Angel Black: Tentando Sobreviver Neste Mundo Sombrio - Arco 1: Capítulo 15 – O Som das Correntes
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- Arco 1: Capítulo 15 – O Som das Correntes
O dia daqueles três foi longo. Após fazerem a faxina dos corredores, subiram até o empoeirado sótão da mansão, passando um tempo limpando. Logo depois, a cozinha. Porém, a tarefa que mais levou tempo para ser concluída foi lavar a roupa. Era tanta roupa, e algumas que eram mais difíceis de receber uma limpeza decente, que os três ficaram a tarde toda nessa tarefa, até de noite. Inclusive, Dante aproveitou o momento para lavar seu conjunto de moletom.
Enfim, após ficarem uma pequena parte da tarde, tiveram um intervalo para comerem a comida fornecida pela cozinheira. Depois, voltaram a lavar a roupa, onde ficaram até a noite.
Para matarem o tempo enquanto ficavam numa mesma tarefa por várias horas, conversaram bastante sobre coisas cotidianas, foi quando Dante descobriu uma coisa: havia uma certa tarefa em que precisava ler e escrever para realizá-la: ir às compras. Como o jovem não sabia nenhuma das duas coisas, sua veterana, Chloe, disse que tiraria um dia para ajudá-lo com isso.
Mas, por fim, haviam chegado no fim da última tarefa nesse momento: limpar os banheiros. Eles tinham começado o trabalho de manhã e terminado a noite, e isso foi uma grande experiência para o garoto. Viu como trabalhar era exaustivo, e começou a respeitar mais as donas de casa, que faziam isso todos os dias e sozinhas.
Seus braços estavam completamente doloridos e cansados de tanto varrer ou usá-los. Além disso, estava ficando com bastante sono. Com Chloe e Ren não foi muito parecido, estavam cansados, mas não da forma que Dante estava, isso porque já estavam acostumados.
Em algum momento no seu trabalho de meio período, iria acabar se acostumando com essa rotina.
Enfim, tudo que o jovem queria no momento era tomar um banho e ser levado para o mundo dos sonhos em seu quarto.
— Finalmente acabamos! Finalmente vou poder dormir como um bebezinho essa noite — disse Ren, espreguiçando-se e bocejando.
— Sim. O dia de hoje foi muito puxado. Só quero tomar banho e descansar agora — falou Chloe, basicamente concordando com o rapaz ao seu lado.
Os três estavam na entrada dos banheiros. A mansão tinha dois banheiros separados por gêneros — em placas que Dante obviamente não conseguiria ler o idioma daquele lugar, mas isso não era um problema, já que sabia a localização certa da área masculina. Os banheiros eram divididos por duas entradas: a área de banho e a área comum.
Como já foi dito pelo nome, a área de banho servia para os integrantes da mansão tomarem banho. Era um espaço grande, onde a banheira, localizada no chão, era enorme, quase como uma piscina. A banheira era revestida em água quente, sendo fornecida por pedras mágicas localizadas em seu fundo. Em dias quentes, essas pedras eram retiradas.
A área comum poderia ser usada para escovar os dentes, usar a privada, e outras utilidades que um banheiro normalmente tem além de tomar banho.
— Pessoal, tudo bem os funcionários tomarem banho aqui, não é? — Dante perguntou, esperando uma confirmação.
— Sem problemas nenhum — a garota respondeu — Mas se quer tomar um banho, vai ter que esperar um pouco até a água voltar para a banheira.
Para a limpeza dos banheiros, a água de dentro era completamente esvaziada, dando melhor liberdade para os funcionários limparem dentro. Depois de tudo limpo, era ligado um mecanismo que coletava água de um lago que era de propriedade de Chap.
— Não estamos na época de inverno, mas em breve chega. Contudo, a água é esquentada por pedras mágicas no fundo. Ou seja, não se preocupe com um banho gelado, principalmente pela noite fazer frio.
As pedras mágicas de fogo foram entregues diretamente pela rainha de Kuyocha, Alfrey, como um presente há muito tempo para o próprio nobre, dono da mansão. Basicamente, o presente de uma amiga.
Parando para pensar, desde que Dante chegou naquele lugar, ele conheceu pessoas com certa influência na área em que dirigiam.
Bem, feliz com a resposta, o garoto mostrou um sorriso cansado no rosto. Mal esperava para ir ao seu novo quarto, deitar na cama, dormir, e não acordar por um bom tempo. Queria permanecer no reino dos sonhos por um bom tempo, e não ver o dia de amanhã tão cedo. Às vezes que madrugava jogando jogos on-line não poderiam ser replicadas em seus dias de trabalho.
— Nesse caso, vou tomar um banho, quando a água voltar, e dormir.
— Nesse caso, que tal roubarmos… pegarmos emprestados, e sem ele saber, os biscoitos do chefe?
Ren deu a ideia animadamente, e Chloe pareceu ter gostado disso, estando determinada a pegar os biscoitos do nobre. No entanto, Dante ficou confuso e surpreso com aquilo.
— Podemos fazer isso? — perguntou o jovem.
— Mas é claro! Afinal, trabalhamos duro, de manhã até a noite, todos os dias. Merecemos uma recompensa por isso, além do dinheiro, claro — Ren falou.
— Sim, sim. É só o chefe não descobrir que estamos pegando os biscoitos dele sem permissão — disse Chloe.
— Viu só? Até a Chloe quer um biscoitinho. E você, Dante, quer um também?
Comer um biscoito não parecia ser uma má ideia, e desde que não fossem pegos, não teriam nenhum problema. O jovem ficou meio receoso quanto a isso, entretanto, a forma que seus veteranos falavam fazia parecer que tinham experiência em roubar biscoitos do chefe.
Mas que tipo de coisas eles faziam sem o nobre saber? Cuspiam em seu café? Provavelmente não. Chap não parecia ser o tipo de pessoa que merecia ter a bebida atingida por saliva, porém, Dante só o conhecia há algumas horas, em breve, 1 dia. Ainda não sabia da verdadeira natureza de seu chefe.
Enfim, o garoto aceitou roubar um dos biscoitos do homem nobre. Pelo menos, passaria um tempo comendo, conversando com seus colegas de trabalho e amigos, enquanto esperava a banheira encher.
Os biscoitos tinham gosto de caramelo, eram crocantes e muito gostosos. Na opinião de Dante, realmente valeu a pena o “roubo dos biscoitos”. Mas, enfim, após pegar e comer o biscoito do nobre, o jovem foi até o banheiro se banhar. Foi avisado que o pessoal poderia acabar tomando banho junto. Nunca tomou banho com outras pessoas — a não ser com sua irmã gêmea, quando eram mais novos — então, não estava tão acostumado.
O local era grande, com a banheira no chão e alguns pilares no local. O piso era liso, dando uma boa sensação ao pisar com o pé descalço.
O jovem carregava seu conjunto de moletom, que já estava seco, e colocou em cima de uma estante de madeira que tinha entre as entradas da área de banho e da área comum. Tinha uma toalha branca amarrada a sua cintura, escondendo seu amigo lá debaixo. Enfim, andou até a banheira, agachou-se e colocou o dedo na água.
— Quentinha! Como a veterana falou!
Já confirmada a temperatura ideal da água, tirou a toalha, colocando-a no chão, e mergulhou dentro da banheira.
— Delícia! — exclamou, completamente maravilhado por aquela banheira — Não é tão diferente quanto tomar banho no castelo da Alfrey.
No início, se preocupou em como ficaria a questão do banho, principalmente em dias frios. Entretanto, era exatamente a mesma coisa quando estava em Kuyocha: água quente. Poderia aproveitar aquele banho sem problemas nenhum.
— Está gostando do banho, meu jovem?
Olhou em direção à voz que o chamou, e se deparou com uma grande “salsicha” humana de um senhor de idade. Arrependeu-se de olhar, e voltou sua visão à água.
— S-sim, senhor Vergil.
O homem entrou junto do garoto na banheira, em uma distância confortável para os dois.
— Tomar um banho quente à noite é extremamente reconfortante, não é mesmo, meu jovem?
— S-sim, claro — falou, tentando esquecer do tamanho da “espada” do velho — Se eu pudesse, ficaria aqui o dia todo.
— Não acho que isso seja possível, mas concordo com você — disse — E, então, como foi o primeiro dia de trabalho.
— Cansativo, mas consegui muita experiência fazendo as tarefas. Aprendi a lavar roupa.
— Então foi bem.
O garoto olhou para o velho, e percebeu uma coisa: seu corpo era completamente malhado e com algumas cicatrizes. Lembrou que foi comentado que o homem era um ex-cavaleiro de um país próximo. Usou dessa informação para continuar a conversa.
— Então, eeeh… como era ser um Cavaleiro da Guarda Real?
O senhor, genuinamente, pareceu ficar feliz com essa pergunta.
— Não era das profissões mais fáceis e seguras. Eu servia a Guarda Real e, constantemente, tinha que ir para lá e pra cá. Estando sempre em missões, enfrentando e derrotando vários monstros, protegendo nobres da família real da nação de Schalvat.
O velho teve que enfrentar o trabalho de peito erguido, se quisesse conseguir aquela profissão. Os cavaleiros tinham que, todos os dias durante 1 ano inteiro, fazer um treinamento antes de se tornarem aptos para proteger o reino e de fato se tornarem “cavaleiro”.
Vergil conseguiu passar por esse treinamento, que o recompensou com um cargo de Cavaleiro da Guarda Real e uma barriga tanquinho.
Porém, junto desse cargo, também havia os riscos. Como ele mesmo disse, enfrentou vários monstros na época que não estava aposentado daquele emprego.
Enfim, era o tipo de trabalho que só pessoas realmente dedicadas escolheriam fazer, seja para ganhar o alto salário, para ganhar respeito, se vangloriar, ou porque era um sonho de vida de alguma pessoa.
— Espera, espera um pouquinho, que tipo de monstros você enfrentava.
— Uh, aranhas gigantes, serpentes, coisas desse tipo.
Naquele continente havia magia, e tudo aparentava estar em um cenário medieval, portanto, quando o jovem ouviu sobre “monstros”, ficou animado. Esperava ouvir sobre a existências de goblins, slimes, orc, e quem sabe um dragão. Mas, ficou levemente decepcionado quando não ouviu sobre isso.
— Ah… entendo… Então você lutou contra aranhas gigantes e serpentes… Espera, aranhas gigantes?!
— Sim. Mas um monstro que eu queria ter contato mesmo, era um dragão.
— Dragão?!!
Seus olhos brilharam como o sol. Parecia até que se formaram estrelas neles.
— Cara, isso é incrível! Nunca imaginei que descobriria tantas coisas incríveis assim, desde que decidi sair do Japão.
— Japão?
— Sim. É o lugar onde eu nasci.
— Por falar nisso, aquelas suas roupas são estranhas. Vieram desse lugar chamado Japão? Nunca vi algo parecido.
Se referiu ao conjunto de moletom de Dante. Considerando o tempo em que aquele lugar estava parado, não era de se estranhar que as pessoas achassem uma roupa tão moderna estranha.
— Bem, sim, foi comprado lá.
— É algum vilarejo? Realmente não conheço.
— Não é não. É um país que fica no continente asiático, bem distante daqui.
Vergil franziu as sobrancelhas.
— O que quer dizer com “continente asiático”, meu jovem? Este mundo tem apenas 1 continente conhecido.
— Hã?
O jovem não pensou na hipótese deles não terem conhecimento sobre outros continentes. Ficou tão confuso quanto o senhor. Aparentemente, ainda tinha muitas coisas a se aprender sobre aquele lugar.
— O banho foi bom… mas estou realmente cansado…
Seus olhos estavam caindo e levantando repetidamente de tanto sono. O banho realmente foi gratificante, teve até um momento em que quase dormiu lá, mas Vergil não permitiu isso acontecer.
O garoto estava usando seu conjunto de moletom, que usaria a partir daquele dia como pijama até conseguir outras roupas.
Dante bocejou, exalando o cheiro agradável que vinha de sua boca — após o banho, foi ao banheiro e usou um líquido que, quanto mais era enxaguado em sua boca, mais limpava e clareava seus dentes, além de deixar um ótimo aroma em sua boca e criar espumas. Não se podia dizer que era um substituto para as pastas de dente, mas tão útil quanto.
Ele estava subindo o primeiro segundo andar, chegando próximo à porta de seu quarto, viu uma garota baixinha de cabelos roxos.
“Melli, né?”
Ela estava prestes a abrir a porta e entrar em seu quarto, que ficava ao lado do de Dante, tanto que já estava com a mão na maçaneta, porém, parou para olhar o jovem que a encarava.
— Uh… b-boa noite.
Dante tentou ser amigável com ela, porém, ela apenas o encarou por alguns segundos, virou seu rosto para a porta de seu quarto, abrindo-o e entrando.
“Ela me ignorou… fingiu que eu nem existia… Isso é triste.”, virou para a porta de seu quarto com um sorriso sem graça,”T-tudo bem, também não sou a pessoa mais extrovertida do mundo…”
Tentou esquecer daquilo e entrou no quarto, fechando a porta logo em seguida para a sua privacidade.
— Hã?
O quarto estava sendo iluminado pela luz da lua, e com isso, reparou em algo que não tinha percebido na manhã. Na fechadura da porta tinha uma chave. Apesar de isso ser um detalhe pequeno, ele gostou que poderia ter sua privacidade quanto tempo quisesse.
— Acho que não vou trancar a porta…
Tirou a chave da fechadura e a colocou em cima da estante.
Após isso, deitou-se na cama, cobrindo-se com o cobertor.
— Boa noite para mim… Ah! Quase esqueci!
Pegou seu celular que estava dentro da gaveta da estante e ativou o despertador.
— Assim não vou perder a hora.
Enfim, finalmente, era a hora de dormir. O jovem se confortou naquela maravilhosa cama nobre e, com os olhos fechados, esperou ser levado ao mundo dos sonhos, onde ele acordaria esquecendo completamente do que ocorreu em seu sonho, ou lembraria.
— Boa… noite…
Essa foi a última coisa que disse antes de dormir…
…Ele acordou em um local que lhe trazia desconforto. Era uma floresta cinza, com árvores mortas e uma vegetação distante. Além disso, havia uma densa neblina cobrindo todo o local.
O desconforto trazido por aquele local, era por causa da sua volta completamente escura, onde não podia ver o final do que estava à sua esquerda, direita, atrás e até mesmo na frente. Nas direções em que não podia ver o local, parecia que tinha alguém o observando, e isso o deixava desconfortável.
O jovem estava no meio de uma estrada de terra, olhando pros lados com os olhos arregalados.
— Que lugar é esse? Silent Hill?
Foi quando ouviu um som de correntes batendo no chão. Isso o fez começar a andar apressadamente por aquele lugar, o deixando assustado.
— Onde estou…? Isso não é engraçado…
Provavelmente nenhuma pessoa estaria fazendo alguma piada com ele. Aquilo era muito real, com um ar deprimente e perturbador.
Quanto mais andava, mais ouvia os sons das correntes batendo no chão que, por algum motivo, pareciam mais altas.
Começou a ficar desesperado, decidindo correr, até parar de ouvir os sons das correntes.
Enquanto corria, pôde ver vários pontos brancos na moita escura, como se fossem olhos, algo parecido com os animatronics de Five Nights At Freddy’s.
O som da corrente estava cada vez aumentando. Parecia que, quanto mais corria, mais aquele som que o perturbava estava mais próximo.
Até que acabou cansando… parando ofegante no meio da estrada. Não parecia que avançou muito, enquanto corria, naquela floresta.
…O som das correntes pararam, e ao invés disso, pôde se ouvir o som da risada de uma criança.
— Hã? — Olhou para trás.
O som de algo metálico ricocheteando o ar ecoou pelo lugar… Uma corrente de metal agarrou sua cabeça, preenchendo boa parte dela. Em seguida, a corrente a esmagou, e foi puxada para trás.
Sua carne, sangue, olhos, cabelo e pedaço de seu crânio caíram no chão junto de seu cadáver, pintando a grama cinza de vermelho.