A Herança do Assassinato - Capítulo 9
— Eu vou te matar.
Estas eram as únicas palavras que Dante havia dito. Elas eram um aviso para seu adversário, para que ele estivesse preparado para o que estava por vir em seguida.
Com passos lentos e suaves, o jovem se aproxima de seu oponente, que estava ainda mais enfurecido por temer aquele garoto. Foi aí, que o combate retornou. O grande goblin avança contra seu oponente e utilizando da sua espada, desfere um cortes na direção das pernas de Dante, com força o suficiente para as arrancar com aquele único movimento, porém o jovem estava preparado.
Em um movimento rápido, Dante e um alto saltou e em pleno ar, começou a dar um mortal, utilizando cabeça de goblin como apoio durante o giro. Com a graça de um bailarino, Dante caí de pé, logo atrás do seu inimigo, que rapidamente se virou e tentou acertar mais um ataque em Dante, que já estava preparado para tal ato e se abaixou, fazendo a lâmina passar direto, por cima da sua cabeça.
Então, segurou com as duas mãos o cabo de se chisa katana e fez um profundo corte na barriga do goblin, que novamente grita, porém desta vez era de dor.
— UUAAAARRGG!!!!
Esse urro era endurecedor, espantando todos os animais que haviam restado nas proximidades do acampamento. Os tímpanos de Dante deram com a intensidade do som que fora gera, logo, para impedir um machucado mais grave, tapou seus ouvidos com as mãos e saltou para longe da fonte daquele barulho.
Os gritos foram perdendo as suas forças ao decorrer do tempo, até que se tornaram gemidos de dor, por causa dos graves ferimentos que a grande criatura tinha sofrido, que saiam da boca da criatura, junto uma grande quantidade de sangue que começava a escorrer de sua boca.
O goblin já não estava tão forte quanto antes, ele já havia perdido uma quantidade considerável de sangue, o que lhe tornava seus movimentos e reações mais lentas, além de perder uma boa parte de suas forças.
Por mais que o combate tivesse sido igualado naquele momento, Dante era quem tinha que mais se esforçar. Uma quantidade grande de mana tinha que ser espalhada pelo seu corpo para melhorar seus movimentos e como consequência, Dante ficava cansado e fadigado mais rápido do que o habitual. Como se isso não fosse o bastante, os ferimentos do garoto latejavam de dor.
Aquele embate tinha que acabar e tinha que ser logo, ou então Dante não ia ter forças o suficiente, nem para se mexer. Os próximos movimentos tinham de ser muito bem pensados, se Dante ainda cogitava que podia vencer.
“Pensa, Dante! Pensa!!!” exclamou Dante, dentro de sua própria mente “Você tem que acabar com isso logo, os seus próximos movimentos têm que ser extremamente precisos, para que eu possa matá-lo.”
Os adversários se encaravam seriamente, fazendo com que o ar ao redor deles parecesse que tivesse ficado mais pesado e tenso. Ambos finalmente entenderam que suas vidas estavam em risco, se fossem descuidados o seu próximo movimento, poderia ser o seu último.
Dante foi o primeiro a agir.
Avançou na direção de seu inimigo em alta velocidade, o goblin vendo isso pegou sua espada e tentou cortar o rapaz ao meio, porém Dante foi mais rápido. O jovem rapidamente colocou os joelhos contra o chão e inclinou o corpo para trás, assim saindo deslizando e fazendo com que a lâmina passar logo acima de sua face
Após o movimento, Dante se levantou rapidamente enquanto girava, aproveitando da inércia para golpear seu adversário com a espada, porém o mesmo bloqueou o ataque utilizando de sua arma.
O garoto não podia vencer uma competição de força bruta contra aquele bicho, então deslizou a lâmina sobre o bloqueio e penetrou na guarda do oponente. Aproveitando a brecha criada, Dante efetuou um corte profundo na coxa do monstro, o que diminuiria de forma considerável sua movimentação.
Em reação a dor, o líder goblin brandiu o seu braço, com o objetivo de acertar a cabeça de Dante com um soco, mas o jovem se abaixou e esquivou do ataque. Sem perder tempo, segurou com força o cabo de sua Chisa Katana, e lançou um ataque diagonal de baixo para cima, acertando grande parte do peitoral do grande goblin.
Litros de sangue borraram daquela feriadão, encharcando Dante. A pele do rapaz estava pintada com aquele líquido quente e avermelhado, porém isso não parecia o incomodar.
— Isso já acabou.
O goblin estava agachado sobre o chão, com muita sangue escorrendo até o chão, ao mesmo tempo que ele agonizava com aquela dor infernal.
Dante vendo aquilo decidiu pôr um fim ao sofrimento de seu adversário. Segurou o cabo de sua espada, que agora estava coberto por sangue, com as duas mãos e em movimento rápido e suave, arrancou a cabeça da criatura.
O rapaz então se virou para seu professor, que tinha em seu rosto uma expressão que não podia saber se era desespero, horror ou medo, mas uma coisa era certa, o que ele viu com toda certeza não ia o deixar com um sorriso no rosto.
Na face de Dante estava estampado uma expressão totalmente apática, mas por algum motivo, ele emanava uma aura sinistra. Seus olhos azuis pareciam ter perdido por completo a vida que ainda lhe restavam. O sangue de seu inimigo escorria pela pele do garoto e se misturava com o dele, camuflando os ferimentos que ele havia sofrido.
— Eu… — A voz de Dante estava tão fraca que parecia mais um sussurro — Eu ganhei.
A visão de Dante começou a ficar embaçada e escura aos poucos. O seu sangue estava começando esfriar e junto disso a adrenalina também diminuía, o que fazia com que as dores que antes estavam ocultas, aparecessem, além de sua carne parecer ter se transformado em chumbo, de tão pesado que ele havia se tornado.
Além das intensas dores que Dante sentia naquele momento, exaustão e fadiga tomou conta de cada músculo e nervo de seu corpo como consequência de ter usado quantidades absurdas de sua mana em um espaço de tempo tão curto que foi aquela.
As últimas coisas que ouviu antes de perder a sua consciência foi a voz de Raphael. Ela parecia estar muito distante, como se houvesse um gigantesco vale separando ambos. Em seguida, Dante sentiu o seu rosto e peito colorirem com força contra o chão, que agora estava encharcado de sangue.
Então a pura escuridão toma conta da sua visão, cegando não apenas a sua visão, mas como todos os seus outros sentidos.
***
Aquele não tinha uma noite nada boa. Os pensamentos de Dante estavam turbulentos como uma nuvens de tempestade. Diversas cenas surgiam em sua mente de forma aleatória. Vozes ecoavam, uma misturadas com as outras, criando uma espécie de orquestra caótica de infinitos gritos e sussurros.
Quando enfim isso chegou ao seu ao fim, Dante pode abrir seus olhos, o que lhe revelou o mesmo quarto escuro e velho no qual acordou depois ter sido salvo por Raphael. Ao encarar para seu corpo percebeu que estava repleto de ataduras improvisadas, provavelmente feitas por Raphael e apesar dessas duas características que não eram nada encorajadores, os curativos conseguiam cumprir o suficiente de sua função.
— Quanto tempo eu fiquei apagado?
Dante então tirou os cobertores de cima de si e se levantou, porém esse foi um erro grave. Quando ele fez isso, seu corpo parecia pesar o equivalente a toneladas e toneladas de rochas, mas se fosse apenas isso estaria tudo bem, cada movimento mínimo que ele fazia resultava em uma tortura violenta. Era visível que seus ferimentos ainda não estavam totalmente curados.
— Arrg…
Apesar da dor que sentia naquele momento, não se deu por vencido. Se apoiando na parede e em passos lentos, o garoto caminhou até a porta, que ao ser aberta revela o resto da pequena e simples casa de Raphael, que por sinal estava cozinhando algum veneno forte o suficiente para matar um elefante, traduzindo: qualquer prato que fosse preparados pelas suas mãos.
— Bom dia — disse Dante, com a voz fraca.
Raphael percebe a presença de seu aluno e se vira para o mesmo, abrindo um simpático sorriso em seu rosto.
— Olha só, a princesinha finalmente decidiu sair de seu sono de beleza.
— Quanto tempo eu dormi?
— Uns três longos dias.
— Três dias?!
Dante grita de surpresa, mas se arrepende logo em seguida, pois isso causa uma grande dor na região das suas costelas.
— Você ainda está muito machucado, coma alguma coisa, isso vai te ajudar a melhorar.
— Comer a sua comida? Tá querendo me matar mais rápido?
— Ela não é tão ruim assim.
— Verdade, ela é pior.
De toda forma, Dante andou até a mesa da cozinha, onde comeu uma sopa totalmente sem gosto, parecia mais parecia ser água que foi fervida junto de algumas verduras e sem nenhum tempero, porém a fome que Dante sentia era tanta, que ele conseguiu devorar aquela sopa inteira em alguns poucos minutos.
Após sua refeição, Dante e Raphael estavam sentados na mesa, sem olhar nos olhos um do outro. Até que o ruivo puxa a sua fala.
— Sobre aquele seu combate com o goblin…
— O que tem isso?
— O que foi aquilo que aconteceu? — Raphael tinha uma expressão incrédula — Você matou vários goblins e ainda teve uma batalha sangrenta contra seu líder, mas não mostrou hesitação ou remorso em nenhum momento.
— E qual o problema nisso? — A expressão de Dante parecia sombria — Ele era nosso inimigo, ele morria ou éramos nós.
Aquela resposta não só surpreendeu Raphael, como também o assustou.
— Mas aquele também era um ser vivo. Ele não tem mais ou menos valor que você.
— Então por que matou aqueles goblins?
— Eu os matei porque a vila corria perigo de ser atacada por aquelas criaturas, mas você tem que entender uma coisa — Raphael lançou um olhar sério para Dante — Você deve respeitar a vida que você tira, ele muito provavelmente tem uma família ou amigos assim como você.
Mais uma vez o silêncio se instaurou naquela casa, mas dessa vez o clima estava completamente diferente, estava pesado e tenso. Só que ele foi quebrado pelo som da cadeira de Raphael arrastando no chão quando o mesmo se levantou e andou até a porta.
— Venha, Dante…
— Para onde vamos? — questiona o garoto, enquanto se levantava
O ruivo parou e olhou para trás.
— Dominar a escuridão do seu coração.