A Ascensão do Dragão Prateado - vol. 2 Capítulo 125
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- vol. 2 Capítulo 125 - O outro lado(pt2): Lina e Mia
Chamas intensas cobriram toda a área, transformando o local em um verdadeiro inferno flamejante. Em meio ao caos, duas figuras se moveram de um lado ao outro, parecendo dançar entre as labaredas.
O brilho do fogo iluminou o rosto de uma jovem, revelando seus cabelos vermelhos amarrados em um rabo de cavalo. Seus olhos verdes brilhavam como gemas, refletindo a lâmina presente em suas mãos, bem como aquelas que flutuavam atrás de suas costas.
Uma respiração profunda escapou pelos seus lábios. A movimentação causada pela ação trouxe uma leve sensação de aperto graças ao collant preto com traços em vermelho que envolvia seu corpo.
Do lado oposto a ela, uma mulher permanecia imóvel, com os braços descansando tranquilamente nos lados da cintura. Os cabelos dela também eram vermelhos, mas fluíram livremente, cobrindo seu olho direito.
Uma jaqueta preta se pôs sobre seus ombros, complementando a camiseta branca que ela usava por baixo.
— Já se cansou? — Um sorriso surgiu no rosto de Lorie antes dela levantar a mão, chamando a garota.
— Nem perto! — Chamas vermelho-arroxeadas cobriram a espada nas mãos da jovem, se espalhando também pelas lâminas que flutuavam em suas costas. Cada uma delas se separou, disparando na direção de sua oponente com ferocidade.
— Sério? — Deslizando o corpo levemente ao lado, a mulher atirou um soco na base de uma das ‘penas’ de Mia, desviando o rumo do ataque.
Os projéteis seguintes receberam o mesmo tratamento, alguns sendo desviados pelos punhos de Lorie enquanto outros foram bloqueados com pura força bruta.
O fogo que cobriu as armas nem mesmo incomodou a mulher, e seu rosto permaneceu calmo diante dos ataques.
‘Como ela chamou isso mesmo? [Fúria Angelical] ou algo assim?’
Lorie estava sinceramente lisonjeada pela sua irmã mais nova tomá-la como exemplo até mesmo copiando de algumas de suas técnicas, mas faltou um pouco de vontade na criação do golpe.
‘Talvez eu deva mostrá-la a versão original’
Os punhos da mulher se cerraram mas, antes dela seguir com essa ideia, Mia já havia avançado. Porém, isso não foi o suficiente para surpreendê-la.
Sentindo seu braço catapultando para trás pela força do soco, a jovem endureceu o abdômen, preparando-se para um golpe que não poderia bloquear.
Enquanto o ar escapava de seus pulmões, ela agarrou o pulso de sua oponente, enrolando suas pernas até no ombro dela, imobilizando o membro. Surpreendentemente, Mia não sentiu nenhuma resistência mas, ignorando essa estranheza a jovem direcionou suas espadas na direção de Lorie.
Porém as lâminas nunca alcançaram seu alvo, o qual moveu a mão restante liberando uma torrente de chamas, impedindo os projéteis de alcançá-la.
‘Quente!’
A temperatura aumentou dramaticamente com o movimento, fazendo o rosto de Mia se avermelhar um pouco e suor deslizar pela sua testa.
Ter um contrato com uma fênix aumentou a tolerância dela a altas temperaturas mas, dado que elas não eram exatamente conhecidas pela força de suas chamas e sim pelo seu renascimento, comparado a um dragão ela estava em desvantagem.
As lâminas então retornaram às costas de Mia, se abrindo e permitindo que ela alçasse voo após soltar o braço de sua irmã.
‘O que eu posso fazer? Talvez se…’
Forçadamente parando seus pensamentos, a garota moveu uma lâmina à sua frente, colidindo com força com a bola de fogo atirada por Lorie.
A colisão não foi capaz de bloquear as chamas, mas compraram tempo o suficiente para que ela desviasse do ataque.
Sem tempo para pausa, Mia utilizou duas lâminas em busca de impedir o ataque seguinte, algo que falhou outra vez, enquanto a fênix se deslocou evitando o golpe.
Logo, ao invés de uma batalha um contra um, a disputa se tornou uma luta pela sobrevivência. Os golpes de Lorie se tornaram cada vez mais fortes, aumentando drasticamente a dificuldade para sua oponente.
Chamas novamente banharam o ambiente, acalentando a área e tornando-a múltiplas vezes mais quente.
‘Como eu torno ela forte o suficiente para esmagar aquele pirralho arrogante?’
Sem pausar o ritmo dos ataques, Lorie ponderou silenciosamente. Por um ela genuinamente reconheceu o potencial de Silver, embora ele fosse alguém incrivelmente irritante.
O problema era que, por mais que eles tivessem um acordo para a proteção de Mia, o qual foi cumprido de maneira muito ‘técnica’, seria muito mais fácil torná-la forte o suficiente para defender-se sozinha.
‘E eu nunca mais vou fazer um acordo com aquele merdinha’
— O que você sabe sobre a [Autoridade]? — A mulher perguntou, movendo seu punho liberando uma onda flamejante que partiu o chão, criando uma avalanche de magma na direção da jovem.
— Nada… — Alçando voo mais uma vez, Mia respondeu entre respirações profundas. — Não é como se o nosso pai ou os professores que ele contratou…
As palavras da garota flutuaram no ar por mais tempo que o necessário, já que ela curvou as costas para trás evitando um novo ataque de sua irmã.
Tssst! Uma gota de suor escapou pelo queixo da jovem fênix sendo evaporado imediatamente ao tocar o chão borbulhante do local.
—- Qualquer coisa fora assuntos acadêmicos e etiqueta. — Ao conseguir algum tempo para respirar, Mia concluiu.
Percebendo que seus ataques estavam atrapalhando as respostas de sua irmã, Lorie parou de atacar.
— Bem, você não deveria esperar muito dele de qualquer forma. — O rosto da mulher se contraiu em desgosto. — Já que é assim, vou te dar um resumo.
Por mais que seus golpes houvessem cessado, o mesmo não poderia ser dito sobre Mia.
Avançando rapidamente, a jovem se aproveitou da distração de sua irmã para atacar.
Desviando das estocadas atiradas em sua direção sem problemas, Lorie assistiu enquanto jatos de chamas eram liberados a cada ataque falho, iluminando ainda mais a área.
— Quando o contrato foi completo, você recebeu os poderes do seu espírito certo? — Inclinando levemente a cabeça, a mulher evitou outro golpe. — Mas não foi todo o poder dele. Se fosse, seu corpo não teria se transformado um pouco e sim explodido.
Saltando, Lorie pisou em uma das lâminas que dispararam na sua direção, movendo sua perna em um chute circular para bloquear as demais.
Aproveitando a brecha, Mia mirou na parte central do corpo de sua irmã, usando cada milímetro de seus músculos para atacar rapidamente.
Mas seus olhos refletiram apenas o brilho vermelho-arroxeado de suas próprias chamas, as quais não encontraram seu alvo.
Levantando a cabeça, a jovem viu Lorie flutuando pouco acima de sua cabeça.
‘Não, ela saltou’
Movendo sua espada em conjunto com algumas das lâminas flutuantes, a garota bloqueou um chute de sua irmã.
Foi como se uma montanha tivesse caído na sua cabeça e o chão também não aguentou o impacto, se rachando sob seus pés.
Os olhos vermelhos carmesim de Lorie se encontraram com os verde esmeralda de Mia, e a mulher sorriu antes de retirar o peso do chute.
Sem pensar duas vezes, a garota recuou, recuperando sua respiração.
— Essa parte que você recebeu é o que chamamos de [Autoridade]. — Permanecendo calma, a mulher pousou, continuando seu discurso. — É aí que você me pergunta: Mas, minha irmã, esplendorosamente linda. Como eu consigo o restante dos poderes dele?
Reproduzindo um tom excessivamente irritante, Lorie brincou.
— E eu te respondo: Não sei.
Mia teria dado algumas pancadas nela se isso sequer fosse possível.
‘O que eu fiz para merecer isso?’
Enquanto a garota repensava sua decisão de ter aceito treinar com sua irmã, a mulher seguiu.
— [Contratantes] podem ser uns desgraçados gananciosos, sabia? Levou um bom tempo e dinheiro para aqueles que passaram por um [Despertar] abrirem o bico. — Chacoalhando a cabeça, Lorie pausou antes de esboçar um sorriso.
— Mas eles acabaram falando. Mesmo que a resposta não fosse única, já é um bom início.
Essa era a parte importante, mas não a história completa. O ‘tempo’ mencionado por ela não foi nada menos do que aquele gasto para caçar essas pessoas.
Claro, isso serviu apenas aos que se negaram a responder, os demais realmente conseguiram algum dinheiro no fim.
— De qualquer forma, os [Contratos] nunca foram uma ciência exata, mas haviam três pontos em comum para todas as respostas: frustração, desejo e pressão. — Levantando três dedos, a mulher proclamou.
Lorie semicerrou os olhos, e os orbes carmesins presentes neles foram atravessados por uma fenda obscura.
Frente a um olhar que parecia atravessar sua alma, os ombros de Mia se tencionaram, e sua expressão se tornou igualmente tensa.
— Então eu te pergunto, minha irmãzinha, você está frustrada?
— Sim! — A resposta veio sem hesitação.
Os eventos do início do ano retornaram à mente da garota. Ter sido sequestrada de uma forma tão estúpida, ficando à mercê da vontade de outras pessoas foi apavorante.
‘Talvez se eu fosse mais forte isso não teria acontecido’
Então sim, Mia Rosenfeld estava frustrada.
— Quer se tornar mais forte? — Baixando o dedo anelar, Lorie questionou novamente.
— Sim! — A garota respondeu diretamente.
Força era essencial neste mundo onde elas viviam. Se ela fosse mais forte, talvez eles nem sequer tivessem a coragem de tentar sequestrá-la.
— Então cerre os dentes. — Abaixando os dois dedos restantes, a mulher ordenou. — E pode deixar a pressão comigo.
Se Mia seria capaz de despertar ou não era difícil dizer. Mas, com toda a certeza, a garota sairia mais forte após isso.
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O sol brilhou no centro do céu com todo seu esplendor, mergulhando a flora no solo com seu calor. Os raios dourados atravessaram as folhas das árvores, banhando até mesmo o solo que era protegido pelo seu dossel.
O brilho deu vida às cores vibrantes de todas as formas que a natureza pôde apresentar. Somado ao doce aroma das flores desabrochando e o leve zumbido das abelhas, trouxe uma atmosfera extremamente deslumbrante.
Abraçando este clima, uma borboleta pousou nos dedos de uma garota, exibindo suas asas multicoloridas. Mas esta pausa foi breve; sob o olhar frio da jovem, o animal voltou a voar.
Indiferente ao acontecimento, Lina bateu com seu indicador na mesa, criando um ritmo próprio, expressando sua irritação.
— O que te deixou irritada em um dia tão bonito? — Seguido destas palavras, um homem se sentou ao lado da garota.
— Nada. — Sua resposta seca contradizia suas palavras.
Enquanto servia uma xícara de chá para si, o homem observou as expressões de sua filha. Seus cabelos verdes foram escovados naturalmente pela brisa do local, revelando sua testa franzida e sobrancelhas abaixadas.
— Sei… De qualquer forma, onde está Freud? — Respondendo de forma desconfiada, o homem tomou um gole de seu chá.
— Como se você não soubesse. Ele está com Silver. — Rolando os olhos, Lina respondeu.
Freud era o guarda-costas dela, então para que ele pudesse deixar seu posto, o pai da jovem com certeza teria que ser avisado.
— Bem… Uma certa dríade me disse que seria bom ter o favor do dragão prateado, então que mal tem? — Levantando uma sobrancelha, o homem perguntou.
A algum tempo atrás, a própria Lina disse que Silver seria um bom aliado a se ter. E, como foi o próprio Freud a pedir algum tempo fora do serviço para acompanhá-lo, não havia razão para recusar.
Lina suspirou, desviando o olhar para o horizonte. Embora o homem estivesse certo, isso não diminuiu sua irritação.
— Só porque você tem razão não quer dizer que está certo. — A jovem reclamou. — Freud era o melhor oponente possível para me testar contra oponentes rápidos.
— Sim, mas não existe apenas um tipo de treinamento, certo? — Escolhendo não comentar sobre a primeira frase da garota, ele questionou. — Se você quiser, posso te ensinar uma coisa ou outra sobre minha especialidade.
Olhando para ele, Lina ponderou por alguns instantes. Ela sabia que seu pai era um expert em controle da [Energia espiritual] mesmo sendo apenas um [Variante] e, considerando o quanto ela precisava disso, não parecia uma oferta ruim.
‘Heh, isso foi tão fácil!’
Ela estava realmente irritada com Freud mas, assim que seu pai chegou, Lina imediatamente pensou em como fazê-lo treiná-la e conseguiu com maestria.
— Perfeito! Vamos agora. — A jovem exclamou, se levantando imediatamente.
— Agora? — O olhar do homem se dividiu entre a xícara em suas mãos e sua filha, parecendo relutante em desistir da primeira.
— Agora.
Finalizando a bebida em apenas um gole, ele se levantou, acompanhando a garota pelo jardim.
A dupla caminhou por alguns minutos até alcançar a área com maior número de árvores.
— Acho que aqui já está bom. — Dando uma breve olhada ao redor, o homem assentiu. — Então, quantas folhas você consegue controlar?
— Eu consigo mover por volta de sete troncos ao mesmo tempo ou então, trabalhando apenas com cipós seriam uns dez. — Levando uma mão ao queixo, a garota respondeu.
— Quis dizer folhas, sabe aquela coisinha verde que nasce nos galhos…
— Sei o que é uma folha! Mas por que eu usaria algo assim? — Não havia motivo para tal. Além de serem coisas minúsculas e pouco letais, utilizar troncos ou cipós sempre pareceu mais maneiro.
‘Essa expressão me é familiar’
A face da jovem entregou completamente o que ela estava pensando. Lembrando-se de quando começou o treinamento dela a anos atrás, e Lina fez essa mesma expressão antes de dizer que ‘suar não era coisa de garota’.
E ele entendia completamente. Quando era jovem, após descobrir ser um [Variante] sua primeira ideia não foi focar no controle.
‘Quem quer fazer uma coisa tão entediante?’
— Parece chato, eu sei disso. — Movendo os dedos, uma folha se desprendeu das árvores, sobrevoando a palma do homem. — Mas…
Diversas outras folhas surgiram e, com um movimento de mão, todas dispararam na direção de uma única árvore. Normalmente esse tipo de ação das folhas não poderia ferir nem mesmo uma mosca, no entanto, cada uma delas perfurou o tronco como se fossem facas.
— É útil. E se você preferir, pode usar pétalas de flores no lugar. — Olhando para a garota, ele percebeu que ela estava considerando.
— E enquanto está nisso, consegue regenerar o tronco dessa árvore para mim? Sua mãe vai me matar se ver isso. — O homem tinha um grande carinho pela natureza, mas não se comparava à sua esposa neste quesito.
Caso ela visse o estrago na árvore, ele com certeza a escutaria falar por horas e horas sobre o quão errado era isso.
‘Não que eu tenha medo dela ou algo assim’
Talvez por perceber esse seu pensamento, sua filha o olhou com leve desdém antes de uma coroa de flores surgir em sua cabeça e um vestido branco sobrepor suas roupas anteriores.
Agora com sua [Armadura real], Lina retirou as folhas cravadas no tronco antes de repor a casca destruída.
Mantendo-as no ar, a jovem reuniu mais um punhado de cada folha das árvores ao redor, manipulando-as ao seu bel-prazer.
Observando enquanto sua filha entrava em um estado de pura concentração, o homem se retirou silenciosamente, permitindo que ela continuasse com o treinamento sem interrupções.
Enquanto manipulava as folhas, a irritação da dríade começou a se dissipar, substituída por uma sensação de controle e poder.
O sol continuava a brilhar intensamente, suas sombras dançando ao ritmo do vento e das folhas que Lina controlava. Era um momento de tranquilidade e foco, um contraste com a agitação interna que ela sentia antes.