A Herança do Assassinato - Capítulo 32
O metal gélido era colocado contra a nuca de Dante, que fora pego completamente desprevenido, com a aproximação imperceptível da pessoa que estava atrás do rapaz, mesmo com os seus sentidos sendo muito bem treinados.
Mesmo o jovem tendo mantido sua guarda alta a todo momento, não teve a capacidade de antecipar a chegada daquele novo adversário. Ouvindo a voz feminina bastante familiar, com a aparição surpresa, Dante ligou esses pontos, se relembrando de uma certa conhecida sua, afinal, desde a sua saída da mansão Tiver, ela dois única que conseguiu se esgueirar pelas suas costas sem ser percebida.
— Largue a espada e coloque as mãos na cabeça — disse a mulher misteriosa.
A situação atual não era nada favorável para Dante. Ele então faz o que lhe foi mandado, largando a katana, que caí no chão, fazendo com que o som metálico ecoasse pelas escuras e silenciosas ruas. Em seguida colocou as mãos sobre a nuca.
Diego ainda permanecia caído no chão de paralelepípedos, machucado, entretanto com um sorriso prepotente estampado no seu rosto.
— É raposinha… parece que você perdeu — debochou Diego, enquanto uma risada estava entre seus dentes apodrecidos.
O mendigo se levantou, com certa dificuldade devido aos ferimentos da luta anterior, chegando ao ponto de colocar uma das mãos sobre as costelas, que haviam quebrado quando foi arremessado e atravessou as paredes de madeira.
— Você invade o território da Cube e acha que pode sair vivo — Diego riu. — Quanta ingenuidade…
— Cala a porra da sua boca, Diego!! — repreendeu a mulher desconhecida grita.
O morador de rua se mostrava nitidamente assustado.
— Mas eu só tava…
— Eu não tô nem aí!! — a mulher o cortou no meio de sua frase — Você tem a merda de um ÚNICO trabalho, que era impedir a invasão de indivíduos como esse e nem isso você consegue fazer!!!
— Acontece que… — Diego iria tentar retrucar, entretanto desiste.
— Agora eu tenho que limpar a sua sujeira.
Dante pode escutar o som da arma sendo destravada e logo teve a capacidade de compreender que a intenção daquela pessoa era pôr um fim a sua vida neste exato momento. Caso não fizesse nada para impedir, morreria.
Com isso em sua mente, espalhou uma quantidade considerável de mana atrás de seu corpo inteiro e então, milésimos antes do disparo ocorrer, se moeu com excelente maestria e agilidade, inclinando seu corpo para o lado, fazendo com a bala atravessa seus cabelos negros, desfazendo o rabo de cavalo. Entretanto não poder evitar de ter seu tímpano esquerdo de ser prejudicado com o alto som do disparo, criando um zumbido estonteante no seu ouvido. Entretanto não podia deixar isso lhe atrapalhar e já partiu para uma investida.
Aproveitando desse movimento, Dante se vira para sua adversária, agarrando o seu pulso, usando de toda a força de seu braquiorradial, o torcendo e obrigando com que a mesma soltasse o revólver que estava em sua mão.
Agora, podendo a encarar frente a frente, as suspeitas do adolescente se mostravam estar corretas. Aqueles olhos cinzentos como o ferro e os fios de cabelo exibindo um forte brilho vermelho, eram detalhes impossíveis de se confundir. Aquela que se encontrava a sua frente era Lilyan, a mesma pessoa que dividia seu tempo na hora do trabalho.
A moça trajava roupas muito finas, estando muito bem vestida para um lugar podre e sujo como a Cidade de Baixo. Ela portava um colete de couro preto, com uma roupa social branca de mangas longas por baixo, uma calça de malha preta e sapatos tão limpos que conseguiam refletir a pouca luz que havia por aquelas ruas.
Enquanto Dante se mantinha atordoado, tentando processar a informação que lhe fora entregue, não percebeu o sutil movimento de Lilyan, que levou a mão até seu cinto e sacou uma faca, com extrema maestria e velocidade, de imediato lançando um corte contra a face do rapaz mascarado, que conseguiu a tempo, inclinar o corpo para trás, fazendo com que a lâmina passasse tão próximo de seu rosto que acabou fazendo um risco na máscara de raposa.
Este afastamento brusco fez com que Dante se descuidasse por um momento e acidentalmente afrouxou o aperto no pulso de Lilyan, que se aproveitou para se desprender de seu inimigo. Em sequência, desferiu um chute alto, na direção da cabeça de Dante, que facilmente bloqueou, todavia seu intuito não era lhe causar dano, mas sim utilizar da sua posição e pegar novamente seu revólver.
Com o equipamento novamente em mãos, a mulher rapidamente retoma sua postura de combate, apontando a arma de fogo. Percebendo isso, Dante reage e empurra a perna da garota para o lado, fazendo a mesma perder o equilíbrio e atirar na direção errada.
Lilyan dava início a uma sequência de golpes contra Dante, que estava completamente desarmado, o que lhe obrigou a permanecer completamente na defensiva, bloqueando facadas e desviando a trajetória dos tiros.
Após uma troca de golpes extremamente ágeis, ambos os combatentes saltam para trás ganhando certa distância.
Lilyan aproveita para recarregar sua arma de fogo, enquanto Dante volta a pensar sobre sua aparição repentina.
O que será que Lilyan faz aqui? Talvez ela esteja apenas tentando ganhar dinheiro de alguma maneira…, raciocinou Dante, Não, não é isso. Suas habilidades de luta estão em um nível muito alto para ela estar pagando por alguma dívida, mas talvez ela seja algum tipo de mercenária. Levando em consideração a fala daquele tal Diego, ela deve fazer parte dessa tal organização chamada “Cube”.
Os pensamentos passavam como flashes na sua cabeça, visando perder o mínimo de tempo possível nessa ação, mas o rapaz logo teve sua linha de raciocínio cortada por completo quando a voz de um terceiro indivíduo surgiu pelas redondezas.
— Nossa Lilyzinha, não acredito que você pode deixar uma presa tão fácil como essa escapar — disse a voz, em tom decepcionado, mas simultaneamente debochado — Parece que você está enferrujando mais a cada dia.
Subitamente, Dante se voltou na direção do mais novo interlocutor, que também chegou de maneira furtiva, sem ser notado — isto estava começando a se tornar mais frequente do que deveria. Sentado sobre a janela de um prédio próximo estava ele, exibindo uma postura relaxada, como se estivesse em sua própria casa, mas apesar disso, algum tipo de pressentimento deixava Dante inquieto sobre a presença daquela pessoa. O garoto estava usando vestimentas semelhantes às de Lilyan, com sapatos brilhantes, calça de malha preta, que eram presas na sua cintura por um suspensório de couro marrom bem antiquado, camisa social branca, com mangas dobradas até os cotovelos, luvas sem dedos em ambas as mãos e para finalizar, um blazer preto pendurado em seu ombro. Sua pele era negra como a terra fértil de plantio, cabelos ondulados da cor da madeira de carvalho caiam da sua cabeça e os olhos amarronzados pareciam analisar cada detalhe de Dante, como se tentasse descobrir a pessoa que se escondia atrás daquela máscara.
— Você veio me ajudar ou só atrapalhar mesmo, Nathan? — disse Lilyan, com um tom de voz áspero.
— Você é sempre tão impaciente!! Como pode ser tão má com o seu querido parceiro?!
Ainda com o sorriso zombador em seu rosto, Nathan saltou da janela que se encontrava, aterrissando no chão com enorme facilidade. Assim ele revela, que pendurado em sua cintura estava um sabre reto, o qual lentamente começou a retirar a de dentro de sua bainha, exibindo uma brilhante lâmina de ferro. Após isso o mesmo jogou seu blazer para Lylian, que se recusou a pegar, o deixando cair no chão, para então assumir uma postura desleixada e nem um pouco correta, só que mesmo assim, Dante não conseguia encontrar nenhum tipo de abertura, que definitivamente assustou o espadachim. Novamente, a mesma sensação de perigo se espalhou pelo seu corpo, como uma espécie de aviso.
Foi então que Nathan avançou , realizando uma veloz estocada, que se lançou na direção do rosto do garoto de máscara. Dante reagiu com agilidade, usando da sua katana para desviar o curso do ataque, porém o jovem não teve tempo o suficiente ajustar sua postura corretamente e acabou por se desequilibrar para a lateral.
Com este descuido, foi Lilyan que se aproveitou para realizar um ataque surpresa.
Utilizando de suas habilidades furtivas, a garota simplesmente surgiu no ar, acima de Dante, segurando com força sua faca, que foi usada para realizar um ataque perfurante contra Dante, que não tinha como se esquivar naquela situação, o que o obrigou a usar sua mão como escudo.
A lâmina facilmente atravessou sua carne e como consequência, uma forte e latejante dor surgiu no local da ferida, como se a região estivesse em chamas. Além da angústia do ferimento, o peso de Lilyan se fez contra Dante e o derrubando. Com insistência, a ruiva tentava cravar a faca rosto do garoto, que resistia o máximo que conseguia, tornando o machucado em sua mão cada vez mais severo.
O sangue escorria pelo metal, manchando o seu brilho prateado com a forte tonalidade vermelha e por fim pingando sobre a máscara de raposa. A ponta da arma se aproximava de poucos em pouco, centímetro em centímetro, Dante precisava tomar uma atitude o quanto antes. Então com a sua outra mão, o rapaz agarrou um dos braços de Lilyan e a empurrou, conseguindo afastar apenas alguns centímetros, mas que já seriam o suficiente para Dante posicionar seus pés contra o peito da garota e a lançá-la para longe.
Apesar de ter conseguido se soltar, o combate não estava nem um pouco próximo de seu fim.
Nathan se desfrutava que o seu adversário estava caído sobre o chão e tentaria o pisotear, mas Dante não permitiu e rolou para o lado, se aproveitando do embalo de sua rotação e ganhando impulso o suficiente para se colocar em pé.
O espadachim de cabelos ondulados soltou um assobio, impressionado com a movimentação de seu adversário.
— Aí, cara de cão, qual o seu nome? — perguntou Nathan.
— Fox — respondeu Dante, com secura na voz. —, por que a pergunta?
— Ah, não é nada… — Nathan aproximou o sabre de seu rosto, refletindo a pouca luz da cidade subterrânea em seus olhos. — É que eu estou achando você um oponente formidável.
Nas proximidades, Lilyan se levanta, deixando nítido em suas expressões faciais irá crescente que a atormentava.
— Nathan!! Já falei para não ficar fazendo amizades durante o combate!! — reclamou a mulher, parecendo que aquela era uma situação que acontecia mais do que deveria.
— Qualé!!! Lily, você é tão chata!! — Nathan se virou para a companheira e mostrou a língua para ela.
Com ferocidade, Dante arrancou a faca que antes estava cravada em sua mão esquerda, lhe causando uma pontada de dor e fazendo com que mais sangue começasse a escorrer. Caminhou até onde sua katana estava e a pegou com sua mão que ainda poderia ser utilizada.
A batalha dali para frente apenas se tornaria ainda pior. O garoto já tinha os ferimentos da luta contra Diego e uma das suas mãos estava impossível de ser usada, além de tudo, suas reservas de mana se mostravam próximas de acabar. Já não conseguia controlar a respiração e seu corpo pendia a cair no chão. Tinha que terminar aquilo o quanto antes.
— Ei, você de cabelo ruivo!! — exclamou Dante, tentando chamar a atenção de Lilyan, que logo se virou para o interlocutor. — O que uma garçonete de um café faz em lugar tão moribundo como a Cidade de Baixo?
Foi nítido o choque que percorreu cada centímetro do corpo daquela garota ao perceber que esse sujeito misterioso a conhecia fora da Cidade de baixo. Ela tentava processar essa informação dentro de sua cabeça, porém o abalo fora grande demais.
— Como é que você sabe disso? — questionou Lilyan, ainda tentando exibir uma postura de poder, mas a tarefa de tornou difícil.
O abalo emocional afetava a garota por completo, a impedindo de raciocinar e pensar nos seus próximos passos. Era possível notar isso pela postura corporal, que já não apresentava uma base tão firme como estava anteriormente. Nathan também conseguiu perceber, o que fez com sua expressão debochada cede-se por um momento.
A tática de Dante era arriscada e poderia prejudicar o seu disfarce, entretanto, se quisesse sobreviver, teria que usar todos os truques que tinha escondidos na manga.
O rumo daquele embate tinha sido decidido ali.