Amor e Dinastia - Capítulo 2
VISÃO MADALENA
Depois de esperar por 20 minutos, descobri que Josh havia indo embora em um carrão que mais parecia o do Batman. Pelo menos foi o que me disseram.
Josh pode ter inúmeros defeitos, mas ele costuma cumprir com sua palavra. O fato dele ter ido embora sem ao menos mandar uma mensagem estava me incomodando.
Liguei a seta e estacionei o carro no primeiro posto de combustível que vi. Jasmine questionou minha atitude, apenas ignorei, digitei o número de Josh e ansiei por sua voz.
“O número que você ligou, não está disponível ou não existe”
Droga! — pensei alto enquanto digitava novamente o número.
Os dedos tropeçavam, me fazendo trocar os números, o que só piorava minha ansiedade.
Então, finalmente acertei o número e esperei que ele atendesse.
— Tá tudo bem? — Jasmine me encarava.
— Tá sim, eu só…
Esperei…
Esperei…
Esperei…
Nada.
— Merda! — Por que ele não atende?
Sorri para minha irmã, que estava nitidamente assustada, enquanto retomava a ligação mais uma vez.
Atende.
Atende.
Atende.
VISÃO JOSHUA
— Quem é? — Malec perguntou quando ouviu o toque do celular.
Chamada de Madalena.
Tive uma descarga de adrenalina ao ver a ligação. Rapidamente pensei em atender e denunciar para Madie o que estava acontecendo.
Mas logo me lembrei do que estava em risco.
— Anda, me dá isso aqui! — Marvin tomou o celular de minha mão antes que eu pudesse tentar fazer qualquer coisa.
— É a vagabunda da Madalena — disse ele.
— Ela… não é vagabunda — defendi com voz trêmula.
— Faz o seguinte — Marvin apontou a arma na minha direção — fica calmo, atende a ligação e diz que tá tudo bem. Sei lá, fala que não pode falar agora, mas que você retorna depois.
De primeira, hesitei em atender, mas não estava em posição de escolha.
— A-lô
— Josh!? Cadê você? Aconteceu alguma coisa?
— O-oi Madie, tá tudo bem. Eu não posso falar agora. Mais tarde te ligo, ok?
— Tem certeza?
— Tenho.
“Se cuida” Foram as últimas palavras que pensei que ouviria de Madie.
— Me dá aqui. Eu devolvo quando acabarmos com isso, prometo. — Mark estendeu a mão para que eu entregasse o celular.
A forma naturalista como ele levava a situação era desconfortante. Não era possível, de forma alguma, ler suas intenções.
Não era sábio procurar qualquer tipo de confronto naquela circunstância, então apenas o entreguei de bom grado.
— Você agora deve estar confuso, com vários “porquês” na cabeça. Mas irei ao que interessa.
Enquanto Malec falava, percebi que o trajeto era familiar, até me dar conta de que estávamos bem próximos da minha casa.
Por fim, Malec estacionou o carro em frente ao portão de entrada, fazendo um gesto para que o porteiro não o abrisse.
Depois, Malec fez um gesto com o rosto para Marvin, como se estivesse indicando para que ele fizesse algo. Marvin abriu o porta luvas e sacou algo que não consegui ver.
Malec se virou e falou, do banco da frente:
— O seu pai tem… hum… digamos, nos deixado em falta com alguns acordos.
Eu não sabia do que ele estava falando. Até aonde tenho ciência, meu pai sempre cumpriu com os contratos entre as famílias.
Ele continuou:
— Desde que ele esteve envolvido no conselho, esperávamos beber mais de águas cristalinas, você me entende? Mas, curiosamente, temos recebido bem menos que o esperado. E agora com o anúncio de que ele está oficialmente dentro do conselho, isso me fez refletir.
Malec acendeu um cigarro e me ofereceu um, mas recusei.
— Talvez seu pai esteja negociando com outras famílias, talvez ele esteja trazendo tudo para si, não sei, são inúmeras possibilidades que não me interessam. Apenas busco aquilo que é meu: Dê a César o que é de César.
Comecei a perceber o que estava acontecendo. Era um jogo de tabuleiro. Minha mãe corria perigo no avião, e eu, no carro. Duas opções para o meu pai: quem ele salvaria na jangada?
Foi então que:
— Levando em consideração que o avião decolou às 6h, você tem 2h até que ele pouse em Londres. Esse é o tempo que você tem para convencer seu pai — Marvin me entregou o objeto que havia pego no porta luvas, era um envelope.
— Convencer do quê? — perguntei, confuso.
— Este documento contém alguns termos que contemplam a transferência do hotel 7 estrelas que seu pai adquiriu há anos atrás. Aquele grandão lá do centro da cidade.
Mark e Marvin olhavam para mim, os dois, como se estivéssemos em um bar jogando conversa fora.
A frieza como tratavam os “negócios” era assustador.
— Por que ainda está aqui? — Marvin disse, devolvendo meu celular.
— Saia do carro, Josh, e vá fazer a coisa certa. E lembre-se, são apenas negócios, não somos assassinos.
Balancei a cabeça em afirmação e saí do carro.
— Ah! em 2 horas, na frente do hotel. Só eu e você. E traga as chaves, Ok? — Marvin falou enquanto seu pai arrastava o carro.
Levei um tempo para processar tudo que havia acontecido. E pior de tudo, a situação ainda não tinha acabado.
Entrei em casa desnorteado, com os pensamentos embrulhando e uma gastrite que queimava as tripas. Meu pai tentou nada falou quando me viu, percebeu logo de cara que havia algo errado.
Apenas disse-lhe tudo, sem dar a oportunidade de questionar o meu bem estar. Chorei desesperadamente até soluçar e me faltar palavras para explicar os detalhes.
Meu pai estava nitidamente estressado com a notícia, mas não surpreso. Como ele não poderia estar surpreso? Desesperado, assim como eu estava?
— Eu não posso assinar isso — ele respondeu friamente, sentando-se no sofá.
— O-o quê?
— Não posso assinar — repetiu — não está mais sob meu domínio.
— E pra quem o senhor vendeu?
Minha expressão de “não sei do que você está falando” foi o bastante para que ele começasse a explicar:
— Entreguei à família Brandon já faz um tempo, está sob posse deles agora.
Estávamos tentando sair de negócios ilícitos, então fazia sentido a venda do hotel, já que era um ponto de encontro de pessoas de todos os cantos da cidade, inclusive de gente do sub solo.
Me incomodava o fato dele não ter me contado, mas isso era assunto para depois.
— Podemos comprar de volta — sugeri imediatamente.
— Não é uma opção, toda fonte de renda dos Brandon’s vem do hotel. Seria como derrubá-los de vez da cadeia alimentar.
Nossos pensamentos borbulhavam em busca de alternativas, meu pai sugeriu um cheque que contemplasse o valor exato do hotel, mas seria preciso uma avaliação e isso levaria tempo demais. Coisa que não tínhamos.
Além de que a essa altura do campeonato, o hotel já estava na casa dos bilhões.
— Vamos entregar tudo que temos a eles — disse ele.
— Tudo? — indaguei, assustado.
— Agora que faço parte do conselho do governo, vamos ter verba para vivermos como “pessoas normais”. Sem drogas, sem cassinos, prostíbulos e essas coisas que faziam parte da nossa renda.
Ele tinha razão, mas uma ruptura desse nível nos deixaria vulneráveis, era uma forma muito brusca de se resolver, mas não tínhamos outra alternativa.
Mas era a vida de minha mãe e sua esposa que estava em jogo.
Já havia passado meia hora desde que cheguei em casa, tínhamos uma hora e meia para organizar uma pasta com questões contratuais de posses no nome de meu pai.
O sentimento de humilhação era inevitável, mas o afogo pela vida de minha mãe era maior que tudo.
Foi assim, então, que eu e o Sr. Wesley, meu pai, decidimos nos despojar de toda fonte de riqueza adquirida durante longos anos. Até mesmo as que estavam sendo mantidas há gerações.
— Eles não vão querer nos matar, se é isso que lhe preocupa. Já estaremos mortos para eles, fora de seus caminhos — Wesley dizia enquanto ajeitávamos os tramites.
“Agora é com você, hoje você se torna oficialmente um negociador da família Ebenezer.”
“Quero que levante a cabeça e a mantenha sob postura. Seja frio, não demostre ansiedade. Olhe nos olhos dele. Quero que você dite a atmosfera do ambiente.”
Lembrava-me das palavras de meu pai, já dirigindo em direção ao hotel 7 estrelas.
Também olhei para a arma no porta-luvas, preparando-me para matar, ou ser morto. Não sabia o que o destino havia reservado para aquela noite.
Estacionei o carro e caminhei em direção ao hotel. Um extremo luxuoso; um tapete que parecia mais o hall da fama decorava a porta de entrada, o restaurante era cheio de celebridades e pessoas da imprensa.
Marvin havia reservado um local nas entranhas do hotel, local reservado para um seleto grupo de pessoas, os grandes da cidade.
Não foi difícil encontra-lo ao final do corredor, uma luz vermelha atenuava os detalhes do terno roxo que ele usava. Discrição não era seu forte.
— Vamos acabar logo com isso — disparei, sentando bruscamente na cadeira.
— Por que a pressa? — Marvin ironizou, com um sorriso de canto.
Logo em seguida lembrei das palavras de meu pai sobre não ser ansioso e me recompus.
— Eu tenho uma contraproposta — expliquei.
Os minutos seguintes seriam decisivos, Marvin já estava ciente da proposta e, pelos meus cálculos, faltavam 10 minutos para o avião de minha mãe pousar.
Naquele ponto, a calma já não era mais uma opção.
Marvin e seu pai conversaram por telefone durante 5 minutos, e a resposta que viria não parecia ser nada agradável.
— Ele disse “não” Nada feito! — Exclamou Marvin.
— Perdão?
— É isso mesmo que você ouviu. Meu pai só está interessado neste hotel, nada mais!
Enquanto Marvin acabava de falar, minha mão já estava puxando a arma da cintura.
Sem pensar no ambiente cheio onde estávamos e nas consequências, engatilhei a arma e esbocei o movimento para aponta-la para Marvin, contrariando o que meu pai havia dito sobre ser calmo.
— Como eu disse, ele só está interessado no hotel — disse Marvin —, mas você não está negociando com ele, não é?
Parei o movimento e prestei atenção.
— Meu pai não deve estar em seu perfeito estado para recusar uma oferta dessas, há 5 anos atrás eu o convenceria…
Marvin começou a mexer no celular, e eu ainda segura firmemente a arma.
— Veja — ele disse, me mostrando uma mensagem de texto:
“Cancele a operação”
— Prontinho. Sua mãe está salva agora. Vamos assinar, então?
— Espere! Como posso saber se você não vai explodir aquele avião?
— São negócios, Joshua, não é nada pessoal. Sua mãe vai ficar bem. Se quiser, podemos ficar aqui e tomar um drink até que ela que ela te mande uma mensagem.
— Só vamos sair daqui quando eu ouvir a voz dela — respondi, apontando a arma bem no saco de Marvin. Fiz questão que ele ouvisse o barulho do destravar da arma.
— É o tempo que eu levo para verificar os registros dos lotes para saber se todos estão no nome da sua família. Se eu descobrir que você me enganou, saiba que aquele homem bomba ainda continua vivo e vigiando sua querida mãe!