupefato ao saber que estava ao lado de um general, por isso, não teve outra reação senão prestar respeito.
Apesar de não gostar muito dos parentes de seu pai, ainda tinha muita admiração pelos homens que se sacrificavam para proteger seu país.
— Então você tem bons modos, hein? De qualquer forma, dispense as formalidades. Há apenas alguns minutos atrás eu lhe tratei informalmente, então acho justo você fazer o mesmo. Bem, você não tinha me feito uma pergunta?
— Sim, senhor Paul, senhor! Perguntei o que o senhor estava fazendo andando em uma área lotada de monstros!
— Já falei pra parar com isso — suspirou e continuou. — Não estava fazendo nada demais. Apenas quis ver com meus próprios olhos o que estávamos enfrentando. Também vim prestar respeito àqueles que morreram em batalha, mas como você deve saber, esses monstros não deixam nem os ossos. Pobres coitados! Não puderam nem deixar algo para suas famílias! — falou em um tom emocional, contrastando com seu usual modo rude de falar.
— Eu vi tudo acontecer bem na minha frente… — Ao lembrar da cena, Thomas quase vomitou. Foi diferente de quando estava correndo e não pôde prestar muita atenção nas pessoas ao seu redor por estar fugindo.
— Ei, ei, ei! Não vá vomitar no carro! — gritou e depois abaixou seu tom. — Garoto, vá se acostumando com isso. Agora, até resolvermos isso, será muito comum ver coisas como essa. Não peço que esqueça das coisas que viu, pois isso seria uma ofensa aos mortos, mas você deve conviver com isso e continuar lutando para sobreviver.
— Sim… senhor… — falou, ainda enjoado.
— Muito bem. Já que respondi o que você queria saber, agora eu tenho uma, não, duas perguntas para você: o que estava fazendo lá, e por que quando cheguei tinha uma enorme poça com a cor daquelas gosmas no chão? Você não precisa responder se não quiser, mas insisto que seja sincero comigo.
O menino ponderou antes de responder: “Será que devo contar a ele sobre como derrotei um monstro gigante sozinho e nem sei como isso aconteceu? Não, provavelmente ele não acreditaria. Então vou só contar uma parte da história.”
— Senhor, eu estava saindo da escola e indo em direção a minha casa quando aquela chuva estranha começou. Quando olhei pra trás, vi uma dessas amebas quase do tamanho de uma casa atrás de mim e não pude fazer nada além de largar minha mochila e correr…
— Então essa foi a gosma que vi por lá? Mas tenho certeza que para cobrir aquela área toda, aquele monstro precisaria ser ao menos maior que uma casa — interrompeu o garoto.
— Não, não. Eu continuei correndo e naturalmente cheguei naquele lugar onde me encontrou. Acabei sendo cercado: tinha uma ameba maior numa rua à direita, à esquerda aquele grupo de amebas e na rua central aquela que estava me perseguindo. Por sorte, os monstros pararam subitamente, mas logo em seguida se juntaram e se tornaram uma ameba maior. Essa provavelmente foi a gosma que o senhor viu. Eu não sei o que aconteceu, mas felizmente a ameba parou como as duas antes e eu consegui subir naquela plataforma. Imagino que o senhor, como um oficial do exército, já tenha essa e outras informações, mas felizmente as amebas não devoram construções. Então eu dormi e quando acordei, aquela poça já estava por lá.
— Entendo. Sua história parece ser verdadeira, mas eu me pergunto… o que é que você está escondendo embaixo dessa camisa? Notei isso há um tempo atrás, mas não conseguia parar de me perguntar o que uma criança comum poderia estar escondendo dessa forma. Não é uma arma, é?
— Isso é… um presente… — sussurrou, levantando a camisa e mostrando a adaga ao oficial.
— Um presente? Hahaha! Pelas barbas de Odin! Quem é que dá uma adaga a uma criança?! Pensando bem agora, ela é de ouro?
— Foi meu pai… e ela é de ouro sim.
— Seu pai com certeza não bate muito bem das ideias! Hahaha! Por que não vende isso? Tenho certeza que daria um bom dinheiro.
— Não fale dele assim. — sussurrou.
— O quê? O que você disse?
— Não fale dele assim, seu desgraçado! Ele nem está mais aqui! — Se irritou com o general e não pôde se conter.
Vendo o erro que cometeu, o general imediatamente se retratou:
— Me desculpa, garoto. Eu não sabia… mas é claro que isso não justifica o que falei. Não deveria ter falado daquele jeito. Espero que possa me desculpar.
Novamente, por mais um tempo, o silêncio reinou dentro do veículo. Dessa vez, quem o quebrou foi o general:
— Está com fome? Aí no porta-luvas tem alguns pacotes de amendoim, se quiser.
Thomas não pôde se dar ao luxo de negar a fome e logo aceitou a sugestão.
Depois de comer, se acalmou um pouco e resolveu continuar a conversa:
— Eu te perdoo. Não tinha como você saber disso. Além do mais, antes dele falecer, eu também achei que era um presente bobo, mas agora é a única coisa que me restou dele… não houve nem mesmo um corpo para enterrar…
— O que aconteceu com o… — Não completou sua fala, com medo de ofender Thomas.
— Com o corpo? Parece que ele sumiu no IML². Começaram a investigar, claro. Mas desde antes do velório até agora, a investigação não trouxe nenhum resultado. — Tinha uma expressão triste e sombria em seu rosto.
— Como uma autoridade, garoto, eu sinto muito. Infelizmente, mesmo nós, autoridades, não somos nada além de simples humanos. Cometemos erros e muitas vezes não conseguimos trazer o resultado que as pessoas esperavam. Apesar disso, depois que tudo isso acabar, Thomas, prometo que com minha posição, mesmo que não esteja ligada diretamente à polícia e aos investigadores, farei o possível para ajudar você e a sua família.
— Obrigado, senhor Paul.
O oficial colocou a mão num bolso, procurando por algo enquanto segurava o volante com a outra, o que fez Thomas pensar em quão antigo era o veículo em que estava, já que a maioria dos carros, mesmo os militares, já eram autônomos e não tinham volante.
Depois de um tempo, achou o que procurava e entregou ao menino, dizendo:
— Aqui, pegue esse relógio holográfico. Ele é de última geração e já tem meu contato gravado nele. Não sei se você já viu ou usou um antes, pois são até que recentes, mas basicamente, basta imaginar o que você quer fazer e apertar a tela do relógio. Um holograma irá surgir emulando visualmente a tarefa que você pensou. Claro que há um limite para isso, mas desde que não seja algo muito absurdo, o relógio com certeza fará. Ligue para mim sempre que precisar.
— Eu já ouvi falar deles antes, mas não são muito caros? Tem certeza que não tem problema me dar um assim?
— Garoto, com quem acha que está falando? Eu sou do alto escalão do exército, é claro que recebo bem. E esse aí eu ganhei de um amigo, mas também tenho o meu, então não se preocupe.
— Então eu aceito. Obrigado — disse, colocando o relógio em seu pulso.
“Vou testar isso mais tarde.”, pensou, animado.
— Bem… até agora eu estava andando em direção a um abrigo seguro do exército destinado aos cidadãos, mas comecei a apenas evitar as amebas porque imaginei que você talvez quisesse passar em outro lugar antes. Então, tem algum lugar que deseja ir?
— Sim. Antes de fugir daquela ameba, eu tentei ir até minha casa para ver como minha mãe estava, mas outras impediram meu caminho e tive que ir para outro lugar.
— Então vamos até lá. Desde que o lugar não esteja cheio desses monstros, creio que não haverá nenhum problema.
Paul continuou dirigindo evitando as ruas onde havia uma grande concentração de amebas.
Seguindo as instruções do menino, chegou na entrada da casa em apenas alguns minutos.
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Os dois olharam bem todo o lugar antes de saírem do carro. Não tinha nenhuma ameba à vista por ali.
O garoto andou até o portão de sua casa e achou estranho o general não estar lhe acompanhando, por isso, falou:
— Você não vem?
— Alguém precisa ficar para avisar caso as amebas apareçam e, já que a casa é sua e quer ver sua mãe, deixa que eu fico por aqui.
— Se é assim…
Ele continuou andando pelo quintal até entrar na casa que, estranhamente, estava com a porta aberta.
Lá dentro, chamou por sua mãe:
— Mãe! A senhora está aqui?!
Mas não foi atendido.
Continuou chamando e andando por toda a casa, mas ainda não obteve nenhuma resposta.
Em seu quarto, nada. No quarto dela, nada. No sótão, nada. No porão, nada. Na cozinha, nada. E foi assim por todos os cômodos, com exceção do banheiro.
Quando adentrou lá, foi surpreendido por uma ameba. Ela tentou lhe atacar com um pulo, mas ele andou para trás e saiu do banheiro, evitando o ataque no susto.
Em seguida, fechou a porta, prendendo a criatura, e se afastou do banheiro em alerta.
Vindo das suas costas, ouviu um barulho e, por instinto, virou-se para ver o que era. Não viu nada. Então decidiu sair da casa por não ter encontrado sua mãe.
“Onde está minha mãe? Ela estava bem aqui! Não é possível que o pior tenha acontecido! Mas tinha uma ameba aqui dentro, então algo pode ter dado errado! Eu preciso sair daqui o mais rápido possível e procurar ela!”
Assim que chegou na porta, voltou a ouvir aquele estranho barulho. Virou-se para trás e viu duas amebas. Elas estavam prestes a atacá-lo.
Gritou por ajuda, mas devido ao tamanho do quintal da casa, levaria um tempo para Paul chegar até ali mesmo correndo.
E esse tempo seria mais que o suficiente para as duas pequenas amebas derreterem ao menos alguns dos membros do corpo do menino.
Mais uma vez, Thomas se viu numa situação de vida ou morte.
Sua experiência anterior ensinou-lhe a não hesitar então, dessa vez, não enrolou e sacou rapidamente sua adaga, segurando-a desajeitadamente com a mão direita.
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Notas
¹ Curiosidade: na Alemanha, eles utilizam a mão inglesa no volante, isto é, ele é localizado no lado direito. Quando o volante fica no lado esquerdo, chama-se mão francesa.
² IML é uma sigla para Instituto Médico Legal. Basicamente, todo país tem um e é uma organização com a função principal de examinar os corpos das vítimas e determinar a causa da morte para ajudar em possíveis investigações. Geralmente, antes mesmo de ir para uma funerária, os corpos dos falecidos são enviados para lá, principalmente, daqueles que morreram por causas não naturais (acidentes, assassinatos, etc.).