A Herança do Assassinato - Capítulo 24
Aquele era um ambiente desconhecido, com pessoas desconhecidas. Dante não conseguia ver os sujeitos escondidos, apenas suas silhuetas formadas pelos seus corpos. Era um grupo grande, levando em conta o nível de poder que Miko e seu capitão apresentavam, ninguém ali deveria ser subestimado.
Será que ela me trouxe para uma armadilha? pensou Dante. Caso essa hipótese fosse real, ele tinha que estar preparado para fugir.
O ambiente era bem escuro, uma vantagem para Dante, que poderia usar sua habilidade de se misturar nas sombras poderia sair dali facilmente.
Foi então, que o som de passos agitados surgiu na escuridão, se aproximando cada vez mais do trio. Das sombras surgiu uma garota, vestindo um jaleco branco, porém o que chamava atenção na aparência da menina, eram os seus cabelos. Eles estavam presos em duas Marias-chiquinhas, onde o lado direito era rosa, enquanto o direito era preto preto.
— Meu Deus, o que aconteceu com o capitão?! — Sua voz era bem aguda e imatura, a mesma aparentava ter pouca idade. — Vamos levar ele para a enfermaria logo, Mitsuki!!
A preocupação da jovem parecia tanta que ignoraria completamente a presença de Dante. Após todo o alvoroço, o galpão começou a se iluminar e as figuras antes misteriosas, haviam se revelado. Era um grupo pequeno, deveria ter só cinco pessoas, cada uma se destacando por suas roupas extravagantes e totalmente diferentes uns dos outros.
Havia uma garota alta e de cabelos pretos, vestida com roupas semelhantes a de uma ninja e carregando duas katanas curtas em suas costas, um rapaz de longos cabelos loiros trajado com um terno chique e uma espada pendurada na cintura, antes da chegada de Dante ele parecia estar jogando cartas com um outro cara bem grande musculoso, que vestia roupas de clérigo branca com alguns certos detalhes em dourado. Sentada sobre uma caixa de madeira estava uma garota morena de curtos cabelos encaracolados passando pano na lâmina de uma espada, vestindo um macacão azul por cima de uma camisa branca e por último, um garoto de cabelos pretos deitado sobre um sofá velho com roupas comuns como calça jeans e uma blusa de manga comprida xadrez vermelha, seus olhos estavam fechados e seus dedos se moviam no ar como se o mesmo tocasse um piano imaginário
Agora com o galpão iluminado, Dante pode ver a base em que tinha acabado de entrar e percebeu que ela era completamente amadora e improvisada. O que foi uma surpresa negativa para ele. Haviam diversas pilhas de caixas ao fundo do galpão, formando uma montanha de madeira. Na frente tinha diversos sofás velhos, mesas de jogos nas quais o loiro e o brutamontes se encontravam jogando cartas. Olhando para cima pode ver plataformas de metal, as quais sustentavam beliches e algumas camas improvisadas e ao lado, um local coberto por uma cortina branca, que Dante deduziu ser a enfermaria.
O espadachim observava o local com decepção. Como uma gangue da Cidade Baixa pode ter uma base tão ruim assim?, pensou Dante. Logo seu transe foi quebrado quando Miko respondeu a pergunta feita a ela, gritando escandalosamente:
— Nós fomos atacados!! O capitão acabou sofrendo uma ferida bem grave durante o combate!! Yasmin, ele precisa de um tratamento urgente!!
— Vamos levar ele logo para a enfermaria, eu vou tratar ele imediatamente!!! — respondeu a de cabelo colorido.
A médica correu pelas escadas, indo rapidamente para o segundo andar, enquanto Miko e Dante a seguiam o mais rápido possível, aqueles que antes estavam apenas matando tempo, pararam e ficaram olhando para a situação, com expressões preocupadas em suas faces. Dante por sua vez, achou estranha a história contada por Miko. Por que ela não falou a verdade? Que tinha sido Dante que causou tais ferimentos.
A dupla carregou o rapaz até a enfermaria e deixou o mesmo sobre uma maca, logo mais saíram e a cortina se fechou, deixando a apenas a garota de cabelo colorida ali dentro.
— Então seu nome é Mitsuki… — comentou Dante.
A garota soltou um suspiro ao ouvir isso.
— Isso ia acontecer uma hora ou outra — Mitsuki leva a mão até sua máscara de coelho e a retira, revelando brilhante olhos vermelhos e uma face delicada, diferente do que Dante esperava. — Não sei se eu te agradeço por nos ajudar ou te mato por ferir o capitão daquela maneira.
— Recomendo me agradecer, já que você não seria capaz de me matar.
Mitsuki fechou a sua cara com uma expressão irritada e cruzou os braços.
— Você é bem prepotente para alguém tão ferido.
A garota estava certa. O corpo de Dante estava muito debilitado, passou por duas lutas bem difíceis logo em sequência. Não seria capaz de enfrentar a arqueira naquelas condições.
— Me diga — falou Mitsuki. —, por que está utilizando esta máscara? Elas são a marca registrada da nossa gangue.
— Eu só não sabia, eu tenho essa máscara já faz algum tempo, apenas uso ela para ocultar minha identidade, mas acabou sendo bem mais útil do que eu pensei.
— Você quer que eu acredite que não sabia sobre a nossa gangue e não utilizou nossa reputação como proteção?
— Acredite no que quiser, eu apenas falei o que aconteceu — respondeu Dante, de maneira seca.
Os dois ficaram se encarando por algum tempo, com uma leve inquietação pairando sobre o ar, entretanto eles foram interrompidos pelo som de passos subindo as escadas. Ambos se viraram e avistaram um rapaz se aproximando deles.
Ele era alto, seus cabelos longos e olhos tinham uma coloração amarelada bem fraca, se assemelhando à palha. O mesmo vestia um terno de blazer longo bem limpo e chique, o que era uma vestimenta que se destaca bastante na Cidade de Baixo, onde a maioria usam trapos e roupas mais simples. Sua postura e maneira de andar também eram notáveis, sempre mantendo a cabeça alta e o peito estufado, exalando um ar de confiança, mas ao mesmo tempo, elegância.
— Me alegra saber que você está bem, Mitsuki — disse o loiro, com um tom de voz encantador — E não se preocupe com o César, ele vai ficar bem, aquele é um homem difícil de se matar.
— Não precisa me lembrar disso, James. Também, como tratamento da Lily, ele vai ficar bom rapidinho — A voz de Mitsuki se mostrava mais suave e amigável quando falava com o com o companheiro.
O loiro abriu um pequeno sorriso, sem mostrar os dentes, para a sua colega e logo em seguida se virou para Dante.
— Desculpe, não me apresentei adequadamente — James faz uma breve reverência à Dante. — Me chamo James Wallts, é um prazer recebê-lo em nossa humilde residência e acho que também tenho que agradecer, por ter ajudado a trazer nosso líder de volta em segurança — James voltou a sua postura normal. — Senhor, como posso me referir a sua pessoa?
— Me chame de Fox — respondeu Dante, com sua voz fria e abafada por causa da máscara.
— Vejo que é um homem cauteloso. Tudo bem, eu respeito isso, afinal, estamos na cidade de baixo.
Após o breve diálogo, Mitsuki decide intervir.
— James, será que você poderia nos dar licença? Preciso ter uma conversa particular com o nosso convidado.
— Ah, claro. Então aqui me despeço de vocês — Ele acenou e logo depois começou a descer as escadas, voltando para o restante do grupo.
Agora a sós, Dante estava inquieto, depois de muitos anos teria alguma informação sobre sua família.
— Bom, Senhor Fox — Mitsuki deu um ênfase no nome, pois sabia que não era o seu verdadeiro. A mesma cruzou os braços e apoiou as costas na parede. — Promessa é dívida, eu vou te falar tudo o que eu sei sobre a família River, mas depois disso você vaza daqui, ok?
Dante balançou a cabeça positivamente.
— Como você está a procura dos Rivers, acredito que já saiba com o que eles trabalham e o quanto são perigosos. As informações que se tem sobre eles é muito escassa, eles nunca deixam rastro de seus assassinatos e se você for um alvo, já pode se considerar morto. A reputação deles ecoa por toda a cidade de baixo, e até hoje você é o único que é corajoso e burro o suficiente para rocurar por eles.
— Ok, agora poderia parar de me insultar e falar tudo que já sei? — respondeu Dante, sem paciência alguma. — Eu preciso de algo que seja útil e que me ajude a encontrar eles.
Mitsuki revirou seus olhos e soltou um bufo.
— Como eu mesma disse, esses caras são um completo mistério, só que eu ouvi alguns boatos sobre um possível ponto de encontro entre eles, localizado na zona norte da cidade. Lá é um labirinto em forma de cidade, além do imenso número de ladrões e drogados. Se você quer se esconder, lá é o lugar perfeito — Mitsuki lançou um olhar severo para Dante. — Agora Senhor Fox, cumpra com sua parte do trato e vaza daqui. Não quero que gente do seu tipo se envolva com a nossa gangue.
— Já estava de saída — Dante se virou de costas para sua ouvinte e falou: — Apesar das desavenças, agradeço pelas informações.
A garota permaneceu em absoluto silêncio, e quando Dante estava para partir, as cortinas da enfermaria se abriram rapidamente, revelando a menina com cabelo colorido. Ela mostrava sinais de cansaço, mas tinha uma expressão de alívio em seu rosto. As vestimentas médicas da mesma estavam com algumas manchas de sangue, muito provavelmente devido ao tratamento que ela acabara de efetuar.
— Santo Cristo, que ferimento feio!! Bem que vocês poderiam pegar leve de vez em quando!! Eu fico super preocupada poxa!!! — Yasmin lançava um olhar emburrado para Mitsuki, que foi pega completamente desprevenida. — Vocês saem para patrulha e nem me fala nada, me sinto excluída!! Além de tudo,todo dia vocês têm algum machucado novo, eu sou humana e fico cansada, não sou uma máquina que fecha as feridas de vocês como se não fosse nada!!!
A menina ficou falando sem parar e numa velocidade absurda, parecia que ela ia ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Foi então que Mitsuki cortou sua fala, colocando ambas as mãos no ombro da garota.
— Tudo bem, vamos ser mais atenciosos com você da próxima vez, Yasmin — Mitsuki falava isso com um sorriso meigo no rosto.
— Obrigado — Yasmin responde e se vira para Dante. — Ele foi quem te ajudou a salvar o Capitão, não é? Que tal ele passar a noite aqui?
— Infelizmente ele disse que não vai poder ficar — Mitsuki olhou seriamente para Dante, que apenas encarava a menina de canto. — Não é, Fox?
— Ela tá certa — disse Dante. — Eu já deveria ter ido embora.
O rapaz voltou a caminhar, mas quando desceu o primeiro degrau, sentiu todo o seu corpo pesar de uma só vez. Dante perdeu o equilíbrio e usou do corrimão da escada de apoio. A visão a sua frente estava turva, suas pernas pareciam ser feitas de porcelana. Ele mal conseguia se manter em pé.
Droga, tinha que ser justo agora?!, pensou o rapaz
Yasmin rapidamente foi até Dante, com preocupação em relação ao garoto e foi aí que ela viu a quantidade de machucados que ele escondia por debaixo do manto.
— Isso é horrível, você tá cheio de machucados horríveis!! Precisa receber um tratamento imediatamente!!
As pessoas que estavam na sala, pararam momentaneamente para ver o motivo do alvoroço no segundo andar.
— Não é necessário — respondeu Dante — Eu tô bem. Posso voltar para casa sozinho.
O rapaz tentou descer mais um degrau, porém se não fosse por Lily, que o segurou, Dante teria rolado escada abaixo.
— Mitsuki!! Me ajuda a levar ele para a enfermaria!! — gritou a pequena médica — Ele tá muito ferido, precisa de tratamento imediato!!
Mesmo sendo contra a sua vontade Mitsuki foi ajudar Dante, que devido a quantidade de sangue que tinha perdido, estava começando a ficar inconsciente. As duas garotas o carregaram até a enfermaria, onde Dante viu de relance o ceifador a qual tinha lutado, deitado sobre um dos leitos.
Yasmin então os guiou até uma das camas e deitou Dante nela. A primeira coisa que a menina fez foi cortar a camisa do seu paciente com uma tesoura e logo em seguida foi retirar sua máscara, mas quando estava prestes a fazer, Dante se moveu muito rápido e agarrou com força o pulso da médica, machucando um pouco ela, consequentemente, a assustando.
— Não tire a máscara — disse Dante, em um tom ameaçador.
A médica apenas balançou a cabeça positivamente, se recuperando do susto, Dante por sua vez, largou o pulso dele e aos poucos sentiu sua mente se esvaindo. Não tinha o que fazer, ele estava prestes a desmaiar em um território possivelmente hostil, não podia confiar naquelas pessoas, mas era inevitável. O que iria acontecer depois que Dante apagasse, dependeria apenas de sua sorte. Foi então que tudo escureceu e por fim, Dante perdeu sua consciência.