Angel Black: Tentando Sobreviver Neste Mundo Sombrio - Arco 1: Capítulo 3 – Uma Tragédia
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- Arco 1: Capítulo 3 – Uma Tragédia
— E mais uma vez, muito obrigado por me salvar, do fundo do meu coração!
Quem disse isso foi Dante, que estava fazendo reverência à Angel, curvando o seu corpo.
— Tudo bem. É só o meu trabalho.
A garota verificou o ambiente ao seu redor, mas não havia ninguém naquele momento que pudessem vê-los.
— A rua sempre foi tão calma assim?
A garota fez uma ótima pergunta. Era estranho não ver quase ninguém naquele lugar.
— Bem, hoje está frio e já estamos no fim tarde. Não vejo o porquê de ficar saindo de casa.
Não era como se ele pudesse falar muito sobre “motivos para sair de casa”, ou melhor, “do quarto”. Por falar nisso, naquele momento o sol estava se pondo. O fim do dia estava cada vez mais próximo.
— Bom, agora vou para o Reino Sagrado. Preciso fazer alguns relatórios.
— Relatórios? Anjos também fazem isso?
— Qualquer informação sobre os demônios é válida. As deusas pretendem derrotar o Rei Demônio.
A garota não estava mais com a sua auréola e asas amostra. Por isso, se afastou do garoto, ao mesmo tempo que aquelas partículas apareciam em seu corpo novamente.
As asas e a aréola haviam voltado, e a garota saltou e ficou suspensa em pleno ar batendo suas asas.
— Ah! É mesmo! Feliz aniversário, Dante!
O garoto sorriu e acenou para a garota.
De repente, Angel desapareceu, provavelmente usou a invisibilidade.
“É mesmo, hoje é meu aniversário.”
Depois de tudo que aconteceu, acabou esquecendo desse fato. Muita coisa acabou acontecendo para uma pessoa só processar…
— Ah, e hoje eu vi uma cabeça decepada pela primeira vez…
…Tipo isso. Inclusive, suas expressões faciais nesse momento eram de medo e surpresa. Também estava com a palma da mão tapando sua boca. Ele foi se tocar disso só agora, e ficou ainda mais apavorado com as situações anteriores.
“O mundo é um lugar tão perigoso assim? Mas se essa é a primeira vez que encontro com um demônio em meus dezesseis anos de existência, quer dizer que é algo raro, né? Né?! Espero…”
Depois de ter uma pequena crise mentalmente, se recompôs dando pequenos soquinhos em seu peito usando apenas um punho, como um gorila.
“Calma, você tem que ficar calmo. Tudo isso já passou e não há mais nenhum risco. E se tiver, o seu Anjo da Guarda vai vim te salvar, certo?”
Dante olhou para o céu e viu o sol indo embora. Brevemente, a lua iria tomar seu lugar.
Ele decidiu entrar logo em sua casa, já que estava na porta da frente e com as compras em mãos.
Girando a maçaneta, abriu a porta e entrou na casa. Olivia, sua irmã gêmea, estava parada na frente da porta. Ela o abraçou fortemente.
— Feliz aniversário pra você também.
Ele acariciou a cabeça de sua irmã.
Olhando para os lados, havia uma pergunta em sua cabeça.
— A Nicole já chegou?
Sua irmã acenou negativamente com a cabeça.
Um adendo, os filhos dos pais do jovem não tinham nomes típicos japoneses. Os nomes dado a eles são de adoção.
Com a sacola em mãos, o garoto decidiu entregar logo o pedido que lhe foi feito. Andou pelo corredor de sua casa até chegar na cozinha.
— Mia, aqui.
Estendeu a sacola na direção de sua irmã, que estava com alguns pratos na pia.
— O cartão também está aí.
A garota pegou a sacola, abriu e pegou o macarrão e a massa de tomate.
— Muito obrigado.
— Eu vou voltar lá pra cima agora.
Tudo que desejava naquele momento era poder voltar para seu quarto e continuar a sua jogatina de RPG, e os malucos eventos anteriores só o fizeram querer voltar ainda mais para a sua zona de conforto: seu quarto. Afinal, ele quase morreu.
— Não tão rápido!
Para a infelicidade e felicidade do garoto, a mulher que perguntou sobre apareceu de forma repentina na cozinha. Era Nicole, uma jovem adulta de cabelos escuros que segurava um grande saco plástico. E também, a segunda irmã mais velha de Dante Katanabe.
— Ah, é?
Sua voz estava em um tom monótono, e o jovem desviou da garota com passos acelerados.
— Aonde é que você vai?
Nicole agarrou a parte de trás do seu moletom, o impedindo de fugir.
— Que foi…? Me deixa voltar para meu canto…
— Nem pensar! Tenho algo para vocês. Adivinhe o que tem aqui.
Ela se referia ao saco plástico. Como era o aniversário dos gêmeos Katanabe, provavelmente seria um presente para os dois.
— Não faço a menor ideia…
— Não vai nem tentar?
— Não tô muito afim. Foi mal.
— Que saco…
Colocando suas mãos dentro da sacola, ela tirou uma pequena caixa de celular.
— Um celular?
— Sim, você não estava querendo um novo?
— M-muito obrigado!
O jovem havia perdido o seu antigo aparelho, mas isso era só um detalhe à parte. Ele ficou bastante feliz com o seu novo presente, e estava agradecendo de coração.
— E para você, Olivia.
Ela tirou mais uma caixa, só que o produto dessa vez era uma mesa digitalizadora.
A garota ficou bastante alegre, pegando seu presente, o abraçando e saltando no ar. Em seguida, ela abraçou Nicole com um grande sorriso no rosto.
O clima estava completamente alegre naquele ambiente, e sentindo essa vibe, Mia, a irmã mais velha dos Katanabes, decidiu fazer uma proposta para Dante.
Ela colocou suas mãos na pia, fazendo uma pose dramática, para só depois se virar com brilhos nos olhos e um sorriso largo, para poder dizer animadamente:
— Dante! Que tal cozinhar comi…
Mas para a infelicidade da garota, o jovem já não estava mais na cozinha. Incrivelmente, ele saiu do local sem ninguém perceber.
Agora, se o garoto fez isso porque percebeu que iria ser chamado para ajudar sua irmã a cozinhar ou não, não se sabia.
O único fato era que isso cortou o clima de alegria da irmã mais velha. Mia ficou decepcionada com aquilo, e seu rosto sem graça demonstrava isso.
— Olivia, quando eu acabar com as comidas pro aniversário de vocês dois, pode chamar ele para mim?
A garota fez continência com a missão que lhe foi concedida.
“Por que sinto uma aura de irritação vindo dela…?”
Quem pensou isso foi Nicole. E de certa forma, estava certa. Mia não curtiu muito aquele sumiço repentino de Dante, ainda mais porque cortou completamente o seu clima de animação.
— Feliz aniversário! — as duas irmãs mais velhas dos gêmeos gritaram com animação.
A noite era nítida e a mesa já estava servida. Para a janta de hoje havia pizzas, batatas fritas, takoyakis, onigiris, refrigerantes e um bolo.
Apesar de Dante não parecer ser tão animado dentro de casa, ele até que estava começando ficar com aquilo tudo.
— Você não fez muita comida?
O jovem perguntou à Mia, que fez todos aqueles aperitivos. E sim, tinha muita comida.
— Espere, ainda tem mais uma pessoa para se juntar a nós na mesa.
— Ah…
Dante não pareceu muito animado ao referir essa tal pessoa.
— Enquanto isso, aproveitem seus aniversários.
Dante ponderou toda aquela situação e apenas pensou:
“Hoje eu faço dezesseis anos.”
O garoto teve uma breve lembrança de Angel, seu Anjo da Guarda, lembrando que ela também o parabenizou.
— Será que ele vai demorar? Estou com fome…
Quem reclamou foi Nicole, que estava passando a mão pela barriga e com uma cara triste em seu rosto. Olivia imitou a sua irmã no jeito de demonstrar a sua imensa fome.
— Enquanto ele não chega, vamos ao que interessa. Você está namorando alguém do seu colégio?
Mia disse isso diretamente para o garoto em um tom completamente sério.
— Por favor, cala a boca. Nem indo pra escola eu tô.
Antes que a conversa se estendesse, se podia ouvir o som de uma porta batendo. Aquela pessoa que tanto esperavam finalmente chegou.
— Oh! Karl! Finalmente chegou!
Um jovem adulto com um olhar monótono entrou na cozinha. Aquele era Karl, o irmão mais velho, e o terceiro em idade entre todos os irmãos.
— Vem cá. Se senta para a gente poder comer.
Quem o chamava cada vez era Mia.
Sem relutância alguma, o rapaz acenou de forma negativa com a cabeça.
— Tô sem fome. Vou subir e dormir. Boa noite.
— Oh, tem certeza? Quer que guarde algo para você amanhã?
— Isso seria bom. Obrigado.
O rapaz se virou para sair da cozinha, até que…
— Mas antes disso, dê um parabéns para Dante e Olivia.
A mulher se levantou da cadeira, ficou com os olhos fechados, um doce sorriso e batendo com seu dedo indicador na mesa de jantar.
Algo a se comentar era que Mia parecia estar com uma aura de superioridade naquele momento, mas não a do tipo “essa pessoa com toda a certeza vai me encher de problemas ou querer mandar em mim”, era algo mais como obedecer regras.
Talvez não fosse a melhor forma de classificar isso, porém, esse ar superior que passava, junto de seu sorriso gentil, olhos fechados e batendo o dedo indicador na mesa era algo bastante curioso.
Dava para sentir de longe quem estava com o controle da situação, ou a pessoa que mandava naquele local. Fazia sentido considerando que ela era a irmã mais velha da família inteira.
Todos da mesa de jantar, com exceção de Dante, olharam atentamente para Karl, com um certo receio e esperando alguma resposta.
Isso seria simples, bastava falar um “feliz aniversário”, que o rapaz poderia descansar como queria. Porém, aparentemente isso não ia acontecer.
Karl estava com um olhar afiado. Suas sobrancelhas tremendo e dentes pressionando um contra o outro com força, como se tivesse acabado de se encher de ódio.
O rapaz parecia que não ia ceder aquele ar de superioridade se sua irmã mais velha, e com seu olhar sério e furioso, observou todos atentamente.
— Eu não vou comemorar o aniversário do lixo que causou a morte do pai e da mãe.
Após isso, saiu de lá batendo o pé com força no chão.
Mia não esperava uma assim, mas também não estava surpresa. Sua reação foi algo como “tinha esperanças de isso não acontecer, mas, no fim, aconteceu”.
Elas todas olharam para Dante com expressões tristes em seu rosto.
— Dante, eh…
Mia tentou confortar o garoto, mas decidiu desistir com o que viu.
Ele não teve nenhuma reação nítida, e só ignorou completamente o que seu irmão disse, mesmo sendo algo triste de se ouvir.
Ao invés de uma reação, estava com as palmas de suas mãos juntas e com os olhos fechados.
— Obrigado pela comida!
Ao dizer isso, começou a comer alguns dos aperitivos de seu aniversário.
Naquele momento, seu rosto não expressava nenhuma expressão além da se alimentar com uma comida tão gostosa que cada vez queria mais.
— Já estava esperando uma reação assim vinda dele, mas caramba, que quebra de clima.
O garoto estava deitado em sua cama, usando o mesmo conjunto de moletom que usava anteriormente.
— Bem, pelo menos ganhei esse celular. Ele é muito bom.
Um celular que era à prova d’água e rodava qualquer jogo que um aparelho potente pudesse suportar, além de ser resistente.
— Mas, talvez o Karl esteja certo.
O garoto bocejou. Sua visão estava ficando turva e seus olhos quase fechando.
— Acho que agora vou conseguir derrotar aquele boss.
Deu uma risada assustadora quando falou isso.
O garoto não ia conseguir derrotar nenhum chefão de RPG naquele momento, já que o sono foi maior e ele acabou adormecendo…
— Dante, acorda!
…Ele acordou de forma repentina, tomando um grande susto no processo. Meio sonolento, olhou ao redor. Onde esteve até há pouco dormindo, estava coberto de chamas.
“Ah… tô sonhando que a minha casa tá pegando fogo.”
O garoto acordou com tanto sono que pensou que fosse isso, tanto que voltou a ficar deitado e se cobriu com um cobertor. Mas infelizmente não era um sonho.
— Acorda!
Ele levantou mais uma vez. Dessa vez, estava conseguindo raciocinar direito a situação, e sentido o completo calor que estava o local, percebeu que não estava em um sonho.
Não era a casa inteira que pegava fogo, tipo o seu quarto, mas se aquilo continuasse, em breve iria ser.
A porta do quarto dele estava completamente aberta, e era possível ver o fogo pelo corredor.
Dante olhou para aquilo completamente assustado.
“O que está acontecendo aqui?”
Ele se levantou de sua cama, pegando o celular e o colocando no bolso, e andou em passos lentos e com suas pernas tremendo até a porta.
— Dante!
— A-Angel?
O anjo estava ali, por algum motivo. Ela havia dito que só poderia proteger de demônios e espíritos malignos. Não foi comentado nada sobre salvá-lo de algo causado por um incêndio ou qualquer outra coisa que não envolva essas duas espécies.
— O que está acontecendo?
— Não há tempo para explicar agora! Foge!
Sem pensar duas vezes, ele fugiu.
Saindo do quarto, acabou se lembrando de seus irmãos, e decidiu verificar se ainda estavam na casa.
O jovem foi até a porta do quarto ao lado, e a abriu com toda a força possível.
O fogo havia atingido aquele quarto, mas não foi isso que chamou a atenção do garoto.
— Hã…?
Havia três corpos no chão. Estavam carbonizados e irreconhecíveis. Quem fosse o membro da família que morreu queimado, com certeza sofreu uma dolorosa dor.
A sensação de queimação ao fogo ser exposto ao seu corpo não era nada agradável, e isso era óbvio. Além de ser extremamente quente, ardia muito. Uma morte que muitos não desejavam ter.
“N-n-não… isso é um sonho… só pode ser um.”
O garoto queria por tudo não acreditar que aquilo estava acontecendo.
“N-n-não!”
Ele acabou perdendo forças o suficiente para se manter de pé, e acabou ficando de quatro no chão, enquanto via aqueles três corpos carbonizados.
Se lembrava aos poucos do dia de hoje, de como suas irmãs fizeram uma festa de aniversário para agradar ele e Olivia. Seus olhos rapidamente se encheram de lágrimas e segurava fortemente a sua boca, incrédulo com tudo aquilo.
Foi quando se tocou de algo.
“Três corpos… Só tem três corpos, e eles são grandes.”
Com essa observação, e com a falta de um número para completar a morte dos irmãos, percebeu que provavelmente sua irmã gêmea não estava naquele meio de corpos incinerados.
— Cadê… a Olivia…?
Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, recebeu um feroz golpe em sua barriga, provavelmente um chute. Foi forte o suficiente para arremessá-lo escada abaixo. Nesse processo, o seu ombro esquerdo deslocou, e isso lhe causou uma grande dor.
Ao sair do primeiro degrau da subida, seu rosto foi de encontro ao chão de forma muito violenta. Para piorar sua situação, sua boca estava aberta e seu rosto estava virado para o chão, isso quebrou os seus dentes.
O garoto acabou cuspindo sangue e pedaços dos seus dentes.
— A-ah! D-droga!
Se levantando do chão, correu até a porta, porém…
— Hã?!
A reação que teve foi por causa de um monstro bem maior que ele. Tinha chifres no lugar dos olhos e toda a sua pele tinha uma cor mais escura.
Aquele monstro na verdade era um demônio. Mais uma das bestas demoníacas que Angel havia comentado, só que essa era bem diferente da que se disfarçou de garotinha e atraiu Dante.
O demônio correu até o garoto e atravessou o seu braço em sua barriga. Todo o sangue e carne dele estavam em seu membro que rasgou o seu estômago.
O jovem gritou com todas as forças por causa da dor que estava sentido. Foi a primeira vez que sentiu algo do tipo, e não foi nem um pouco divertido. Além disso, ele cuspiu sangue e um pouco do mesmo líquido saiu pelo seu nariz.
Aquilo era um cenário infernal: sua casa pegando fogo, irmãos mortos e um demônio o matando.
Tudo aquilo estava acontecendo rápido demais para conseguir processar qualquer informação.
Aquele demônio o retirou de seu braço e segurou-o pela parte de trás do moletom, onde cobria a nuca. O estendeu no ar e olhou para seus olhos sem nenhum brilho, mostrando a sua evidente e agonizante dor.
Até que a besta demoníaca o arremessou até a parede localizada na cozinha. Quebrando-a junto de seus ossos e o fazendo sair para fora da própria casa, da forma mais destrutiva e violenta possível. Inclusive, quando arremessado, o fogo pegou em sua pele, o queimando e causando ainda mais dor.
No fim, o corpo do garoto caiu até o asfalto sob um poste de luz, o iluminando em sua assustadora situação. Sua barriga estava com um enorme buraco na parte onde foi atacada, e com certeza ele não ia sobreviver. Sua respiração estava ficando cada vez mais fraca e sua visão turva. Seus olhos lentamente se fecharam e, consequentemente, ele morreu.