Armageddon - A Guerra dos Cavaleiros - Capítulo 28
Armagedom
A Guerra dos Cavaleiros
Capítulo 28: Cassius Clay
Louisville, Kentucky, 1954:
Um alarme começou a tocar e uma mão atingiu o despertador para desliga-lo e uma criança levantou-se de sua cama e andou na direção do banheiro, lá ele tomou banho e escovou os dentes.
Logo em seguida, desceu as escadas na direção da cozinha, onde viu seu pai, Cassius Clay, lendo o jornal do dia sentado na cadeira e na sua frente a sua esposa, Odessa Clay, empurrando ovos mexidos com salsicha em seu prato.
— Bom dia, meu filho, dormiu bem?
Odessa Clay, uma mulher de baixa estatura com seu cabelo preto e curto que se assemelha aos seus olhos com pequenas olheiras. Está usando uma roupa casual simples com um avental para cozinhar para sua família.
— Dormi bem sim, mãe — disse a criança sentando-se na cadeira e esperando seu café da manhã — Pai, o senhor vai me levar para ver aquela luta de boxe no fim de semana?
— Depende, o quanto você já arrecadou com o seu trabalho de meio período?
Cassius Clay, um homem de alta estatura com seu cabelo bem curto e preto, junto de seus olhos pretos com pequenos traços de cansaço. Está usando sua roupa de trabalho, ele era pintor de outdoor.
— Bem, eu já arrecadei alguns trocados, acho que tenho uns 10 dólares.
— Bem, já é um começo, filho. Logo você terá o suficiente e poderemos ir juntos ver a luta de boxe.
— Sim, senhor pai. Farei o meu melhor para ter mais dinheiro.
— Tome cuidado lá fora, meu filho — disse a mãe meio preocupada — lá fora é perigoso se você não tomar cuidado.
— Isso mesmo, filho — disse o pai colocando o jornal na mesa e deixando a mão sobre o ombro de seu filho — lembre-se do que eu sempre digo:
— Seja honesto, justo com as pessoas e jamais desrespeitar sua família e aqueles que você quer proteger — disseram os dois juntos.
— Tudo bem, agora vou para rua que eu tenho trabalhar — disse a criança sorrindo.
A criança andou até a porta e olhou para trás.
— Tome cuidado, Cassius Clay Jr — disseram seus pais.
Essa criança que estava indo para a rua, no futuro iria se tornar o maior lutador dos pesos-pesados e mudaria seu nome para Muhammad Ali.
Cassius andou pelas ruas de sua cidade movimentada, onde todas aquelas pessoas estavam indo trabalhar e viver suas vidas.
Cassius chegou até seu destino que era um banco que ficava em frente a uma barbearia, lá ele trabalhava como engraxador. Ele atendia um total de 25 pessoas por dia, mas muitas pagavam com alguns trocados e outras nem pagavam.
Cassius ficava aborrecido com isso, mas ele estava tentando seguir os passos de seus pais e trabalhando em trabalho honesto.
— Pronto, senhor — disse Cassius olhando para o sapato engraxado de seu cliente, ele sabia que havia feito um bom trabalho.
— Obrigado, criança, aqui para você — disse o homem levantando-se e entregando uma nota de um dólar.
Cassius estava muito feliz, afinal era raro alguém dar uma nota em vez de alguma moeda. Ele erguia o seu dinheiro com um sorriso no rosto.
— Mais um trabalho feito, se continuar desse jeito logo eu poderei ver as lutas de boxe.
Cassius era fascinado por boxe desde que viu sua primeira luta pela televisão, aquilo para ele era de outro mundo e o deixava totalmente feliz.
— Será que um dia eu poderei me tornar um lutador de boxe? Sei que deve ser bem difícil, mas com trabalho duro eu poderia me tornar o maior lutador do mundo.
Cassius se perdeu em sua fala e mais cliente havia chegado e ele voltou-se ao trabalho. Ele estava concentrado em seu trabalho, até que ele ouviu uma mulher gritando.
Ele olhou rapidamente e viu um homem correndo com a bolsa daquela mulher. Cassius não pensou duas vezes e largou o que estava fazendo para correr atrás do ladrão.
O criminoso corria rápido, mas Cassius possuia um bom porte físico e estava conseguindo acompanha-lo. O ladrão percebeu a criança correndo e começou a jogar as pessoas em cima dele, mas Cassius era ágil e mantinha sua velocidade para alcança-lo.
O ladrão entrou em um beco fechado e quando pensou em voltar, Cassius estava entre ele e sua fuga.
— Parado aí, vilão. Devolva essa bolsa e se entregue a polícia.
— Cai fora, criança — disse o ladrão puxando uma faca de sua roupa — senão você vai acabar se machucando.
Cassius viu aquela faca e sentiu um leve medo, mas manteve-se firme para enfrenta-lo.
— Beleza, eu avisei — disse o ladrão avançando com a faca para crava-la na criança na sua frente.
Cassius fechou seus punhos com força e não sabia o que ele iria fazer naquele momento.
“O que eu vou fazer? Se eu não fizer algo, eu vou morrer. O que meu pai faria nessa situação?”, pensou Cassius que começou a ficar apavorado.
— Não se preocupe criança, deixe esse assunto para os adultos — disse um homem que colocou a mão em seu ombro e impulsionou-se para frente.
O crimonoso se assustou com aquela aparição e mudou a direção de seu ataque para aquele homem, o qual estava sorrindo.
O homem esquivou-se facilmente do ataque e desferiu um “uppercut” de direita no queixo do ladrão, o qual caiu imediatamente no chão e desmaiado.
Os olhos de Cassius brilharam com aquela cena que ele tinha presenciado, aquele homem brilhava tanto para aquela criança, ele tinha sido um herói.
O homem andou até ele e colocou a mão em seu ombro.
— Está tudo bem, criança? Você se machucou? — perguntou o homem com um leve sorriso em seu rosto.
Esse homem parecia ter em torno de 55 a 60 anos, ele possuia cabelo e um bigode brancos, que diferia de sua pele, seus olhos castanhos possuíam tanta vida. Sua roupa era simples com um colete xadrez marrom e beje, uma camisa azul e uma calça preta junto de seus sapatos pretos.
— Senhor, qual o seu nome?
— Me chamo Muhammad Ali, criança. Recomendo que saia dessa lugar o mais rápido possível, a polícia está vindo e se verem dois negros nesse beco, vão pensar que nós somos os criminosos.
O senhor começou a correr e Cassius ficou em choque por um momento e começou a correr também.
Cassius voltou para casa e não conseguia apagar o sorriso, a ansiedade e a felicidade de seu rosto. Quando chegou, viu seu pai e mãe na cozinha, eles haviam acabado de chegar em casa.
— Bem vindo de volta, meu filho — disse a mãe.
— Conseguiu mais dinheiro dessa vez? — disse o pai.
— Mãe, Pai, vocês não vão acreditar. Eu corri atrás de um bandido e fiquei com muito medo, até que um senhor que era um herói chegou e acabou com aquele vilão com um só soco.
Os pais se assustaram e correram até o filho.
— Você está bem? Não está doendo ou tem algum ferimento em seu corpo? — perguntou desesperada a mãe.
— Estou bem, mãe. Aquele senhor acabou com vilão.
A mãe o abraçou aliviada e o pai coçou sua cabeça com raiva mas alivio.
— Que bom que chegou a salvo, filho. Mas o que você foi totalmente arriscado e falei que você deve tomar cuidado lá fora — disse o pai.
— Eu sei, pai, mas eu não podia deixar aquele crimonoso sair em puni.
— Tudo bem, filho, o que importa é sua segurança — disse a mãe — mas para você aprender a não deixar eu e seu pai preocupado, vai ficar uma semana de castigo sem trabalhar.
— O que, mas por que?!
— Não questione a sua mãe, coma e suba pro seu quarto.
Cassius fez uma cara emburrada, mas ele jantou e subiu para o seu quarto, lá ele começou a desenhar e a imaginar o homem que o havia salvado.
— Será que eu poderei o encontrar de novo? Queria ser um herói que nem ele.
Após uma semana trancafiado em casa, Cassius voltou as ruas com somente um objetivo e era encontrar o seu herói. Ele passou o dia inteiro o procurando e repetiu o processo por uma semana inteira, ele procurava em cada canto da cidade perguntava as pessoas se conheciam aquele homem.
Cassius ficou bem triste e voltou ao seu trabalho de engraxador, para voltar a conseguir dinheiro e poder ver a próxima luta de boxe.
Ele ia engraxado o sapato de todos e estava ganhando um bom dinheiro, mas continuava triste e chateado por não encontrar aquele homem.
Um homem sentou no banco e estalou os dedos, Cassius sabia que aquele era o sinal para engraxar o sapato.
— Como o senhor vai querer? — disse Cassius com a cabeça baixa.
— Bem, eu vou querer bem engraxado e limpo.
Cassius ficou supreso com aquela voz e quando olhou para cima, viu que aquele homem era o cara que ele estava procurando.
— Eu te achei, herói, é o senhor — seus olhos brilhavam com a presença daquele homem.
— Herói? Eu sou um simples homem, criança.
— Não é não, você é um herói e por isso quero ser igual ao senhor, me torne seu discípulo e me ensine sobre como acabar com os caras malvados.
O homem soltou um sorriso de preocupação e levantou-se.
— Para onde o senhor vai? — disse Cassius largando tudo e seguindo o homem.
— Criança, não me siga, eu não sou seu pai.
— Eu sei que você não é meu pai, o senhor é um herói, me ensine suas técnicas.
— Não sei do que você está falando. Se não parar, eu vou chamar a polícia.
— Acho difícil, o senhor disse que não era bom chamar os policiais.
O homem colocou a mão na boca do Cassius e eles viram dois policiais andando normalmente na direção da viatura.
— Não diga essas coisas tão alto, criança — sussurrou o senhor, enquanto tirava a mão da boca do menino.
Cassius continuou o seguindo e importunando aquele homem até que chegassem e sua casa.
— Então essa é sua casa? — perguntou Cassius.
Era uma casa simples e bem parecida com as que estavam ao redor deles.
— Depende, você vai querer entrar?
— Com certeza.
— Então não é minha casa — disse o senhor entrando na casa e fechando a porta na cara do Cassius.
— Vamos lá, senhor, me deixe entrar e me deixe ser seu discípulo.
O homem não respondeu e Cassius insistiu o resto do dia e ele repetiu o feito pela semana toda, fez chuva e muito sol, mas ele não parava de insistir e implorando para ser discípulo daquele homem.
O homem olhava pela sua janela e via a determinação daquela criança que não desistia por nada.
Em um dia, Cassius gritou tanto que caiu no chão de exaustão e quando acordou, percebeu que estava em uma cama em quarto que nunca tinha visto. Nesse quarto tinha diversas fotos de soldados e jornais de anos atrás.
Cassius levantou-se e começou a explorar o quarto, além de ler os jornais e ver as fotos com curiosidade.
— Então você acordou, criança — disse o homem entrando no quarto e vendo Cassius admirando uma foto.
— Era o senhor? — disse Cassius apontando para uma foto em que estava um homem em um ringue de boxe com diversos ferimentos, mas que mantinha-se em pé sobre seu oponente com o braço direito erguido.
— Era eu sim, na minha época de ouro, mas isso faz muito tempo — disse o homem sentando-se na cama — me diga, criança, por que você quer virar meu discípulo? Eu sou um simples velho esperando seu fim nessa humilde casa.
— O senhor me salvou naquele dia e por isso serei sempre grato, eu nunca tinha visto alguém forte como o senhor e você usou boxe contra aquele ladrão.
O senhor olhou surpreso.
— Então você conhece o boxe?
— Eu amo o boxe, sei quase tudo sobre ele. Por isso eu preciso de você, se o senhor me aceitar como pupilo, eu serei muito forte e poderei lutar boxe nos grandes ringues e também protegerei minha família dos perigos do mundo.
— Eu não sei, criança, vejo que tens potencial e poderia achar qualquer outro treinador, por que eu?
— Não é óbvio? Eu quero me tornar um herói que poderá fazer todos rirem e se sentirem seguros, igual o senhor fez comigo, por isso tem que ser você.
Uma lágrima escorreu dos olhos daquele senhor, ele havia achado uma criança com coração tão puro. Muhammad estava esperando seus dias acabarem para que finalmente pudesse descansar, mas aquelas palavras de determinação e verdadeiras, o tocaram profundamente. Ele sabia que deveria treinar aquele garoto, pois ele se tornaria um grande lutador e o maior herói que aquele mundo iria ver.
— Tudo bem, criança, eu irei te treinar. Aguarde um treinamento que você pedirá para nunca ter me conhecido.
— Tudo bem, mestre, mande o pior que puder e eu irei superar esse desafio para realizar meu sonho.
Os dois estavam sorrindo naquele momento e com olhares determinados. Naquele momento, a história de Cassius Clay iria iniciar.
Continua…