A Rosa Fantasma - Capítulo 12
07
Era uma vez, um jovem cientista de olhos azuis.
Sua infinita curiosidade era o combustível que movia os seus membros. Sua insaciável busca por conhecimento era a água que matava a sede do seu corpo.
Um homem refinado e educado que nos seus vinte anos de idade, já era chamado de o maior gênio do século.
Durante o nascer do Sol, o jovem cientista encontrou um pássaro que tinha perdido uma das suas asas. Ele o acolheu com um sorriso iluminado e o levou para dentro do seu laboratório.
— Se com a ajuda da ciência, eu criasse e te desse uma nova asa, você olharia para o céu e tornaria a cantar? Você tentaria voar através das nuvens novamente? — Perguntou com um tom confiante.
Em uma manhã de poucas nuvens, após meses de estudo e trabalho, o jovem cientista encontrou a cura para uma praga que ceifava centenas de vidas diariamente.
Ele ergueu o pequeno frasco de vidro contra a luz de uma lamparina e expirou lentamente.
— Se este líquido salvar toda a nação, serei lembrado pelas futuras gerações como um herói? Como o salvador do mundo? — Perguntou com seus lábios tremendo de tanta excitação.
Em uma tarde de garoa, o jovem cientista observava um corpo sem vida sobre a mesa de operações. Enquanto calçava suas luvas cirúrgicas, ele olhou para o alto e deu uma risada fraca.
— Se com o poder da ciência, eu criasse e te entregasse um novo coração que pudesse bater no seu peito, você abriria os olhos e viveria novamente? — Disse com os lábios tremendo de tanta empolgação.
O jovem cientista acabou se afogando em curiosidade ao navegar pelo fascinante universo da anatomia humana.
Dia após dia, ele cortou e investigou, de novo e de novo, parando somente após aprender o funcionamento de cada músculo, cada órgão, cada célula.
Aqueles olhos azuis estavam a apenas um passo de desvendar os segredos da vida e da morte.
Toda vez que encarava a imensidão do céu azul, novas criações surgiam e, imediatamente, eram colocadas em prática.
O jovem cientista queria que o seu dom e a sua sabedoria fossem sempre úteis para a humanidade. Ansiava e corria atrás de um mundo onde todos à sua volta pudessem viver felizes e por muito tempo.
Poucos eram aqueles que tinham um coração tão brilhante, tão puro. Desejos tão profundos e honestos, mas, ao mesmo tempo, tão sensíveis e frágeis. Uma pessoa que podia ser comparada a um castelo de cartas, bastando um simples sopro para que desmoronasse.
Durante um anoitecer chuvoso, o jovem cientista foi chamado às pressas até a sua pequena casa. Lá, encontrou o corpo inerte da sua querida esposa sobre um tapete de camurça ensopado de sangue. Alguém havia tirado a vida dela e roubado a criança que carregava no ventre.
Sem a sua amada e seu filho, uma expressão de puro terror foi gravada com ferro em brasa na face do jovem cientista.
— Ei…? Ei, ei…? Consegue me ouvir…? Se eu chorar até a luz deixar os meus olhos… Se eu gritar o seu nome até perder a minha voz… Se eu, pela primeira vez, rezar para Deus em busca de um milagre… Você tocaria o meu rosto carinhosamente e me daria aquele seu sorriso gentil novamente…?
O homem que lutava diariamente para livrar o mundo das trevas, acabou sendo devorada por ela.
O jovem cientista expulsou todos e não permitiu que mais ninguém chegasse perto da sua esposa. Não queria que ninguém o consolasse.
Ele se isolou em casa e agonizou por horas até, finalmente, dormir enquanto abraçava a sua amada sobre aquele tapete pintado de vermelho.
Na manhã seguinte, quando o jovem cientista voltou os seus olhos para o alto em busca daquele céu que tanto o inspirava, encontrou apenas nuvens escuras cercadas por um cinza mórbido.
— Como conseguirei seguir em frente sem você? Com que força derrotarei o luto que tanto me machuca? Quanto tempo será necessário para me acostumar a essa solidão que devora a minha sanidade com uma mordida de cada vez? — Questionou, sentindo-se extremamente vazio, sem objetivos, sem um futuro.
Durante uma noite sem estrelas, o jovem cientista, cercado por centenas de livros, buscava desesperadamente uma maneira de trazer sua esposa de volta. Só que mesmo após dar tudo de si, ele ainda não tinha conseguido encontrar uma cura para a morte.
Até mesmo a sua incomparável genialidade tinha um limite.
Enquanto isso, os olhos sem reflexo da morta continuavam fitando o marido de longe, implorando para que ele desse um fim à sua agonia. A mulher queria chegar ao céu, porém, seu amado continuava parado entre ela e as escadarias para o Paraíso.
Durante uma madrugada tempestuosa, o jovem cientista pegou alguns dos seus objetos cirúrgicos e foi ao encontro do corpo da sua esposa. Então, com um último sorriso, a abraçou forte.
— Quando te encontrei, entendi o quanto a vida era bela. Quando você me deixou sem um adeus, conheci a terror do sofrimento. O destino me usou como bem entendeu e, depois, descartou-me feito lixo após roubar tudo o que eu tinha. Sem você para me puxar de volta, nunca conseguirei escapar dessa espiral de desespero. — Sussurrou com um tom monótono e vazio.
A putrefação e a escuridão preenchiam aquela pequena sala de estar que tinha sido tomada pela poeira e teias de aranha.
As mãos do jovem cientista tremiam levemente enquanto cortava o corpo da sua amada, procurando por uma forma de aquecê-lo novamente. Já que os fios que ligavam os membros dela a esse mundo tinham sido cortados há muito tempo, não existia remorso pelo sacrilégio que estava sendo cometido.
Ao fundo, o tique-taque de um velho relógio parecia amplificado, abafando o barulho da navalha que caminhava pela carne, ressoando em suas infinitas badaladas.
Enquanto a mutilava, o jovem cientista definhava e se perdia em insanidade.
Aquele homem que já foi conhecido por ser curioso, educado e genial, finalmente tinha se tornado alguém morto por dentro igual a marionete que ele amava e se negava a enterrar.
— Por que eu?! Um simples e tolo dispensável! Eu e apenas eu, lançado no fogo do Inferno e nas garras do Diabo. Abandonado pela pessoa que eu mais amava, por Deus e pelo planeta que eu tanto me sacrifiquei para salvar! — Gargalhou com um tom vazio até que a sua última gota de esperança se esvaiu.
Depois, tudo o que restou foi o silêncio.