As Desventuras Surreais dos Becker - Capítulo 7
Preparado para o combate, Arthur sacou os dois balões de fundo redondo. Fazer a mistura e preparar o elixir levaria um tempo, mas se o oponente tivesse paciência, poderiam ter um combate limpo.
— Vejo que não está preparado para o combate, terráqueo — Luther disse, uma expressão debochada no rosto — eu preciso achar um alquimista, mas pelo que vejo, você não é ele. Faremos o seguinte, eu mantenho sua existência se você me contar a localização do alquimista inconveniente.
— Houve um mal entendido — Arthur começou a fazer a mistura da carne de guepardo com água. Não era fervente, mas era tarde demais para pensar naquilo — o homem que você procura é o mesmo que nós procuramos.
— Isso faz desta pequena turba aqui reunida, que somos nós, na realidade, estarem na mesma adjacência a respeito do objetivo central — Pulget explicou, dessa vez se comprometendo em montar uma explicação esclarecedora.
— Ahummmmmmmmm! — Luther parecia incrédulo — isso não faz nenhum sentido. Então porque estamos prestes a começar um combate?
— Exatamente, senhor Luther. Não há motivo para combate!
— Silêncio, terráqueo — O monge então começou a dar golpes no ar e no fim uma cambalhota lendária e desnecessária — primeiramente, não respondo pelo nome do casulo não-transcendental que possuo, mas sim por @#$?, enviado de Skript. Segundamente, creio que você saiba sim a localização de quem eu procuro, pois é um deles também. Logo, ou me dá essa preciosa informação, ou terei de privá-lo de existir.
— Você vai descobrir que está sendo injusto — com o elixir pronto, Arthur bebeu, sentindo o gosto horrível descer de forma sofrida pela garganta — está pronto?
— Para lhe derrotar com um único golpe? Esteja certo disso.
Arthur então correu até o oponente. Durante a corrida, sentiu que havia alguma coisa errada. Ele não se sentia diferente como se sentiu quando bebeu o elixir pela primeira vez. Será que ele realmente fez efeito?
De qualquer forma, era tarde demais. Em câmera lenta, Arthur viu seu nocaute com muita antecedência. Há um metro de Luther, viu seu punho caminhando lentamente rumo a sua bochecha. De fato, foi imprudente em deixar para depois o preparo do elixir, pois diferente da mistura de Petry, a sua não poderia ser feita da mesma forma estilosa pouco antes do combate iniciar, já que precisava da água fervente.
PUF!
Foi certeiro. Com um único golpe bem dado, o monge fez o aprendiz de alquimista cair em sono profundo.
— É como os terráqueos dizem: cão que ladra, não morde — o monge sorriu, se abaixando para consultar a respiração do oponente — está desacordado. Bom, só preciso descrever um corte horizontal pelo corpo para enviá-lo ao vão da inexistência.
Luther se preparou para executar o golpe final, mas foi impedido por… uma bola? Não, uma bolinha. A bolinha de metal cromado atingiu em cheio o braço do monge, que não sentiu dor, apesar de ter sangrado.
— Suponho que terei de impedi-lo de tomar a existência do meu companheiro, @#$? — O homúnculo anunciou. Estava em pé no galho de uma árvore a dez metros de Luther.
A entidade cósmica ficou perplexa com a capacidade daquele pequeno ser ao pronunciar seu nome, pois, no geral, era impossível.
— Ora ora, não tinha lhe notado, pequeno — voltou suas atenções para Pulget, deixando o corpo inerte de Arthur ali mesmo — Pelo que eu vejo, você não é humano. Oh, muito interessante. Sinto uma energia diferente em você, como se fosse maior que esses meros mortais, apesar do tamanho.
— Suas afirmações tiveram o efeito de me deixar constrangido. Ainda não sou capaz de lidar com adjetivos positivos a minha persona.
— Bom de qualquer maneira, acho que temos um dilema aqui, não? — O monge novamente deu uma cambalhota e se colocou em posição de combate — mas já que está protegendo aquele que eu achei justo privar de existir, terei de passar esse fardo a ti. Por mais que não seja meu desejo, então teremos um combate limpo, de igual para igual.
Ambos se encararam por um momento. Cada um pensando em suas estratégias. Pulget imaginou que deveria testar o seu inimigo para entendê-lo antes de partir para uma investida mais certeira. Materializou então mais uma bola e disparou sem moleza.
Luther, sem problema nenhum, usou seu braço direito para rebater o ataque. A bola então colidiu contra a parede de uma casa à direita da rua, mas não se cravou nela, apenas quicou para a parede de uma casa à esquerda e assim sucessivamente. Isso até ela colidir contra uma árvore, a fazendo retornar o trajeto e por fim perder velocidade, caindo no chão.
O homúnculo tentou outra investida, mas a mesma coisa aconteceu, só que dessa vez o monge rebateu a bola com o braço esquerdo.
— Essa é sua única habilidade, meu correligionário? — o monge disse, quando a bolinha caiu bem aos seus pés. Ele catou-a do chão para vê-la melhor — jogar bolinhas inofensivas contra seus oponentes?
— A estaturas delas pode não ser das maiores, mas quando é de meu desejo, essas bolas podem ser letais.
— É bom com as palavras, isso não posso negar. Mas não posso dizer o mesmo dos seus disparos, desviei de todas com facilidade até o momento.
Pela primeira vez, Pulget sentiu apreensão, ao constatar que de fato errou todas as investidas. Talvez Arthur lidaria melhor com a situação se tivesse feito a mistura da forma correta. De qualquer modo, não podia perder tempo lamentando, precisava encontrar uma forma de dar a volta por cima naquele embate.
Materializou mais uma bola, dessa vez tinha uma nova estratégia em mente: lançar a bola nas paredes de uma casa, fazendo ela rebater e assim atingir Luther, mas isso só seria uma distração para outra bola que dispararia.
Executou seu plano com maestria.
A primeira bola colidiu contra a parede, prendendo a atenção do oponente, pois este não esperava a mudança repentina do ataque. Rapidamente, Pulget materializou uma nova bola e disparou na direção do monge, que rebateu, como já era esperado.
— Ótima jogada, confrade — a entidade cósmica riu, pois àquele ponto já levava a situação com deboche, coisa comum entre entidades cósmicas — pena que meus reflexos são bem mais rápidos. Nunca será capaz de me atingir, pequeno, aceite isso e me deixe terminar minha tarefa, pois meu plano aqui não é envolver outrem senão aqueles que desafiam meu objetivo.
— Receio que está sendo muito presunçoso, @#$? — o homúnculo comentou, confiante — esperava mais de uma entidade cósmica conceituada.
— Como se atreve a dizer tais calúnias a meu respeito, criatura imunda? — a atenção do inimigo se voltou para alguém invisível — Sim, sim. Eu sei que não devemos nos deixar perder a linha por motivos terrenos. Querendo ou não estar no corpo de um deles me influencia… sim, acabar com isso logo, tudo bem, acabarei com prazer.
O objetivo do homúnculo estava cumprido. Deixar a entidade irritada seria essencial para o seu próximo passo. Primeiramente calculou a distância, os pontos de colisão e como as rebatidas reagiriam a eles. Sabia que gastaria toda a sua energia, então era tudo ou nada.
— Hora de acabar com isso, pequeno — Luther disse, ódio e diversão irradiavam de seu semblante naquele momento — o resultado óbvio desse combate já foi estendido por tempo demais.
Ele então começou a caminhar lentamente até o homúnculo; o objetivo? Pisar nele como se fosse uma barata.
Mas Pulget não ia desistir tão fácil. Enquanto Luther se aproximava, começou a disparar freneticamente várias de suas bolas cromadas contra ele. A primeira o inimigo desviou a rebatendo com o punho, já outra, virando o pescoço. Chegou até a desviar com uma cambalhota.
Ao total, Pulget disparou pelo menos umas quarenta bolas até que Luther se aproximou do banco onde ele estava. Com um sorriso malicioso e triunfante ao mesmo tempo, Luther sabia que a batalha estava ganha.
— Eu ganhei, pequeno — ele disse, cheio de si — poderia ter sido mais rápido, de fato. No entanto, não há como negar que foi refrescante chegar até o êxtase da vitória de forma emocionante, como só os combates deste mundo são capazes de me proporcionar. Adeus, Pulget, o homúnculo.
— Posso externar uma última vez? — o homúnculo perguntou, inabalado — sua presunção, no fim das contas, foi a sua derrota — pela primeira vez, Pulget se orgulhou da própria frase.
Confuso, o monge nem teve tempo de reagir. Ao se virar, todas aquelas bolas que ele desviou ainda pouco, retornavam a toda velocidade em sua direção. Ele até tentou rebater algumas, mas eram muitas. Logo começou a ser atingido em peso no rosto, na lombar, no peito, na perna e até em lugares que ele nem imaginava.
No fim, após sofrer tantos golpes das bolinhas, o monge, vulgo @#$? caiu no chão, derrotado. Abrindo os olhos de leve, encarou o homúnculo que estava diante dele — fazendo o peculiar movimento de descrever um arco pelo corpo que nem uma entidade cósmica era capaz de compreender — e perguntou:
— Como?
— Desde o início de nosso combate, já me atentei de manter ciência sobre a possibilidade de rebatimento das minhas bolas — ele explicou — então tudo que precisei fazer, era calcular o trajeto das bolas a partir de onde e como você iria às rebater. Logo, o que fiz foi fazê-lo caminhar até mim enquanto rebatia as bolas na exata direção que era de meu desejo. No fim, só precisava lhe manter distraído até que as bolas estivessem retornando para o contra-ataque, o que foi mais fácil do que eu calculava.
Luther o encarou perplexo, já que para calcular daquele jeito, o pequeno devia de fato ser um prodígio completo. Os terráqueos estavam ainda mais interessantes que da última vez que pisou na Terra.
— Pulget, você está bem?! — era Arthur correndo até o companheiro — Derrotou ele? Caramba, Pulget, impressionante!
— Não é a mim que deve elogiar, Art, mas sim as minhas bolas, se não fossem elas, eu pereceria como uma peste existindo.
As pessoas assustadas voltavam a se reunir na praça, ainda bem longe dos três combatentes. Luther se colocou de pé lentamente, fazendo Arthur e Pulget se colocarem em posição de combate.
Mas ao contrário do que eles imaginavam, a entidade cósmica começou a gargalhar; gargalhar alto no meio da praça, fazendo as pessoas ao redor pensarem que ele era um tipo de maluco.
— Qual é a graça, maldito? — Arthur perguntou, com os punhos cerrados, mesmo que não adiantasse nada iniciar um combate sem as habilidades concedidas pelo elixir.
— Não está óbvio, terráqueo? — o monge disse, eufórico — eu, a grande entidade cósmica @#$?, acabei de ser derrotado por uma criatura menor que um rato, e tudo isso pela sagacidade e petulância dele, não é irônico?
Arthur e Pulget se entreolharam e acenaram positivamente, dizendo:
— De fato.
Na mesma hora, em meio a multidão apreensiva ao redor deles, surgiu Petry e Julia, que carregavam suprimentos consigo.
— O que aconteceu aqui, meninos — Julia perguntou, entregando uma das sacas de suprimentos a Arthur.
— Causaram uma bagunça generalizada? — Petry perguntou, estreitando as sobrancelhas — eu disse para serem discretos.
— Não é bem isso, senhor Petry…
Arthur, Pulget e o monge então explicaram o ocorrido de uma forma meio bagunçada, mas no fim Petry conseguiu entender a situação.
— Hum, entendi. Pelo que vejo está atrás de Herbert também, não? — perguntou a Luther.
— Não posso afirmar se é realmente este, preciso… de um momento para descobrir, se me derem licença — o monge se afastou deles, começando a conversar sozinho.
— Espera um pouco, o senhor não ficou surpreso com o fato dele ser uma entidade cósmica?!
— Arthur, Arthur — o mestre de misturas deu uma risada fraca — ele certamente teve contato com um elixir e provavelmente sofreu uma maldição assim como Julia… a reação dele foi um pouco mais severa.
— Mas… ele estava de um jeito e do nada mudou para outro, como se realmente tivesse sido possuído, não é, Pulget?
— Defina, possuído.
Arthur fez um sinal de desaprovação com a cabeça, mas ainda estava convicto de que Luther de fato estava possuído por uma entidade cósmica.
— Os efeitos de um elixir misterioso são imprevisíveis, Arthur — Petry completou — tenha isso em mente.
O monge então, após conversar um bom tempo consigo mesmo — “ih, é louco’’, as pessoas ao redor cochichavam — voltou a atenção à trupe.
— Bom, eu consultei os dados do além e, constatei que estavam realmente certos. Vocês estão atrás do mesmo homem que eu procuro, Vagner Von Herbert e seu irmão, Fagner — Luther repetiu com excelência o mesmo movimento sem nexo de Pulget, descrevendo um arco pelo corpo — cumprimentar desse jeito é meio desconfortável, preferia quando vocês só apertavam as mãos. Enfim, irei com vocês atrás do alquimista maldito recuperar as noventa e cinco teses, pois caso contrário, ocorrerá um paradoxo temporal, assim quebrando o espaço tempo.
Arthur, Pulget, Petry e Julia se entreolharam, tentando decidir rapidamente se aceitariam o homem que ou era um lunático ou realmente uma entidade cósmica. No fim, Petry tomou a decisão, pois pelo relato de Pulget, ele era poderoso.
— Muito bem, senhor…
— @#$?
— Esse nome vai colar, meu chapa. Iremos te chamar pelo nome do que você possui.
— Martin Luther — o monge disse, meio que a contragosto por não usarem seu soberano nome.
— Perfeito, Luther. Está conosco agora.