A Herança do Assassinato - Capítulo 29
Deitado sobre a cama de seu quarto, estava Dante, ainda vestindo o seu uniforme de trabalho, enquanto encarava o teto fixamente. Em sua cabeça ele refletia se mais cedo ele havia feito a escolha correta.Talvez sim. Construindo uma amizade com a Louise, desta maneira as suspeitas sobre ele ser o Fox demore mais tempo para cair sobre ele. Mesmo que Dante não fosse culpado pelos assassinatos em Ryos, a cavaleira não pensava da mesma maneira.
É apenas por esse motivo que Dante aceitou o convite de Louise. Apenas para não ser um suspeito.
Ele então decidiu parar de se distrair com esses pensamentos mundanos. Já estava anoitecendo no lado de fora e Dante tinha que ir para a Cidade de Baixo.
O rapaz decide, enfim, se levantar da cama, vestindo seu manto negro e escondendo sua face com a máscara de raposa.
***
Pelas ruas escuras e fétidas da Cidade de Baixo, das sombras surgia a figura fantasmagórica de Dante. Em cima de um telhado de uma casa alta, ele observava os criminosos caminhando tranquilamente, bebendo e cantando como em qualquer outro dia.
Agora o rapaz não podia perder mais tempo. Seu atual objetivo era encontrar a base da família River, localizada em algum lugar ao norte da cidade. Para isso ele pegou em um de seus bolsos uma bússola, que lhe mostrou a direção na qual deveria seguir. Dante então começou a correr pelos telhados, tomando o máximo de cuidado para não chamar atenção para si.
Foi então, que após certo tempo correndo, o jovem pôde perceber que as arquiteturas das casas foram mudando aos poucos. Os prédios iam ficando mais altos e se conectando uns aos outros através de corredores suspensos no ar, fazendo parecer como se toda aquela região fosse uma única coisa, dando um aspecto psicodélico às construções, como se eles se misturassem uma nas outras, que apesar de serem grandes feitos arquitetônicos, estavam completamente abandonados. As paredes eram sujas e pichadas com símbolos de facções criminosas, janelas de vidro completamente estilhaçadas e teias de aranhas podem ser encontradas a cada segundo.
Dante então decidiu se infiltrar em dos prédios durante a sua busca, e foi isso que o fez entender o porquê daquele lugar estar completamente deserto. A mistura entre os prédios e seus corredores, transformava aquela zona da cidade em um labirinto gigantesco, onde você se perdia com muita facilidade. A cada curva que se fazia, um lugar completamente novo parecia se formar à sua frente, com mais inúmeras opções de caminhos a se seguir.
Ao abrir uma porta, Dante conseguiu sair para alguma rua aleatória. Observando os prédios ao redor, ele não conseguia reconhecer o local, provavelmente saiu em um lugar muito distante da onde havia entrado.
Vendo que tinha se perdido, Dante decidiu andar um pouco por aquela estrada, onde conseguia ver a miséria que era ocultada dos cidadãos da Cidade Central. Crianças desnutridas dormindo dentro de caixas de papelão, moradores de rua consumindo drogas e mendigos usando cobertores velhos para se aquecer.
Durante a caminhada do jovem, um deles se rastejou em sua direção, derrubando uma pá que estava encostada na parede e se agarrando a capa negra de Dente com as poucas forças que ainda lhe restavam.
— Por favor senhor, uma moeda — implorou o mendigo. — Estou passando fome, não tenho dinheiro para nada!!
O morador de rua vestia um sobretudo muito velho e rasgado, que anteriormente deveria ser beje, mas devido a toda a sujeira, tinha uma coloração marrom. Em sua cabeça estava colocada uma touca preta. Sua barba preta era uma completa bagunça, de fios emaranhados e sujeira. A única coisa que brilhava naquele homem eram os seus olhos, que estavam marejados e refletiam a pouquíssima luz que havia no bairro.
— Por favor, me ajude…
Dante parecia nem escutar as súplicas daquele pobre senhor, e apenas continuou a andar, sem nem olhar para trás um momento que fosse. Deixando o mendigo caído no chão, enquanto chorava.
Em meio às lágrimas, o homem levantou levemente a sua cabeça, lançando um olhar sinistro em direção a Dante, que ia embora.
Mais uma vez, ele tinha se perdido.
Este era o lugar perfeito para se construir um esconderijo. Com o treinamento ideal, as pessoas poderiam andar através do labirinto sem se perder e desta maneira realizar de emboscadas aos seus invasores, assim como Dante. Ele precisava tomar muito cuidado, pois poderia estar sendo vigiado nesse exato momento.
Durante a sua exploração, Dante pegou um pequeno caderno e um lápis, na tentativa de desenhar um mapa, entretanto, de nada adiantava. O labirinto era portador de uma enorme complexidade, pois não seguia apenas em caminhos horizontais, como também diagonais, contendo múltiplos andares.
A mente do jovem fritava ao tentar se guiar por aquele lugar. Suas estruturas pareciam não seguir nenhum tipo de lógica.
Foi então que a situação parecia que iria se tornar ainda pior.
Em um determinado momento, Dante passou na frente de uma janela quebrada. Foi por um período muito curto, mas o suficiente para que ele pudesse enxergar aquela coisa.
Sobre o telhado de um prédio estava uma figura humanóide, completamente estática encarando Dante de volta. Este ser estava trajando roupas velhas e rasgadas semelhantes às de um mendigo, sendo o mais notório, o que ele carregava em sua mão direita, suma pá.
Dante passou direto pela janela, demorando um pouco para perceber o que ele tinha acabado de ver. Quando seu cérebro processou, o mesmo levou um susto e voltou para janela, só que não tinha mais nada lá.
Será que tinha sido apenas um engano? Não…
Ele sabia o que tinha acabado de ver e mais uma coisa tinha chegado ao seu conhecimento: alguém o estava seguindo.
Mas como isso poderia ser possível? Dante não baixou sua guarda em momento algum e ainda sim, não sentiu a presença de ninguém pelas proximidades.
A respiração de Dante então ficou mais ofegante, o ar parecia estar pesado, tendo dificuldades em passar através de seus pulmões. Suor gelado rapidamente começou a escorrer pela pele do rapaz. Seu coração estava acelerado, com uma frequência de batidas altíssima.
Tinha alguém lá, mas Dante não sabia onde e nem quem era. Nem sequer sua presença ele conseguia sentir corretamente.
Foi então que o alto som de uma porta batendo, ecoou pelo corredor em que Dante se encontrava.
O jovem se assustou e rapidamente levantou sua postura de combate, sacando sua katana e se virando na direção do som.
Em seguida, se ouvia as madeiras rangendo lentamente, em sequências de tempo uniformes. Eram passos, e eles iam ficando mais altos, de pouco em pouco.
— Quem é você?! — gritou Dante.
Na esquina do corredor, uma mão se agarrou na parede, com unhas amareladas e cheias de terra, e começou a fazer força contra a mesma, como se estivesse tentando puxá-la em sua direção. A primeira coisa que pode ser vista, foi a ponta metálica e enferrujada da pá, em seguida, o sapato velho, para só então revelar o resto de sua aparência.
Era o mesmo mendigo que tinha implorado por esmolas a Dante.
— Tem alguma moeda, senhor?