Angel Black: Tentando Sobreviver Neste Mundo Sombrio - Arco 1: Capítulo 1 – O Garoto Hikikomori
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- Arco 1: Capítulo 1 – O Garoto Hikikomori
Dante Katanabe era um jovem japonês e hikikomori que estava prestes a fazer 16 anos. Apesar de sua aparência feminina, era um garoto. Na infância ele era sempre elogiado por várias pessoas.
O jovem teve problemas na escola, e para fugir deles, decidiu virar um recluso que quase não saía do quarto.
Seus pais sempre tentaram fazê-lo voltar para a escola, mas desistiram com o passar do tempo. Sua irmã mais velha até conseguia, porém, sempre que Dante saía de casa para ir até a escola, ele na verdade ia para um fliperama.
Como todos os dias, o garoto ficava em seu quarto jogando ou assistindo animes. Ele estava sentado em uma cadeira, se divertindo com um jogo aparecendo na tela do monitor.
Seu quarto estava completamente desprovido de qualquer iluminação. Além disso, havia alguns sacos de biscoitos salgados. Também tinha garrafas de refrigerantes largadas no chão.
Considerando que ele vivia assim por um tempo, se imaginaria que o garoto poderia estar obeso com o tanto de alimentos não saudáveis que consumia. Mas era pelo contrário, ele era magro, obviamente não em um nível preocupante.
Cada vez que jogava, mais seus olhos cansados com olheiras estavam se arregalando e um grande sorriso se formando.
— Pode vir, chefão…!
O garoto disse com a voz baixa, ansiando cada vez mais pela sua vitória, enquanto ficava cada vez mais vidrado e se divertia.
Voltando a atenção para seu quarto, tinha apenas uma cama bagunçada para apenas uma pessoa. Também tinha em seu armário que dentro havia uma enorme coleção de mangás e algumas actions figures.
A única fonte de ventilação naquele quarto era um ar-condicionado que estava desligado.
De repente, houve duas batidas na porta. O garoto ouviu, mas não tirou seus olhos do monitor e ignorou completamente.
Depois de alguns minutos, a mesma batida ecoou novamente. Dessa vez, ele deu uma pequena olhada para trás, na direção da porta, mas voltou o seu olhar novamente para o monitor, ignorando mais uma vez quem estivesse lhe chamando.
Porém, ele ficou um pouco inquieto sobre essa segunda batida, pensando em quem seria, mas, também, não queria parar de jogar.
Houve mais uma terceira batida, e essa foi mais forte do que a anterior. E, mais uma vez, Dante ignorou, só focando no RPG.
De forma abrupta, a porta do quarto se abriu, iluminando uma pequena parte do ambiente onde o garoto estava sentado.
Dante percebeu isso, mas decidiu omitir qualquer indício que havia se tocado que alguém estava batendo na porta e, depois, entrou em seu quarto.
Uma jovem e atraente mulher adulta andou em direção à ele. Ela não parecia furiosa ou qualquer coisa do tipo, era como se já estivesse acostumada.
— Ei, Dante, pode me fazer um favor?
A garota disse, colocando as mãos em sua cintura e esperando uma resposta.
— Ah…? — O garoto virou a cabeça lentamente, podendo ver a mulher parada ao seu lado, esperando sua resposta — Ah… cê tá aí.
Ao invés de responder o que ela queria, o garoto apenas falou de forma baixa, como se não soubesse que a garota estava lá. Mas para isso funcionar, ele teria que, ao menos, mostrar alguma expressão de surpresa, coisa que não fez.
O jovem voltou sua atenção para o RPG, ignorando-a.
Isso irritou um pouco a moça, que reprimiu sua raiva e decidiu abordar isso de um jeito diferente.
Ao invés de chamá-lo novamente, ela foi até o gabinete e clicou em um botão, desligando o computador na hora.
— O quê?!
Dante ficou incrédulo com o que acabara de acontecer.
— Aí, pode me fazer um favor? — com a voz firme, a mulher disse.
Na hora, o garoto viu que não iria adiantar continuar a ignorando. Em forma de desistência, ele decidiu ouvir qual era esse favor.
— …Sim, Mia. Qual é o favor?
Aquela garota denominada de Mia era a irmã mais velha do garoto: uma jovem adulta e atraente de cabelos castanhos.
Satisfeita com a atenção voltada a si, orgulhosamente ela disse:
— Você poderia ir até a loja para mim? Preciso de massa de tomate e macarrão para o jantar.
Pela cara que o garoto fez, ele não queria ter que se dar ao trabalho de sair de casa para comprar ingredientes para o jantar daquele dia.
Fez um olhar de desgosto e cansaço. A mulher percebeu isso e, logo em seguida perguntou:
— Você dormiu?
O jovem reclamou internamente sobre a situação em que acabou de se meter: esfregou os dois olhos fechados, deslizando os dedos até chegar no nariz.
— Tudo… bem. Tô indo lá.
A garota abriu um sorriso.
— Ótimo. Agradeço.
Com preguiça, ele se levantou, resmungando daquela situação internamente.
— Dante, está muito frio lá fora, sabia? Use seu conjunto de moletom.
— Huh? — O jovem estava usando uma simples camisa preta e um short jeans — Tá… tá bom.
Ele abriu seu armário e pegou um moletom e uma calça.
— O sapato tá lá em baixo?
Ele colocou o moletom e a calça em seu ombro, enquanto perguntava sobre o sapato, que fazia parte desse conjunto de roupa.
— Sim. — A mulher afirmou — A propósito, feliz aniversário.
Dante se virou lentamente até ela, e só acenou com a cabeça.
— …Certo. — Sua irmã deu um sereno sorriso — Agora sai do meu quarto para eu me trocar.
Após colocar seu conjunto de moletom, o garoto saiu de seu quarto e desceu as escadas. No último degrau, Mia apareceu novamente, dessa vez com um cartão de crédito em sua mão.
— Toma.
Dante pegou sem expressar alguma reação ou falar alguma coisa.
Preparando-se para sair de casa, o garoto andou até a porta e agarrou a maçaneta. Porém, de forma abrupta ele foi agarrado por uma pessoa bem parecida consigo.
Essa pessoa o abraçou calorosamente, parecendo que não queria soltá-lo.
Essa pessoa se chamava Olivia, a irmã gêmea de Dante Katanabe. Ela era uma jovem muda, então, a garota o abraçou fortemente, desejando que fosse com cuidado.
Dante acariciou a sua cabeça. Depois disso, se afastou da garota e abriu a porta.
Uma pequena ventania bateu em seu rosto. O frio era iminente naquele dia.
— Vai com cuidado.
Foi Mia quem disse isso. Dante não respondeu e nem se virou para olhar-lá, só começou a sair de casa.
— Boa tarde — disse o balconista cumprimentando o garoto que entrou na loja.
Em contrapartida, Dante não respondeu, na verdade nem tentou, só o ignorou. O balconista não parecia ter se incomodado com isso.
“Vou acabar logo com isso e voltar a jogar…”
Dante estava clamando internamente para voltar sua jogatina.
Indo para os fundos da loja, o garoto procurava um produto em específico.
— Ahn…? — Ele pegou uma lata de molho de tomate — Achei.
Sua voz estava baixa e meio rouca, percebendo isso, ele limpou a garganta. Olhando para cima, o garoto achou um saco de macarrão na terceira prateleira, a segunda e última que deveria comprar.
Após pegar o que precisava, o garoto foi até o balconista
— Deu 407 ienes.
O balconista falou após pegar os produtos e colocá-los dentro de uma sacola.
— Tudo bem.
Dante apenas concordou.
Ele pagou os produtos usando o cartão entregue por Mia e pegou a sacola.
Após ter comprado o macarrão e a massa de tomate a pedido de sua irmã, ele finalmente poderia voltar para casa e continuar seu jogo.
Ele estava andando por uma rua bastante vazia. Não se lembrava da última vez que viu o local daquele jeito.
— Nossa, como a rua está deserta… Faz sentido… quem ia ficar na rua nesse frio? — disse enquanto esfregava as mãos numa tentativa de aquecê-las — Eita, tá muito frio…! Preciso ir para casa logo, lá é quentinho.
Mesmo usando seu conjunto de moletom, ainda sentia bastante frio.
No caminho para casa, o jovem estava prestando completamente a sua atenção para frente, e possivelmente ignorando tudo ao seu redor. Na rua, apareceu uma garotinha andando calmamente em sua mesma direção. Ela não estava perto do jovem, mas o bastante para o garoto perceber-lá pelo canto do olho.
Normalmente ele ignorou a garota, porém, houve uma coisa que lhe chamou atenção…
“Sangue?”
Sentiu um peculiar cheiro de sangue impregnado no ar repentinamente.
O garoto parou por um momento para descobrir a origem desse cheiro. Até que…
— Huh?
Ele olhou para aquela garota que estava andando calmamente para frente.
A menina estava com um dos seus olhos pendurados para fora de sua cabeça, sendo segurado pelo tendão. Uma grande quantidade de sangue estava latejando pelo buraco do olho arrancado.
Suas pernas estavam ensanguentadas, cheias de arranhões e cicatrizes. Uma cena difícil de se ver aos olhos.
Um de seus braços que deveria estar ligado por carne, ossos e tendões já não estava no local devido.
Um grande sentimento de medo e dó consumiu Dante, e ele ficou em choque com tal acontecimento repentino e macabro. Era a primeira vez que presenciava algo do tipo, principalmente com uma garota que parecia ser mais nova do que ele.
— G-garotinha…?
O jovem não sabia o que fazer naquela situação. Então, decidiu andar em sua direção. Ele estava com seus olhos arregalados e vidrados naquela garotinha completamente ferida. Uma necessidade de ajudá-la de qualquer forma disponível passou pela cabeça dele, além de descobrir o porquê dela estar assim.
— E-Ei, g-garotinha, você está bem…?
Isso era uma pergunta idiota, considerando o estado físico daquela jovem.
Quando a garota percebeu a presença dele, ela saiu correndo do local. Para uma pessoa completamente ferida naquele nível, ela conseguia se mover muito bem, mais do que poderia…
— Ei!
Ignorando completamente isso, Dante correu em direção a ela. Ele estava muito surpreso e assustado com aquilo, foi a primeira vez que viu uma pessoa naquele estado.
Ambos correram por bastante tempo. O objetivo do garoto em seguir aquela garota foi ajudá-la. Ele fez isso por instinto.
Aquela correria acabou levando os dois para dentro de uma floresta.
Quando já estavam no interior da floresta e bem afastado da cidade, de forma abrupta, a garotinha parou de correr.
Dante fez o mesmo, sentido um grande alívio por causa disso, porque poderia parar de correr e falar com aquela garota.
— Ei… por favor…! Pare de… correr. Eu tô ficando cansado…
O jovem estava ofegante. A energia que gastou correndo atrás da garotinha foi tanta que mal conseguia se manter em pé sem ter que fazer um esforço a mais.
Porém, o que viu a seguir o fez se esquecer do cansaço, substituído por, mais uma vez, choque.
De repente a garotinha caiu no chão. Sua pele começou a apodrecer em uma grande velocidade. Nesse processo, sua carne corporal se dissipou por completo até ela virar um esqueleto humano.
O garoto gritou por causa do susto e cambaleou para trás, mas não chegou a cair no chão. Seu rosto demonstrava como estava horrorizado em ver aquela cena.
— Que palhaçada é essa?!
Do esqueleto da garota, começou a sair um forte e horrível cheiro de carne podre. Dante tampou seu nariz, mas não adiantou de nada. O cheiro era tão forte e impregnante que o jovem acabou vomitando.
Ele perdeu o equilíbrio e ficou de quatro no chão enquanto vomitava.
— Tão fácil. Hehehe.
Uma repentina e grossa voz ecoou no local.
— O quê?
Virando-se para o lado, o rapaz viu uma criatura do tamanho de um homem adulto. Era peluda, tinha chifres, um pelo branco com partes pretas e uma boca totalmente arredondada com dentes afiados nas laterais. Para complementar, suas pernas estavam ensanguentadas.
O jovem não conseguiu correr ao ver aquele monstro. Seu corpo inteiro estava tremendo.
Essa foi a primeira coisa que Dante conseguiu dizer ao ver uma criatura tão assustadora quanto aquela.
Com muito esforço, o garoto tentou se levantar, mas o medo estava o impedindo. Ele não conseguiu se recompor à uma postura correta.
— Pode me chamar de Krar. Você é o Dante Katanabe? Estou certo?
— S-sim… você está sim. M-mas… — sua boca estava tremendo — o que é você…?
O garoto deu um passo para trás e acabou tropeçando em uma pedra e, logo em seguida, caindo de bunda no chão.
— Eu sou um demônio.
O demônio deu curtos passos, mostrando sua aura ameaçadora.
— Opa, c-calma aí… Um demônio? E-Essas coisas existem mesmo? — Aparentemente sim, já que um estava em sua frente — O que você quer comigo?
— Anda uns rumores de que o sangue de irmãos gêmeos são mais suculentos, e eu quero saber se isso é verdade.
O demônio deu mais um passo para frente, fazendo Dante recuar.
— Ah! Espe…
Antes mesmo que ele pudesse terminar a sua frase, o demônio deu um soco em seu estômago, afundando a sua barriga e o fazendo perder o ar.
Esse golpe o fez ir de encontro com uma árvore e largar a sacola que estava segurando. No impacto, Dante bateu às suas costas, gritando de dor no processo. Logo após, seu corpo foi se encontro chão.
O demônio continuou andando lentamente na direção de Dante.
Já no chão com suas costas apoiadas na árvore, enquanto agonizava de dor. Foi então que a criatura abriu sua enorme boca com seus dentes afiados, preparando-se para devorá-lo.
Nesse instante, o garoto viu uma pedra no chão e a pegou. Quando o demônio já estava perto o bastante, Dante desferiu um ataque na cabeça da criatura, que acabou caindo no chão.
O jovem se levantou, afastando-se desesperadamente daquele monstro.
— Isso doeu… — O demônio botou o dedo em sua cabeça, e percebeu que estava saindo sangue — Eu vou te matar, garoto! — Krar correu em direção a Dante.
O garoto, vendo que não poderia derrotá-lo, ficou parado e esperou até que o pior acontecesse, fechando os seus olhos.
Porém, de forma repentina, o pescoço da criatura foi cortado. Sua cabeça e seu corpo caíram no chão, fazendo um pequeno som de grama sendo atingido.
Dante percebeu isso e abriu os olhos lentamente.
O jovem ficou completamente surpreso e assustado vendo aquele demônio morto, e se perguntou como isso havia acontecido.
Foi quando Dante avistou uma garota coberta por um manto branco com uma larga linha roxa na parte inferior e preso a um brasão dourado: como se fosse um botão para prender.
Não era possível ver seu rosto, pois o capuz daquele manto o tapou completamente.
Por causa da posição do manto, era possível ver uma pequena brecha para seu corpo. A visão era até seu abdômen bem definido.
A mulher estava balançando uma espada de uma mão só, repelindo o sangue manchado em sua lâmina.
Quanto mais balançava e repelia o sangue, mas a grama se manchava pela cor vermelha escarlate daquele líquido viscoso.
Por fim, ela guardou a espada em sua bainha, que estava ligada a um cinto preso em sua cintura.
Por algum motivo, aquela mulher misteriosa salvou a vida de Dante.