A Rosa Fantasma - Capítulo 4
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▸14h32min — ???◂
A legior despertou com a visão embaçada e a cabeça doendo. Assim que levantou o rosto, uma ânsia de vômito embrulhou o seu estômago.
— Ai, ai. — Revirou-se no chão até conseguir se sentar. — Onde estou…?
Estava dentro de uma sala minúscula que era iluminada por uma única vela. Cordas prendiam firmemente suas mãos e pernas.
Ao olhar na direção da porta, avistou a misteriosa pessoa de vermelho. Ellen esperava descobrir qual era o rosto escondido pelo capuz, porém, no caminho, tinha uma máscara branca de cera com diversas marcas tribais deixando apenas os olhos visíveis.
— Finalmente nos encontramos, Chapeuzinho Vermelho. Ou, quem sabe, tem um Lobo Mau dentro desta fantasia? — Forçou uma risada. — Então, o que deseja de mim?
— Você e o seu amigo devem sair da cidade imediatamente. Vão embora e não voltem nunca mais.
O tom de voz da pessoa de capuz era fraco e apático, claramente forçado feito um amordaçado tentando dialogar.
Primeiro, a soldado observou cuidadosamente aquela figura de cima a baixo, calculando mentalmente todas as suas medidas. Em seguida, revirou a sala com o olhar até encontrar os seus pertences; um pequeno saco de pano, que costumava carregar no bolso da sua jaqueta, e um objeto de metal retangular guardado em uma bainha.
— Por mim, eu abriria mão de toda essa bagunça e voltaria para casa imediatamente. Tomaria um longo banho quente e apreciaria um delicioso jantar. Só que o problema aqui, é o idiota que veio comigo, sabe? Duvido que ele aceite a sua proposta generosa. E, bem… Pode ser desagradável admitir, mas diferente dessa cidade, não consigo abandoná-lo tão facilmente.
— Se continuarem aqui, o único futuro que os aguardam é a morte.
— Deixa de papo furado! Todo mundo sabe que pra morrer basta estar vivo! — Um sorriso encantador apareceu no rosto da garota de cabelos brancos. Sorriso que poderia até ser considerado normal se não estivesse sendo direcionado para alguém que emanava perigo. — Enfim, não vamos ficar falando de coisas tediosas como vida e morte. Se estamos procurando assuntos interessantes para discutir, que tal esses? Por que ainda estou respirando? Não me sequestrou apenas para me fazer um ultimato, né? Foi para desabafar sobre o fato de você ser uma mutação? Uma aberração da natureza? Uma experiência?
A reação à palavra “experiência” foi mínima, porém, Ellen notou imediatamente.
— Já que você se recusa a falar, permita que eu responda todos esses questionamentos. Acredito que não estou morta porque você não gosta de derramar sangue. O que me faz pensar assim? O fato de nenhum humano ter sido ferido durante os seus ataques aos comboios de alimentos. — Ao notar o espanto refletido nos gestos da pessoa encapuzada, uma risada venenosa escapou pelos lábios da legior. — Sendo bem sincera, não estou nenhum pouco interessada em saber como você adquiriu esses poderes, mas sim no porquê de querer prejudicar Jothenville mesmo correndo o risco de trair essa ideologia de “não ferir pessoas”. Não sei se você tem consciência disso, mas uma hora ou outra, todos esses homens, mulheres e crianças vão, inevitavelmente, morrer de fome. Você não vai matar apenas uma pessoa, matará milhares…
Antes mesmo de fechar a boca, Ellen desabou no chão por consequência do tapa que a atingiu. Uma pancada forte o suficiente para ofuscar sua visão.
— Ai, ai… Acho que eu estava errada… A sua intenção não é destruir a cidade… Então, a única opção que restou é: você está atrás de Marcos Arthmael. — Após confirmar a sua dedução nos olhos do inimigo, a soldado se sentou e riu baixinho. — Finalmente descobri o motivo para você estar fazendo tudo isso! Na verdade, desde o início existiram apenas duas respostas óbvias! Afinal de contas, humanos só machucam outros humanos por ódio ou por amor.
Mais uma vez, a pessoa de capuz avançou na direção da legior e a derrubou com um único golpe.
— Escolheu a opção errada, garota! Como consequência, deixarei que morra neste lugar para servir de alimento pros ratos!
Deu meia-volta e foi embora. O som seco da porta sendo trancada fez Ellen estremecer.
— Ugh… Quem você pensa que é…?
A pessoa de vermelho sequer notou que tinha caído em uma armadilha. Nesse breve momento de fúria, por descuido, acabou deixando escapar a sua verdadeira voz.
Ellen se revirou até conseguir sentar novamente. Ao notar o estado em que as suas roupas estavam, ela esperneou.
— Maldição! Agora estou ainda mais suja! — Literalmente, cuspia fogo. — E onde diabos está aquele cabeça de atum quando eu mais preciso dele?! O quão inútil você ainda consegue ser, Owen?!
Em resposta a palavra “atum”, o estômago dela roncou, fazendo-a suspirar com uma feição triste.
— Okay… Hora de sair em busca do lanchinho da tarde.
Ergueu seus pés um pouco acima do chão e os balançou até que uma pequena navalha presa na sola da sua sapatilha esquerda caísse. Depois, ela se arrastou e ficou de costas para a navalha. Assim que a pegou, cortou a corda que prendia suas mãos e, em seguida, a que prendia os seus pés.
— Muito fácil. Agora é a vez da porta.
A primeira coisa que Ellen fez foi pegar de volta o seu equipamento. Ela levantou a barra da saia e prendeu a bainha com o objeto retangular um pouco acima do seu joelho direito. Em seguida, pegou o pequeno saco de pano e o abriu. Dentro dele, tinha uma pequena faca retrátil, gizes e lixas de diferentes tamanhos e formatos.
Com um sorriso confiante no rosto, a jovem sacou dois dos objetos e os direcionou para a fechadura enferrujada da porta de madeira.