A Herança do Assassinato - Capítulo 20
Dante saiu sorrateiramente pela janela do seu quarto, não fazendo um resquício de som que fosse. Observou as ruas, se certificando que não havia ninguém para servir como testemunha.
Vendo que não tinha nenhuma pessoa nas proximidades, Dante saltou em direção ao chão, pousando com facilidade. Ele não perdeu tempo e correu para um beco, no qual ele se esconde nas sombras.
Aquilo lhe despertou algumas recentes e perturbadoras lembranças, de quando estava preso em Ryos e teve que lutar contra Jack. Um arrepio subiu pela sua espinha, mas logo ele se acalmou. Seus problemas com Jack tinham terminado no momento em que deixou aquele reino, pelo era isso que Dante se forçava a acreditar.
Ele balançou a sua cabeça e voltou a se concentrar no que realmente importava.
Primeira etapa está concluída, pensou o rapaz, agora eu tenho que ir para a parte mais pobre da cidade, lá haverá criminosos para eu conseguir informações.
Se locomover pelos becos seria muito complicado e demorado, pois ele não conhecia o mapa da cidade, então Dante acabaria por dar em muitas ruas sem saída e também se perderia com facilidade. A melhor opção no momento era ir pelos telhados das casas, desta forma teria uma visão mais ampla da cidade.
Assim o fez, concentrou um pouco de mana em suas pernas e saltou de parede em parede. Rapidamente conseguiu chegar ao topo de uma das casas.
O telhado era triangular, o que dificultava um pouco na hora de permanecer em pé, porém, com um pouco de esforço, Dante conseguiu se manter agachado sobre aquela superfície.
O local onde ele estava no momento não era dos mais altos, mas já conseguia lhe proporcionar uma visão milhares de vezes melhor do que se ele estivesse naquele beco escuro.
O sol tinha terminado de se pôr, normalmente um reino comum ficaria bem sombrio durante a noite, porém na Capital era diferente. As noites pareciam ser ainda mais bonitas do que os dias.
As únicas fontes de iluminação que outras cidades tinham, eram as tochas, que não conseguiam proporcionar uma grande quantidade de luz, o que dava às ruas um aspecto muito tenebroso. Só que nesta cidade eles tinham algo chamado “Poste de Pedra Iluminada”. Ele era um grande funil de metal, com uma câmara de vidro, no formato de um dodecaedro e dentro dela tinha um minério chamado “Pedra Iluminada”.
Este era apenas um, dos diversos tipos de “Pedras de Mana” que podiam ser encontradas em Lyrio. Essa pedra conseguia absorver a luz do sol durante o dia, então quando a noite chegava, ela liberava toda a luz que tinha absorvido.
Diversos postes estavam espalhados por toda a Capital, principalmente na Cidade Alta, iluminando aquele poderoso castelo por completo e o tornando muito mais majestoso do que já era. Porém Dante não tinha tempo para ficar admirando aquela paisagem, era hora de trabalhar.
Dante então começou a saltar entre as construções, com uma densa escuridão em volta de seu corpo e vestimentas, fazendo com que sua presença ficasse ainda mais obscura . Quando as sombras se misturavam com seu longo manto rasgado, ele ganhava um aspecto fantasmagórico, como se Dante fosse uma espécie de espectro sombrio.
Bastante tempo se passou, Dante não parou sua busca em nenhum momento, porém ele não conseguia achar a zona mais pobre da cidade, ou com um fluxo maior de indivíduos suspeitos. Era quase, como se aquela cidade fosse completamente perfeita, algo que Dante tinha plena consciência que seria impossível.
Foi então que, em um determinado momento de sua busca, viu uma dupla de homens caminhando por uma rua deserta. Eles vestiam roupas rasgadas e escuras, cada um também estava portando uma espada curta em suas cinturas. Eles pareciam bem alegres, enquanto conversavam sobre alguma coisa que Dante não conseguia ouvir.
Um era baixo e gordinho, com um cabelo raspado, enquanto o outro era alto e magricelo, com cabelos longos, que se estendiam até às suas costas
Com suas presas à vista, mais uma vez Dante se misturou às sombras próximas a ele e consequentemente desaparecendo na escuridão noturna.
— Você acha que esse trabalho vai render uma boa grana? — questiona o magro.
— Confia — respondeu o colega — Aquela velha dorme às nove em ponto e ainda tem que tomar remédio para cair no sono. Depois disso, nem se estivesse rolando uma guerra ela iria acordar.
— Tá bom então, se você está dizendo.
— Isso aí!! Esse roubo vai ser moleza!
Os ladrões nem se preocuparam em fazer silêncio e começaram dar diversas risadas, pois pensavam estarem sozinhos, porém logo descobriram que estavam errados.
A alguns metros à frente daqueles dois sujeitos, as sombras começaram a se comportar de uma maneira estranha e a ganhar a forma de um ser humanoide. Os homens perceberam aquilo e pararam a sua caminhada, tentando entender o que estava acontecendo, para só então perceberam que seus corpos tremiam de tanto medo ao se deparar com um ser desconhecido.
Dante finalmente saiu por completo das sombras, com o seu manto cobrindo todo seu corpo, enquanto balançava ao vento. Sua máscara branca de raposa se exibia por debaixo do capuz, encarando os homens profundamente.
— Q-quem é você?! — O ladrão gordo tentava se demonstrar intimidador, porém estava assustada demais para isso — Tá querendo morrer?!
— Eu quero fazer perguntas… — responde Dante, friamente.
O garoto mascarado começa a caminhar com calma e paciência, em direção aos ladrões, dando um ar elegante a ele, entretanto, da mesma maneira era intimidador. E vendo isso, o magrelo sacou sua espada curta, assumindo uma postura completamente errada e cheia de aberturas, devido ao seu nervosismo.
— Se aproxime mais e eu vou ser obrigado a usar minha espada!! — exclamou o magrelo.
— Fique à vontade.
— Ei!! Cara, espera!! — O mais baixo tentou impedir seu amigo de avançar, mas não foi rápido o suficiente.
Quando o seu colega se deu conta, o ladrão magro já tinha avançado contra Dante tentando perfurar seu peito com a espada, claramente falhando no processo. Dante apenas deu um giro de noventa graus ao redor do seu eixo, se esquivando da lâmina, para em seguida segurar o pulso do homem e utilizando da força do próprio oponente, o derruba e no processo, deslocando o pulso do rapaz.
— Aaarr!! — o ladrão grita de dor, ao mesmo tempo que solta sua espada — Você… você quebrou o meu pulso!!!
— Não, apenas desloquei a junta.
Então Dante ouve passos muito rápidos vindo em sua direção, de uma maneira muito frenética, atrás de suas costas. Já identificando que era uma ataque, quando os sons já estavam bastante próximos, o garoto mascarado se vira de uma maneira muito ágil, acertando uma cotovelada no peito do outro assaltante, que estava preparado para acertar um corte vertical com sua espada.
O golpe de Dante, fez com que todo o oxigênio escapasse dos pulmões daquele homem, o deixando com falta de ar. Respirando ofegantemente, o ladrão larga a sua espada e cambaleia para trás, com uma notória dificuldade em se equilibrar.
— Quem é você? — pergunta o ladrão, assustado.
— Sou apenas uma pessoa querendo informações — Dante lançou um olhar para aquele homem, por debaixo de sua máscara —, e você vai me dar.
O gordo deu uma leve risada.
— Até parece.
Sem nem sequer dar tempo do homem à sua frente perceber o que estava acontecendo, Dante usou de sua mão direita para sacar sua katana com uma velocidade tão extrema, que o assaltante só percebeu a armaQ quando a lâmina estava apontada diretamente para sua garganta.
— O que estava dizendo? — questiona Dante.
— O-o que o senhor gostaria de saber? — respondeu o ladrão, enquanto cada parte do seu corpo estava tremendo de medo
— Me conte onde eu consigo sobre um grupo de assassinos chamado Rivers.
— Então você quer informações, para conseguir mais informações? — O ladrão deu uma leve risada, mesmo estando suando frio e extremamente nervoso — Meio irônico.
Dante não viu nenhuma graça naquela piada e encostou a fria lâmina de sua espada no pescoço do ladrão.
— Tudo bem, tudo bem!! — respondeu desesperadamente o ladrão, levantando seus braços — Tem um lugar nessa cidade onde você pode encontrar todo tipo assassino ou mercenário possível. É só procurar bem.
— Aonde é que fica esse lugar?
Mais uma vez Dante se encontrava caminhando pelos frios e escuros becos da Capital, porém, desta vez ele sabia exatamente para onde que teria que ir. Mais cedo, quando ele estava interrogando um daqueles ladrões, acabou descobrindo algumas coisas muito interessantes.
Existe um lugar escondido das autoridades e até mesmo, de grande parte da população, que é conhecido como “Cidade de Baixo”, tinha dito o ladrão, Lá é onde os piores criminosos de todas as três nações se reúnem. Se os tais “Rivers”, que você procura, forem realmente perigosos, eles vão estar lá, mas eu vou avisando, lá é o lugar mais hostil do continente, se der mole, você vai bater as botas, ou até mesmo, coisa pior.
Seguindo as instruções daquele homem, Dante se guiou através daqueles becos, até que no fim ele chega a um beco sem saída, porém na parede ao fim do corredor havia uma porta de metal, aparentemente trancada. Dante sem nem exitar caminhou em sua direção.
Chegando na passagem, o garoto bateu três vezes seguidas. Por algum tempo um silêncio se instaurou e não houve nenhuma resposta, até que uma abertura retangular surgiu na porta, revelando apenas um par de olhos cinzentos que encaravam Dante fixamente.
— Senha — disse uma voz por trás da porta.
Nesse momento o garoto mascarado se lembrou de mais um detalhe na conversa que teve com o seu informante. Ele havia dito que realmente iriam pedir uma senha e Dante a gravou, para ser usada naquele momento.
— Inferno — respondeu Dante.
A abertura na porta se fechou mais vez, dando lugar ao som de fechaduras metálicas se destrancados, para que a porta fosse finalmente aberta.
Ao entrar, a porta se fecha sozinha, mas ao olhar ao seu redor, Dante percebeu que não tinha mais ninguém naquela pequena sala de pedra.
— Quem então falou comigo?
Esse era um detalhe assustador, mas decidi apenas ignorar e seguir viagem.
Ele então se deparou uma escada que seguia em espiral para baixo, em direção ao subsolo.
O corredor claustrofóbico pelo qual Dante seguia era bem mal iluminado por algumas lamparinas que ficavam penduradas no teto. Conforme ele descia mais frio ia ficando e mais úmidas as paredes ficavam, além disso um forte cheiro, que Dante não soube identificar, invadiu suas narinas. Era como se alguém tivesse misturado amônia e pólvora, para então jogar essa mistura em bacia de álcool. Era horrível.
Apesar dos fatores desconfortáveis, o garoto continuou sua descida por mais tempo. Quando já estava quase desistindo e achando que estava delirando por causa do cheiro horrível, encontrou com uma porta de madeira, dando um fim ao gigantesco lance de escadas.
Por trás dela ele conseguia ouvir diversas vozes, que pareciam ser uma espécie de confusão caótica, devido a quantidade de indivíduos.
Dante então caminhou até ela, porém quando estava prestes a abrir, pela primeira vez, tinha mostrado hesitação.
Ele finalmente poderia viver uma vida normal, tinha um emprego, uma casa, não existia motivos para cruzar aquela porta. No momento que passasse daquele ponto, não teria volta. Foi então, nesse momento crucial, que as memórias de Eliza e Harry vieram à cabeça de Dante como imagens distantes, que o rapaz nunca poderia alcançar, não importasse o quanto corresse em sua direção. Foi então que um remorso tomou conta do seu coração.
Ele tinha que encontrar seu pai e colocar um ponto final a essa história.
Com essa convicção Dante guiou sua mão até a maçaneta e abriu aquela porta, e ao fazer isso, o que ele presenciou naquele momento, ficaria gravado sua alma para sempre.