A Herança do Assassinato - Capítulo 34
Dante teria avançado com voracidade em direção a Mitsuki, segurando fortemente a sua espada e efetuado um golpe perfurante em direção ao seu peito. A jovem não teve tempo o suficiente para sequer processar a informação e tentar de alguma maneira evitar o ataque, entretanto uma barreira luminosa e dourada se formou entre ambos. A parede era levemente transparente, permitindo que a dupla se visse, enquanto Mitsuki estava assustada com ataque surpresa, Dante estava transbordando de fúria.
Ao longe, uma enorme figura apareceu, trajando longas vestes brancas e com um machado ameaçador pendurado em suas costas, cuja cor combinava com as roupas. As mãos do clérigo, que invocavam a barreira através de magia, brilhavam em um forte tom dourado capaz de iluminar praticamente toda a sala ao seu redor.
— O que tá acontecendo aqui?! — rompeu o clérigo, em um grito capaz de fazer as paredes metálicas do galpão reverberarem.
— Eu não sei!!! — gritou Mitsuki, com o sangue fervendo de raiva, dos pés até a cabeça. — Eu sabia que esse merda aqui não é confiável!!
— Não se faça de inocente, você que armou aquela emboscada para mim!!! — retrucou Dante, com tanto ódio em sua voz que nem a máscara conseguia abafar o som.
A fúria em que Dante havia se perdido no momento, era tão intensa e caótica, que as vozes ao seu redor pareciam ser apenas sussurros distantes, não tendo a capacidade de alcançar os seus ouvidos.
O espadachim fez com que sombras surgissem e cobrissem por completo a lâmina de sua espada, para então cortar a barreira à sua frente com a facilidade de alguém que corta um mero pedaço de manteiga. Dante fez a menção de avançar novamente em direção a Mitsuki, mas antes de ter a oportunidade de se mover um centímetro que fosse, ouviu um som metálico e sentiu se enrolar na sua cintura, juntamente de um solavanco para a direção oposta que avançou, com força o suficiente para tirar os pés do jovem do chão e ocasionar na queda de Dante sobre uma das mesas, que não suportou e se partiu junto a impacto.
Apresentando muita dificuldade, Dante se levantou, com a corrente se desenrolando de seu corpo e voltando para sua dona, a mulher trajada como um kunoichi, posicionada sobre uma das pilhas de caixas. Ela lançava um olhar mortal contra Dante, enquanto era coberta por uma aura assassina tão forte quanto a do rapaz, nitidamente ela era alguém que estava acostumada a tirar vidas e não existia se a próxima fosse a do garoto.
Com o som da luta entre eles, os outros membros da gangue apareceram, com expressões assustadas em seus rostos. Atrás de Dante, sons frenéticos de passos sobre a plataforma de metal e logo em sequência, César apareceu no andar de cima do galpão.
— Mas que porra tá acontecendo aqui?!?! — ele urrou, liberando o que parecia ser uma mistura de fúria e preocupação.
César e Dante trocaram apenas olhares entre si e antes que qualquer palavra pudesse ser dita, as forças do espadachim se esvaíram por completo em questão de segundos. Suas pernas já não suportavam mais o peso do restante do corpo e ele tombou, porém nem chegou a sentir a queda, já que toda sua visão foi escurecendo, até que não restasse uma única fagulha de luz.
***
Mesmo durante o sono, Dante sentia o pesar de seu corpo. Mesmo exausto, sua consciência parecia lutar contra o restante de seu ser para se manter acordado. O que foi em vão. Não se sabia por quanto tempo, mas Dante dormiu, e muito.
Após horas de um sono profundo, o jovem foi despertando de pouco em pouco, sentindo estar deitado sobre uma superfície levemente mais macia, porém continuava não sendo nada confortável. O seu corpo estava pesado e demorando para responder às ordens do cérebro, como se tudo que ele quisesse fosse a pena ficar ali parado pelo resto da eternidade. Com o devido esforço, foi abrindo seus olhos, podendo observar um quarto de hospital extremamente precário, com equipamentos desgastados e velhos, não havia paredes ao seu redor, apenas uma cortina que deveria ser branca, mas estavam tão sujas que pareciam cinzas.
Esses detalhes serviram de gatilho para o retorno das memórias. Como um raio, um calafrio cruzou seu corpo da cabeça aos pés, com o fato de ainda estar na base dos Gatos Noturnos e por ter feito um ataque sem pensar contra Mitsuki. Dante tentava se levantar com pressa, todavia, seu corpo não conseguia responder com a mesma velocidade, que por sua vez, água com demasiada lerdeza.
Quase tombando sobre o chão de metal, Dante se forçava a se colocar de pé. Não podia perder tempo naquele lugar, sua vida dependia disso.
Usando todo e qualquer objeto ao seu alcance para se apoiar, o jovem espadachim caminhava lentamente procurando pela saída mais próxima, até que foi surpreendido pelo movimento das cortinas cinzentas e com o aparecimento de uma figura familiar, César.
— Já acordou, princesa? Não esperava por isso, mas não deveria me surpreender, você é teimoso igual uma porta — Diferentemente das expectativas de Dante, César não parecia enfurecido, mas na verdade, cansado e logo se sentou numa cadeira de metal dobrável próxima.
— O que me surpreende é o fato de eu ainda estar vivo — disse Dante, com dificuldade em respirar.
— Nós não somos selvagens, além de tudo, você é nosso parceiro.
Por mais que naquela fala não houvesse nenhum tipo de insulto ou deboche, foi capaz de tocar o coração de Dante e liberar a raiva lá guardada.
— Você ousa me chamar de companheiro quando só quer me usar para satisfazer os objetivos do seu bando de arruaceiros — O rapaz solta um bufo. — Como você mesmo disse, somos apenas duas pessoas com interesses em comum, nada mais, nada menos.
Nenhuma palavra foi dita por César, que somente encarava o homem à sua frente, até se decidir levantar. O ceifador era mais alto em comparação a Dante, porém não se sentia repreendido ou sequer intimidado.
— Não posso negar nada do que diz — afirmou César —, mas uma coisa é certa, temos que ter confiança um no outro, se não vamos nos matar antes mesmo de completar nossas ambições.
— E como acha que posso confiar em você ou em qualquer um do seu grupinho, se vocês me mandaram pra uma emboscada? — Dante parecia aumentar seu tamanho, conforme eleva o tom de voz — Isso acaba agora…
— Acha mesmo que fomos nós que planejamos isso? — A raiva de pouco em pouco surgia em meio às falas de César. — Logo após termos fechado uma parceria? Já parou para pensar que isso não faz o mínimo sentido?!
De uma hora para outra, César parecia ter aumentado ainda mais de tamanho, se tornando alguém muito mais assustador, finalmente se parecendo com o imponente líder de um grupo criminoso que ele era.
— Então o que faria com que aqueles caras dessa tal de Cube me atacassem repentinamente?!
Com esta fala, a postura do ceifador mudou mais uma vez, fazendo o rapaz tomar alguns passos de distância de Dante, com uma expressão de espanto tomando conta de sua face, como se acabasse de se deparar com uma assombração.
— Você acabou de dizer “Cube”? — perguntou César, a fim de confirmar aquela informação.
— Sim, isso que eu acabei de dizer, enquanto eu estava na zona norte, fui atacado por um tal de Diego e outros dois parceiros dele — Dante se lembra dos confrontos que teve que passar e de ter enfrentado Lilyan. Eram muitas informações para se processar. — Mas pela sua expressão esses caras não eram criminosos comuns. Quem são as pessoas com quem lutei?
O ar parecia ter fugido dos pulmões de César, que respirava profundamente, tentando buscar de volta o oxigênio perdido. O rapaz mais uma vez se sentou na cadeira que estava e em seus lábios se abria um sorriso, mas este não era por ansiedade ou nervosismo, o que aquele gangster sentia no momento, não era nada menos do que a mais pura empolgação, que deixou Dante bastante confuso.
— Eu sabia que você era interessante, mas parece que você conseguiu superar todas as minhas expectativas, Fox — César em uma situação como aquela, teve a capacidade de rir, como se estivesse em um show de comédia. — Os dias a partir de hoje serão muito interessantes…
Observando o momento, em um estado de perplexidade. Com isso que Dante pode refletir, que quanto mais se aproximava dos Rivers, mais afundava em um mar profundo e obscuro, sem qualquer tipo de equipamento ou iluminação, tudo o que tinha para o guiar era o seu corpo e os seus instintos.
— O que você pretende fazer, César, o Ceifador? — questionou Dante, intrigado quanto às intenções daquele homem.
O líder de gangue se pôs diante de Dante, o largo sorriso, que exibia seus dentes brancos, e os brilhos em seus olhos mostravam que o rapaz estava eufórico com suas atitudes e os acontecimentos que estavam por vir mais adiante.
— Isso é muito fácil de dizer, meu caro compatriota — O sorriso de César parecia aumentar diante dessas palavras — Nós vamos virar essa cidade inteira de ponta a cabeça.
Dante permaneceu encarando César se recuperando de sua longa crise de risos. O jovem espadachim já estava começando a considerar a possibilidade daquele sujeito ser um completo lunático, e realmente, existiam informações o suficientes para chegar até essa conclusão.
— Com certeza você é louco — proclamou Dante, enquanto sentava novamente em seu leito. — Não sei o que fez eu me juntar a você, mas isso com certeza é pagamento por algum pecado que cometi.
A tensão que antes tomava conta do corpo de Dante, desaparecia de pouco em pouco, permitindo seus músculos se relaxarem. Foi nesse ato que que o garoto pode compreender o estado em que seu físico se encontrava. Ao se livrar de toda a inquietude, dor foi o que tomou seu lugar, com cada fibra de sua estrutura sofria em agonia, as diversas bandagens espalhadas sobre sua pele estavam encharcadas pela tintura vermelha do sangue.
— Parece que você não tem a sorte para encontrar pessoas normais — comentou César, enquanto analisava os ferimentos. — Foi o pessoal da Cube que fez isso?
— Foi, por acaso são seus amigos?
— Nah — reclamou o ceifador, enquanto se deitava sobre sua cadeira de metal. — Eles são só a organização mais perigosa da Cidade de Baixo, nada de mais.
— E deixa eu adivinhar: a partir de agora eu tô na lista negra deles e vão tentar mme matar a qualquer custo? — deduziu Dante, em um tom levemente irônico.
— Um pouco prepotente da sua parte achar que eles se importam tanto assim com um mero arruaceiro como você, mas a parte que vão querer te matar é sim verdade.
Um longo suspiro escapou da boca de Dante. Ele já usufruía de uma dor de cabeça terrivelmente forte, em um nível longe do aceitável para os padrões de saúde e ter que lidar com mais uma facção criminosa não era a melhor notícia que poderia receber no momento.
— Por isso é melhor você se manter junto da gente — afirmou César.
— Para tentarem me matar novamente? Não, obrigado.
— Já disse que a Mitsuki não tem nada a haver com aquilo — A raiva pareceu surgir nas feições de César. — Ninguém sabia que a Cube tinha se alojado na zona norte, nós também fomos pegos de surpresa.
Nenhuma palavra foi dita por Dante, evitando até mesmo realizar contato visual direto com César. Durante seu silêncio, uma camisa branca foi jogada com força contra o seu rosto..
— Veste isso e desce, você vai pedir desculpas à ela — ordenou César.
— O que você acha que eu sou pra você falar assim? Uma criança? — reclamou Dante, tirando a camisa de cima de sua cabeça.
— É o que parece. Você tentou matar a Mitsuki, o mínimo que você deve à ela é um pedido de desculpas e agradeça pela piedade, se você qualquer outra pessoa, você já estaria a sete palmos abaixo da terra — César se guiou em direção à saída do cômodo. — Estamos te esperando no andar de baixo.
O ceifador passou entre as cortinas que delimitavam o quarto e desapareceu, deixando Dante a sós com os seus pensamentos. Ele se levantou, pensando nas suas atuais opções, talvez uma fuga fosse o que lhe mais favorece. Enquanto andava em círculos no pequeno cubículo, Dante se deparou com seu reflexo em um espelho, os hematomas espalhados pelo seu corpo se mostravam muito bem tratados, os curativos eram eficazes, conseguindo estancar os sangramentos e o mais importante, sua máscara de raposa permanecia escondendo sua face.
Dante permaneceu pensativo durante um longo período, até que decidiu vestir aquela camisa e descer.
Caminhando descalço, o rapaz sentia o frio do chão metálico diretamente em sua pele. Chegando às escadas pode avistar os membros da gangue sentados na sala improvisada, notando a chegada de Dante com o ranger dos degraus e se viraram suas cabeças em direção ao mesmo. Eles sussurravam algumas palavras entre si, mas com a chegada do novo ouvinte, cessaram suas falas de imediato.
Clima no galpão estava apreensivo, como se o garoto mascarado fosse algum tipo de ameaça.
Guiando os seus olhos sobre o grupo, Dante pode encontrar todos os rostos que já conhecia, mas agora a diferença era que estas pessoas estavam dispostas a matá-lo caso fosse preciso. Não demorou muito e logo conseguiu achar Mitsuki, de todos, ela era a que mais se mostrava arisca com a presença de Dante. Sem compreender o motivo, sentiu seu coração apertar quando encarou a garota e um calafrio cruzou sua espinha.
Estas sensações causavam confusão na mente de Dante, entretanto, mesmo com estes empecilhos, caminhou em direção a Mitsuki, enquanto uma reprise do ataque corria dentro de sua cabeça e de como a raiva havia o dominado naquele momento. Estando frente a frente com a garota, Dante não conseguia a mesma diretamente seus olhos, sempre mantendo o pescoço curvado, o impedindo de saber a expressão que Mitsuki portava no momento.
Os olhares dos outros membros da gangue pareciam poder perfurar sua carne e encarar o ser no interior do garoto
— Sobre o que aconteceu mais cedo, eu… — Falar alguma coisa nunca tinha se ostentado ser uma tarefa tão difícil. Suas cordas vocais pareciam se enrolar umas nas outras, impedindo que os sons saíssem. — Eu queria me desculpar, minhas atitudes não foram nem um pouco corretas e sei que poderia ter machucado alguém. Não vou justificar minhas ações, porém espero que possa me perdoar. Todos vocês.
O silêncio era tanto que Dante pode escutar suas palavras ecoarem pelo enorme galpão durante um longo tempo, como se estivesse dentro de uma enorme gruta.
Ao enfim perder a apreensão em relação a Mitsuki e se forçou olhar ela diretamente em seus olhos. A expressão esperada por Dante era a do mais puro desprezo, semelhante a feita por seus pais naquele fatídico dia, mais uma vez seria rejeitado como um se fosse uma espécie de herege, todavia o que se deparou era completamente diferente. A feição de Mitsuki não apresentava raiva ou nojo, quando na verdade a mesma parecia angustiada. Dante não conseguiu compreender o que estava testemunhando. Em sua mente, nada fazia sentido.
— Bom, eu meio que lancei no meio de uma alcateia de lobos — Mitsuki tinha um tom de vergonha em sua voz. — Acredito que eu teria a mesma reação que você. Acho que também devo me desculpar.
O clima entre todos do grupo parecia ter se aliviado, que se deram ao luxo de abrir um sorriso, menos o clérigo brutamontes, ao longe, sentado no sofá e com seu enorme machado em mãos, ele encarava Dante como um cachorro que poderia se soltar das correntes a qualquer momento.
Durante tudo isso, Dante foi surpreendido com um tapa em suas costas, que o fez dar um pequeno pulo devido ao susto.
— É isso gente!! Está tudo explicado!! — proclamou César, em um tom de voz confiante. — Nós devemos confiar em nossos companheiros, isso faz os Gatos Noturnos serem os Gatos Noturnos!! Se isso sumir, nós seremos como qualquer outra gangue criminosa, que saí por aí cometendo seus crimes! Nós somos diferentes, estamos aqui por que cada um teve um passado diferente, que nos fez querer perseguir nossos próprios sonhos!! Nunca se esqueçam disso!
Todos ali presentes encaravam César com admiração e plena fé em seu líder, até mesmo o clérigo pode afrouxar sua pose de mau perante aquele discurso.
Foi aí que Dante pode entender uma coisa sobre a atual situação. O garoto só estava vivo graças ao ceifador, pois tinha sido ele que convenceu todos a perdoá-lo. Eles confiavam nele e o César confiava em Dante. Talvez, só talvez, ele devesse depositar um pouco de confiança naquele homem.
César distanciou o rapaz do restante do grupo, o levando para uma área totalmente improvisada, com diversos tecidos apoiados em pilhas de caixas, formando um outro cômodo. Adentrando no mesmo, o aumento de temperatura era nítido, como se estivesse dentro de um forno. Analisando melhor o local avistou uma forja, bigornas e diversas armas, algumas pareciam forjadas pelo maior artesão de todo o continente, enquanto outras estavam deformadas, como se um iniciante montasse seus primeiros itens.
Ao fundo da sala, iluminada pela fraca luz alaranjada de uma fornalha, estava uma mulher. Sua pele era negra, os cabelos encaracolados e curtos eram da mesma cor da cascas de uma árvore de carvalho, vestia um macacão azul por cima de uma camisa branca suja por fuligem e óleo. Seus olhos eram cobertos por uma espécie de óculos de aviador, mesmo assim era notável o nível de concentração da mesma, pois suas mãos se mexiam freneticamente montando um cabo de katana.
Quando terminou, ela tirou os óculos, revelou um par de olhos da cor do âmbar, e deu um grito de empolgação.
— IUPI!!! Essa deu trabalho, mas acho que é um dos meus melhores trabalhos.
Após sua comemoração notou que César e Dante haviam entrado.
— Olha só se não é a bela adormecida e seu príncipe encantado — A menina abriu um sorriso.
— Vejo que terminou o que eu te pedi — observou César. — E o traje, tá pronto também?
— Mas é claro, nunca perco a oportunidade de costurar uma roupa nova!! — A artesã se levantou e saiu correndo para um armário, o qual procurava uma roupa nova.
Toda aquela animação no meio da madrugada surpreendeu Dante, chegando até mesmo a assustar.
— Quem é a dependente de cafeína? — perguntou Dante
— É a Mikaela, ela é a nossa artesã. Tem um talento incrível em criar coisas, ela que monta nossas armas e armaduras.
Não demorou muito para a garota voltar carregando um tecido preto dobrado, o qual ela ofereceu a Dante.
— Toma, presente — falou a garota.
— Espera, que? — Dante fez uma expressão confusa por debaixo da máscara.
— Tá surpreso por que? — caçoou César. — Você faz parte dos Gatos Noturnos, não posso deixar você andando com aquele lençol todo estropiado, parecendo um mendigo.
— Eu uso ele porque não chama atenção, essas roupas extravagantes de vocês iam fazer as pessoas nas ruas me notarem assim que eu chegasse.
— Ah, não precisa se preocupar com isso — interveio Mikaela. — Eu tomei total cuidado para fazer uma roupa discreta para você.
Não havia como competir contra aqueles dois, o brilho em seus olhares já mostravam que eles iam obrigar Dante a vestir aquilo, mesmo que a força bruta fosse necessária. O rapaz só pode desistir e ir para um local mais reservado para se trocar.
O tecido da roupa era longo e largo, formando uma espécie de túnica, além de ser muito leve, tendo um peso quase imperceptível, esses detalhes permitiriam Dante se movimentar com muito mais liberdade. Haviam luvas sem dedos, para que suas mãos não fossem tão machucadas pela utilização da espada. A cor predominante da roupa era o preto, mas o tecido interno era vermelho, contrastando com o lado de fora. Por último, mas sendo o mais importante, era uma máscara de raposa para ocultar sua identidade, ela era praticamente toda preta, tendo as marcas dos olhos, bocas e facinho em dourado, além de alguns detalhes em vermelho.
Dante permaneceu um longo tempo encarando aquela máscara. Ao botar ela o rapaz iria enfim aceitar fazer parte de vez dos Gatos Noturnos, e isso o deixava hesitante, como se algo no fundo do seu coração dissesse que aquilo não era uma boa idéia, porém Dante já tinha ido muito adentro naquele submundo, o caminho de volta já não existia mais. Então o garoto tirou a sua antiga máscara, colocando a nova no lugar, aceitando fazer parte daquilo, para que no fim pudesse completar sua almejada vingança.