A Herança do Assassinato - Capítulo 12
Aquela misteriosa figura mascarada se mantinha em pé e apontando a sua espada contra o quinteto de ladrões, não demonstrando um pingo de medo em lutar contra um número tão grande de inimigos, de uma só vez.
— Recomendo que todos aqueles que não estiverem envolvidos na batalha, voltem para suas casas imediatamente — disse o mascarado.
Ninguém obedeceu, as pessoas estavam curiosas demais para saber o que ia acontecer dali para frente. O que obrigou o mascarado ser um pouco mais agressivo.
— Eu disse para voltarem para suas casas, AGORA.
Uma pressão muito forte e ameaçadora era emanada daquele homem. As pessoas comuns demonstraram uma expressão de terror perante aquilo e até mesmo o brutamontes apático se mostrou surpreendido.
A multidão rapidamente começou a se dispersar, a mulher que tinha sido chutada, mesmo machucada, se levantou e pegou sua filha, porém antes de sair correndo, ela se virou para aquele misterioso justiceiro, com um semblante de medo, porém no fundo tinha um pouco de respeito.
— Obrigada…
Ele permaneceu concentrado aos seus adversários e nem sequer reage ao elogio. Enquanto isso, a mulher correu e entrou para dentro de sua casa, junto do restante da população.
Em questão de segundos as ruas noturnas estavam vazias e com as suas luzes apagadas. Agora a única fonte iluminação, era a grande lua cheia que pairava sobre o céu. Aquelas seis pessoas se encaravam fixamente, iguais a cowboys preparados para dar início ao seu duelo.
O primeiro a dar um passo à frente foi o magricelo, que agora estava com sua espada curta em mãos novamente. Mesmo tendo sido desarmado com extrema facilidade, sua postura arrogante continuava intacta.
— Pelo visto você é bom em pegar os outros de surpresa — disse o ladrão —, porém agora o jogo mudou!
Ele aponta para o restante de seu grupo.
— Nós vamos fazer pu…
— Cale a sua boca, Michael!! — cortou rapidamente o brutamontes — Não nos faça passar mais vergonha do que ainda!!
Para repreender o seu subordinado, aquele homem enorme finalmente quebra o silêncio no qual ele estava, desde o momento que chegou.
— Mas chefe — Michael parecia confuso e assustado por ter sido repreendido tão de repente —, eu só estava…
— Eu mandei você calar a porra da sua boca!!
Assim o fez, obedecendo às ordens de seu superior, que virou o cavalo na direção oposta, se preparando para partir.
— Você fez um discurso tão prepotente, quanto inútil e logo em seguida é desarmado com tanta facilidade — O homem cospe no chão — Você é uma vergonha. Agora acabe com esse estorvo e talvez eu perdoe seus erros.
Michael apertou com força seus punhos, devido a grande raiva que estava sentindo naquele momento.
— Tudo bem, chefe! Não vou falhar com você!
— Assim espero — disse o brutamontes, com um tom de desprezo em sua voz — Acabe logo com esse cara, enquanto isso vamos pilhar essa cidade inteira.
O líder então faz seu cavalo voltar a andar em direção ao centro da cidade e o resto de seus subordinados seguem juntos, deixando apenas Michael e o mascarado para trás.
Se passaram apenas alguns segundos, mas já foi possível ouvir os sonhos dos passos de Michael correndo em direção ao seu adversário com tudo e logo em seguida o som de lâminas colidindo com força umas nas outras, então sendo finalizado por um enorme grito de dor. Os bandidos apenas seguiram em frente, acreditando que aquela era a voz do mascarado, porém alguns instantes processando a informação perceberam algo de errado: aquele grito era do Michael.
Aquela idéia parecia passar pela cabeça de todos os ladrões ao mesmo tempo, que rapidamente viraram suas cabeças para trás e se depararam com o seu companheiro caindo em direção ao chão, em seguida uma enorme poça de sangue começava a se formar ao seu redor.
— Ei Michael!! Para de brincadeira e se levanta!! — gritou um membro do grupo — Michael?
O corpo caído não demonstrou nenhuma reação aos chamados e continuou caído sobre a poça de sangue.
Eles demoraram para entender o que tinha acontecido, devido ao pouco tempo que desviaram seus olhares, mas o que estavam vendo era verdade, Michael estava morto. Além disso, tinha mais alguma coisa estranha, foi aí que perceberam que o mascarado tinha desaparecido e não estava perto do corpo do Michael.
— Para onde vocês pensam que vão?
Novamente aquela mesma voz cruzou as ruas da cidade, porém desta vez vinha da direção para onde os bandidos iriam seguir. Eles lentamente viraram suas cabeças para onde o som vinha e se depararam com algo que não parecia humano.
Dentre as sombras geradas pelas casas, uma figura humanoide se formava, era como se aquele ser fosse feito da própria escuridão, uma espécie de espectro. Então aquela coisa se revela ser o mascarado, com sua espada refletindo a luz da lua e com a capa se desprendendo totalmente das sombras.
— Droga, ele é um mago!! — disse o líder do grupo.
— Chefe, isso significa que ele pode usar magia?! — questiona o que portava um par de pistolas.
— O que mais poderia significar, sua mula?!
Estava claro no tom de voz daquele enorme homem que ele estava nervoso. O seu adversário tinha se mostrado alguém muito perigoso, que tinha derrotado um de seus companheiros com extrema velocidade e mestria.
— Desçam dos cavalos — disse o líder, enquanto fazia isso — Temos que nos livrar desse cara ou não vamos conseguir fazer o que queremos.
Após todos terem desmontado de seus cavalos, imediatamente sacaram suas armas e entraram em suas devidas posições de combate. O que mais impressionava era o brutamontes, que retirou de suas costas uma gigantesca espada de duas mãos, que apesar do mesmo ter um corpo extremamente musculoso e segurar a armas com as duas mãos, ele ainda aparentava ter que usar bastante força para conseguir a empunhar.
Agora pistolas, espadas, machados e adagas estavam sendo apontados para aquele misterioso combatente, que não demonstrou nenhum tipo de hesitação, ao ter tantas armas apontadas em sua direção. Sua postura permanecia firme e pronta para o combate.
Um estranho silêncio instaurou entre aquelas pessoas durante alguns instantes. Aquele momento parecia calmo e tranquilo, porém na cabeça daqueles guerreiros, uma intensa batalha mental estava acontecendo, onde todo e qualquer final era possível. O mínimo erro que alguém cometesse, poderia culminar na sua derrota.
Então o primeiro movimento foi feito.
Um forte estrondo ocorreu quando a pistola efetuou o seu disparo. Um pequeno projétil saiu do cano da arma e voou na direção do encapuzado, que facilmente se esquivou da bala, apenas curvando sua cabeça para o lado.
— Muito lento — disse o encapuzado.
Agora que a batalha realmente tinha se iniciado. Ambos os lados avançaram um na direção do outro.
O homem que portava um par de machadinhas deu o primeiro ataque, efetuando um ágil ataque giratório, que se mostrou inútil quando o mascarado simplesmente saltou e chutou o seu rosto, fazendo com que ele caísse no chão.
Aproveitando da breve distração, um outro bandido, segurando uma adaga, tenta acertar um golpe surpresa pelas costas do seu oponente, porém antes que o fosse atacado, o mascarado percebe a aproximação de alguém e se vira a tempo de bloquear o ataque.
Só que não tinha acabado por ali, ele consegue ouvir o som da pistola se armando atrás dele e logo já entende que iriam tentar outro disparo. Sem pensar muito, o vigilante espalha mana pelo seu corpo, criando o que parecia ser uma espécie de escuridão ao seu redor. Então quando o disparo estava prestes a acontecer, o sujeito se move em uma velocidade inimaginável para o lado, se esquivando com facilidade do tiro e fazendo com que seu adversário anterior fosse baleado no peito.
Ainda com uma forte escuridão cobrindo o seu corpo, o mascarado avança na direção do pistoleiro, na mesma velocidade que tinha realizado anteriormente e antes que o ladrão pudesse reagir ao ataque, o mesmo tem seu peito perfurado pela lâmina da katana. Sangue escorre pela boca do ferido e quando o mascarado retira a espada de dentro de seu corpo, o mesmo cai em direção ao chão, sem vida.
— Certeza que ainda querem continuar?
O mascarado se vira para o seus três últimos adversários, agora já coberto por uma quantidade relevante de sangue. Os que restavam eram o da adaga, que ainda conseguia ficar de pé, mesmo após ser baleado, o das machadinhas e o líder. A raiva em seus olhares era nítida, tinham acabado de presenciar a morte de dois de seus companheiros.
— Eu compreendo a raiva de vocês — A voz do mascarado era calma e fria —, mas isso é apenas resultado de suas ações repugnantes.
O trio já estava tão enfurecido que não conseguia mais dizer uma palavra que fosse. O líder só avançou na direção de seu inimigo, dando um berro de fúria.
O brutamontes segurou com força a sua espada e desferiu um corte vertical na direção do mascarado, que se esquivou, dando um rápido para para o lado, fazendo a espada colidir contra o chão de paralelepípedos e acabar cravada nela. Em seguida o mascarado recebe um ataque duplo de machadinhas. Ele consegue esquivar do primeiro golpe e o segundo ele deflete usando de sua espada, fazendo com que o ladrão abrisse por completo sua guarda e recebesse um grande corte no seu peito, consequentemente uma quantidade enorme de sangue era lançado contra o mascarado.
Ao longe, o portador da adaga observava a cena. O mascarado recuperava sua postura ereta e se virou na direção de seu observador. O que aquele criminoso sentiu naquele momento era algo difícil de se descrever, era como se os instintos de sobrevivência mais primitivos estivessem lhe alertando de que aquele na sua frente era um predador perigoso. Aqueles olhos brilhantes como um lazuli que se escondiam por trás da máscara de raposa, pareciam estar encarando fundo dentro de sua alma.
Uma espécie de comunicação parecia ocorrer sem a necessidade da troca de uma palavra que fosse, o homem apenas largou a sua arma e fugiu usando de seu cavalo.
O brutamontes, enfim consegue arrancar sua espada do chão e se virou para aquele que estava lhe causando todos aqueles problemas.
— Esse covarde!! — A raiva tinha uma grande presença na voz do homem — Da próxima vez que o encontrar com ele com certeza vou cortar sua cabeça fora.
— Eu não o chamaria de covarde e sim de uma pessoa inteligente.
Ambos se encararam por duradouros segundos.
— Você é bom garoto, em respeito a isso vou dizer meu nome, Brulio — disse o brutamontes — Como você usa máscara acredito que não vá me dizer seu nome, mas poderia me falar pelo menos a seu vulgo.
O mascarado se manteve em silêncio, como se ainda não tivesse um nome e estivesse pensando nele agora.
— Você pode me chamar de Fox.
Brúlio deu uma breve risada.
— Meio sem criatividade, mas combina com a máscara — Brúlio entra em posição de combate — Vamos parar com o papo furado e vamos acabar logo com isso.
Fox se protegeu atrás de sua espada e em volta de sua lâmina uma espécie de energia negra começava a se formar. Os dois se encaravam e a mesma batalha mental se formava mais uma vez, porém desta vez era apenas esses dois, os possíveis resultados tinham diminuído drasticamente.
Simultaneamente, os dois avançaram na direção de seus respectivos alvos, preparando os ataques que iriam realizar. Então quando eles já estavam muito próximos, brandiram suas espadas com tudo que tinham. O som do aço colidindo se espalhou por todas as ruas. Agora os dois lutadores estavam parados, um de costa para outros. Entre eles, um objeto muito grande e brilhante caia do céu em direção ao chão, era um pedaço da espada de Brúlio.
Da boca do brutamontes, sangue começava a escorrer e na região de seu abdômen, um enorme corte se revela, manchando boa parte da sua roupa com o líquido vermelho.
Mesmo perante a dor, o homem solta um fraco sorriso.
— Você luta muito bem moleque.
O sorriso se desfaz de seus lábios e Brúlio cai derrotado.
As sombras desaparecem da espada de Fox e após tirar o sangue dela, o rapaz a guardou de volta na bainha. Ao olhar ao seu redor e ver todos aqueles corpos caídos sobre o chão, enfim conseguiu processar tudo que tinha acontecido.
Com o término dos sons de batalha, de pouco em pouco, os cidadãos foram abrindo suas janelas para verem o que tinha acontecido do lado de fora e encontrando quatro corpos caídos sobre as ruas, mas não havia nenhum sinal que fosse do misterioso espadachim que tinha lutado com os ladrões.
Enquanto isso no quarto de Dante, o mesmo estava sentado no chão, encostado na parede, vestindo um longo manto negro negro velho coberto de sangue fresco. O mesmo encarava uma máscara de raposa, que também estava manchada de sangue, colocada sobre o chão e parecia encarar o garoto de volta.
A expressão de seu rosto parecia cansada, mas ainda permanecia com uma expressão apática, os seus cabelos estavam emaranhados. Ele levanta a sua mão, a olhando e lembrando da sua luta que tinha acontecido a poucos minutos, mas seus atos não era o que mais lhe incomodavam, mas sim o que estava sentindo naquele momento, ou melhor, o que realmente estava o incomodando era o que não estava sentindo.