Arthur: O Cavaleiro de Tsarita - Capítulo 4
— Ei Arthur, levanta aí.
Logo de manhã cedo e já estava sendo incomodado, havia chegado cansado daquela missão então logo ao chegar na cidade me joguei na cama e dormi num sono profundo.
Hoje é meu dia de folga, meu e do esquadrão da Akane, amanhã teremos que cobrir o outro esquadrão, então cada segundo é precioso.
— Cala a boca e me deixa dormir, Rod.
Rod era seu nome, mais um dos promissores novatos que se juntaram assim como eu.
Ele é um cara meio problemático se assim posso dizer, não consegue se expressar bem e acaba sempre se envolvendo em brigas, seria o tipo de pessoa que gostaria de me manter distante, porém sendo seu colega de quarto é difícil.
Rod continuou me incomodando então não tive escolha senão levantar e agir. Quem também havia acabado de acordar era Yur, eu não sei nada sobre ele, apenas que é mais um dos novatos.
— Então Rod, poderia por gentileza me informar o por que de ter me acordado?
— Claro, é bem simples, nenhum ser vivo normal dorme até as 11 horas!
Rod já estava ficando irritado, e eu estava pior ainda, qual é o problema de descansar bastante e ser uma pessoa saudável?
Não sou idiota de brigar por qualquer coisa, acabei com o clima serio desviando o assunto.
— Então, que tal fazermos algo? Não podemos desperdiçar nosso tempo.
Ainda com raiva, Rod saiu do quarto e bateu a porta com força, quebrando a maçaneta.
Me adianto e também saio do quarto, deixando Yur sozinho lá dentro.
Meu estômago está roncando, não posso lutar de barriga vazia. Me dirijo ao refeitório numa falsa esperança de encontrar algo para comer.
Não havia ninguém no refeitório, tudo estava vazio e havia alguns pedaços de comida espalhados pelo corredor, essas pessoas não tem educação?
— Está tudo vazio…
Óbvio que não iria encontrar nada às 11 horas da manhã, por outro lado o almoço estava próximo então bastava aguentar um pouco mais até poder degustar de um delicioso prato de arroz com feijão.
— Ei cara, ouviu falar, o rei está dando uma recompensa de 100000 Tsar…
Um pouco distante a conversa entre dois colegas chegava aos meus ouvidos, assim que ouvi sobre aquela recompensa optei por ouvir um pouco mais sobre o que eles estavam falando.
— Eai Arthur.
Não sei que pecado cometi aos espíritos, mas novamente Rod veio me incomodar. Ele notou que eu estava descaradamente tentando ouvir a conversa e logo tentou destruir minhas esperanças.
— Cara, se eu fosse você eu nem tentaria, estão caçando esse cara a meses e nunca conseguirão o capturar.
Rod me explica, esse ladrão surgiu recentemente, e tem roubado diversos itens preciosos, tanto de nobres quanto de plebeus, aparentemente ele se tornou um grande problema após roubar um item importante protegido pela igreja, então o rei não pode mais o ignorar e teve de pôr uma recompensa.
— Não custa nada tentarmos.
De repente Yur aparece e nos surpreende, ele ouviu nossa conversa e se interessou nessa caça ao ladrão.
— Desde quando ouvir a conversa dos outros se tornou tão comum?
Bem, isso não importa, um pequeno grupo torna tudo bem mais eficiente.
— Então o grupo já está formado, primeiramente vamos começar a reunir informações.
Sem dar tempo para Rod opinar, finalizo formando nosso grupo, primeiramente todos nós concordamos (Eu e Yur) que deveríamos buscar informações no bairro mais pobre da cidade, segundo Yur é onde o ladrão costuma frequentar.
— Como você sabe o local onde o ladrão frequenta?
Rod desconfia de Yur, talvez seja alguma intriga de mais tempo, porém Yur apenas responde em tom de deboche.
— Eu sou amigo dele, brincamos de policia e ladrão na infância.
Rod se irritou com o deboche de Yur, ele parecia saber disso, apenas espero que os dois não se matem no meio da investigação.
• • • •
— Já disse que não sei do que estão falando!
Quem disse isso foi o velho da loja de itens roubados, considerando que ele é um ladrão, esse seria um dos locais de vender “seus” itens.
— Quem sabe se comprarem um dos itens eu não possa dizer algo.
O velho abriu o jogo, no final das contas ele realmente sabia algo sobre o ladrão que procurávamos.
— Foi mal, não quero ser preso por receptação.
— Então não vou dizer nada!
O velho cruza os braços e vira a cara como uma criança, Yur segue em frente demonstrando certo interesse pelas armas do local.
A variedade da loja é de fato impressionante, há de todos os tipos de itens que procura, desde roupas, armaduras e armas até móveis e livros. inclusive, imagino como alguém pode roubar um sofá, os humanos são realmente fascinantes.
— Eu estava realmente precisando de uma nova arma.
Yur decidiu comprar dois Chakram, cerca de 30 centímetros de diâmetro e diversos detalhes em dourado, uma arma mortal nas mãos de um profissional, podendo arrancar membros com facilidade.
O pagamento foi efetuado e Yur analisou calmamente sua nova aquisição.
— Já que é assim, irei lhes dizer o que sei, depois vocês que se virem!
Ficamos em silêncio e esperamos o velho dono da loja começar, ele pensava e coçava a cabeça, como se não soubesse por onde começar, ou talvez estivesse inventando uma mentira convincente.
— Ele geralmente é chamado de traiçoeiro, ele aparece e desaparece da cidade quando as coisas convêm, não é difícil se encontrar com ele, o problema é capturá-lo. Ouvi falar que a segurança na casa dos Taylor, é provável que encontre ele por lá, esses caras sempre dão um jeito de estar um passo à frente.
O velho passou algumas informações preciosas, apenas não entendo como esse velho pode saber de tantas coisas.
Os Taylors são um dos nobres mais importantes da cidade, reconhecidos por sua contribuição a mineração de ouro e pedras preciosas, além de refinarias e as polir, todo o país é atraído por seus produtos, faz sentido um ladrão ambicioso ir atrás de seus pertences.
Saímos então da loja e nos organizamos, a pergunta era: O que vamos fazer agora?
— Eu sugiro que fiquemos a postos, próximos a mansão dos Taylor e preparados para qualquer ação suspeita. — Sugeriu Rod.
— Eu concordo. — Disse Yur.
São dois contra um, estava pensando em passar um pouco o tempo até que a noite chegue, mas como somos a favor da democracia, decidimos que a ideia de Rod seria seguida e vigiarmos do lado de fora da mansão.
Após sairmos da loja, Rod interroga Yur, nem parece que eles estavam prestes a socá-lo no rosto a 4 horas atrás.
— Ei Yur, eu tenho uma pergunta: onde arranjou tanto dinheiro para comprar essas Chakram?
Yur então levanta as Chakram e mostram ao sol, seu metal com detalhes em dourado refletiam a luz do sol, de longe dava para ver que o fio daquela lâmina era de alta qualidade.
— Dinheiro falso, óbvio.
Como se fosse comum usar dinheiro falso para comprar produtos, pensando bem, eu também era um ladrão há alguns dias atrás, não posso ser hipócrita.
Os ladrões costumam atacar a noite, então tomamos algum tempo e esperamos até o anoitecer.
A mansão deles é enorme, até chegar à porta da casa é necessário uma caminhada de pelo menos 100 metros, como pode uma pessoa ser tão rica a esse ponto?
— Muito bem, vamos nos separar.
Cada um ficou em um ponto em que permitisse a visão da mansão, fiquei em cima de uma grande árvore que se localiza entre a entrada da mansão e os fundos no lado de fora.
Yur se esgueirou pela propriedade e ficou dentro de um arbusto de flores, já dentro da mansão e próximo a entrada.
Enquanto Rod ficou na parte de trás da casa escondido no mato na parte de fora.
Além de nós, havia soldados por todos os lados, ninguém sabia de nossa presença ali, ao que parece aqueles eram os soldados pessoais da família Taylor.
Não me surpreende um ladrão conseguir invadir esta casa com uma segurança tão incompetente, Yur conseguiu facilmente pular o muro e entrar sem ser visto.
Passaram-se então cerca de 30 minutos, não foi necessário esperar muito para que o show começasse.
Logo foi possível ouvir o barulho dos soldados gritando, todos se movimentando agitados para dentro da casa.
Como estava numa posição elevada, avistei em uma das janelas um homem no mínimo suspeito, com suas roupas desgastadas e um capuz que cobria o rosto, não tem erro.
Pulei de cima da árvore e aterrissei no chão, Yur que estava escondido no arbusto, esperava o primeiro movimento, ele sairia pelo portão da frente ou pelos fundos?
A resposta parece bem óbvia, mas ser surpreendido é a última coisa que queremos no momento, ou talvez a penúltima.
Um dos soldados que corria em direção a casa acabou me avistando, e me confundindo como um comparsa.
— Ei você, parado aí!
— Merda…
De repente uma explosão aconteceu fazendo um grande barulho, o ladrão estava escapando pelos fundos.
Reforços chegaram, o problema é que agora eu era um alvo.
Corri para os fundos, aquele mal entendido poderia ser resolvido depois, primeiro eu tenho que persegui-lo.
— Todos por aqui!
Mais soldados chegaram, cerca de 10, corri para os fundos e me encontrei com Rod.
— O que aconteceu?
— Eles pensam que eu sou um comparsa.
Direto ao assunto, respondi a pergunta de Rod, que começou a ficar histérico ao pensar que também seria confundido com um ladrão.
Logo ao lado, no meio da mata estava Yur, que corria nos acompanhando pelas sombras.
O ladrão corria muito rápido a ponto de que só era possível ver um vulto.
Aquilo era de se esperar de um profissional, veloz como o vento e com grande agilidade, pulando os arbustos com grandes saltos e evitando qualquer obstáculo.
— O que!?
Enquanto corríamos nos deparamos com o fim da linha, um enorme barranco de 20 metros.
Logo em baixo era possível ver, o ladrão foi deslizando pelo barranco e conseguiu descer.
Havia um problema em descer aquele barranco, o lugar é pedregoso e íngreme, descer daquela forma iria ser como rasgar sua pele num ralador ou algo do gênero.
— Rod o que você tá fazendo?
Rod não se importou com os detalhes e apenas pulou, Yur também foi, porém ele deslizou pelo barranco.
Naquela altura Rod iria quebrar as pernas, no melhor dos casos. Os soldados estavam na nossa cola, não tinha opção, se não pulasse talvez eu perdesse o ladrão de vista.
Tomei certa distância e dei um grande salto, um salto da fé.
Os soldados que estavam atrás de nós só puderam ficar olhando de longe, nem se atreveram a tentar deslizar.
Estendi meus braços e abri minhas mãos, meu objetivo era me agarrar em algum galho de árvore e me balançar diminuindo minha velocidade.
Quase tudo ocorreu como planejado, consegui tomar uma grande distância e me agarrar num galho de uma árvore, o problema foi que assim que segurei nele o mesmo rompeu e me fez cair no chão.
• • • •
— Arthur, você tá legal?
Quem falava preocupado era Rod, ao que parece acabei me precipitando na hora da aterrissagem e batendo com força minha cabeça numa pedra, o impacto foi o suficiente para me tirar a consciência.
Ainda estava sem entender muito bem a situação, minha cabeça doía muito e nariz estava com um curativo mal feito.
— Onde estamos? — Pergunto me levantando devagar e recobrando minha postura.
— Numa espécie de galpão. — Responde Yur. — Você ter desmaiado acabou atrasando tudo. Porém mesmo assim conseguimos rastreá-lo, o problema é que ele fugiu daqui e até mesmo deixou alguns objetos de valor.
— Mas vocês tem alguma pista de onde ele possa ter ido?
— Por enquanto não, procuramos por todo o lugar e não encontramos nada.
— Entendo…
Não há o que fazer. Rod parecia pensativo, olhava pela janela com um olhar distante, ao me levantar completamente e sair daquele piso de madeira, não pude deixar de reparar em algo logo abaixo.
O lugar onde eu estava deitado, nele havia uma tábua de madeira solta com algo saindo para fora.
Quando arranquei aquela tábua, insetos saíram aos montes dali e foi revelado uma carta.
Yur e Rod estavam distraídos e acabaram não percebendo, então tomei a liberdade para ler em silêncio o seu conteúdo.
“Nos encontre nessas coordenadas”
Uma carta um tanto quanto simples, no mínimo. Nela havia apenas as coordenadas para um local e uma data, que marcava para semana passada.
— Hm?
Na parte de trás da carta também havia algo, um símbolo estranho que não seguia um formato específico. Não entendo a intenção por trás disso, talvez possa interpretar que é uma carta direta para o ladrão.
Não entendo, por hora é melhor conversar com os outros e reunir outras opiniões.