As Sombras de um Novo Começo - Capítulo 3
— Para iniciar, revisaremos o conceito da energia Gama, suas propriedades e para quais fins é usada. Depois, falaremos sobre as habilidades inatas e os feitiços conjurados.
Abandonando sua postura rígida, George dirigiu-se à extremidade da sala e pegou uma cadeira para se sentar, cruzando uma perna sobre a outra e ficando de frente para nós.
— Essa aula será sobre assuntos que vocês já devem saber; portanto, iremos debater cada tópico para que eu possa avaliar o nível de conhecimento de vocês. Então, vamos começar. Primeiramente, gostaria de perguntar: o que é a energia Gama?
— Uma energia que flui de todas as coisas — respondeu Maya.
— Exatamente. A energia Gama é algo fundamental do universo que flui de tudo e todos, estando presente em qualquer lugar. Agora, vocês saberiam me dizer para que serve?
Uma menina de cabelo preto azulado e pele clara, que estava na primeira fileira à minha frente, levantou a mão para responder, adotando uma postura séria e objetiva.
— A energia Gama é a principal fonte de energia do universo, compondo a base tecnológica e medicinal. Além disso, também é usada para o fortalecimento do corpo, aprimoramento dos sentidos e manipulação de magia.
— Muito bem explicado, Clare, obrigado. Acho até que não há necessidade de acrescentar algo; logo, partiremos para o próximo tópico: a magia.
Por algum motivo, senti que, na verdade, George estava dispensando detalhes. Claro, não posso julgá-lo quando faria o mesmo em uma situação semelhante. Esses assuntos são tratados por vários anos desde que entramos na escola, tornando revisões como essa cansativas, mas necessárias.
— Como eu disse antes, — continuou ele — a energia Gama é algo fundamental e se expressa de forma diferente em cada raça. O que quero dizer com isso? — George sorriu para a sala, mas não esperou que alguém respondesse. — É simples. Quero dizer que cada civilização possui habilidades que são inatas a ela. Por exemplo, como vocês devem saber, nós, habitantes do planeta Gaia, possuímos a habilidade de manipular os quatro elementos, embora não seja uma manipulação livre. Vocês sabem o porquê?
Esse era um tópico recente e interessante, não porque não sabíamos sobre isso, mas porque talvez esse seja um assunto que nunca tenha sido tratado efetivamente nos anos anteriores. Sendo que o aprofundamento sobre isso ocorreria esse ano.
Outra menina, aquela com o belo cabelo castanho escuro que havia entrado por último, respondeu:
— Porque essa habilidade significa apenas que possuímos a aptidão para controlá-los, mas não significa, necessariamente, que conseguimos fazê-lo. Isso se deve ao fato de cada membro da nossa espécie possuir uma afinidade elemental, o que impacta diretamente na manipulação dos quatros elementos.
— Exatamente, Emília. — George confirmou, obviamente satisfeito com o progresso da aula — Podemos possuir afinidade com um ou até mesmo quatro elementos, embora o mais comum seja a afinidade com dois. Na prática, isso significa que podemos manipular com facilidade os elementos com os quais temos compatibilidade, e em uma escala bem maior. Enquanto seria muito difícil e cansativo manipular aqueles cuja nossa conexão seja menor. Exemplo:
George estendeu a mão, fazendo sua energia fluir brevemente pela superfície dela, formando subitamente uma bola de fogo que começou a crescer aos poucos.
— Esse é um feitiço, mas falaremos sobre isso mais tarde. Por agora, quero que prestem atenção em outra coisa: para pessoas que não possuem afinidade, fazer isso é muito difícil e, se tratando de um feitiço, é quase impossível. — com um breve gesto, a bola de fogo se desfez rapidamente, extinguindo o calor e a luz que irradiava pela sala. — Mas fiquem tranquilos, apesar da dificuldade, as coisas não acabam assim. Devido ao aspecto da energia Gama de ser algo primordial, qualquer um pode aprender e dominar qualquer habilidade ou feitiço. No nosso caso, podemos, com muito esforço e tempo, dominar os quatros elementos, embora não seja algo fácil de se realizar. — George soltou um suspiro, mas logo retomou a postura para continuar: — Explicado essa parte, vamos falar sobre os feitiços… saberiam dizer quantos existem?
— Existem quatro tipos: básicos, derivados, restaurativos e mentais. Embora, na minha opinião, os feitiços básicos sejam meio inúteis. — respondeu, de forma depreciativa, uma garota de cabelos laranja que estava sentada à mesa próxima à direita.
— Akemi! — O garoto loiro ao lado dela repreendeu-a imediatamente, provocando gargalhadas sinceras e espontâneas nos outros alunos e até mesmo no professor. Enquanto isso, a menina mal parecia se importa com sua palavras deliberadas.
— Certo, certo. Você não está totalmente errada, mas vamos por partes. — George comentou, tentado conter seus risos — Primeiro: sim, os feitiços são divididos em quatro tipos, básicos, derivados, restaurativos e mentais. Mas o que são os feitiços básicos? Esses feitiços permitem a conjuração de um dos quatro elementos, ou seja, água, terra, fogo e ar. Essa conjuração só pode ser feita caso você tenha afinidade com o elemento em questão ou saiba dominá-lo perfeitamente. Até aqui, tudo bem, mas se já podemos dominar os elementos, isso não os torna, nas palavras de nossa querida Akemi, inúteis? — indagou, fazendo uma breve pausa antes de continuar —Bom, isso depende. Temos a habilidade de manipular os elementos, não de criá-los. Os feitiços básicos surgiram para superar esse pequeno problema, mas, claro, conjurar ar ou terra, na maioria das vezes, é realmente inútil.
— Não disse? — Akemi acrescentou rapidamente, cruzando os braços como uma criança que estava certa, mas que foi refutada. O menino loiro apenas fechou os olhos e balançou a cabeça.
— Muito bem, mas e quanto aos feitiços derivados? — perguntou o professor.
— São divididos em cinco: azul, verde, metálico, magmático e elétrico. — Dessa vez, foi o menino loiro que respondeu.
George suspirou profundamente, como se já estivesse cansado de toda essa explicação.
— Sim, Marc, está correto. Peço perdão pelo meu evidente desânimo, mas explicar essa parte é realmente cansativo. Os feitiços derivados são como a fusão de dois elementos básicos, e vamos tratar de cada um deles separadamente. Entretanto, antes disso, quero deixar claro que, assim como os feitiços básicos, para aprender um feitiço derivado você precisa ter afinidade com os dois elementos necessários ou dominá-los bem. Sendo assim, vamos começar pelo feitiço azul. Esse feitiço nada mais é do que a conjuração de gelo, resultante da união de água e ar. Com tempo, vocês perceberão que a manipulação e a conjuração dependem unicamente do nível do usuário. — Ele fez uma pausa, pensando nas próximas palavras antes de de prosseguir — Já o feitiço verde é a união de terra e água, que permite a manipulação da flora. Esse feitiço foi criado baseando-se na habilidade inata dos elfos, embora a escala seja bem menor em comparação.
— Por que os nomes são “feitiço azul” e “verde”? — perguntou Isa, reflexiva.
— Não há um motivo especial para os nomes; foram assim escolhidos para facilitar a fala. — esclareceu George — Vejam, quando falamos sobre os feitiços, raramente consideramos os básicos. Já os derivados são comumente mencionados, então, referir-se a eles como “feitiço azul e verde” facilita e combina melhor com os outros três. Entenderam?
Isa e outros acenaram com cabeça, satisfeitos, incentivando George a retomar a breve revisão.
— Muito bem. Continuando, o feitiço metálico merece a atenção de vocês, pois há algo especial em relação a ele. Esse feitiço não é a união de dois elementos diferentes, mas sim de um único elemento: terra mais terra. O que torna a conjuração muito eficaz se for feita próxima ao solo. Além disso, o feitiço também revela a capacidade mágica do usuário.
George abaixou a mão sobre o piso e, novamente, energia prateada começou a girar sutilmente ao redor dela, conjurando uma pequena barra de metal cinza fosco.
— Alguém sabe me dizer o que a cor do metal indica? — indagou, esperando por uma resposta pacientemente, sem a intenção de responder.
Marc levantou a mão e pronunciou alto: — É como o senhor disse, professor. O feitiço metálico revela o nível do conjurador, pois quanto mais escuro o metal, menor é o desempenho; e quanto mais reluzente, maior é o poder e a extensão do mesmo.
— Exatamente, — George soou orgulhoso — como esperado de você, Marc. Além disso, devo acrescentar que quanto maior o nível da magia, maior é a habilidade de manipular o metal à vontade. Por exemplo, não sou tão habilidoso nessa área e, por isso, criar algo complexo ou mesmo um simples objeto é impossível para mim. — Terminando sua frase com essa palavras, George olhou paro o relógio em seu pulso, deixando a sala em um silêncio profundo por alguns segundos.
— Acho que há tempo para terminar tudo, então vamos nos apressar. O feitiço magmático é a união de terra e fogo e, assim como o metálico, é melhor conjurá-lo sobre a terra. Fora isso, acho que não há mais nada a ser pontuado… Só vou acrescentar que vocês, usuários, tomem cuidado para não causarem problemas por aí.
Outra explosão de risos ecoou pela sala, e o professor não conseguiu esconder sua expressão assustada. Incrédulo sobre a reação dos alunos.
— Por que estão rindo? — repreendeu — Estou falando sério aqui. — Suas sérias palavras foram como álcool, servindo apenas para inflamar ainda mais o riso. Sua cabeça negou em desgosto, fazendo-o murmurar: — Me pergunto sobre o futuro do planeta nas mãos de jovens tão inconsequentes. Tudo bem, pessoal, já chega. — disse mais alto — Vamos falar sobre o feitiço elétrico, que é mais especial e incomum ainda. Alguém poderia poupar-me o trabalho e explicá-lo para a sala?
— Com licença, — a voz ao meu lado entoou pelo lugar, silenciando os últimos risos e trazendo a atenção para si — eu posso?
— Claro, fique à vontade, Yoshi.
Com o breve aceno, ele começou:
— O feitiço elétrico é o único que não requer afinidade elemental para ser usado. Mas, ainda sim, é considerado um feitiço derivado por ser uma variação da energia Gama que circula dentro de cada um. Outro ponto distinto é que ele é o único feitiço derivado que adota a cor da energia do usuário, já que tal energia varia em cor de pessoa para pessoa. Por não exigir conexão, essa magia pode ser aprendida por qualquer um, embora o tempo necessário para dominá-lo dependa exclusivamente do aprendiz.
Os alunos mantiveram a concentração mesmo após ele terminar de falar. Enquanto olhava pela janela, senti a admiração que irradiava de Julia e outras pessoas na sala.
— Muito obrigado, Yoshi. Isso foi mais do que suficiente, e agora podemos ir para os tópicos finais desta aula. No entanto, antes disso, gostaria de pontuar algo: alguns consideram esses feitiços como habilidades inatas da nossa raça, já que é necessário afinidade ou domínio completo sobre os elementos para aprendê-los. Ainda assim, são tratados apenas como feitiços, pois não conseguimos usá-los desde o início. Portanto, deixo para vocês escolherem o que seria melhor.
O breve momento de paz que se seguiu a essas palavras, fez-me voltar a atenção para a sala. Em alguns momentos, eu me perdia em pensamentos, olhando para o mundo além do vidro ao meu lado. Não era por vontade própria ou por negligenciar os ensinamentos; era algo involuntário e natural, mas ao mesmo tempo um problema, mesmo que eu conseguisse controlá-lo um pouco.
— Muito bem, — continuou George. — A magia de cura são formas de feitiço usadas por todas as raças, mas que não podem ser aprendidas por qualquer um. Isso porque o atributo restaurativo necessário só está presente na energia Gama de algumas pessoas. Dessa forma, aqueles que não o possuem não conseguem manipular a energia a fim de convertê-la para curar ferimentos. Além disso, reitero que o nível e a capacidade desse feitiço dependem unicamente do curador.
Ele nos deu tempo, como se quisesse que assimilássemos tudo o que foi dito até agora. Sinceramente, eu já estava me sentindo cansado e desconfortável, realmente querendo ir embora, apesar de ainda ser a primeira aula. Pensando assim, até parece que julgo isso como desnecessário, mas não é exatamente assim. Considero as escolas necessárias e a educação é muito importante; por isso, faz tempo que trabalho para me sair razoavelmente bem nos ambientes escolares, embora não tenha acumulado muito conhecimento, pois sempre me preparei com um objetivo específico em mente. Então, qual era a razão para o meu cansaço? A resposta é simples: o próprio ambiente escolar. Em resumo, considero o ensino importante, mas não sou fã das interações interpessoais que dele decorrem.
— Bem, alunos. Vamos terminar com isso, pois nosso tempo já está acabando. Agora, sobre o feitiço mental… alguém tem algo a dizer?
Ninguém disse nada em resposta, todos esperando a explicação de George.
— Muito bem. O feitiço mental é algo um pouco complicado de entender. Não sabemos ao certo qual propriedade da energia Gama permite usá-lo, mas esse feitiço possui uma fraca ligação com o ar, não que isso determine se alguém pode ou não usá-lo, significa apenas que é um pouco mais fácil. Deixando isso de lado, o feitiço é dividido em dois níveis. O primeiro, permite que usuário crie ilusões externas para alvos pré-determinados. Como ele faz isso? É simples: o conjurador precisa dissolver sua energia no ar e envolver a vítima sem que ela perceba. Depois, é só aplicar a ilusão desejada. — explicou, gesticulando de forma descontraída. — Quebrar a ilusão também não é difícil, pois isso acontece naturalmente ao entrar em contato “físico” com ela. Além disso, você pode evitar ou mesmo quebrar a ilusão, caso perceba a alteração no ar e aumente a circulação de sua própria energia.
— Há algum fator que demonstre o uso do feitiço? — Emília perguntou.
George colocou a mão no queixo, como se pensasse na possibilidade. Embora não houvesse uma forma de perceber a magia.
— Não há. A única maneira seria se você percebesse a alteração no ar, pois o único indício visível que esse feitiço apresenta é uma névoa, cuja a cor também se mostra semelhante ao tom da energia do utilizador. O problema é que essa névoa só aparece no momento em que a ilusão está sendo criada, então as pessoas afetadas não podem vê-la.
— Isso soa complicado. — comentou Akemi.
— Não se preocupem, sair desse feitiço não é um problema, como eu já pontuei. A real dificuldade é o segundo nível do feitiço mental, pois nesse nível o usuário cria uma ilusão interna na vítima, atacando diretamente a mente do oponente.
— Isso é mesmo possível? — Maya perguntou, parecendo assustada.
— Sim. Para fazer isso é necessário um controle absurdo da sua própria energia, porque ela precisa entrar e manipular a mente e a energia de outra pessoa, influenciando todos os sentidos dela. Esse nível é tão difícil de alcançar que é raro achar pessoas que o dominem, então não se preocupem em ser pegos por ele.
— Mas… e caso isso aconteça, como escapamos? — Maya questionou, apreensiva em fazê-lo como se temesse a resposta.
— Não há como escapar sozinho. O único jeito seria se o atacante morresse ou se ele libertasse você por vontade própria.
Maya e os outros se olharam com incerteza, ainda abalados pelo terror da informação. De qualquer forma, isso era o esperado, afinal, esse era um feitiço realmente amedrontador.
— Bom, para encerrar nossa aula de hoje, — George prosseguiu, desconsiderando a atmosfera cheia de angústia do lugar — falaremos sobre as habilidades inatas. Como eu mencionei antes, são habilidades que cada raça pode usar por natureza. Entretanto, essa determinação ao nascer não significa que não possamos aprendê-las com o tempo.
Com essa palavras, ele conseguiu dissipar os pensamentos que permeavam a sala, atraindo a atenção novamente para si. Deixando de lado a janela, forcei-me a considerar inteiramente suas próximas palavras.
— Assim como podemos dominar um elemento com o qual não temos afinidade, também podemos aprender a habilidade inata de outra raça, e isso também vale para elas. Tudo isso só é possível graças ao aspecto da energia Gama que permite a aprendizagem de várias habilidades. Dessa forma, podemos adquirir a capacidade de outra raça, e outra raça pode dominar a nossa, mesmo que isso não seja nem um pouco fácil. Além disso, também podemos criar novas habilidades.
— Como fazemos isso? — Clare perguntou, algo que todos queríamos saber.
— O processo para aprender ou criar uma habilidade é semelhante. Você parte de um conhecimento sobre a habilidade que deseja aprender e medita para tentar criá-la. Quanto maior for o seu entendimento sobre tal habilidade e como ela irá funcionar, mais rápido será o processo. Por isso, não há uma estimativa de quanto tempo levaria, já que depende do seu nível de conhecimento. Você precisa meditar para forçar a energia Gama a marcar algo em sua mente, como se fosse um insight. Pessoas que fizeram o processo, disseram que é como “desenhar com os olhos fechados”, o que é muito difícil quando as linhas precisam estar conectadas.
— Mas como saberíamos que deu certo? — Marc perguntou.
— Segundo as pessoas que tentaram, caso você consiga, receberá um insight, algo que aliviará a sua mente instantaneamente. Além disso, a habilidade pode se manifestar externamente, com alguma marca, por exemplo, mas isso pode não ocorrer. No entanto, você certamente saberá se fracassar, porque sentirá um dor terrível, uma tortura incompreensível, que o atacará no momento em que falhar. Pelo menos foi o que disseram.
— Professor George, — Clare chamou sua atenção — para dominarmos um elemento com o qual não possuímos conexão, é necessário muito tempo, em média oito ou dez anos. No entanto, de acordo com essa possibilidade que você nos apresentou, eu ou qualquer membro de outra raça, em vez de dominar, pode simplesmente criar, pulando esse tempo necessário.
— De fato, suas palavras possuem sentido — considerou George — mas as coisas não funcionam assim. Para nós, que somos marcados com essa habilidade, não podemos criá-la, pois já a possuímos; para outras raças, o processo também não é tão simples. Supondo que um elfo, por exemplo, tente aprender a nossa habilidade, o que ele criaria? — ninguém respondeu, todos tentando imaginar uma possível resposta — Bom, posso garantir que não será a afinidade com os quatro elementos. O processo de aprendizagem, e isso vale pra qualquer raça, deve ser feito de habilidade por habilidade, ou seja, ele só poderia aprender uma afinidade por vez e, depois disso, precisaria treinar para realmente dominar o elemento. Então, no final das contas, levará alguns anos do mesmo jeito. Isso é só para a manipulação em si, então nem preciso dizer sobre o uso dos feitiços. O quero que vocês entendam é que, quando aprendemos algo de uma raça, não estamos aprendendo todas as suas habilidades inatas, e sim uma por vez. Depois de conquistar isso, precisamos treinar muito para tentar chagar próximo do original.
— Então isso significa que, se quisermos dominar todas as habilidades dos elfos, precisaremos fazer o processo de meditação para cada uma? — Marc perguntou.
— Sim, supondo que toda tentativa dê certo.
Ao fim dessas palavras, George lançou um último olhar ao relógio, deixando-nos refletir sobre tudo o que havia sido discutido.
— Certo, pessoal. Estão dispensados por hoje. Na próxima aula iremos praticar alguns feitiços básicos.
Aos poucos, fomos saindo da sala. Yoshi e Julia caminhavam ao meu lado, conversando sobre assuntos triviais aos quais não prestei atenção.
A próxima aula seria sobre as arte de combate, e o professor se chamava… Edgar, se bem me lembro. A sala também ficava no térreo, mas desta vez, não seria difícil encontrá-la.
— O que achou da aula, Sete?
Yoshi me encarava com expectativa, enquanto Julia, ao seu lado, me analisava com uma expressão interrogativa, como se só agora notasse minha existência.
— Foi normal — respondi.
— Sério? Você conseguiu entender tudo?
— Sim.
— Interessante. Você parecia estar distraído durante a aula, sempre olhando pela janela. É incrível que tenha conseguido acompanhar.
— Não foi difícil, já que era apenas revisão.
— Vocês se conhecem? — Interrompeu Julia.
— Bem… Na verdade não, conheci o Sete hoje.
— Hum, entendi… — sussurrou, continuando a me observar atentamente, o que estava começando a me incomodar.
À distância, notei também o olhar de Emília, não para mim, é claro, mas para Yoshi e Julia. Uma intensidade ardente brilhava em seus olhos azuis, provocando um leve arrepio em minha pele.
Bem… parece que isso é uma situação complicada.
Depois de seguir o grupo por algum tempo, finalmente chegamos à próxima sala.
O lugar era muito semelhante ao primeiro, mas, diferentemente daquele, as duas fileiras de mesa estavam separadas, uma em cada lado da sala, deixando um vasto espaço vago no meio, destinado aos treinos de combate. Ao redor do espaço, uma série de dispositivos circulares que provavelmente seriam para criar um escudo, impedindo que quaisquer treinamentos chegassem às mesas.
No meio deste “ringue” estava Edgar, o mesmo homem que havia visto pela manhã.
— Bom dia, crianças. — cumprimentou quando todos já haviam chegado — Estão animadas para esticarem os ossos?
— Sinceramente, não. — retrucou Akime, sentando-se a uma das mesas.
Edgar riu e se virou para ela.
— De mau humor no primeiro dia de aula, mocinha? — indagou em um tom provocador.
Em resposta, Akime apenas bufou e se afundou na cadeira. Ao lado dela, Marc se sentava timidamente, parecendo até receoso.
Apesar de ter passado somente alguns minutos aqui, já podia dizer com certa certeza que havia algo entre eles, embora preferisse não especular sobre um assunto que desconhecia.
Escolhendo novamente a mesa mais próxima à janela, dirigi-me até ela, sentei-me e aguardei. Logo depois, a animada dupla, Yoshi e Julia, chegou e se juntou a mim. Enquanto isso, Edgar apenas observava a sala, esperando que todos estivessem acomodados antes de começar.
Quando finalmente todos se ajeitaram, ele abriu a boca, abandonando seu tom brincalhão para adotar uma postura mais séria:
— Muito bem, hoje é o nosso primeiro dia, portanto não vou exigir muito de vocês. Faremos apenas um breve exercício de combate para analisar as habilidades de ataque e defesa de cada um. Mas antes de começarmos, gostaria de saber se há alguma dúvida sobre a aula.
Akime levantou a mão.
— Sim, criança. Pode perguntar.
— Por que precisamos treinar combate ou até mesmo feitiços se não os usamos na vida real?
— Boa pergunta. Por que treinar algo quando não precisamos dele para sobreviver? — Edgar devolveu o raciocínio — Isso é algo que com certeza já passou pela cabeça de inúmeras pessoas. Afinal, nunca participamos de nenhum conflito interno ou externo. Então… alguém sabe me dizer o motivo?
Ninguém se manifestou para responder.
— Vocês são jovens, e isso é normal nessa idade. As aulas de combate foram inseridas no cronograma escolar há séculos, na verdade, sempre estiveram lá. Não porque precisamos delas, mas porque o dia de amanhã é muito incerto. Como bem sabem, as civilizações de todo o universo sempre mantiveram uma boa convivência. No entanto, há dez anos, uma civilização não aceitou mais esse cenário e atacou várias outras raças, dominando-as e causando destruição por onde passou. Atualmente, suas ações foram interrompidas, mas não sabemos o motivo. O fato é que, durante o tempo de ataque, essa raça conseguiu dominar outras cinco que estavam próximas a ela.
Um silêncio pesado e desconfortável se instalou na sala. Todos sabíamos sobre isso, afinal, foi algo chocante e devastador que abalou todo o universo. Naquela época, ninguém esperava que algo assim acontecesse, e o resultado disso foi inúmeras mortes.
Mesmo após dez anos, o motivo pelo qual isso aconteceu permanece desconhecido, assim como os planos por trás do ataque. O conflito serviu para mostrar que não estamos livres do perigo e que, mesmo em tempos de paz, há pessoas descontentes com o mundo. Depois de tudo, a única coisa que restou foi a esperança de evitar outro caos como aquele.
— Mas isso já passou, e eu não quero que fiquem preocupados sobre esse assunto — Edgar tentou aliviar o clima, mas as expressões sombrias ainda permaneciam. — É serio, pessoal. Estamos muito longe desse planeta, e faz tempo que ele não monstra sinas de atividade. Eu só quis dizer que devemos estar preparados, mas não estou dizendo que treinamos como esse propósito. O objetivo das aulas é também preparar aqueles que planejam seguir carreira na Guarda.
— Vocês o ouviram, gente. Não é como se isso fosse realmente acontecer. — pronunciou alto a menina de cabelos platinados, amiga de Emília. Mesmo entoando isso com determinação, pude sentir a incerteza em sua própria voz.
Ainda sim, a atmosfera melhorou um pouco e a tensão no rosto das pessoas diminuiu com tempo.
Aproveitando essa oportunidade para extinguir de vez qualquer pensamento remanescente, Edgar limpou a garganta, corrigiu a postura e anunciou:
— Certo. Vamos começar a aula e, para isso, faremos um sorteio para determinar os oponentes de cada rodada. São 24 alunos, portanto teremos 12 batalhas.