As Desventuras Surreais dos Becker - Capítulo 5
A jornada seguiu de forma tranquila. Acamparam no dia anterior, comeram marshmallows e descansaram sobre a grama. Ao alvorecer, retomaram a caminhada, que começava a se tornar cansativa.
— Será que não há um meio menos monótono de chegar ao campo aglomerado e arquitetado? — Pulget questionou, no ombro de Arthur — esta peregrinação tem me dado uma forte sensação de monotonia uniforme.
— Isso soou um tanto redundante — Petry respondeu — mas concordo com você, Pulget. Por mais que não tenha dado um passo desde o início da peregrinação. De qualquer forma, se quisermos pegar Herbert, precisaremos agilizar as coisas… eu conheço um vilarejo por essas bandas, lá há um grande latifundiário. É bem provável que ele possua um estábulo.
— Ir de cavalo seria bem melhor — Arthur comentou. Começava a caminhar de forma vacilante — eu lembro de montar um alvo quando era menino.
— Defina, menino.
— Homem moço, Pulget — Petry respondeu. Fazia questão de sanar todas as dúvidas do homúnculo desde o começo da jornada — pois bem, o vilarejo não fica muito longe daqui. Não creio que esteja mais longe que uma milha.
A informação não empolgou nem Arthur nem Pulget. Mas ao menos poderiam ter uma folga naquele vilarejo.
Cruzaram mais um grande relevo, onde Arthur sentiu seus pés latejarem. Passaram também por um pasto, cheio de ovelhas. Um pastor as conduzia com destreza.
— Os pastores deveriam ser mais valorizados. Uma nobre tarefa — Petry comentou — um dos maiores alquimistas que conheci era também pastor. Me contava sempre das suas histórias lutando contra leões e ursos para proteger as pequenas. Seu intelecto era tamanho que ele descobriu uma mistura capaz de controlar qualquer mente animal. De fato, brilhante.
— O que aconteceu com ele? — Arthur perguntou, genuinamente interessado.
— Ele costumava viajar com dois cantis: um para água e outro para o elixir. Uma prática que sempre considerei tola. Avisos meus não lhe faltaram. Bom, certo dia, ele levou o cantil com o elixir para domar um urso na floresta. Como bem se sabe, o efeito de um elixir é quase imediato após ingerido. Enfim, o que aconteceu foi que, diante do urso, ele descobriu que levou o cantil com água. Já é capaz de imaginar o resto.
— De fato, uma infeliz tragédia — o homúnculo observou.
— Mas como descobriu que ele morreu desse jeito?! — Arthur indagou.
— Graças a Poção Biomolar — Petry explicou — é uma espécie de rastreador dos alquimistas da Sociedade Secreta. Nela podemos ver seu estado, sua localização e se está sob efeito de algum elixir. Assim que ele morreu, realizamos uma investigação no local e chegamos a essa conclusão. Pobre Richter, quem diria que partiria por um erro tão tolo.
— Por que não vemos a localização de Herbert por essa tal poção Biomolar? — Arthur questionou, extremamente intrigado — ele é da Sociedade Secreta, não?
— Ao que tudo indica, ele se demitiu antes de executar seu plano. Não encontramos nenhum registro seu na Sociedade Secreta.
— Uma pena. Eu já estava a divagar que estivéssemos nessa jornada por incompetência dos homens da alquimia — Pulget foi sincero — a dita cuja Poção Biomolar cruzava um trajeto circular em minha consciência desde que ouvi tal termo.
— Bom, eu espero que Herbert realmente não saiba da localização da Pedra Filosofal. Eu confio que Paracelso não tenha deixado tudo muito explícito na fórmula.
— Ele não sabia exatamente a localização, pelo pouco que compartilhou — Arthur explicou.
— Hum, isso ainda nos dá uma chance. É bem provável que nosso inimigo fique perambulando por aí, criando confusão e colocando obstáculos no nosso caminho. Logo que der conta do desaparecimento de Saymon, ele vai saber que estou atrás dele.
— Não eram colegas na Sociedade Secreta?
— Digamos que sempre desconfiei da postura arrogante de Vagner. Sempre teve ambições muito altas para sua posição, de forma que para alcançá-las rapidamente, teria de ignorar os métodos legais.
Durante a caminhada para o vilarejo, discutiram alguns assuntos sem muita importância. Muitos deles envolviam as dúvidas frequentes de Pulget a respeito do mundo (defina, fruta).
Finalmente, após encontrarem uma estrada, conseguiram ver o vilarejo no horizonte não muito distante. Arthur ficou grato, bebendo o último gole da água de seu cantil.
— Meus devaneios me levaram a crer, que vilarejos são como grandes centros de aglomeração e comércio, só que com menos aglomeração e menos comércio — Pulget comentou.
— Exatamente. Pode resumir todos esses adjetivos e chamar apenas de cidade — Petry explicou. Arthur admirava sua paciência para com o homúnculo, pois era como ensinar um adulto sem conhecimento algum de qualquer aspecto alheio da realidade.
Quando enfim chegaram até a entrada do vilarejo, notaram que era realmente um lugar humilde, preenchido por umas poucas casas de madeira bem pequenas. A exceção eram dois casarões que ali haviam. Um deles estava posicionado no centro, onde uma portinha ao lado de uma grande cerca dividia o local, indicando ser a residência do latifundiário.
Mas algo suspeito ocorria na fachada do outro casarão, que se localizava ao leste do vilarejo. Uma aglomeração com provavelmente todos os moradores do local rodeava a nobre residência, cujas janelas estavam completamente cobertas.
— O que está acontecendo ali?! — Arthur indagou, levemente apreensivo.
— O sentido da visão lhe falha, Art? Está bem claro que se trata de uma pequena aglomeração dos residentes permanentes deste humilde vilarejo — Pulget explicou, gesticulando com as mãos pequenas.
— O que eu quero dizer é, qual o motivo?
— Defina, motivo.
— Isso não me cheira bem — Petry os interrompeu — aquela casa parece ser de alguém importante.
— Devíamos investigar então, não?!
— Certamente — o mestre de misturas observou a situação por mais alguns segundos, antes de concluir — precisamos tirar aquelas pessoas dali, pois pode ser uma coisa perigosa. Mas antes, vamos lá juntar informações.
Eles então se dirigiram até a eufórica aglomeração, que não parecia nem um pouco preocupada com a chegada de novos visitantes ao vilarejo.
— O que está acontecendo aqui? — Petry perguntou a um dos residentes, um homem gordo com uma longa bigodeira.
— A moça que mora nesta casa, ela está possuída por um demônio! — este respondeu com espanto, colocando as duas mãos na cabeça — ainda não me caiu a ficha, somos um vilarejo tão fiel à igreja.
— Como isso aconteceu? — o alquimista continuou interrogando.
— Não foi exatamente uma possessão demoníaca — ouviram uma voz atrás de si. Descobriram pertencer a uma mulher de meia idade, com um semblante tagarela — esta noite, eu vi! Três homens bem vestidos entraram naquela casa, a casa do médico Donovan Aurora. Após meia hora, eles deixaram a casa e partiram do vilarejo. Não vimos sinal do médico após isso, apenas os gritos macabros de sua filha, Julia. Eu suspeito que ela foi amaldiçoada por aqueles visitantes. Pobre Julia, uma garota tão amável.
O trio se entreolhou. Estava claro que aquilo fora de obra de Herbert e seus capachos, pouco antes de visitarem Paracelso.
— O que vamos fazer?! — Arthur perguntou, um tanto desesperado.
— Donovan Aurora — Petry divagou, pensativo — médico… esse nome me é familiar…
— Creio que possa ser um membro afiliado à Sociedade Secreta, não? — Pulget apontou.
— Isso me veio à mente. Talvez nunca tenha encontrado ele pessoalmente, mas pode muito bem ser um membro da sociedade. Eu mesmo só conhecia esse vilarejo por ouvir que aqui havia um latifundiário, não fazia a menor ideia que um alquimista morava aqui.
— Senhor Petry, devíamos fazer alguma coisa logo! Tem ideia do que Herbert possa ter feito com essa garota?
— É provável que tenha matado Donovan e, se este era realmente alquimista e mestre de misturas, talvez a garota tenha tomado um elixir. Lembra dos efeitos negativos? Ela deve ter sofrido uma maldição.
— Minhas suposições indicam que o melhor caminho seja averiguar mais de perto — Pulget sugeriu.
— Está certo — Petry confirmou — essa tarefa deixarei com vocês dois. Irei usar meu espelho para criar uma ilusão e afastar as pessoas de perto da casa. Arthur, não se esqueça de beber o elixir antes de entrar.
Petry tirou um frasco do bolso e bebeu o conteúdo. Logo depois, invocou seu espelho tridimensional e começou uma mágica para fazer todos os residentes voltarem a seus afazeres e ignorarem o casarão do médico.
— Entrem, agora — o alquimista ordenou.
Após tomar o elixir — cujo gosto era azedo e picante — Arthur tossiu um pouco. Logo começou a sentir o efeito agir pelo corpo. Se sentia mais ágil, mais disposto. Adrenalina circulava pelo seu sangue. De alguma forma, se sentiu capaz de enfrentar o desafio que aquele lugar lhe ofereceria.
— Vamos, Pulget — ele disse, se dirigindo à porta.
À medida que se aproximava, sentia uma aura negativa rodeando aquela casa. Era como se uma força sombria dominasse o recinto.
Enfim, adentraram a misteriosa casa. Assim que estavam dentro do ambiente engolido pelo breu, a porta se fechou com um estampido, sem avisá-los. Arthur engoliu em seco. Os devaneios sobre a inexistência voltaram a perambular sobre a mente do homúnculo.
Se encontravam em um grande hall, que emendava direto na sala. A casa era bastante espaçosa. Mesmo no escuro era possível notar os diversos sofás, poltronas, artigos luxuosos e lindos quadros nas paredes. Todas as cortinas estavam fechadas, não restando quase nenhuma brecha de luz para o interior da residência.
Tudo parecia muito silencioso e assombrado, graças a aura negativa presente por toda a atmosfera. Mas as coisas ficaram ainda mais assustadoras quando, ao fundo, bem abafado, um sussurro começou a ecoar pelo ambiente.
Arthur sentiu um arrepio na espinha e Pulget novamente repetiu aquele gesto incompreensível, descrevendo um arco pelo corpo. Mas não podia vacilar, pois estavam diante de um provável desafio, sem saber o que esperar.
A tensão subia a cada segundo. Ambos se encontravam imóveis, na espera de um oponente se apresentar. Passados dois minutos, Pulget sussurrou:
— O cômodo à frente é o que justifica a produção dos sons ecoantes tenebrosos que escutamos.
Arthur também notou. Aquele soluço vinha na realidade de uma dispensa trancada, bem na direção deles. Precisavam verificar de alguma forma.
Mas antes que ele pudesse agir, o homúnculo foi mais rápido. Materializou uma pequena bola de metal, mirando para a porta da dispensa e disparando em seguida, causando um pequeno estrondo.
— Não deveria ter feito isso — Arthur sussurrou — não sabemos se ela é nossa inimiga!
— Creio que suas faculdades mentais não estejam sincronizadas com minhas verdadeiras intenções, Art — Pulget explicou — minha finalidade com o disparo era apenas criar uma lacuna a qual pudéssemos espiar o interior do cômodo.
Ao se aproximar, realmente notou a fresta criada pelo disparo do homúnculo. Chegou bem perto e espiou. Dentro da dispensa estava ainda mais escuro, mas conseguiu notar a silhueta de uma garota, uma garota esbelta com um semblante trevoso. Era quem soluçava. Por um momento, ela pareceu não ter notado a presença dos dois na casa.
— Saiam daqui — ela enfim disse, em meio aos soluços — eu não quero ajuda… nada vai trazê-lo de volta.
Arthur e Pulget se entreolharam, se perguntando se a garota era realmente inimiga.
— O que aconteceu? — o jovem alquimista perguntou, com toda a coragem que reuniu.
— Eu já disse pra saírem, é meu último aviso. Seja lá quem for.
Após um olhar significativo, ambos chegaram à conclusão de que a garota não era inimiga nem perigosa. Tudo que precisavam fazer era convencê-la a sair daquela dispensa e lhes contar o ocorrido naquela casa.
Mas, assim que Arthur colocou a mão na maçaneta…
— É O QUE!! — Quase foi golpeado por uma… mão!
Sim, uma mão gigante totalmente escurecida brotou do chão. Se não fosse pela agilidade de Arthur graças ao elixir, seriam acertados em cheio.
De cantos opostos da sala, eles encararam a mão das trevas, a mão das trevas os encarou. O garoto não fazia ideia de como investir contra seu novo oponente. De qualquer maneira, não poderiam dizer que estavam em desvantagem naquele embate.
— Cautela, companheiro! — Pulget avisou, tarde demais.
Mais uma mão gigante brotou do chão e golpeou o jovem alquimista, que quase foi nocauteado. Como consequência do impacto, o homúnculo foi arremessado para longe do companheiro, indo parar em uma das janelas. Ele se encolheu para trás da cortina, em uma fresta iluminada, onde por um tempo, apenas observou o companheiro na peleja.
Arthur se viu em uma cilada. Tentou golpear a mão, até teve sucesso, mas de nada adiantava. Outras mãos surgiam do chão e logo se tornava uma árdua tarefa se desvencilhar das investidas constantes. Uma das mãos o fez tropeçar, o fazendo se estatelar no chão, em seguida, outra mão envolveu seu pescoço. Não tinha jeito, estava perdido.
Pulget, vendo a situação deplorável do companheiro, decidiu tentar ajudar. Materializou uma bola. Era difícil saber em qual das mãos devia ser seu alvo, mas enfim decidiu acertar a que envolvia o pescoço de Arthur. Após esticar bem, disparou… e errou, errou feio.
— AI! — Arthur exclamou. A bolinha passará de raspão por sua testa, a fazendo sangrar — mas que merda é essa, Pulget…
Se interrompeu, após notar onde o homúnculo estava. Uma ideia lhe surgiu, talvez não estivesse certo, mas valia a tentativa. Usou todas as suas forças para conseguir se libertar das mãos que lhe agarravam. Se arrastou pelo chão, tentando se levantar, seu objetivo era apenas puxar a cortina… mas ele quem foi puxado.
Argh, mas que dia de cão!
— Pulget, me dá uma mãozinha aqui!
— Creio que não seja um pedido muito inteligente, devido a abundância de mãos à disposição nas atuais circunstâncias — o homúnculo respondeu, nervoso.
— DÁ PRA ATIRAR UMA DE SUAS BOLAS NESSA COISA? — o jovem alquimista gritou, com desespero — e vê se não erra dessa vez!
Pulget obedeceu, materializando outra de suas bolinhas cromadas. Mesmo sob pressão, o disparo foi certeiro, acertando em cheio o mindinho da mão que o agarrava. Pulget repetiu o processo para as outras mãos que surgiam. Arthur se pôs de pé e correu até a cortina, enfim a conseguindo puxar com tudo.
Uma enorme fresta de iluminação foi liberada na casa. Como Arthur previu, as mãos não chegaram perto da luz.
— Muito sagaz, Art, de fato — o pequeno ser reconheceu — quem poderia imaginar que a fraqueza de nosso oponente trevoso seria a antítese dos termos.
— O Sr. Petry está certo, ela foi amaldiçoada por um elixir… provavelmente não tem controle total dos poderes.
As mãos, que estavam espalhadas por toda a casa, começaram a sumir. A garota realmente não era inimiga deles, só precisavam esclarecer as coisas. Sem aviso, Arthur caminhou até a porta da dispensa — Pulget precisou pular em seu ombro apressadamente, quase caindo com tudo no soalho.
Ao chegar próximo a porta, ele disse:
— Senhorita… Aurora… Não somos seus inimigos.
Não houve resposta. Ele então espiou pela fresta criada pela bola de Pulget… a garota havia sumido!
Usando toda a sua força, Arthur arrombou a porta. Eles entraram na dispensa, a varrendo com os olhos freneticamente. Não havia sinal da garota, mas havia uma janela, e ela estava aberta.
— Ela fugiu por ali! — o jovem expôs a dedução óbvia.
— A melhor opção, ao meu ver, seria seguir os rastros e sair por aquela janela — Pulget expôs a solução óbvia.
— Tem razão — Arthur obviamente concordou.
Eles seguiram o plano, pulando pela janela e caminhando pela terra árida dos fundos da casa. Não foi difícil localizar a garota. Ela se encontrava sentada embaixo de uma grande macieira, abraçando os joelhos. As mãos trevosas ameaçavam se revelar da forte sombra criada pela árvore.
Arthur não sabia como reagir, apenas a observou. Após quase dois minutos, a garota enfim decidiu encará-los. Seu rosto estava rubro e úmido pelas lágrimas. Seus longos cabelos castanhos caiam até o chão, sendo um contraste com os olhos azuis vivos. Era de fato uma garota esbelta, não mais velha que o jovem alquimista.
— Me… me desculpem — ela disse, cessando o choro — não queria machucar ninguém. Só quero me livrar desse espírito maligno… ou seja lá o que for isso.
— Não é um espírito maligno — uma voz grave irrompeu da várzea silenciosa. Era Petry — escute, Julia. Eu conhecia o seu pai, por mais que não tivéssemos contato direto. Donovan Aurora era um dos mais brilhantes membros da Sociedade Secreta dos Alquimistas. Me permita explicar…
— Eu sei da tal Sociedade Secreta — a garota revelou — meu pai nunca escondeu isso de mim, apesar de nunca me contar muito sobre também.
— Isso facilita as coisas — Petry disse, tirando a cartola e coçando a cabeça — Bom, eu quero que me diga, Julia, exatamente tudo. Só assim poderemos lhe ajudar.
— Tudo bem — ela confirmou, apreensiva — foi nessa noite. Três homens apareceram em casa… eu lembro dos três: Vagner Von Herbert, seu irmão Fagner e um alto chamado Saymon — Arthur e companhia se entreolharam, erguendo a sobrancelha — Eles vieram conversar com meu pai. Herbert sempre foi um grande amigo dele, disso eu sabia… mas ele o traiu… eles começaram um combate, beberam poções, uma loucura. Mas como um covarde, Herbert não lutou sozinho, então meu pai nem teve chance — as lágrimas começaram a cair novamente — ele foi… transformado em cinzas… não restou nada dele.
— Muito bem, muito bem, já é o suficiente — Petry interrompeu, se agachando de frente para Julia, a olhando bem nos olhos — deixa eu ver se consigo deduzir o resto: após ver seu pai morrendo, a senhorita tomou um elixir, no objetivo de enfrentar Herbert, mas o efeito não foi o esperado e ele seus capachos lhe escaparam, certo?
Ela acenou positivamente, enxugando as lágrimas. Só queria que aquele pesadelo acabasse.
Petry então se colocou de pé, parecendo pensativo. Logo disse:
— Senhorita Aurora, deixe-me apresentar. Eu sou Adam Wolfgang Petry, mestre de misturas como seu pai. Esses dois são Arthur e Pulget — ambos acenaram para Julia — eles também perderam alguém importante graças a Herbert. Nossa missão é encontrar o maldito e impedi-lo de cometer uma catástrofe ainda maior. Uma coisa lhe prometo, vamos vingar seu pai, e libertá-la dessa maldição causada pelo efeito inesperado do elixir… certo, vamos indo, gefährten. Precisamos falar com o latifundiário.
— Esperem — Julia os chamou, quando estavam para deixar o local — eu vou com vocês. Quero matar o assassino de meu pai com minhas próprias mãos — aquilo não foi dito em tom de trocadilho, como Arthur imaginou.
— Não podemos, Julia — Petry avisou — Herbert provavelmente colocou obstáculos em nosso caminho. Levar a senhorita seria arriscado.
— Eu não quero que me defendam, eu posso fazer isso sozinha — as mãos então surgiram da sombra da árvore, ferozes — vocês viram meu poder, não viram? — garoto e homúnculo confirmaram — Apesar de ser uma maldição, eu posso tirar proveito dessa habilidade.
Petry a estudou por um momento, coçando o queixo, até por fim concluir:
— Muito bem, se a senhorita insiste — ele então se virou, rumo ao vilarejo — é como diz o ditado, quanto mais, melhor.