A Herança do Assassinato - Capítulo 5
Já haviam se passado algumas horas desde o confronto entre Dante e Raphael. Agora ambos estavam na cozinha, comendo um terrível macarrão com galinha que tinha sido preparado por Raphael.
— Como está a comida? — perguntou Raphael.
— Está horrível, mas eu acho que eu posso me acostumar.
— Já disseram que você é uma criança muito sincera?
— Acho que sim.
Após algum tempo, a dupla enfim havia terminado sua comida e Dante lavava a louça que eles haviam utilizado para comer.
Durante esse tempo, Raphael se levanta e vai até seu quarto. Quando voltou de lá, trouxe em sua mão direita, uma pedra de tamanho médio e com uma coloração branca, quase que transparente.
— Ei, garoto, vem cá — chamou Raphael, enquanto colocava a pedra sobre a mesa
Dante então parou de lavar a louça e foi até a mesa.
— Sabe o que é isso? — Raphael aponta para a pedra sobre a mesa.
— É uma pedra, obviamente — Dante encarou Raphael — Me impressiona você não saber que é uma pedra.
Irritado com aquele comentário, Raphael dá um forte cascudo na cabeça de Dante.
— Aí!!
— É óbvio que eu sei o que é uma pedra, seu idiota.
— Então por que perguntou? — questiona Dante, enquanto passava sua mão, sobre a área machucada.
— Porque isso não é uma pedra comum, é uma pedra de mana.
— Pedra de mana?
Dante já tinha ouvido esse nome de relance em algumas conversas de seus pais, porém ele nunca soube exatamente o que ela fazia ou para que servia.
— Exato. Ela é uma pedra capaz de absorver mana, é utilizada por magos em certos feitiços e também é usada em algumas indústrias.
— Entendo, mas por que você está me explicando tudo isso.
— Deixa de ser apressado garoto! As pedras de mana tem uma outra função além das que eu citei, elas podem descobrir o seu tipo de mana.
— Como assim, “tipo de mana”? A mana não é apenas uma.
— Sim e não.
Ok, a explicação de Raphael não faria Dante compreender melhor sobre mana, na verdade, aquilo só lhe deixou ainda mais confuso.
— A mana é uma coisa só, porém suas propriedades se manifestam de forma diferente em cada pessoa.
— Acho que tô entendendo.
— Que bom, por que eu não quero explicar de novo, então presta atenção — Pelo visto Raphael não era a pessoa mais adequada para ser um professor — A mana é dividida em cinco categorias diferentes: Espírito, Energia, Corpo, Sentimento, Mente e Alma. Cada uma delas dá técnicas distintas ao seu usuário.
— Agora entendi — Dante colocava a mão no queixo — Então a minha mana se encaixa em uma dessas cinco classes, certo?
— Exatamente, a sua categoria vai ser revelada de acordo com a cor que a pedra de mana brilhar — Raphael empurra a rocha para mais próximo do garoto — Coloque sua mão sobre ela e canalize sua mana.
— Entendi.
Assim como lhe foi orientado, Dante colocou a sua mão sobre aquela pedra e guiou uma pequena quantia de mana para sua palma. Quando ela fez isso, sentiu automaticamente que sua energia mágica era sugada para dentro daquela rocha, que com o passar dos segundos começava a emitir um calor de si e logo em seguida, uma forte luz de coloração avermelhada começou a sair dela.
Dante parou de encostar na pedra e aos poucos aquela luz começou a enfraquecer, até que enfim ela desapareceu por completo.
— Vermelho — Dante direcionou seu olhar para Raphael — O que isso significa?
— Isso quer dizer que você é um usuário de mana do tipo sentimento.
— Tá, mas o que eu posso fazer com isso?
— É meio difícil dizer ao certo do que você é capaz. Os usuários de mana do tipo sentimento, apresentaram bastante técnicas de suporte e coisas que tem uma certa relação com sentimentos, como água e natureza.
— Então significa que pode-se fazer coisas além do controle de mana?! — Apesar da expressão fria de Dante, ele parecia empolgado com aquela ideia.
— Obviamente.
Dante encara as suas mãos, na sua cabeça se passavam milhares de possibilidades das técnicas que ele poderia utilizar, agora que controle de mana não era mais a sua única arma no arsenal.
— Garoto, venha comigo.
Raphael se levantou e foi para a parte dos fundos da sua casa e Dante apenas o seguiu.
Do lado de fora, o ruivo se aproximou de uma árvore e colocou a palma de sua mão direita contra o espesso tronco.
— Eu recomendo que você se afaste um pouco — Raphael lançou seu olhar para Dante — Para não ter risco de você se machucar.
O jovem achou aquilo meio estranho, porém não o questionou e apenas deu alguns passos para trás.
Vendo que Dante já tinha tomado uma certa distância, o ruivo voltou a encarar a árvore na sua frente. De repente alguns pequenos raios começaram a sair do braço de Raphael e seguida uma altíssimo estrondo aconteceu.
BOOOM!!
Uma onda de choque saiu da mão de Raphael muito forte, saiu da mão de Raphael e simplesmente destruiu a parte da madeira que o ruivo encostava e consequentemente, derrubou a árvore. Ao olhar um pouco mais atrás da árvore, pôde notar que havia outra, que havia sido severamente danificada com a onda de choque.
Dante se assustou com o som alto que aconteceu de repente, que teria até machucado de leve os seus ouvidos.
— Isso foi incrível Raphael — Dante se encontra boquiaberto.
— Eu sou usuário de mana do tipo energia, o que me dá a possibilidade de usar técnicas energéticas, como essa onda de choque que eu criei.
Por mais frio que Dante fosse, uma pontada de empolgação havia surgido em seu coração.
— Eu começo por onde?
— Você parece empolgado garoto — Raphael abre um sorrisinho de canto — Vamos começar de vez o seu treinamento.
Dante confirmou com sua cabeça.
No quintal em frente a casa, Dante e Raphael se encaravam.
— Você já aprendeu a concentrar mana em algumas partes do seu corpo, agora vai aprender a fazer isso nele por completo — Raphael respirou fundo e uma energia de cor vermelha se espalhou por toda a superfície do seu corpo — Imagine como se a mana fosse água e seu corpo fosse um rio que se divide em outros rios.
— Parece ser fácil.
— Apenas parece.
Seguindo as instruções de seu professor, Dante fechou os seus olhos e mentalizou diversos córregos, onde a água seria a mana e o caminho que ela seguia, era o seu corpo. Fazendo isso, uma estranha sensação começou a se espalhar pelo seu corpo, como se fosse uma espécie de formigamento.
Ao abrir seus olhos novamente, Dante se deparou com uma energia azul cobrindo o seu corpo. Aquilo lhe impressionou, porém, também tirou um pouco de sua concentração, o que foi o suficiente para fazer a mana desaparecesse.
— Eu consegui — disse Dante, com uma certa arrogância na sua voz fria — Como eu disse, foi bem fácil.
— Não vá se achando, você se distraiu um pouco já foi o suficiente para que perdesse o controle na da mana e além do mais… — Raphael aponta para o peito de Dante — Olhe o seu estado atual.
Dante só entendeu o que Raphael quis dizer, quando olhou para si mesmo. Suas roupas estavam completamente encharcadas e fedendo a suor masculino e também tinha a sua respiração, que estava muito ofegante. O jovem não havia percebido, mas apenas com aqueles breves segundos espalhando mana pelo seu corpo, já havia sido suficiente para deixar o seu corpo exausto
— Isso que dá ser tão arrogante — O homem dava algumas risadinhas enquanto falava e tinha um sorriso de satisfação estampado no rosto — Tomara que isso sirva como uma lição de humildade garoto.
— Cala a boca — Dante tentava, mas não conseguia esconder a sua irritação — Eu vou dominar isso aqui rapidinho, você vai ver só!
— Então tá, me mostre o que pode fazer, homenzinho — disse Raphael, enquanto se sentava em um canto do quintal.
— Não me chame assim!!
— O que foi? Não gostou do novo apelido? — Raphael tinha um tom provocativo em sua voz — Melhor parar de prestar atenção em como eu te chamo e se concentrar no seu treinamento.
Por mais que as piadas sem graça de Raphael conseguissem tirar ele do sério com muita facilidade, o homem estava correto. Dante tinha que parar de dar ouvidos a Raphael e focar no seu treinamento, para que enfim pudesse dominar a técnica de controle de mana.
Dante novamente fecha os seus olhos e em sua mente, começa a imaginar aqueles rios, porém dessa vez, a correnteza que eles seguiam não eram fortes. As águas cruzavam a terra com calma e delicadeza, se dividindo em outros diversos rios. Dante sentia um calor se espalhar por cada músculo do seu corpo, que pareciam ser estimulados por esse mesmo calor. O corpo de Dante começou a pesar cada vez menos, até que ele parecia ser tão leve como uma pluma, já tinham se passado vinte segundos desde que ele distribuiu a mana pelo seu corpo e infelizmente, não durou mais do que isso.
Uma quantidade absurda de suor começou a sair da pele de Dante, encharcando ainda mais a roupa, que já estava molhada. A respiração do rapaz acelerou muito rapidamente, os seus pulmões procuravam oxigênio a todo custo. Dores tomaram conta de muitos dos músculos do garoto, como se ele tivesse feito muitas horas de exercícios.
O garoto então abre seus olhos e vê tudo meio embaçado, graças a grande fadiga que sentia naquele momento. As suas pernas doíam como se ele tivesse corrido uma maratona inteira e acabaram por ceder, fazendo Dante cair de joelhos. Junto disso, um refluxo gastroesofágico acontece e Dante vomita, botando todo o seu almoço para fora.
— Por que eu me sinto tão mal? — Dante ainda estava muito ofegante.
— Espalhar mana por todo o seu corpo é muito diferente de concentrar em um único lugar ou arma — Raphael abriu seu braços — Quando você espalha a mana a mana pelo corpo, é literalmente todo o corpo: Seu cérebro, olhos, ouvidos. Tudo.
— Isso quer dizer que todos os meus atributos ficam mais fortes, logo, custa muito mais mana e habilidades.
— Sim, é uma quantia que pode ser considerada absurda para um iniciante, porém quanto mais você treinar, maiores vão ser as suas reservas de mana e melhor você irá ficar no controle dela.
— Então eu não tenho mais tempo a perder — Dante forçou a suas pernas se levantarem — Vou voltar ao treinamento.
Foi a partir daquele momento que o treino de Dante realmente começou. Ele passava manhã, tarde e noite espalhando mana pelo seu corpo, não importava o quão cansativo aquilo fosse, o garoto não parava. Isso causava curiosidade em Raphael, ele se questionava o porquê daquele moleque treinar tão incessantemente, o que ele queria alcançar com todo aquele esforço. Provavelmente tinha algo haver com o seu passado, o que quer que aquele garoto tenha passado, foi traumatizante o suficiente para fazê-lo treinar horas sem parar.
***
O treinamento de Dante já havia começado a pouco mais de uma semana, nesse meio tempo ele treinou como um louco. Com isso o resultado chegou bem rápido, ele já conseguia não só espalhar a mana pelo seu corpo, mas também lutar enquanto fazia isso, porém o tempo máximo ele conseguia se manter durante a luta era um minuto e mesmo assim continuava se cansando muito para utilizar dessa técnica.
Após uma luta amistosa entre Dante e Raphael, o jovem se deitou sobre a grama, ofegante e exausto, absorvendo um pouco da luz do sol da tarde, enquanto o ruivo continuava com todo o gás.
— Você melhorou bastante, parabéns — Raphael abriu um sorriso e colocou a espada no ombro — Acho que você já está pronto.
— Pronto para que? — Dante nem se dava ao trabalho de olhar para o seu professor, de tão cansado que estava.
— Para sua primeira missão.