A Rosa Fantasma - Capítulo 9
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▸16h00min — ???◂
— Pare de me seguir, coisa pervertida, coisa asquerosa, coisa nojenta!
Ellen corria em disparada pelo labirinto enquanto tentava manter acessa a luz do lampião que segurava. No entanto, apenas essa claridade não a impedia de tropeçar nas pedras e buracos do terreno irregular.
— Uma saída, uma saída! Onde tem uma maldita saída?! Aaaahh! Não consigo correr direito por causa deste vestido idiota!
Entrou na primeira sala que encontrou e trancou a porta com uma trava de madeira. A legior esperava que o silêncio pudesse esconder a sua presença, mas apenas as batidas do seu coração já foram suficientes para atrair a atenção da criatura que tinha sentidos mais apurados que os de um cachorro.
— GRAAAAAHHH!!!
O grito gutural do monstro ecoou, seguido por um ataque furioso à porta que fez toda a estrutura da sala tremer. A tranca não aguentaria muito tempo.
— Ellen, pense! Se estou mesmo debaixo de Jothenville, só preciso abrir um buraco no teto e escalar até a superfície. Porém, isso pode ser bastante perigoso considerando a chance de ter alguma construção acima de mim. Qualquer descuido resultará em um grande desmoronamento, e a última coisa que quero é ser sepultada nesse fim de mundo.
No segundo ataque do monstro, um braço esguio cheio de veias pulsantes atravessou a madeira. Logo em seguida, o outro braço também a varou. Ellen sabia que mesmo sendo bastante diferentes, aqueles membros pertenciam a mesma pessoa.
— Isso é ruim… Muito, muito ruim!
Ciente de que o seu tempo estava acabando, a legior foi até a parede oposta à entrada, colocou o lampião no chão, retirou suas luvas — guardando-as em um dos bolsos da sua jaqueta — e apoiou as duas mãos nela. Diferente da primeira vez, seu toque corroeu a estrutura em poucos segundos.
Ellen podia imaginar apenas duas possibilidades para isso ter sido possível. A primeira, seria por conta da adrenalina que corria pelas suas veias. E o segundo motivo…
— Owen está por perto?
Após passar pela fissura e colocar o lampião em um canto, ela investigou a nova sala. Diferente da anterior, essa era mais parecida com o estoque velho de um armazém, lotada de caixotes de madeira. Como não havia uma porta aparente e o teto não era tão alto, decidiu encarar o risco de fazer tudo desabar.
— Primeiro, construir uma escada, e, depois, cavar um poço até a superfície.
Porém, antes que pudesse dar o primeiro passo em busca desse objetivo, a porta da sala anterior voou das dobradiças.
O mutante era incrivelmente veloz mesmo com seus membros desproporcionais. Correndo de quatro feito um animal selvagem, ele cruzou metade da primeira sala em apenas cinco segundos.
Desesperada, Ellen retornou para a entrada da passagem e, a fim de impedir o avanço da criatura, deslizou sua mão esquerda um pouco acima da fissura. O seu toque fez com que as rochas e o barro derretessem, derrubando boa parte da estrutura e, consequentemente, bloqueando a única rota de entrada e saída.
Por um momento, a legior pensou que tinha escapado, no entanto, fortes tremores e sons de pedras se chocando contra o chão começaram a ecoar sem cessar.
— Só pode ser brincadeira! Não me diga que ele está escavando a parede com as próprias mãos?! Isso é insano! — Era apenas questão de tempo até a criatura recriar a passagem graças a sua força sobre-humana. — Vamos lá! Escada, escada! Preciso de uma escada!
Ajoelhou-se na frente de um caixote de porte médio e abriu a tampa. Dentro dele, haviam vários objetos retangulares com o tamanho de um gato adulto, além de relógios, antenas e fios coloridos. Tantos aparatos mecânicos indicavam apenas uma coisa.
— São bombas? Caramba, quantas devem ter aqui? Será que planejam explodir o continente inteiro, por acaso? — Bateu nas próprias bochechas duas vezes. — Calma, espera um pouco! Não é hora pra ficar admirada! Mantenha o foco!
A legior resmungava bastante enquanto recolhia e empilhava aquelas caixas pesadas no centro da sala. Quando tinha a sua “escada” preparada, limpou o suor da testa e olhou para cima.
— Certo, próximo passo. Considerando que eu esteja muito abaixo da superfície, é bem provável que, com o meu poder limitado, não conseguirei abrir uma passagem. A minha única alternativa é tentar algo mais complexo e torcer para que Owen esteja por perto. — Riu. — Quer dizer que, no fim, dependerei da minha incrível sorte para poder escapar? Aha, estou mesmo muito ferrada…
Ellen puxou o pequeno saco de pano do bolso da sua jaqueta, retirou de lá um giz de gesso branco e subiu nos caixotes. No teto, ela desenhou um círculo, e, dentro dele, vários símbolos que formavam um caracol caso olhado de longe. Cada pequeno risco era feito com bastante cuidado, pois qualquer mínimo erro poderia significar a falha total do feitiço.
Enquanto isso, os constantes ataques da criatura provocavam desabamentos de terra. Ele estava prestes a atravessar a parede.
— Preciso fazer um sacrifício… Hoje, definitivamente, não é o meu dia.
Após finalizar o desenho, ela pegou sua pequena faca, cerrou os dentes e começou a fazer cortes finos na palma da sua mão esquerda. Depois, usando o próprio sangue, marcou o círculo no teto de um lado para o outro.
Infelizmente, nada aconteceu. Nem mesmo um trinco ou um fragmento de luz.
— Como eu suspeitava. Para completar algo tão complexo, precisarei da ajuda do outro lado e muito mais sangue…
Grandes pedaços de destroços começaram a voar para todos os lados. Para não ser atingida, Ellen saltou de cima das caixas e rolou pelo chão. Após uma série de cinco golpes, o monstro reabriu a entrada que ligava as duas salas.
— Ugh…
A jovem de cabelos brancos levantou, retirou um pouco da poeira acumulada no seu vestido e fitou a palma da sua mão ensanguentada.
— É melhor apressar o passo, Owen.
Recolocou as suas luvas, levantou a barra da saia e sacou o objeto branco e azul que estava na bainha da sua perna. Era o seu sensório. Após apertar um dos botões do equipamento, uma longa corda dourada foi lançada para fora.
— Vamos começar o baile?
Assim que deu o primeiro passo dentro da nova sala, a criatura rugiu e, imediatamente, correu em disparada. Em resposta, a legior bateu a ponta do chicote contra o chão e abriu os braços como se estivesse o desafiando para um duelo.