A Herança do Assassinato - Prólogo
Em livros e peças de teatro, sempre que um personagem está para morrer, em sua cabeça se passava o filme de toda a sua vida. Dante sempre achou isso muito poético, porém não acreditava que esse tipo de coisa realmente acontecia, para ele, era apenas dor e sofrimento nos últimos momentos de vida.
Isso devia ser porque Dante já esteve frente a frente com a morte mais vezes do que ele gostaria e nunca teve esses longos flashbacks que são descritos em diversas histórias. Talvez isso fosse apenas a mais pura arrogância do rapaz, que o fazia acreditar que não fosse morrer naquele momento.
Porém, quando se é lançado contra uma gigantesca janela, é baleado três vezes seguidas e começa cair em queda livre de um prédio com mais de cem metros de altitude e vai atingir o chão em alguns poucos segundos, até o mais orgulhoso dos homens se vê obrigado a aceitar a sua derrota.
Dante sentia o vento gelado bater contra as suas costas e observava o céu noturno e estrelado se afastar de uma forma rápida dele. Os três buracos de bala ainda lhe causavam uma queimação infernal, essa era uma dor que ele não desejaria para ninguém, principalmente se a bala ainda ficar alojada no interior de seu corpo. Era como se o metal do projétil estivesse fervendo e te queimando por dentro.
“Merda” essa foi a única coisa que Dante conseguiu pensar naquele momento.
Aquele cara realmente era muito mais forte do que Dante imaginou. Seus movimentos eram velozes como o vento, mas ao mesmo tempo, eram fortes e precisos, igual ao ataque de um leão.
Apesar de ter aceitado a sua humilhante derrota, ele não podia morrer ali, ainda havia muito trabalho pela frente e provavelmente, se ele morresse a Louise e o César faria questão de irem até o último ciclo do inferno apenas para bater nele.
Infelizmente não tinha mais nada o que fazer, daqui alguns poucos segundos Dante ia colidir com o chão e sua vida iria chegar ao fim. Não era isso que ele tanto queria? Paz? Finalmente poderia descansar, mas então porque sentia medo e tristeza? Sua vida infeliz finalmente chegaria ao seu fim, então porque continuar a persistir nessa cruzada infernal? Será que ainda existia motivos para continuar vivendo? Mas é claro que tinha.
Pela primeira vez, Dante teve realmente medo da morte. Tudo que ele lutou para conquistar iria chegar ao fim naquele exato momento: amigos, família, amor. Dante não queria perder o que era preciso para ele. As lágrimas que saíam de seus olhos naquele momento não duravam muito tempo, pois logo depois de cair eram levadas pelo vento.
E foi nesse momento que aconteceu. O mundo ao seu redor desacelerou drasticamente, sua visão aos poucos foi ficando mais escura, até que tudo se tornou um grande breu. Como se fosse realmente um filme, Dante começou a lembrar de cada detalhe de sua vida, até de memórias que aparentemente deveriam estar apagadas de seu cérebro.
Bom, a sua história era bem longa, cheia de momentos felizes e tristes, altos e baixos, morte e vida. Então, para que as coisas não fiquem confusas, vamos começar pelo começo?