A Garota e o Contrato da Espada - Capítulo 17
Em uma sala escura, tudo que se ouve é o tique-taque de um relógio e uma respiração irregular. Na janela, sobre a luz do luar, é possível enxergar algo que se parecia com o longo cano de um fuzil junto a sua empunhadura de madeira.
— Eu sei que você está nervosa, essa é sua última missão antes de voltar para casa. Mas, você deve controlar sua respiração se não quiser errar. Faça como treinamos — Disse uma voz masculina em tom de cochicho.
— Aperta gatilho, soltando a trava do ferrolho — Começou a murmurar uma voz feminina, controlando a respiração entre as palavras — expandindo a mola do pino percursor, levando o pino até a espoleta do cartucho, efetuando o disparo.
Quando ela parou de falar, o silêncio tomou o cômodo, sobrando apenas o som do relógio ao fundo. Em sincronia com o som do relógio, um grande som tomou a sala, que ficou iluminada com o fogo disparado pela arma. Agora clareada, mesmo que por apenas uns milésimos de segundos, foi possível ver a silhueta de uma garota segurando uma longa arma. Apesar dela usar o equipamento para disparos precisos de longa distância, nenhuma luneta foi equipada na arma.
Em uma rodovia movimentada, a alguns quilômetros da sala escura, um homem caucasiano dirigia calmamente seu carro, quando teve seu crânio perfurado por uma bala. O veículo sem direção, segue reto por uma curva caindo para fora da estrada. Causando zero vítimas, além do motorista.
— Alvo eliminado às onze horas, quarenta e cinco minutos e trinta segundos — Disse a garota guardando seu relógio de bolso, que se encontrava pendurado no cano da arma.
Na escuridão, o longo rifle desaparece, dando lugar a uma espada quebrada. A jovem guarda sua diminuta arma em um coldre com formato preciso da lâmina quebrada. Ela se aproxima da janela, para que consiga enxergar melhor que fim seu alvo teve. Revelando na luz do luar, seu jovem rosto, marcado por cicatriz que corre do lado direito da sua testa até a bochecha esquerda. Após analisar calmamente o resultado de sua missão, ela se afasta, soltando seu cabelo, anteriormente preso em rabo de cavalo, de cor carmesim cortado na altura dos ombros.
— Onde era o ponto de encontro mesmo? — Pergunta ela.
— Na cabana leste, como sempre — Respondeu a voz masculina, que parecia vir da espada guardada no coldre.
Em um piscar de olhos, a garota desaparece na escuridão, entrando na própria sombra. Ela foi aparecer apenas alguns quilômetros dali, em uma pequena cabana na margem de um rio. Por dentro o chalé estava vazio, tendo apenas um homem escondido em um canto da sala.
— Relatório? — Perguntou o homem.
— Alvo eliminado às onze horas, quarenta e cinco minutos e trinta segundos, sem maiores dificuldades — Respondeu a jovem em tom robótico.
— Sem maiores dificuldades? Como você pode me explicar o atraso de trinta minutos?
— Houve um engarrafamento na Imigrantes, o alvo ficou preso no trânsito.
— Entendido, da próxima vez faça um relatório completo. Você tem uma semana de folga, tomboy vai te encontrar no bosque como combinado.
— Scarface se retirando — Terminou a garota, que novamente se escondeu nas sombras desaparecendo por completo.
Já havia se passado mais que um ano desde o incidente na torre Vertrag, Evelin passou todo esse tempo treinando e se aperfeiçoando na arte do assassinato. A mando de Issac, seu empregador, ela já havia eliminado mais de quarenta alvos por ação direta. Ela havia se tornado uma nova pessoa desde que saiu de sua cidade natal, por outro lado, alguns pareciam não ter mudado nada nesse meio tempo.
Assim que ela chegou a sua tão amada cidade natal, decidiu visitar primeiramente um lugar que para seu antigo eu teria sido impossível de se imaginar dormindo naquele lugar, mas ela o havia feito com uma certa frequência. Evelin havia retornado ao bosque onde conheceu seus dois únicos amigos.
— Eu voltei… — Suspirou ao inalar o ar fresco da floresta.
— Atrasada — Disse Kaori, ao desferir um golpe certeiro de espada nas costas da garota.
— Merda, eu não consegui sentir sua aura — Resmungou Evelin.
Como se fosse algum tipo de cumprimento normal, a garota de cabelo roxo desferiu um soco na cara de sua amiga que não via há tempos.
— Você ficou mais carrancuda — Reclamou ao recolher seu punho dolorido com o impacto.
— Aprender a levar um soco é a primeira coisa que se deve aprender antes de conseguir dar um — Respondeu de forma automática.
— Não se esqueça que o seu mestre é um cara imortal maluco, ele é capaz de matar você só pra te ensinar a andar de bicicleta.
Ambas riram com o comentário sarcástico e terminaram se abraçando.
— Você não mudou nada Kaori — Comentou Evelin soltando a amiga.
— Pois é, enquanto isso parece que alguém mudo bastante. Ta me copiando é? — Indagou Kaori apontando para os cabelos curtos da garota.
— Eles longos atrapalhavam muito, Issac queria que eu ficasse careca que nem ele.
— Aquele cara é louco, não dá ouvidos a ele, senão vai acabar morrendo.
— Bem eu devo muito a ele então… — Murmurou a garota ruiva olhando pro chão.
— Ei! Você voltou porque já quitou a sua dívida. Agora você pode começar uma nova vida e — Começou a dizer a menina demônio até que algo as interrompeu.
Alguma coisa desferiu um golpe na direção de Evelin, mas quase como instinto ela desviou entrando nas sombras e saindo logo em seguida. As duas garotas se armaram e procuraram pelo seu oponente, mas não conseguiram enxergar ninguém próximo.
— Que merda foi essa? — Indagou Kaori — Eu só percebi ele durante o ataque.
— Ele até que consegue esconder sua vontade assassina bem — Começou a dizer a garota ruiva — Mas, quando não é nem um pouco próximo a sua.
As duas se entreolharam e pareceram fazer algum acordo não verbal, pois ambas acenaram com a cabeça e prepararam um ataque. Estavam olhando para um lado, quando através de uma sincronia perfeita, elas desferiram um ataque na direção oposta, acertando alguém em cheio. Após levar o golpe, o oponente finalmente ficou visível, se tratava de um rapaz vestido com um conjunto de roupas pretas, com pele pálida equipado com algum tipo de faca vermelha cor de sangue. Ele estava seriamente ferido após o golpe duplo
— Clã de Lótus? Por que diabos tem um deles aqui? — Indagou Kaori.
A garota pareceu não prestar atenção no que a amiga falava, com um trocar de posição das mãos a sua espada se transformou em um revólver de ação simples e deu um tiro certeiro na cabeça do oponente já imobilizado.
— MAS QUE MERDA FOI ESSA?! — Exclamou a garota demônio — A gente devia ter, pelo menos, interrogado ele! Não sair matando sem mais nem menos
— Ah… — Murmurou Evelin, como se tivesse lembrado de algo — Foi mal, o Issac não costuma manter prisioneiros.
— Você não é o Issac, não esqueça disso — Disse Kaori apontando para a amiga — Enfim, desde quando você consegue usar esse tipo de arma?
— Eu posso transformar o Gier em qualquer tipo de arma, eu só consigo manter uma imagem mental muito clara e detalhada, por isso só consigo fazer armas com mecanismos simples.
Enquanto elas analisavam a arma, ela rapidamente se desfez voltando para forma de espada quebrada.
— Único problema é que eu não consigo manter essa forma por muito tempo — Disse Gier — Esse cara, você conhece ele?
Evelin começou a bisbilhotar os bolsos do cadáver, não conseguiu encontrar nada, nem mesmo a faca que ele usava. Tudo que ele tinha eram suas próprias roupas, que pareciam ser feitas de um material que pareceu familiar de alguma forma.
— Ele estava usando magia de sangue pertencente ao clã Lótus. Eles são o grupo de demônios de contrato mais obedientes aos humanos, o anonimato é uma das virtudes deles. Por isso, com ele morto vai ser impossível descobrir quem era o mestre — Explicou a garota demônio.
— Mas não importa mais, certo? Se matamos o demônio dele, fica impossível ele vir atrás de nós novamente — Perguntou Evelin.
— Em tese… — Murmurou Kaori — Mas tem alguma coisa estranha, os humanos não deveriam ter acesso a esse tipo de coisa, os segredos do contrato são guardados a sete chaves pelo próprio Senhor Silva.
— Então já sabemos quem procurar primeiro.