A Herança do Assassinato - Capítulo 30
Aquele mesmo mendigo de aparência miserável, que antes mal parecia ter forças para rastejar, agora estava perante Dante. Por mais que sua aparência demonstrasse fraqueza, Dante achava justamente o oposto.
O morador de rua teve que seguir Dante por todo o labirinto, mantendo sua presença oculta e ainda tendo que ultrapassar seu alvo, para que assim pudesse surgir na sua frente. Dante, neste momento, com certeza estava perante a um oponente no mínimo, desafiador.
— Quem é você e o que quer? — perguntaria o jovem de máscara.
Uma resposta não foi lançada de volta.
O morador de rua permaneceu estático no mesmo lugar, com uma respiração pesada, possível se escutar ao longe. Só que apesar daquele sujeito não ter tomado nenhuma atitude, havia algo que deixava Dante incomodado, lhe cutucando no fundo de sua espinha, o mantendo inquieto em relação ao seu oponente.
Foi então, enquanto Dante refletia sobre o seu nervosismo, que morador de rua partiu para cima do jovem, segurando firme a pá em sua mão direita
Aquelas pernas que antes não conseguiam nem sustentar o peso do próprio corpo, agora apresentaram terem força o suficiente para fazer o homem se mover com tanta agilidade ao ponto de Dante ser pego de surpresa. O mendigo então usou de sua arma e desferiu um golpe horizontal, em direção à máscara de Dante, que por reflexo, conseguiu saltar para trás, esquivando do ataque por alguns centímetros.
Só que não parou por aí, o morador de rua se preparou agilmente e partiu para um golpe diagonal, mas desta vez, Dante estava preparado. O garoto utilizou de sua katana e aparou o ataque, fazendo a pá deslizar sobre a lâmina da espada, desta maneira Dante forçou o seu oponente a abrir sua guarda. Se aproveitando do movimento, o metal da espada é imbuído por uma densa escuridão, que o mesmo usa para atacar o mendigo, que se esquiva de tal movimento.
Assustado com a tamanha habilidade de combate daquele sujeito, Dante percebeu que precisava acabar com aquele confronto o quanto antes. Para isso, o jovem espadachim agarrou vigorosamente o cabo de sua espada e deu início a uma saraivada de golpes, um atrás do outro, cheios de força e velocidade, ainda assim não foram o suficiente. O pedinte conseguia facilmente perceber as investidas e esquivar das mesmas
Então, quando Dante efetuou um golpe vertical na direção do mendigo, o mesmo se lançou para o lado e correu para longe, virando na esquina do corredor, escapando da batalha sem nenhuma explicação. Por outro lado, Dante não deixaria aquele sujeito fugir tão facilmente e logo foi atrás dele, só que ao virar a esquina, se deparou com outro corredor completamente vazio.
Não havia nenhum sinal do mendigo, como se ele tivesse virado pó e desaparecesse por completo.
Foi aí que Dante caminhou levemente para o lado, visando voltar para o cômodo que estava anteriormente, só que algo não planejado ocorreu. O espadachim bateu contra uma parede.
Confuso, o rapaz olhou para o lado, se deparando com uma sólida parede de madeira à sua frente, entretanto ela não deveria estar ali, mas sim a passagem para o corredor. Foi isso que fez com que Dante percebesse que não estava mais no mesmo lugar de antes, mas em um cômodo completamente diferente do anterior.
— Como que eu vim parar aqui? — perguntava Dante para si mesmo
Foi então que de repente o agudo som de dobradiças de portas surgiram pelas costas de Dante, juntamente ao de madeiras rangendo.
O jovem foi rápido e se virou na direção dos barulhos, assim se deparando com o mendigo, pronto para lhe desferir um golpe com sua pá. Era um ataque completamente inesperado que Dante não esperava, mas seu reflexos refinados lhe permitiu puxar sua espada para interceptar o golpe, só que da mesma maneira, Dante havia acabado de ser colocado contra a parede, enquanto fazia um duelo de forças com aquele morador de rua.
— Quem é você? — perguntou Dante.
— É isso que você quer tanto saber? — respondeu o mendigo, liberando um mau hálito tão mortífero, que Dante sentiu o cheiro até mesmo por debaixo da máscara — Já que insiste, irei lhe contar…
O mendigo usou do cabo de sua para abrir a defesa de Dante, assim acertando um potente golpe nas costelas do rapaz utilizando da parte lisa da pá, com tanta força que a parede de madeira atrás dele cedesse e fazendo Dante cair para trás.
O garoto se encontrou em uma queda livre, pois a parede na qual havia atravessado pertencia a um alto prédio. O vento gelado da Cidade de Baixo invadia o tecido de Dante, enquanto o mesmo lutava de maneira inútil para se agarrar em alguma coisa.
Sem muita demora, o declínio chegou ao seu fim quando o espadachim colidiu com o teto de maneira de outro edifício, o qual se partiu com a tamanha força do impacto e caindo novamente, desta vez batendo com o corpo no chão de concreto.
Cada parte do corpo de Dante se encontrava em estado de pura dor. O golpe em suas costelas teve tanta robustez que parecia que ele havia recebido um coice de um cavalo. A queda também havia sido um tanto feia, onde além do forte impacto, alguns cortes tinham sido feitos em sua carne devido aos pedaços de madeiras que haviam se partido.
Agora, com bastante dificuldade, Dante se forçou a se colocar de pé, usando a sua espada como uma bengala.
Observando melhor o local em que tinha aterrissado, percebeu diversas estantes enormes, cheias de livros velhos e empoeirados, o que lhe fez deduzir que o cômodo já tinha sido uma biblioteca no passado, mas agora só restavam escombros do que uma vez foi. O lugar era muito abafado e tinha um forte cheiro de mofo, o ar não devia ventilar por ali fazia alguns anos.
— Você queria saber quem eu sou, não é?! — Um grito eufórico cortou o ar denso da biblioteca.
Dante se virou em direção ao chamado, se deparando com o mendigo, em cima de uma enorme estante,exibindo uma pose de superioridade.
— Eu sou conhecido como Diego, o Coveiro!!! — Ele abriu os braços, como se apresentasse um enorme espetáculo. — Sou responsável por vigiar essa zona da Cidade de Baixo e sinto muito por você, que agora que entrou nas minhas terras sem permissão, terá que morrer!!!
Dante suspirou com aquela situação totalmente inconveniente.
— Isso só me dá mais certeza de que eu vou ter que te matar — declarou Dante, completamente apático.
— Você é muito arrogante!! — Diego se enfureceu com o total descaso com a sua apresentação. — Garoto, você está no meu domínio, nunca poderá me vencer!!!
— É o que vamos ver…
Uma postura ofensiva foi montada por Dante, que logo deu início a uma intensa corrida, enquanto Diego se manteve na sua postura prepotente. O garoto então pulou sobre uma estante, pegando impulso para saltar em direção ao seu inimigo.
A espada de Dante foi coberta pelas sombras e o seu ataque estava prestes a ser executado até que…
— Quanta ingenuidade… — proferiu Diego.
O mendigo balançou o braço para o lado e sem qualquer tipo de aviso prévio, uma mesa saiu voando e acertou Dante com tudo que tinha, fazendo com que o mesmo caísse sobre diversos móveis velhos, que se fizeram em pedaços com choque e levantando uma nuvem de poeira junto.
O que acabou de acontecer?, pensou Dante, enquanto se recuperava do ataque recebido.
— É como eu mesmo disse, esse é o meu domínio!! — Diego gargalhou em vitória, apoiando a pá no ombro — Essa é a minha magia!! Ao pré estabelecer um local fechado, eu posso controlar tudo dentro dele e como os prédios dessa região estão todos interligados, o meu poder fica milhares de vezes mais forte!!
Toda aquela postura arrogante e com ar de superioridade irritava profundamente Dante. Ele tinha que pôr um ponto final nesse confronto, não só para dar prosseguimento à sua busca, mas para arrancar aquele sorriso tosco da cara de Diego. Agora havia se tornado uma questão de orgulho.
Sem muitas outras opções, Dante mais uma vez começou a correr, porém ao invés de avançar diretamente para Diego, decidiu que ficaria menos exposto ao se movimentar entre os corredores das estantes de livros.
Entretanto, o morador de rua não iria deixar sua presa escapar com tanta facilidade.
Conforme o garoto corria pelo enorme salão, objetos começaram a levitar e a serem lançados violentamente em sua direção, porém Dante não cairia duas vezes no mesmo truque. Sem diminuir a velocidade de sua corrida, Dante efetuou uma sequência de majestosas acrobacias, se esquivando de todos os objetos que eram arremessados em sua direção.
Dante realizava movimentos em uma velocidade extrema e ainda por cima, com enorme maestria, digno de um ginasta profissional. O tempo que o rapaz tinha para executar as suas reações era praticamente nulo, o que forçou a agir puramente através de seus reflexos, mas isso não parecia ser realmente um problema para Dante, já que o mesmo se mostrava capaz de efetuar mortais, cambalhotas e até mesmo conseguindo cortar uma mesa que vinha de frente a ele ao meio, como se fosse papel.
Apesar de Dante não demonstrar muitos problemas em correr e evitar os ataques de Diego, só que ficar fugindo para sempre não ia lhe proporcionar resultados. O garoto tinha que encontrar uma maneira de chegar até seu oponente.
E então que o espadachim se deparou com a parede do salão, a qual ele se aproximava em alta velocidade. E foi isso que fez com que uma pequena ideia cruzasse sua mente.
Mesmo com aquela barreira se aproximando muito rapidamente, Dante não diminuiu a velocidade, muito pelo contrário, ele até começaria até mesmo a correr ainda mais rápido. Foi quando estava quase colidindo com a parede que o garoto ajustou o seu centro de gravidade e começaria a subir a parede na base da corrida, para que então o mesmo pudesse dar um grande salto para trás e em pleno ar, Dante usou dos itens lançados contra ele, ao seu favor.
Durante o seu pulo, o jovem executou um mortal e usou uma mesa que voa em sua direção como apoio, para então saltar novamente. E isso foi se repetindo mais vezes e a cada pulo, Dante avançava cada vez mais em direção a Diego.
— Droga!! — exclamou Diego, percebendo o que estava acontecendo, mas já era tarde
. Dante havia se aproximado muito rapidamente e quando Diego se deu conta, já estava novamente frente a frente com o espadachim, que segurou fortemente a sua katana e realizou um golpe contra seu adversário, que por sorte conseguiu se defender usando pá, porém isso fez com que toda a força do golpe o empurrasse para trás e consequentemente, a estante na qual se apoiava, perdeu o equilíbrio, dessa maneira, tombando para trás e derrubando os dois combatentes juntos.
Quando a estante colidiu com o chão, a mesma se desfez em pedaços, devido a sua idade, e também levantou uma enorme quantidade de poeira. Aos poucos essa cortina se desfez, revelando Dante se levantando e ao longe, Diego fazendo o mesmo.
O jovem espadachim ao ver seu oponente com a guarda baixa, não quis perder a oportunidade e avançou na direção do mesmo.
— Já chega dessa palhaçada… — decreta Diego, como um tom de voz pesado, completamente diferente do que ele mostrava anteriormente.
Enquanto Dante se aproximava do mendigo, Diego rapidamente se agachou e colocou sua mão no chão e imediatamente após isso, todo o salão começou a tremer, como se um forte terremoto estivesse ocorrendo no momento. Isso fez com que Dante perdesse seu equilíbrio e fosse forçado a parar o seu avanço, para que conseguisse se manter de pé.
O que tá acontecendo?, pensou Dante.
Logo a resposta surgiu para o rapaz.
As paredes pareciam se distanciar, tornando o salão muito maior do que já era. Escadas surgiam sobre estas superfícies e se embaralham no ar, junto de corredores que se construíram sozinhos, e de maneira estranha, não respeitando as leis da física. Até mesmo o chão no qual Dante se encontrava se dividiu e começou a se afastar, como se fossem ilhas isoladas.
Ao olhar para a fenda a qual tinha se formado, Dante foi recebido com uma visão, no mínimo, assustadora.
Ao invés de com o chão de madeira, Dante se deparou com uma vastidão de corredores e escadas de madeiras, se conectando e se enrolando de maneira psicodélica. E sem que percebesse, tudo ao seu redor estava da mesma maneira. Era como se Dante tivesse entrado em uma outra dimensão, a qual era composta por um gigantesco labirinto de escadas e corredores, que seguiam para todas as direções.
— Não pensei que teria que utilizar isso, mas você superou minhas expectativas!! — A voz de Diego surgiu de algum lugar acima de Dante.
O rapaz então se virou para cima, tentando encontrar o seu oponente, no meio daquela enorme confusão, até que avistou o mesmo, que estava em pé em uma escada, entretanto ele não precisa respeitar a física, pois permanecia de cabeça para baixo.
Em contraste com sua aparência e roupas completamente esfarrapadas, Diego exibia uma pose elegante, emanando completa arrogância, como se fosse membro da realeza.
— Está será sua perdição moleque… — Diego abriu os braços, como se quisesse mostrar sua nova criação. — Este é o meu domínio: O Labirinto Infinito!!!