Angel Black: Tentando Sobreviver Neste Mundo Sombrio - Arco 1: Capítulo 7 – Chocado
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- Arco 1: Capítulo 7 – Chocado
Uma sensação gélida novamente assolava a parte de baixo do corpo de Dante. Seus olhos estavam fechados e seu rosto despreocupado. Ele ainda não havia retomado a consciência.
O garoto morreu pela segunda vez naquele dia. Normalmente, se morria só uma vez, assim como se vivia só uma vez. Mas ele teve a proeza de conseguir morrer mais de uma vez e voltar à vida.
Seus pesados olhos lentamente se abriam. Nesses curtos segundos, sua consciência voltou, e sua primeira reação foi agarrar sua garganta e tossir com todas as forças, enquanto tentava adquirir um oxigênio que estava a toda sua disposição naquele lugar onde a deusa residia.
Dante morreu afogado, sendo essa sua segunda morte, e também a segunda em apenas um dia. Mesmo que essa última morte não fosse tão violenta ou sanguinária quanto a primeira, foi tão traumatizante quanto, principalmente, sufocante.
A sensação que ele sentiu de ficar imerso dentro da água, perder o oxigênio que lhe restava e, por fim, acabar morrendo, com certeza iria ficar gravada em sua memória, assim como a sua primeira morte por àquele demônio em sua casa em chamas.
O conceito de morte, em suma, era assustador. Mesmo que todo mundo aceitasse que um dia iria morrer, no fundo, todos queriam viver. Alguns poderiam acabar morrendo felizes por terem vívido uma ótima vida; outros em total negação; outros em arrependimentos.
Dante, de certa forma, foi privilegiado por ter vivido por mais um tempo. Apesar de que quisesse continuar com sua vida, ele não achava que seria fácil convencer à deusa novamente. Foi isso que tinha em sua mente quando colocou os pés naquela sala; quando morreu e foi até a residência de Himawari, a Deusa da Cura.
— Então… você voltou. — A deusa parecia meio decepcionada, enquanto balançava sua cabeça lentamente e de forma negativa — Pensei ter dito para você não voltar aqui.
Ela estava sentada em sua luxuosa cadeira com as pernas cruzadas, olhando para o garoto de cima.
— O… o que foi… aquilo… — o jovem tentava falar, mas o fato de estar se engasgando consigo mesmo o impedia.
— Aquilo…? Você diz o leviatã?
Esse nome se gravou na mente do garoto. “O leviatã”, a enorme criatura que os atacou, cujo Dante só conseguiu olhar para um de seus olhos e, mesmo assim, eram assustadores. O olhar penetrante daquele ser, causava um calafrio nele.
O olho do Leviatã, era imenso, sendo tão largo quanto o barco em que Dante e Angel estavam.
— Leviatã…?
— Uma das Bestas Demoníacas Especiais do Rei Demônio. É completamente diferente das que você viu até agora. Um ser gigante que gera um grande odor para atordoar suas vítimas. O leviatã não precisa comer, ele mata por diversão.
— Ah… é…? Tá explicado aquele fedor…
Ele disse com repulsa quando se lembrou daquele cheiro. A vontade que tinha era de vomitar.
— E aí, vamos escolher as suas três opções?
O objetivo da mulher era fazer Dante ou ressuscitar em um novo mundo, ou no seu próprio, ou ir para o paraíso. As intenções de revivê-lo novamente eram zero.
— Quero voltar a minha vida normal…
— Por que essa insistência? Já disse que é contra as regras.
— Sim, mas…
Ele ficou de quatro, levando a sua cabeça para baixo junto de suas mãos. Basicamente, estava em.uma posição de submissão para que a deusa permita a sua vida novamente.
— Eu quero continuar vivendo a minha vida.
Um silêncio se estendeu naquele lugar. Himawari olhou para ele como se fosse fosse um grande idiota. Por fim, ela suspirou.
— Bem, acho que posso fazer isso… se bem que provavelmente ele vai ir atrás de você…
Apesar dela ter dito a sua última frase de uma forma baixa, Dante ouviu, e isso o perturbou.
— Vir atrás de mim?
— Ops! — Em um rápido movimento, Himawari tapou sua boca, como se o que acabara de dizer saiu sem intenção — Olha, eu te revivo, mas não tem como ser agora, já que seu corpo ainda está submerso.
— Opa, calma, vamos voltar um pouco. Você disse que alguém irá vir atrás de mim?
A mulher virou os olhos. O que disse não foi proposital, mas parecia que não poderia revelar ao jovem.
Dante ficou ainda mais pertubado com isso. Se alguém fosse atrás dele com alguma intenção assassina, ele teria de saber o mais breve possível, para evitar de ser esquartejado no futuro.
Ele só morreu duas vezes até o momento, e queria que essas duas fossem as únicas.
— Ei, senhorita Himawari…
O garoto decidiu insistir naquilo, mas a deusa não parecia apta a isso, tanto que ela apenas ficou quieta.
— Por favor, não me ignore… Se esse alguém vier me matar, eu preciso saber, para poder evitar ao máximo. Não quero sofrer riscos…
Ela suspirou. Aparentemente, desistiu de se calar e deu uma luz para o garoto.
— Ceifador. Uma criatura que nós, deusas, temos um acordo. Esse acordo envolve a alma de vocês, humanos.
O “Dante” que estava ali, não era o jovem com o seu corpo físico. E sim sua alma. Aquilo era um corpo astral, mas tão parecido com um corpo físico em vários sentidos, e um desses sentidos era o fato de o garoto poder sentir dor.
Quando morriam, as almas dos humanos, aparentemente, iam até a residência dessa deusa e, provavelmente, de outras também.
— Imagine o Ceifador como um túnel em uma estrada reta. Geralmente, nós enviamos as almas dos humanos para algum lugar quando eles morrem. Se renascerem, não importando um dos mundos, sua alma atual será guardada em um lugar especial, e uma posterior será criada para substituir a anterior. Isto é, uma troca de lugares. Você praticamente vira uma nova pessoa.
Essa conversa estava se mostrando cada vez mais interessante. Se uma alma substituísse a outra, significava que elas teriam ainda, de alguma forma, uma relação. Se não, na teoria, isto não seria uma reencarnação. Isso poderia se comprovar quando a mulher comentou que o lugar onde as almas de pessoas que iriam reencarnar iam para um lugar especial.
— E as almas não reencarnadas irão para o paraíso dormir e ter belos sonhos por toda a eternidade.
Aos olhos de Dante, aquilo era um bom caminho para uma pessoa que aceitou a morte e não quisesse voltar à vida.
— O Ceifador é o devorador de almas. Ele come uma alma para ter essa passagem, mas seu prato principal são as almas pecaminosas.
A garota parou de falar por um momento. Estendendo sua mão no ar, uma esfera apareceu de forma repentina, o que surpreendeu Dante.
— Parece que você já pode ser revivido. Hum! Tudo bem. Vai lá — disse estalando os dedos.
— Ah… certo. Mas antes…!
Aquele círculo com vários símbolos apareceu novamente. Dante parecia querer dizer algo antes de partir.
— Se você puder, mude um pouco esse local pra algo de melhor aparência. Recomendação minha.
— Haha! Insolente — a deusa riu, mas, de fato, achou uma ótima sugestão.
E, novamente, Dante voltou à vida.
A deusa havia quebrado a regras por mais uma vez. O garoto não sabia e nem conseguia imaginar como ela se sentia sobre isso, porém, diferente da primeira vez, a mulher não pareceu hesitante. Isso não parecia ser uma fase onde ele morria e voltava sempre que pedia, pelo menos, não na visão do jovem. Se fosse para morrer, ele preferia mil vezes que fosse de velhice, e não das formas assustadoras que acabou morrendo.
Por fim, Dante foi privilegiado por ter seu grande pedido atendido duas vezes: poder voltar à vida. Podia ter perdido sua família e a entrada no “Continente” Asgras poderia o matar novamente. Mas mesmo assim, ele ainda queria continuar com a sua vida. E seus pais e irmãos também iriam querer isso.
Tudo que enxergava era o nada. Sentia dois braços o agarrando: envolta do seu pescoço e chegando até seu peito junto de duas mãos que o segurava. As suas pernas lhe passavam uma sensação bem despreocupada, como se não precisasse se preocupar em ficar de pé. Além disso, uma leve brisa batia em seu rosto. Também sentiu suas roupas e cabelo molhados.
Quando finalmente abriu os olhos, pôde ver que estava acima das águas. Aqueles braços em volta de seu corpo tinham uma dona.
— Dante! Você está bem?
Angel o olhava por cima preocupadamente. Quem estava o carregando era a jovem (ou não tanto) Anjo da Guarda.
Ela estava nitidamente preocupada com o garoto e o abraçando fortemente, e isso lhe confortava de uma certa forma, mas também isso o deixava estranho.
Saber que alguém se preocupava realmente com ele o fazia se sentir ainda mais confortável, mas o fato deles se conhecerem há algumas horas e, consequentemente, isso fazer os dois não terem tanta intimidade deixava aquilo um pouco estranho. Isso, pelo menos, era o que Dante sentia em relação àquele ato. Angel não parecia se sentir dessa forma.
Talvez, por estar o vigiando e protegendo por tanto tempo, tenha feito com que ela ficasse mais intima do garoto, embora isso não afetaria o jovem, primeiramente, porque ele nem sabia que anjos existiam. Ou, simplismente, a garota fosse uma pessoa que pegava intimidade facilmente e rapidamente com qualquer pessoa.
— Eu fiquei tão preocupada… Você não acordava… Achei que tinha morrido…
Ela o abraçou ainda mais forte, fazendo o garoto começar a ficar incomodado com isso. E querendo evitar um breve possível sufocamento por parte de Angel, ele deu tapinhas nos ombros dela.
— Agradeço a sua preocupação… Mas, sabe, você é beeem forte… e está me apertando beeem forte…
A garota, para a felicidade de Dante, entendeu o que ele quis dizer. Controlando as suas emoções, ela parou de apertar o jovem tão fortemente, o que aliviou o garoto.
— Bem, estou todo molhado agora, posso pegar um resfriado.
— Um resfriado devia ser a menor de suas preocupações agora. O nosso barco quebrou no ataque daquele bicho.
— Hum. Pois é. O “nosso” barco quebrou e… e isso é péssimo! — Levantou os dedos indicadores e médios das duas mãos, os abaixando em seguida, enquanto dava ênfase para a palavra “nosso” — Você vai conseguir me levar junto?
— Eu vou me esforçar. E nós andamos bastante com aquele barco, então cortamos boa parte do caminho.
Dante não gostou muito de ouvir o “vou me esforçar”. Isso fez parecer que estava sendo um peso morto para o seu anjo carregar, o que não era mentira. Já que não podia voar, a única escolha que tinha foi ser levado pelos ombros.
E mesmo que soubesse nadar, isso certamente estaria fora de questão, afinal, ninguém seria maluco o suficiente para nadar em um extenso mar até outro “continente” só porque não queria se sentir um peso morto.
Ele decidiu não comentar sobre esse pensamento, e tentou só aproveitar enquanto recebia o seu voo gratis. Para sua infelicidade, o voo gratis não tinha nenhum equipamento que pudesse o proteger do frio, até porque, era completamente ao ar livre, e suas roupas molhadas só pioravam isso.
Angel também estava molhada, o garoto percebeu isso olhando para seus cabelos. Porém, ela não parecia estar incomodada com o frio.
“Ela é durona… Acho que posso seriamente pegar uma hipotermia com isso…!”
Antes que pudesse comentar sobre seu medo de ficar doente, o jovem sentiu sua visão embaçando cada vez mais e algo pesado o empurrando para baixo. Estava com uma ânsia de vômito crescendo cada vez mais. Seu olfato se dissipa aos poucos, junto de sua audição.
Junto de todo esse efeito repentino e esquesito que seu corpo estava tendo, seu peito começou a doer, mas especificamente na região do coração.
Algo tão repentino, e logo após ele voltar dos mortos.
Sua visão ficava ainda mais turva e a qualquer momento parecia que iria desmair.
— Ei! Ô, Dante!
Angel percebeu que algo de errado estava acontecendo com o jovem em seus braços, mas não sabia o porquê daquilo.
— Uuuuuh…!
Por fim, o garoto acabou desmaiando nos braços da mulher.