A Dura Vida de um Recepcionista da Guilda - Capítulo 01
Nos anais da história, sempre são vistos os valentes guerreiros, os intrépidos arqueiros e os poderosos magos. Mas todas essas histórias obscurecem o seu próprio início, nos salões das guildas.
Alef era um recepcionista como qualquer outro, tirando o fato que não era uma gostosona com um puta decotão.
Ele via todos os dias homens tão potentes quanto o fio de suas espadas e mulheres tão suculentas como uma picanha com alho ao ponto.
Ding! Ding!
— Alô?! Recepcionista? Alô?!
Ding! Ding!
O jovem recepcionista estava polindo uma caneca de vidro com esmero, que foi lançada ao ar com o susto do excesso de sinos que tocara.
Crack!
— Ooooh buce… Quero dizer, seja bem vinda, em que posso te ajudar?
Ele reclinou a cabeça para baixo e inspecionou a deusa que estava à sua frente. Cabelo prateado ondulado até a altura da cintura, um par gigantesco de peitos bronzeados, segurados por uma cota de malha e uma anca pronta para a reprodução com uma saia de anéis de ferro.
Engoliu a seco e reparou no olhar da cavaleira, parecia estar indecisa com qual tarefa iria lidar.
— Hmm… Eu e meu grupo queremos aquela tarefa! – exclamou animada, apontando o dedo delicado para um pedaço de papel que repousava no canto do quadro.
— Moça, tem certeza? Essa é a tarefa para derrotar o Rei Sang…
— É essa! Por favor! Por favor! Por favor!
Não havia notado anteriormente, mas por trás dela tinha outras duas garotas, que discutiam alguma coisa entre elas.
Uma era uma elfa com um coque loiro amarrado à cabeça, com um pequeno arco atravessado no peito, a corda fazendo uma pequena divisória entre os seus seios.
A outra era algo irreconhecível, usava um sobretudo que cobria completamente o corpo, sobrando apenas os lábios para imaginação.
Se dirigiu até o quadro e com ímpeto, arrancou o cartaz que a cavaleira havia selecionado.
“Dificuldade, 10 estrelas. É, com certeza elas vão morrer.”
— Certo! Preciso que vocês paguem a taxa de admissão de cinco mil moedas de ouro e me mostrem suas certidões.
Os olhos da garota que estava à frente se arregalaram. Assim como a manteiga derrete na frigideira, a mulher lançou seu decote por cima do balcão e começou a desenhar na madeira um gesto sugestivo.
— Poxa moço… Não consegue um descontinho pra gente não?
— Eu lá tenho cara de feirante, porra?
O rosto dela enrubesceu de ódio, suas bochechas se inflaram como um baiacu. Se virou para as colegas, que puxaram suas carteiras, em uma tentativa de juntar as esmolas.
— Ei, moço, tudo bem? — questionou a elfa, encostando o cotovelo no balcão, enquanto afrouxava o manto, revelando o decote suado e um tanto quanto rosado.
O aroma que emanava da loira era agridoce e picante, Alef enrubesceu e tentou desviar os olhos, sem êxito.
— O-olha. Não sou eu que fico com as taxas, é tudo para a guilda…
A garota desatou o nó, o manto pairou até o chão. Com o rosto avermelhado, começou a respirar de uma forma pesada, emparelhando o delicado rosto com o do recepcionista.
— Ah…ah… e o que mais?
“Alef Junior, segura pra não morrer meu filho, puuul…”
O cheiro da garota se misturou com o hálito doce e refrescante de menta. Em sua mente, havia apenas um macaco tocando tambor em compasso com seu coração.
— Be-be-bem… Deixa eu ver o que po-posso fazer.
– – –
Como uma bala, se retirou para um cômodo que ficava ao fundo da recepção. Encostou na parede e colocou a mão sobre o coração.
Badum! Badum! Badum!
“Caralho, essa foi por pouco, o que essas garotas querem? Esquece essa merda, preciso abaixar o pau.”
Foi caminhando a passos lentos até a mesa da supervisora, enquanto pensava em negões sarados em uma sauna.
Toc! Toc!
Sem resposta. Não era comum a supervisora se ausentar. Aguardou mais um tempo, mas ainda sem resposta. Se virou e caminhou de volta, apenas para ouvir o ranger da porta.
— Ara ara, Alefinho! O que te traz aqui meu amor.
Limiona tinha tetas imensas, que forçavam os botões de seu uniforme ao limite. Não iria demorar até eles dispararem como uma espingarda. Seu curto cabelo roxo caía sobre seus olhos azuis, sua formosura como a de um querubim.
— Hoje não é meu dia de sorte, puta merda — disse cabisbaixo, entregando o papel a sua superior. — Tem um grupo lá fora querendo fazer essa missão, mas não possuem o dinheiro para a inscrição.
Tentava a toda força não olhar os peitos da moça, que parecia ter acabado de uma soneca. Ela balançou a cabeça para um lado, depois para o outro, parou e coçou os olhos.
— Hm… Essa tarefa está no quadro há alguns meses. Informe ao grupo que iremos deduzir os custos mediante o pagamento da recompensa.
— Ah, tudo bem, está certo.
— Mais uma coisa… Você vai ter que acompanhar o grupo na viagem.
— Oi?
— Você vai ir com o grupo — disse ela arrumando os óculos. — Por se tratar de uma missão 10 estrelas, é necessário a supervisão de um membro do comitê da guilda.
Enquanto ela o encarava com um delicioso sorriso preguiçoso, ele se mortificou. Seu rosto estava azul e seus olhos não tinham um sopro de vida sequer.
“Puta merda! Eu vou morrer! Eu vou morrer virgem! Caralho! Porra! Cacete!”
— E-entendi. Obrigado.
— Disponha – disse a sorridente Limiona, em seguida mandando um beijinho voador para Alef, que o derrubou em pleno ar com seu fio olhar.
– – –
Retornou ao balcão cabisbaixo, já havia escolhido um deus e começado a rezar.
— Olha. Consegui um aval especial para essa missão. O valor da inscrição será retirado da recompensa, após a conclusão. Tudo certo?
As três mulheres abriram um sorriso e concordaram com as condições.
— Bom, preciso agora do seus documentos de caça, me passem um por vez, para que eu possa registrar na tarefa.
As garotas já estavam com seus documentos em mãos e, conforme instruído, foram passando seus cartões para o recepcionista.
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Nome: Karla Barwald
Raça: Amazona
Rank: 127
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┌ ┐
Nome: Dafne di Lenora
Raça: Élfica
Rank: 109
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┌ ┐
Nome: Nia Kakudate
Raça: Nekomata
Rank: 108
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Terminou de registrar todos os dados. No final, estava até surpreso, o grupo das garotas era até forte, para uma missão 6 estrelas.
Encheu os pulmões de ar e soltou com um longo e triste suspiro. Passou a mão nos olhos, ainda não acreditando no que teria que fazer.
— Certo, garotas. Vocês estão devidamente ativas na tarefa de derrotar o Rei Sangui…
— Obaaaa! Finalmente! Obrigada, recepcionista, obrigada! — disse em euforia a cavaleira, puxando Alef pela gola de seu uniforme e o soterrando em meio ao bronzeado busto.
Quando Karla se acalmou, soltou o jovem do estrangulamento. Ele de maneira calma e ordenada, puxou um lenço do bolso, prensando-o narina adentro.
“Pafu-pafu, que técnica demoníaca. Quase perdi meu terceiro braço ali…”
— Bem. Quando iremos partir?
— Iremos… partir? — perguntou a arquimaga, até então silenciosa.
— Bem, é um requisito para essa missão o acompanhamento de um funcionário da guilda. Não é optativo.
— OOOOOOOOOBAAAAAAAAA! — rugiu novamente Karla, socando a cabeça do recepcionista em seu peito uma segunda vez. — Bora partir de imediato!
Alef já não estava mais ali naquele instante, sua consciência transcendendo tempo, espaço e todas as suas infinidades. Uma gota de sangue escorreu entre os peitos da cavaleira.
– – –
Pediu para as garotas aguardarem no portão da cidade enquanto buscava seus objetos pessoais em casa, incluindo cuecas, revistas, cantil e o potente canivete Jarbas.
“Puta merda, eu só queria ficar em casa e ler minhas novels. O grande autor Eros Thenke vai publicar mais um volume essa semana!”
— Que bom que todas vocês estão aqui. Creio que esqueci de me apresentar, mas me chamo Alef, serei o seu recepcionista e observador para qualquer momento.
— Eu sou a Karla! Suponho que teremos que te proteger, certo?
Ele coçou a cabeça e sinalizou positivo para a Amazona sobre seu questionamento.
— Eu me chamo Dafne, muito prazer! E essa aqui é a Nia, ela não fala muito com estranhos, então não se preocupe — disse a elfa em um tom amigável, parece que havia esquecido completamente sobre o ocorrido no salão, no começo da tarde.
— Muito prazer, Dafne e Nia! Vamos trabalhar bem juntos.
As duas garotas se entreolharam e consentiram com um sinal da cabeça.
— Bem, pelas informações, teremos que subir até o Monte da Mandíbula do Inferno Flamejante para podermos matar o Rei San…
— Então bora! Vai narrando no meio do caminho!
Com um tapa nas costas, Alef começou a caminhar na frente do grupo, estava completamente sem fôlego para dizer qualquer coisa, então preferiu ir calado.
“Porra, esse rei é um filho da puta em mano? Olha o nome dessa merda de colina, vai tomar no cu.”
– – –
Caminharam por horas, até que o sol já pintava as árvores e o rio de laranja, formando uma linda paisagem do entardecer.
— Garotas, chegamos na entrada do primeiro ponto de segurança, a floresta de Latora. Vamos passar a noite aqui, já está tarde.
— Certo — responderam em uníssono as aventureiras.
— Eu farei uma fogueira, vocês deveriam descarregar seus equipamentos e irem caçar alguma coisa para comermos.
— Deixa que eu faço isso! — exclamou Karla, levantando-se em um pulo e desaparecendo dentro da floresta.
As outras duas encostaram suas armas em um pé de árvore, trocaram algumas palavras e se voltaram para Alef.
— Eu vou tomar banho no rio.
— Ei, espera! Eu também vou Nia!
O silêncio se assentou no acampamento improvisado. Apenas o uivo do vento e o estalar dos gravetos que quebrava preenchiam a campina.
— Ah, paz… Vai ser foda tankar essas minas, puta merda. Toda hora tenho que ficar dando de mordomo. Que saco.
Ele batia as pedras com firmeza, até que finalmente ascendeu a brasa; um grito percorreu a floresta negra e assustadora, perfurando os ouvidos de Alef.
“Oh, merda. Era só o que me faltava.”
Pegou sua faca que estava dentro de sua mochila, assim partindo em direção ao agudo som.
— Aaaaah! Vamo nessa.