A Herança do Assassinato - Capítulo 8
Aquela ideia era completamente idiota. Não, não era apenas isso. Um garoto com a idade e experiência em combate de Dante, lutar contra um líder de um acampamento goblin, seria, literalmente, a mesma coisa do que cometer um suicídio.
Raphael não poderia deixar que aquilo acontecesse diante de seus olhos. Tinha que impedir Dante, antes que fosse tarde.
— Você ficou louco, Dante?! Uma criança como você, vai ser massacrada por um líder goblin!!
— Então se eu morrer, era isso que deveria acontecer.
— Como assim, porra?! — Raphael agarra o braço de Dante — Tá querendo bancar o suicida?!
O jovem então vira seus olhos azuis para Raphael, que pode ver através deles, uma enorme onda de sentimentos misturados, mesmo que o rosto de Dante permanecesse frio.
— Eu tenho que matar esse monstro — O jovem se solta e saca mais uma vez sua chisa katana, se virando contra o seu oponente, que ainda passava por um ataque de fúria — Para cumprir meu objetivo tenho que ficar forte, o mais rápido possível. Então se eu não puder derrotar ele, significa que eu sempre vou ser fraco.
O ruivo não queria deixar o seu discípulo enfrentar um inimigo tão forte em um confronto mortal, porém dava para ver claramente que Dante não ia desistir daquela batalha e se Raphael se intrometer, só iria causar discórdia entre os dois.
— Ok, lute com ele — Raphael solta o cabo de sua espada e se afastou do seu aluno — Porém se você estiver prestes a morrer, vou matar aquele goblin.
— Obrigado, Raphael.
Dante então começou a caminhar a passos lentos em direção ao grande e gordo goblin, ao mesmo tempo que espalhava mana por cada músculo de seu corpo. Esse ato fez o jovem sentir que o seu peso havia desaparecido e a partir daquele momento, pesava o mesmo que uma pluma
O homem verde percebe que o garoto vinha na sua direção, o mesmo solta algumas palavras em uma língua estranha e logo em seguida retira sua enorme espada da bainha. Juntamente disso, o mesmo libera um altíssimo rugido com o objetivo de intimidar o seu inimigo, mas isso não funciona com Dante, que continuou a caminhar, com a expressão neutra no seu rosto.
“Vou irritar ele, para que assim os seus ataques fiquem mais previsíveis e fáceis de se evitar” pensou Dante.
Ver a sua intimidação falhar, frustrou e irritou ainda mais. Logo, em um ataque de fúria, o goblin avançou com tudo na direção de Dante e em poucos segundos conseguiu alcançar uma velocidade enorme.
Isso surpreendeu Dante, que se deparou com seu inimigo a poucos metros à sua frente.
O goblin gigante levantou sua espada e então a desceu, desferindo um rápido e forte corte vertical. Dante salta para o lado instantes antes que a lâmina o partisse ao meio, podendo sentir a leve rajada de vento que era gerada apenas com o balançar daquela espada, que logo colidiu com o chão, levantando uma grande quantidade de poeira e até lançando algumas pedrinhas para longe.
“Como ele pode ser tão rápido, com um corpo desse tamanho!!” pensou Dante, enquanto aterrissa novamente no chão.
O goblin tenta retirar sua espada do chão, mas ao tentar fazer isso nota, que após o seu ataque, a lâmina havia se encravado no chão. Quando Dante percebeu aquilo, não perdeu tempo e correu na direção do homem verde, lhe desferindo um golpe com sua espada, mas no mesmo instante o garoto é surpreendido.
Após segurar o cabo de sua arma com as duas mãos, o goblin finalmente retira sua espada do solo. Vendo que Dante estava prestes a desferir um ataque contra si, o monstro agiria por instinto e lança um ataque em resposta, fazendo as duas lâminas colorirem, porém o bem verde era muito mais forte que Dante e como consequência, o jovem é lançado para longe e bate com as costas no tronco de uma árvore.
Ele sentiu uma dor intensa ao receber aquele golpe, o garoto cai sobre a grama, sentindo uma intensa dor após aquele ataque. Raphael, vendo aquilo, ficou preocupado e ameaçou avançar, porém o mesmo vacila ao ver Dante se levantar, mesmo com dificuldades.
— Dante…
O jovem novamente tomou uma postura de combate, encarando o seu oponente. Tinha que pensar em alguma coisa e rápido, se não ia acabar morrendo. Aquele goblin mostrou ter habilidades físicas muito superiores a dele, então Dante tinha que usar a sua principal arma: o seu cérebro, para pensar em uma estratégia, mas essa era uma tarefa difícil com a dor e tontura que sentia naquele momento.
Enquanto Dante tentava bolar algum plano, o líder dos goblins não perdeu tempo e mais uma vez, correu na direção de seu inimigo, o alcançando em pouquíssimo tempo.
O Goblin lançou sua espada para trás e tentou acertar um corte horizontal em Dante, só que antes que isso acontecesse, o jovem executou um rolamento. Dessa forma, passou por baixo da lâmina e parou atrás do seu inimigo.
Ele não podia perder a brecha que acabara de criar, então rapidamente se levantou e cortou as costas no goblin utilizando de sua espada. Nesse curto período de tempo, Dante havia se concentrado em volta da lâmina, uma boa quantidade de mana, o que facilitou o ferimento a ser bem mais profundo do que fosse um ataque comum.
Em reação a isso, o enorme monstro soltou um urro de dor e se virou na direção de Dante, aproveitando do movimento para acertar um soco de cima para baixo na cabeça de Dante. Só que o movimento era descuidado e fácil de se prever, logo Dante saltou para trás, se esquivando do ataque, que atingiu o chão logo em seguida.
Nestes instantes, em que a adrenalina tomava conta do corpo de Dante, ele pode se lembrar do seu treinamento, de quando ele ainda morava na mansão de sua família. Estas que não eram memórias pelas quais ele tinha tanto apego, na verdade ele preferia as esquecer, porém se mostraram úteis naquele momento.
***
Dante era mais jovem ainda nessa lembrança, devia ter por volta dos seus 7 anos. Ele estava no meio do gramado, treinando esgrima com o Senhor Bigode, onde novamente, o garoto levava uma surra de seu treinador.
— Se levante!! — disse o Senhor Bigode, com um tom ríspido — Nós nem começamos!!
Dante se levantou com dificuldade, pois havia acabado de receber um potente golpe de uma espada de bambu.
— Me ataque novamente.
O garoto partiu na direção de seu adversário, desta vez desferiu golpes carregados de frustração, que foi criada a partir de diversas derrotas consecutivas. Apesar disso, os esforços de Dante se mostraram inúteis, pois Senhor Bigode conseguiu bloquear todos os golpes e ainda contra-atacar, acertando uma espadada nas costelas, com uma força que foi o suficiente para arremessar a criança para longe.
— Droga!! — Dante socou o chão, com fúria — Eu perdi de novo…
— O problema é que você está tentando vencer utilizando da força — diz Senhor Bigode, enquanto coloca apoia a espada no ombro.
— Como assim? — Dante se mostra confuso com aquela afirmação.
O Senhor Bigode solta um suspiro, como se já fosse para Dante ter entendido o que ele estava querendo dizer.
— Quando você enfrenta um oponente maior E mais forte que você, utilizar de sua força física será sua perdição. São nessas ocasiões que você deve se tornar mais rápido que seu adversário.
***
Essa era uma das ocasiões que o Senhor Bigode tinha dito a Dante. Agora ele tinha que utilizar de sua velocidade para vencer.
Então Dante avançou mais uma vez na direção do Líder Goblin com uma grande agilidade e desferiu um corte horizontal, para assim conseguir cortar o braço da criatura fora, mas então o espadachim foi surpreendido. O seu oponente levantou o seu braço esquerdo, o qual portava a espada, e bloqueou o ataque de Dante.
Após isso, o goblin empurrou a espada de Dante, forçando o rapaz a abrir a sua guarda. Então retirou a mão que estava afundada no chão e acertou um soco em cheio no peito do garoto, fazendo com que todo o ar fosse expulso dos pulmões de Dante, lhe causando um forte sufocamento, o impedindo de respirar.
Juntamente disso, o rapaz é lançado para longe e quando atinge o chão, rolaria por bastante tempo.
O simples ato de respirar havia se tornado uma tarefa incrivelmente difícil. Dante tentava puxar o ar para dentro de seus pulmões, porém isso se mostrava ser em vão, a sensação de sufocamento ainda era muito forte e cada mínimo movimento que seus pulmões faziam, uma intensa dor tomava conta de seu peito.
— Dante!!! Seu idiota!!
Raphael segura o cabo de sua espada e se prepara para ir para cima do goblin, porém ao ver Dante se levantar, algo dentro de si o impede.
De repente o clima naquele campo de batalha muda por completo. Tinha alguma coisa lá, uma coisa assustadora, que fazia Raphael ficar muito inquieto.
Dante se pôs de pé mais uma vez, mesmo sentindo dores por todo o seu corpo, com uma grande quantidade de sangue descendo pelo seu rosto e pingando no chão. Algo tinha mudado no jovem, seus olhos azuis pareciam carregar uma grande escuridão, sua expressão apática estava mais apática do que nunca.
O líder goblin não avançou. Os seus instintos de sobrevivência estavam a mil. Mesmo que seu oponente fosse apenas uma mera criança humana, seu corpo e sua mente sabiam que se lutassem iriam morrer e isso irritava aquele grande goblin. A ideia de um ser como ele, ter medo de uma criança era endurecedor, o que lhe causava um enorme conflito interno.
Enquanto isso, Dante apenas continuou a caminhar lentamente na direção de seu inimigo. Cada passo parecia ecoar por toda a floresta, que parecia ter perdido o seu verde naquele momento e acabou por ser tomada pelo cinza, como se fosse uma espécie de presságio.
— Eu vou te matar.
A frase de Dante não parecia carregar nenhum sentimento para ser uma ameaça, ela havia soado mais como um anúncio, como se ele fosse um vidente e estivesse informando o futuro ao seu cliente.