A Herança do Assassinato - Capítulo 19
O reino Ryos finalmente tinha se acalmado após a execução de Jonathan Vicente, acusado de ser o assassino em série conhecido como, o Estripador. O Rei estava tão convicto de que aquele homem era o real assassino, que reabriu novamente os portões.
Dante então começou a arrumar as suas coisas para ir embora. Já teria ficado nessa cidade por mais tempo que deveria.
As cenas do dia anterior ficaram gravadas em sua mente e não saiam de jeito nenhum, isso também se aplicava às sensações.
Ver Jonathan ser morto, mesmo não cometendo crime nenhum era algo horrendo, principalmente ao saber que Jack estava fazendo aquilo de propósito. Será que ele estava tentando atingir Dante de alguma forma? Se isso for verdade, significava que Dante era responsável pela morte daquele homem?
— Não — Dante balançou a cabeça negativamente — Isso não é minha culpa, eu estava apenas tentando sair da cidade e aquele cara tentou me matar, Jhonatan ter morrido não é problema meu.
Em contraste com a sua fala, a imagem de Louise chorando surgiu em sua mente. Mesmo que ela não tivesse nenhuma relação com Jonathan ou sequer culpa quanto à sua execução, ele derramou diversas lágrimas. Isso era algo que Dante não conseguia compreender, mesmo que esforçasse seu cérebro o máximo que conseguisse.
Aquilo já estava lhe proporcionando uma dor de cabeça, então decidiu apenas afastar esses pensamentos.
Quando finalmente conseguiu terminar de arrumar toda a sua bagagem, saiu da estalagem, cruzou as ruas de Ryos e por fim chegou em seus enormes portões. Lentamente Dante os atravessa, deixando para trás a cidade que lhe proporcionou tantos problemas, acreditando que Jack, o Estripador, seria alguém que nunca mais poderia atormentar sua vida e então partindo para o lugar que era seu objetivo desde que deu início a sua jornada: a Capital.
A jornada foi longa, igual às anteriores, porém ele finalmente havia chegado à Capital.
Dante caminhava por uma estrada de terra bastante longa, que cruzava uma densa floresta e que subia uma colina. Julgando a posição do sol, já deveriam ser suas da tarde.
Após mais algum tempo subindo por aquela trilha, Dante chegou ao topo daquele monte e pode se deparar com uma das vistas mais impressionantes da sua vida.
Ela era diferente de todos os reinos que Dante tinha visto antes e mesmo que tenha visto algumas pinturas e descrições da Capital em alguns livros, essa era uma daquelas coisas que você precisava ver pessoalmente para entender sua magnitude.
O primeiro impacto era a falta das muralhas, que tinham em todo reinado, permitindo àqueles que chegassem pudessem ver a cidade logo de cara. A arquitetura das casas também era impressionante, eles utilizavam tijolos e madeiras, formando uma estrutura sólida, possibilitando construir casas de três ou até mesmo cinco andares. As ruas eram grandes e muito limpas, guardas rondavam por elas, verificando se estava tudo em ordem, diferente de outras cidades, eles não vestiam armaduras, mas sim um uniforme de tecido azul.
Todas essas coisas eram muito bonitas, porém tinha algo que se destacava por completo do restante da cidade.
A capital parecia ser construída em volta de uma pequena montanha. Ao redor de sua base tinha sido construída o que era conhecida como Cidade Central, onde as pessoas comuns moravam e montavam seus humildes comércios, porém no topo da colina estava construída a Cidade Alta, lá era onde abrigava a nobreza dos três grandes países, um lugar onde apenas a elite poderia entrar.
A Cidade Alta não parecia ser apenas uma construção, como se fosse o maior castelo já feito em toda a história. Toda a sua estrutura tinha sido projetada pelos maiores arquitetos da época, o que resultou na maior edificação de todos os tempos. O castelo era gigantesco, ele deveria ter o dobro do tamanho dos palácios habituais.
Por mais bela que fosse a cidade, Dante não tinha tempo para ficar admirando, sua missão atual era se estabelecer naquele reino e logo após, conseguir informações sobre a Família River. Então deu retomou a caminhada para dentro do novo reino.
Seu primeiro passo foi procurar por um apartamento que fosse bem barato e depois algum emprego.
Dante então seguiu até uma banca, procurando por algum anúncio, que rapidamente ele conseguiu encontrar. No meio da sua leitura viu a propaganda de uma imobiliária, onde tinha o seu endereço anotado seu endereço logo abaixo.
Vendo isso, ele caminhou em direção ao local indicado. Como aquela era uma cidade muito grande e nova para Dante, ele teve uma certa dificuldade em se locomover, foi preciso consultar o mapa da cidade o tempo inteiro e ainda pedir informações para moradores.
Após algum tempo, Dante encontra a imobiliária e entra na mesma, onde teria sido atendido por uma moça muito simpática.
— Olá senhor, como posso te ajudar?
Dante se sentou e explicou o que estava procurando, mas ocultando certos detalhes de sua história. Por fim, tinha um pequeno apartamento disponível nos subúrbios da cidade, um pouco afastado do centro. Ele era bem simples, mas era exatamente o que Dante queria e o que seu dinheiro poderia pagar.
Ele levou todas suas coisas para o apartamento e durante a viagem, passou em frente a um estabelecimento que parecia um restaurante, seu nome era “Flowers Café” e em sua porta tinha um cartaz dizendo que estavam contratando. Parecia que pela primeira vez as coisas estavam dando minimamente certo para Dante.
O garoto então tomou um banho e vestiu sua melhor roupa para a entrevista de emprego. Um blazer azul meio velho por cima de uma camisa preta, uma calça e sapatos. Amarrou seus cabelos novamente no rabo de cavalo e partiu em direção ao restaurante.
Não demorou para chegar no estabelecimento e quando entrou no mesmo, viu que não era exatamente um restaurante, estava mais para um café. O lugar era bem aconchegante, tinha uma área com sofás e poltronas, junto de algumas estantes de livros. O resto era apenas mesas de restaurante com um balcão de atendimento.
Dante se aproximou do balcão onde residia uma garota, portadora de um longo rabo de cavalo castanho e olhos verdes desbotados, não aparentava ter mais de vinte anos. Ela vestia um colete social preto, por cima de uma camisa branca de mangas compridas.
— Olá senhor, como posso te ajudar? — dizia a garota, com um sorriso simpático em seu rosto.
— Eu vim por causa da vaga de emprego — explica Dante.
— Ah sim, vou pedir para que me siga, vou te levar até a gerente.
— Ok.
A garota sai de trás do balcão e caminha até uma porta com uma placa escrita: “Apenas funcionários”. Dante a seguiu, passando por várias partes do café, como cozinha, depósito e enfim o escritório da gerente.
A jovem entrou primeiro e falou com uma mulher alta, pele negra, grandes cabelos ondulados e castanhos, o rosto tinha algumas rugas de estresse, aparentava já estar na casa dos quarenta.
— Dona Serena, tem um garoto aqui que tá atrás da vaga de emprego.
— Tudo bem, manda ele entrar.
A funcionária então voltou até Dante, informando que o mesmo poderia entrar. Ele fez isso e se sentou na frente da gerente. A mulher tinha postura rígida e encarava Dante com um olhar severo, como se cada movimento dele estivesse sendo julgado.
— Me chamo Serena, e você? — disse a gerente
Com a pergunta, surgiu um pequeno problema. Por mais que os Rivers tentassem manter o seu ramo como assassinos debaixo dos panos, espalhar por aí o seu sobrenome poderia causar intrigas.
— Dante, Dante Severo — informa Dante, mantendo a calma e controlando seu tom de voz, para não transparecer a mentira.
— Muito bem, Senhor Severo…
Serena olhou Dante de baixo a cima, analisando sua postura, roupas e até mesmo o penteado.
— Você parece ser muito novo, quantos anos tem?
— 20.
— Desculpa a minha ousadia, mas você não parece ter tudo isso.
— Eu sei, todos me dizem a mesma coisa, mas eu lhe garanto que estou te dizendo a verdade — mentiria Dante, com uma maestria que chegava a ser assustadora
A mais velha levou a mão até o queixo, com uma expressão pensativa.
— Ainda mora com seus pais? — questionou Serena.
Ao ouvir a palavra “pais”, uma série de flashes vieram em sua mente, lembrando dos dias que passou na mansão da sua família. O treinamento intensivo, o olhar de desprezo de seus deles, tudo isso lhe trouxe à tona diversos sentimentos, como raiva, angústia e tristeza.
Mas ele não podia deixar seus sentimentos transparecerem para aquela mulher. Então ele só respirou fundo e respondeu:
— Não, saí da casa deles a pouco tempo e vim para a Capital à procura de uma vida nova.
— Entendo.
Serena fez mais alguma série de perguntas à Dante e ao terminar, a mesma fez uma expressão reflexiva em seu rosto. Quando estava prestes a dar sua resposta, uma voz feminina e misteriosa a interrompeu:
— Se me permite, eu tenho uma sugestão, Senhorita Serena — disse a voz misteriosa.
Dante se assustou e rapidamente se virou na direção pela qual vinha a voz. Ele então se depara com uma garota jovem, na casa dos 20 anos, cabelos ruivos na altura do ombro, olhos esverdeados e uma pele clara com a neve. A mesma tinha uma postura ereta, como um soldado se apresentando no quartel e também vestia o mesmo colete social que a outra menina.
Dante sentiu um leve calafrio percorrer pelo seu corpo, pois em nenhum momento, desde quando tinha entrado na sala, tinha sentido a presença daquela mulher, era quase como se ela tivesse aparecido de repente.
— Claro Lilyan, pode falar — diz Serena.
Lentamente a ruiva se dirigiu até a sua superior, mantendo sua postura rígida, até o momento que se agachou e começou a sussurrar algumas coisas no ouvido de Serena. Dante não pode ouvir, mas pareciam que eram coisas boas, pois um leve sorriso se abriu no rosto da gerente
— Hum, nada mal — Tinha um certo entusiasmo na de Serena — Você realmente é muito inteligente Lilyan.
A ruiva se afastou do ouvido da gerente, mantendo uma expressão séria no rosto.
— Muito obrigado.
Serena então se virou para Dante.
— Senhor Severo, se importaria de nos acompanhar?
— Hã? Não — diz Dante, mesmo estando meio confuso quanto ao que elas estavam falando.
Dante então caminhou com as duas até um local que parecia ser a porta do vestiário masculino, mas tinha um pequeno detalhe que incomodava: literalmente todas as garotas que trabalhavam no café tinham sido chamadas e agora estavam paradas em frente ao vestiário masculino.
— Se me permite perguntar, o que é isso tudo? — questiona Dante, um pouco desconfortável com a situação.
— Não se preocupe, não é nada — diz Serena, claramente animada — Agora pegue isso e se troque!!
A mulher então entrega um uniforme igual as que as garotas usavam para Dante, porém uma versão masculina. Apesar da grande plateia, Dante precisava do emprego, então entrou e começou a se vestir.
Após algum tempo se trocando, ele finalmente saiu, vestindo um elegante colete e calças sociais, que pareciam combinar perfeitamente com ele. Todas as garotas, exceto Serena e Lilyan, pareciam encarar ele como um certo brilho em seus olhares.
— Está bom, mas pode melhorar — disse Serena — Com licença.
Ela foi até Dante e desfez o seu rabo de cavalo, logo em sequência pegou um pouco de gel de cabelo e puxou os cabelos do jovem para trás, lhe fazendo um pequeno topete.
— Agora está ótimo!!
Dante não entendia ao certo o porquê, mas as meninas o encarava muito fixamente, até um pouco de demais.
— Senhor Severo… — disse Lilyan, que estava encostada na parede, no maior estilo de “bad boy” americano.
— Sim?
— Você está bem elegante.
O elogio o pegou de surpresa, pois quase nunca os recebia. Talvez isso se tenha dado por quase sempre sair em missões com Raphael, então nunca tinha a oportunidade de sair para passear devidamente arrumado.
— Obrigado — responde o garoto meio sem jeito.
Serena abriu um sorriso, empolgada.
— Todos estão satisfeitos?
Todas as meninas levantaram seus polegares de maneira positiva, simultaneamente.
— Ótimo — Serena se virou para Dante — Está contratado Senhor Severo, este uniforme é seu. Você começa amanhã, estará aqui amanhã às oito.
— Muito obrigado, Senhorita Serena!! Não irei desapontá-la!
Ambos se cumprimentaram, Dante vestiu mais uma vez as suas roupas e saiu do estabelecimento. Quando estava prestes a ir embora, mais uma vez cruzou com Lilyan.
Dante achava que tinha alguma coisa estranha naquela garota, pois ela tinha ocultado por completo sua presença na entrevista de emprego. Quando seus olhares se encontraram, o garoto pode perceber um certo nível de ameaça na sua encarada, pelo visto ela também não confiava muito em Dante.
Por breves segundos, uma batalha silenciosa foi travada entre aqueles dois, porém não resultou em nada. Dante apenas saiu do café e voltou para seu apartamento.
Chegando lá, ele colocou o seu novo uniforme sobre sua cama. Para uma pessoa normal, este seria o fim dia, mas para Dante, não havia chegado nem na metade. Ele trocou as roupas, colocou vestimentas mais leves e fáceis de se mover, por cima delas, vestiu sua grande capa negra e para finalizar, colocou no rosto sua máscara de raposa.
Foi até a janela e abriu, viu que os últimos raios de luz do sol estavam começando a desaparecer. Estava na hora de começar a sua investigação e fazer aquilo que tinha que fazer desde do início.