A Herança do Assassinato - Capítulo 28
Louise ficou bastante surpresa com o garçom a sua frente ser o mesmo rapaz cujo o tinha encontrado a alguns dias atrás na cidade Ryos, entretanto ele não parecia a reconhecer, pois a expressão em seu rosto em se mostrava confusa.
— Desculpe, você não deve se lembrar de mim, sou a Louise, a gente se encontrou uma vez na cidade de Ryos. Nós nos esbarramos no mercado e teve aquele acontecimento — A loira parecia querer evitar encostar em um certo.
— Aahh, agora que eu lembrei — respondeu Dante, mantendo sua frieza de sempre — É uma surpresa agradável ver a senhorita por aqui.
Louise então abriu um sorriso gentil com os lábios.
— Eu digo o mesmo, por acaso você está trabalhando aqui?
— Não pô, ele tá usando o uniforme só para enfeite — intrometeu-se Leonard, com seu tom debochado
Ambos levaram um leve susto com a repentina intromissão de Leonard e olharam para ele, sem saberem o que dizer ao certo, o que acabou por criar um clima não muito agradável entre eles.
— Tá, tá, foi mal!! Só tava me sentindo meio excluído da conversa!
Louise soltou uma risada nervosa, enquanto Dante se manteve completamente apático, sua falta de expressão chegava até mesmo a ser assustadora.
A loira então se virou para Dante e falou:
— Acho que agora você conheceu o meu amigo — Ela estende a mão, apontando para seu acompanhante —, o Leo.
— Opa — Ele acena.
— Olá, é um prazer o conhecer — Dante pegou o bloco de notas que carregava — Bom, vocês já decidiram o que querem pedir.
Após terem informado os seus pedidos, Dante os anotou e se retirou de perto da mesa, deixando a dupla a sós para conversarem tranquilamente. Foi neste momento que Leonard lançou um olhar provocativo para Louise.
— Por acaso ele é algum peguete seu?
O pronunciamento de Leonard acerta a garota em cheio, que fez com o seu rosto rapidamente ganhasse uma coloração avermelhada.
— O que?! Não! — desmentiu a garota, em desespero — Ele é só um conhecido mesmo!!
— Entendi, então não tem problema se eu tentar tirar uma casquinha? — A voz do príncipe soava de forma quase sedutora
— Eu não ligo, não tenho nenhum relacionamento aprofundado com o Dante, não somos sequer amigos.
— Entendi, sorte a minha.
O garoto de cabelos encaracolados lançou o seu olhar para Dante, enquanto o mesmo ia embora, encarando mais especificamente a sua bunda, que mexia elegantemente enquanto o rapaz caminhava.
— É, você não sabe mesmo o que tá perdendo — sussurrou Leonard, em um tom praticamente inaudível.
***
Por outro lado, Dante chega até a cozinha, entregando os pedidos antes feitos e se virou para a mesa de Louise, vendo ela e o rapaz que não conhecia, os observando com cautela. A impressão que a reação de Dante tinha dado a entender, era que ele não havia reconhecido a cavaleira, mas não era isso, ele apenas havia se assustado com a possibilidade de ela ter descoberto sua identidade, entretanto felizmente aparentou ser apenas uma coincidência. Dante nunca esquecerá do belo rosto da mulher que tentou arrancar sua cabeça.
A presença daquela mulher na Capital poderia ser um problema e tanto para a atuação de Dante na Cidade de Baixo. Em seu encontro anterior, era perceptível que ela continha um ódio genuíno contra Fox, e se de alguma maneira ela descobrisse sobre ele, não se sabe do que aquela garota era capaz.
Após um certo tempo de observação — que já estava começando a se tornar suspeito —, Dante se virou, se deparando com Lilyan, parada, também observando Louise, o que o assustou, mas o jovem se manteve firme e se segurou para não cortar a garganta acidentalmente com a faca que guardava em sua cintura. Aquela mulher não chegava nem na altura do nariz de Dante, mas era capaz de causar calafrios nele, que nunca conseguia perceber sua aproximação.
— Namorada? — questionou a ruiva.
— Não. Eu não tenho interesse nesse tipo de coisa.
— Pois deveria, é bom ter um companheiro que você possa dividir parte da sua vida — Dante pode sentir uma leve melancolia que saia junto das palavras de Lilyan, mas que se camuflava em meio tom de voz sério da mesma. — Ficar sozinho não é algo legal.
— E você, Senhorita Lilyan, tem namorado? Porquê da forma que fala, aparenta ter bastante experiência no assunto.
Lentamente a garota virou sua cabeça na direção de Dante, o repreendendo com seu olhar.
— Já devia saber que essa não é uma pergunta que se deva fazer a uma mulher, Senhor Severo — Lilyan se retirou, pisando fundo, fazendo com que o som de seus saltos ecoassem para longe.
Enquanto isso acontecia, Dante permaneceu estático, tentando compreender o que tinha acontecido e se tinha feito algo que pudesse ger irritado Lilyan, entretanto não conseguiu pensar em absolutamente nada. Até que inesperadamente, uma voz surgiu sem aviso prévio.
— Vocês dois são estranhos — dizia uma voz feminina.
Dante logo se virou para quem disse isso, vendo uma garota apoiada no balcão. Ela tinha longos cabelos pretos ondulados, a pele era de um negro bem forte, os olhos tinham uma coloração amendoada, a mesma também vestia o uniforme do café. Aquela era Rayssa, uma das suas colegas de trabalho.
— Como assim? — perguntou Dante.
— É como eu falei, vocês são estranhos — repetiu a garota, dando mais ênfase ao adjetivo — Parece que não gostam de viver em sociedade e se isolam nas próprias cavernas. Isso resulta em momentos como esse, um não se importando com o sentimento do outro.
Novamente, Dante não compreendia os significados daquelas palavras.
— E quando eu sei que eu estou sendo impertinente?
— Ah, sei lá!! — Rayssa parou de se apoiar no balcão e se preparou para ir embora, aparentando também estar meio estressada, mas antes ela disse: — Tenta se colocar no lugar do outro, imaginar se o que você vai falar ou fazer vai magoar a outra pessoa.
— Isso parece ser algo bem difícil… — Dante não exibia motivação.
— E é sim, mas pra ser alguém legal, a gente tem que se esforçar.
Rayssa então se retirou, deixando Dante sozinho, perdido em meio aos seus pensamentos. Ele ainda não conseguia entender o por que os sentimentos das outras pessoas deveriam ser coisas as quais ele deveria se preocupar. Mesmo não entendendo esse conceito, o rapaz se lembrou de uma pessoa que poderia o ajudar a compreender melhor esse assunto.
***
Depois de terem comido deliciosas panquecas com mel e tomado um refrescante suco de laranja, Louise e Leonard se retiram do Flowers Café, agora com energia o suficiente para durarem o resto de seu dia.
— Nossa, que negócio bom foi esse? — disse Leonard, com bastante euforia.
— Que bom que você gostou, eu adoro a comida daqui. Sempre que posso, venho comer aqui — respondeu Louise.
Imediatamente Leonard lançou um olhar semicerrado e um sorrisinho bobo para Louise, que não tinha entendido o porquê daquilo.
— Saquei, então sempre que você pode você vem aqui para o garçom bonitão de dar uma comida gostosa? Minha nossa senhora, Louise, você tá bem safadinha pro meu gosto.
A loira simplesmente congela por alguns segundos, pois seu cérebro coberto por pureza e inocência estava se recusando a aceitar que tais palavras profanas que tinham adentrado em seus ouvidos. O corpo da garota subiu bastante a sua temperatura de uma só vez e a cor vermelha tomou conta do seu rosto.
Enquanto o príncipe dava risadas da reação de sua amiga, ele nem pôde perceber o punho de Louise, que voou em sua direção, acertando com extrema força o seu braço.
— Aaauuu!! — gritou Leonard — Com essa força você podia ter quebrado algum osso meu… de novo!!
— Affe — bufou Louise — Se você não fosse um membro da realeza eu ia te esganar até que você parasse de respirar!
— Tava só brincando, não precisa dessa agressividade toda não.
— Só vamos embora — Louise saiu pisando fundo.
Quando a dupla estava prestes a voltar ao castelo, o som do sino que tocava ao abrir a porta do Flowers Café, soou mais uma vez, vindo juntamente a uma voz.
— Com licença, Senhorita Louise…
Ambos pararam e se viraram em direção ao chamado, curiosos para saber quem o tinha feito. Foi então que se depararam com Dante.
Leonard olhou de canto para sua colega e deu alguns tapinhas no ombro da mesma.
— Vou deixar vocês a sós — Logo em seguida o mesmo sussurra, para apenas Louise ouvir: — Vai que é tua, garota.
— Eu já disse que o Dante é só um conhecido — sussurrou Louise, em resposta.
— Por enquanto…
Leonard se afastou, indo olhar algumas barracas. Louise por sua vez, soltou um suspiro e foi até Dante.
— No que eu posso te ajudar, Dante? — A loira abre um belo sorriso angelical.
— Bom, não sei se vai ser possível, mas eu tenho dúvidas sobre um certo assunto…
Louise perceberá que o rapaz tinha uma dificuldade em se abrir com ela. A menina se solidariza com ele e decide tentar dar um auxílio.
— Olha, se for algum assunto delicado, não precisa ter medo ou vergonha de me contar, eu não vou te julgar nem um pouco.
Dante levanta de leve a sua cabeça, encarando Louise com aqueles olhos azuis, exalando uma frieza que ela não compreendia, entretanto, ao mesmo tempo, aqueles globos eram dotados de uma beleza quase que cegante.
— É que eu me lembrei daquele incidente em Ryos, sobre aquele cara que foi condenado — O ar ao redor dos dois parecia estar mais pesado conforme seguia aquela conversa — Você exibiu um forte senso de justiça pela situação daquele homem, mas eu não entendo esse tipo de coisa, não consegui sentir nenhuma solidariedade por ele. Como você faz isso?
Esse tinha sido um baque para Louise, que não esperava que aquele seria o tópico do assunto. O momento citado tinha sido chocante para a jovem, que não suportava ver pessoas pagando pelos crimes de outros, mas o que mais a chocou foi o filho presenciando a morte do próprio pai.
— Sabe, acho que não fui empática, talvez eu só me sentisse culpada — As mãos de Louise começaram a tremer nervosamente — Se eu tivesse pego ele a tempo, um amigo, um marido e um pai, estaria vivo. Esse deveria ser meu dever como cavaleira, proteger os outros… Eu sou uma grande babaca.
Dos olhos esmeraldas de Louise, lágrimas podiam ser flagradas escorrendo pelo seu rosto e pingando até o chão. Sempre que se lembrava daquela cena, se espelhava naquela criança, pois entendia a dor que era perder um pai.
— Sinto muito, mas eu acho que você se encaixa nessa categoria — interrompeu Dante — No pouco tempo que nós tivemos interagindo, pude perceber que você está sempre se preocupando com aqueles que estão ao seu redor e faz de tudo para os ajudar. Por mais que eu não entenda direito sobre o assunto, não creio que este seja o comportamento de uma pessoa ruim.
Tais palavras, mesmo simplórias, atingiram o coração de Louise com a força de uma flecha, mas ao invés do frio abraço da morte, foi o calor da felicidade que se espalhou pelo seu corpo. Apenas ao ter sua grande vontade de fazer o bem reconhecido era muito gratificante para a cavaleira.
Logo, enxugou as lágrimas e se forçou a abrir um sorriso:
— Obrigado, Dante. Acho que realmente precisava desabafar, estava guardando isso desde Ryos.
— Fico feliz em ter te ajudado, acho que essa conversa também foi útil para mim.
Com isso, os dois estavam prestes a se separar, só que antes de isso acontecer Louise juntou suas forças e falou:
— Você chegou a pouco tempo na Capital, não é?
— Sim, porquê a pergunta?
— Bem, é que eu tava pensando… — Louise começa a enrolar o cabelo em volta do dedo, com as bochechas enrubescidas e dificuldade em falar — Se adaptar a uma cidade nova é complicada, então eu tava pensando se você gostaria de de vez em quando passear comigo, tipo, para conhecer mais a Capital. O que acha?
A resposta não veio de imediato. Dante pareceu pensativo — só que era difícil de se dizer o que se passava na mente do rapaz ou o que ele sentia, pois sempre mantia uma expressão fria —, mas não demorou muito para que ele falasse alguma coisa:
— Eu aceito, acho que vai ser bem interessante.
Aquilo animou Louise, que imediatamente se aproximou de Dante, invadindo seu espaço pessoal sem nem pedir permissão, com enorme sorriso eufórico estampado no seu rosto.
— Então eu acho que a gente vai se ver bastante daqui pra frente.