As Sombras de um Novo Começo - Capítulo 4
Após explicar brevemente a aula, Edgar foi até um armário no canto da sala e pegou uma pequena caixa de madeira.
Segundo ele, os duelos aconteceriam da seguinte forma: escreveríamos nossos nomes em um pedaço de papel e os colocaríamos naquela pequena caixa, onde ele realizaria uma espécie de sorteio para selecionar duas pessoas que iriam batalhar em seguida. Além de tudo isso, esse treinamento deveria ser feito sem qualquer uso de energia.
— Já escreveram os seus nomes? — perguntou Edgar.
Com um aceno conciso, respondemos positivamente, e ele começou a recolher todos os papéis. Terminando logo em seguida de coletá-los, sentou-se em uma cadeira à beira do ringue, deixando, propositalmente, a ansiedade tomar conta do lugar.
Esperamos pacientemente em silêncio, mas o breve tempo passou, e ele não disse nenhuma palavra.
— E então, vamos começar ou não? —questionou Akime.
— Hum? Imaginei que você não estivesse animada, ou eu estava enganado? — seu tom de voz deixava claro que ele estava brincando com o tempo para causar essas emoções.
— Não sei quanto a ela, mas, particularmente, estou ansiosa para começar. — disse a menina de cabelos platinados, expressando altamente seus desejos enquanto se alongava na cadeira.
Edgar olhou para ela como um pai orgulhoso e sorriu.
— Como sempre, não é, Catarine? No entanto, antes de começarmos, gostaria de perguntar algumas coisas, sobre as quais estou curioso — ele olhou para mim, e percebi imediatamente onde isso iria chegar. — Você é o Sete, certo?
Com essa pergunta, senti vários olhos se voltarem para mim, e um sentimento de desconforto começou a brotar. Não importava o quão calmo eu conseguisse ficar, porque, na verdade, o problema não era apenas timidez, mas um desgosto por esse tipo de atenção.
— Sim — respondi em seguida.
— Muito bem, eu sou o Edgar e lhe dou as boas-vindas à nossa escola. Espero que possamos ser parceiros.
O sorriso em seu rosto ficou ainda maior, exibindo sinceridade e gentileza. Por um momento, não sabia como responder a tal frase, já que era algo que fugia do “Seja bem-vindo” usado comumente. No entanto, ponderando minhas opções, decidi responder de forma simples:
— Obrigado, Edgar.
Ele assentiu e continuou: — Imagino que você não conheça todos aqui, embora já tenha encontrado pessoas interessantes — disse ele, com um tom de interesse em sua voz, enquanto olhava para Yoshi e Julia ao meu lado. — De qualquer forma, isso é algo que acontecerá em breve, portanto, não irei apresentar cada um para você. Mas posso fazer o contrário…
Sinceramente, não há necessidade. Pensei em dizer, mas já era tarde demais, e eu não queria parecer grosso ou causar uma comoção desnecessária.
— Pessoal, como já sabem, este é o Sete. Quero que sejam legais com ele, entenderam? — Edgar entoou em voz alta, arrancando risos divertidos pela sala.
Eu me senti como uma criança que acabara de entrar em uma creche. Por um momento, duvidei de que aquilo fosse só o hábito dele e comecei a pensar que ele quisesse me deixar envergonhado.
— Já que as apresentações foram feitas, vamos descobrir mais um pouco sobre você, tudo bem? — perguntou ele, criando expectativa nos demais.
Descobrir mais sobre mim? Por quê? Não é como se eu fosse alguém interessante. Além do mais, realmente precisamos fazer isso? Não podíamos ir direto ao ponto?
Deixando de lado meus questionamentos insistentes, assenti e só pude esperar que fosse algo fácil de responder.
— Você aparenta ser calmo — começou ele, provocando um desconforto gélido em meu estômago — Não demonstrou sinas de estresse ou nervosismo quando chamei a atenção de todos para você. Isso é algo importante em confrontos, principalmente quando se deve pensar com a razão.
Então no fim era realmente um teste… Mas me pergunto sobre a necessidade dele.
— Você… gosta de praticar artes de combate?
— Acho interessante — respondi rapidamente.
Não poderia responder de outra forma. Dizer “sim” seria mentira e poderia trazer problemas maiores. Por outro lado, responder “não” seria desanimador e eu queria evitar essa quebra de expectativa logo no início.
— Certo, estou ansioso para analisar suas habilidades ao longo desta aula. Não há mais perguntas — ele sorriu perigosamente e voltou o olhar para a caixa em suas mãos.
No fim, considerei, era melhor ter dito “não”.
— Você vai se acostumar com tempo — olhei para lado e encontrei os olhos roxos de Julia me encarando. Suas primeiras palavras para mim soaram consoladoras, como se ela fosse capaz de perceber meus sentimentos.
Respirei fundo, apoiando meu rosto sobre as mãos e já me sentindo esgotado de tudo isso.
— É, talvez. — respondi, ansioso por uma passagem acelerada do tempo.
— Certo, pessoal, — anunciou Edgar, balançando descontroladamente a caixa para atrair a atenção de todos — vamos começar. Vocês lembram das regras, né? Quem usar magia estará desclassificado.
— Desclassificado? O que perderíamos se usássemos magia? — Akime contestou, fazendo Edgar pausar por um momento suas ações, como se considerasse atentamente a possibilidade.
— Bom ponto. Não havia pensado nisso ainda, mas vou adicionar uma punição: quem usar energia, terá que fazer 200 flexões — concluiu orgulhosamente.
Do outro lado da sala, vi a menina de cabelos laranja bufar de raiva. Agora que estávamos frente a frente, pude notar que o seus olhos também eram laranjas e que havia sardas por suas bochechas. Sua pela branca possuía uma tonalidade que harmonizava com o seu cabelo, enfatizando o tom de suas íris e proporcionando um ar quente e caótico.
Marc, o garoto de pele clara ao lado dela, além de loiro, tinha os olhos verdes, como uma esmeralda. Seu cabelo estava penteado, mas de uma forma não muito organizada, deixando-o mais casual e simpático.
Olhando para os dois agora, percebi que fazem uma bela dupla, mesmo que não sejam exatamente parecidos. Não que isso seja um problema, afinal minha mãe sempre disse que um relacionamento serve para completar partes. Pensando nisso agora, noto que faz muito sentido, até porque não há razão para encontrar alguém que seja a mesma face que a sua.
Dispensando esse raciocínio, concentrei-me em Edgar, que já retirava dois papéis da caixa. Enquanto observava seus movimentos, senti um súbito frio subir pela minha espinha e se espalhar pelo meu corpo, uma consequência por pensar que poderia ser o primeiro escolhido.
— Maya e Clare, por favor, desçam ao ringue — meu corpo relaxou ao som da frase sendo dita. O alívio em não ser um dos selecionados era algo reconfortante, o suficiente para eliminar minhas tensões.
As duas garotas se posicionaram rapidamente, adotando uma posição de combate semelhante: os pés separados sutilmente, enquanto as mãos estavam abertas na altura do peito.
Num primeiro momento, isso pode parecer estranho, mas essa forma de combate é uma sugestão acadêmica para evitar movimentos desnecessários, contribuindo para a velocidade e eficácia dos golpes.
— Preparadas?
As duas garotas assentiram, com um olhar determinado brilhando no rosto.
— Então podem começar.
Avançando uma sobre a outra, as duas meninas colidiram em um forte ataque. Maya aproveitou esse contato inicial para tentar derrubar Clare com uma rasteira, mas o golpe não foi rápido o bastante e a outra conseguiu desviar.
Partindo para um contra-ataque, Clare girou e desferiu um chute rápido na lateral de Maya, que não conseguiu bloquear bem a ofensiva e se desequilibrou, cambaleando um pouco para o lado.
— Acabou.
Sim, Yoshi estava correto. Não havia como Maya se recuperar a tempo de se defender novamente.
Clare avançou com a mão em direção ao rosto de Maya, que levantou os braços em uma tentativa de defesa. Entretanto, tal movimento parecia fazer parte do plano de Clare desde o início. Com certa habilidade, ela conseguiu capturar o braço de Maya, prendendo-a e impedindo-a de se movimentar.
— Já chega, — interviu Edgar — vocês duas lutaram bem. Já podem se sentar.
As duas meninas cumprimentaram-se antes de saírem do ringue. Apesar da derrota, Maya não estava nem um pouco chateada; na verdade, parecia contente com o resultado que havia conseguido, talvez significasse uma melhora para ela. Clare, por outro lado, não demostrava sinais externos de felicidade; sua expressão era calma e séria.
— Muito bem, os próximos serão Marcus e… Deixa eu ver…
Enquanto Edgar retirava outro papel, um garoto de pele escura, semelhante à minha, com cabelo curto e corpo atlético, apressou-se em pular no palco.
— O outro é você, Kai — concluiu Edgar.
O outro menino era praticamente o oposto do primeiro: seus cabelos e olhos eram um castanho claro, seu corpo era esguio e sua pele era pálida.
Depois de se cumprimentarem brevemente, os dois entraram em posição, ambos optando pela mesma que Clare e Maya haviam adotado. Isso deixou um ar de expectativa no ar, mesmo que demonstrasse o início de um curto conflito.
Ao sinal de Edgar, Marcus avançou rapidamente, desferindo uma serie de golpes em Kai, que só se preocupou em tentar se defender. Um momento depois, sua defesa vacilou e um soco passou pelos seus braços, acertando diretamente o seu rosto. Com esse golpe, ele caiu no chão com um forte baque, parecendo atordoado e sem entender realmente o que havia acontecido.
— Pessoal, peguem leve. Isso é só um exercício básico, não há necessidade de levarem muito a sério. — advertiu Edgar em um tom de desaprovação enquanto anotava alguma coisa em seu caderno.
Marcus ajudou Kai a se levantar, e os dois se dirigiram às mesas, deixando o meio da sala vazio novamente. Se as coisas continuassem nesse ritmo, não demoraria muito até chegar a minha vez, mesmo que a escolha fosse aleatória.
— Bem, os próximos são… Kiara e Isa.
Depois de algumas batalhas, apenas seis pessoas não haviam sido chamadas ainda: Emilia, Yoshi, Catarine, Julia, um menino que se chamava Victor e eu. As lutas anteriores foram relativamente rápidas e, em uma avaliação geral, os alunos aqui não eram ruins, na verdade eram bons se comparados a mim.
— Ao que parece, apenas seis pessoas ainda não trocaram socos — comentou prazerosamente Edgar, seu olhar percorrendo a sala, considerando cada um de nós que ainda não havia lutado, até se concentrar em mim. — Justo quando eu estava curioso sobre algo… Mas tudo bem, ainda há tempo, então vamos continuar. Os próximos são Julia e… — um sorriso se formou em seu rosto — Emilia.
Um ar de tensão desceu sobre a sala, silenciando qualquer barulho e propondo mais animosidade ao conflito. Pelo jeito, essas duas eram rivais há um tempo, mas me pergunto se os sentimentos delas estavam claros aqui ou se era só uma rivalidade sem base… romântica.
Pude sentir a aflição de Yoshi quando as duas foram para o centro da sala e se posicionaram para o combate. Cada uma carregava uma expressão séria e determinada no rosto. Algo que se refletia no rosto de todos, com exceção de Clare e eu.
— Comecem.
Ao som da voz que parecia instigar o conflito, as duas avançaram. O ar abriu caminho para que se encontrassem, e a batalha começou. Julia desferiu o primeiro soco e, a partir daí, a enxurrada de golpes teve início.
Era algo tão intenso e impressionante que Edgar se esqueceu de intervir, sendo levado pela emoção da luta. Ao meu lado, Yoshi mal parecia respirar, prendendo o fôlego enquanto franzia a testa em concentração, considerando atentamente cada movimento.
Julia e Emilia se distanciaram, tentando recuperar o ar em seus pulmões. Em seguida, como se fossem reflexos uma da outra, avançaram novamente com uma velocidade impressionante. Ao mesmo tempo, desferiram um soco que passou facilmente por suas defesas e acertou ambas na bochecha. Cambaleando para trás, pareciam se recuperar quando Edgar pareceu recobrar o juízo.
— Tudo bem, meninas. Isso foi o suficiente — disse rapidamente, para evitar outro combate, mesmo que sua voz demonstrasse o contrário.
— O que vocês acharam? — Julia perguntou quando se sentou novamente entre Yoshi e mim.
— Você melhorou bastante nos últimos meses, parabéns — um terno sorriso se formou nós lábios dele, fazendo um leve rubor surgir nas bochechas de Julia.
— O-obrigado, Yoshi.
Para evitar o desconforto de presenciar aquilo, desviei o olhar e me concentrei na próxima chamada.
— Muito bem, já que show acabou, vamos continuar. Estou ansioso pelas últimas batalhas. — os olhos de Edgar brilhavam como os de criança. Para ele, parecia que o melhor havia ficado para final, embora eu não pudesse garantir isso.
— Ahhh! Tá bom! Ande logo com isso, por favor. — explodiu Catarine. A garota parecia estar surtando enquanto esperava pela sua vez. Sinceramente, não sei se foi sorte ou azar ser um dos últimos, pois acabei sobrando com três pessoas aparentemente problemáticas.
Edgar riu como se achasse tudo engraçado, embora estivesse igualmente agitado para ver as próximas lutas.
— Certo. Os próximos são… Victor e Yoshi.
Rapidamente, Victor, um cara moreno, alto e corpulento, com músculos que pareciam não condizer com a sua idade, apareceu no ringue. Seu cabelo preto estava amarrado atrás da cabeça, e ele carregava um sorriso orgulhoso no rosto, como se estivesse esperando por aquilo há muito tempo.
— Boa sorte, Yoshi — disse Julia, parecendo um pouco apreensiva.
— Não vai demorar muito — o tom de sua voz irradiava uma confiança perigosa, mas ao mesmo tempo certa.
Ao se colocar frente a frente com Victor, os dois trocaram olhares intensos. A apreensão da turma era tão alta, se não maior, quanto a da luta anterior. Até mesmo Clare estava atenta aos detalhes, como se estudasse cada gesto.
Apesar de tenso, não me senti particularmente interessado. Estava mais preocupado com o olhar predatório de Catarine.
— Prontos?
Yoshi e Victor assumiram suas posições, mas, diferentemente do que observei até agora, a postura adotada por Yoshi era um pouco distinta: suas pernas estavam mais flexionadas e abertas; uma de suas mãos estava aberta e a outra fechada, ambas posicionadas suavemente na altura do abdômen. Observando com mais atenção, parecia ser uma variação única, pois não me recordava de ter visto essa posição específica nos livros de artes marciais que li.
— Comecem.
Em um instante, Yoshi sumiu, quase rápido demais para acompanhá-lo com os olhos. Uma velocidade que parecia impossível de ser alcançada sem o uso de energia, mas que, de alguma forma, ele alcançou.
Em frações de segundos, Yoshi já estava ao lado de Victor, que mal teve tempo de reagir quando um braço o envolveu pelo pescoço e o jogou no chão, agitando o ar ao redor e causando um curto som. Os olhos do garoto expressavam a descrença em relação ao que acabara de acontecer.
— Então… acho que acabou. Podem voltar para o seus lugares — mesmo a voz de Edgar não estava certa sobre o ocorrido; talvez nem mesmo ele esperasse esse desfecho.
Depois de ajudar Victor a se levantar, Yoshi voltou calmamente para o seu lugar, atraindo olhares desconfiados por onde passava.
— O que foi aquilo? — perguntou Julia quando ele se sentou.
— Nada demais, só algo que eu venho treinando ultimamente — respondeu brevemente, sorrindo calorosamente para ela e dispensando quaisquer outras perguntas que podia haver em sua mente.
— Então vamos para a última batalha — Edgar pronunciou alto.
— Finalmente! — entoou Catarine, encontrando meus olhos e sorrindo obstinadamente — Vamos, Sete, se apresse.
Isso… é sério?
— Você arranjou uma bela oponente, não acha? — a voz de Yoshi carregava um tom provocador.
Ignorando sua pergunta, levantei-me e um suspiro pesado saiu pelos meus lábios, revelando um repentino cansaço.
Depois de chegar ao centro, parei diante da animada garota, e ela imediatamente ficou em posição. Seus olhos amarelados brilhavam lindamente, mas ainda assim, possuíam uma incrível determinação.
Continuei olhando para ela e não me preocupei em adotar uma postura. Eu conhecia alguns poucos posicionamentos de punho livre, mas não me sentia confortável em usá-los. Meus braços pendiam naturalmente ao lado do meu corpo, e eu apenas esperava que ela me atacasse. Sinceramente, cheguei a considerar a opção de deixá-la me acertar só para acabar logo com isso.
— Pronto? — Edgar me olhou inquisitivamente, e eu assenti — Muito bem, então. Podem começar.
Catarine avançou sobre mim em alta velocidade, e eu me concentrei em seu corpo, analisando cada movimento para poder desviar. Seu tronco superior se moveu, e ela começou a lançar uma série de golpes de todas as direções, forçando-me para trás a cada segundo e encurtando a distância a cada golpe.
Ela era forte e eu não precisava lutar para saber isso. Seus movimentos eram organizados e rápidos, sem deixar brechas para um contra-ataque, seu objetivo era me deixar sem opções, até chegar em um momento em que eu não conseguisse desviar. No entanto, se meu raciocínio estivesse correto, haveria uma oportunidade quando chegasse a hora.
Um soco passou pelo meu rosto e fez meu cabelo balançar. Enquanto desviava, notei o sorriso em seus lábios.
É agora.
Como um vulto, Catarine desapareceu da minha linha de visão e desferiu uma rasteira por baixo. Saltei brevemente para trás, mas antes mesmo de tocar o chão, ela já havia sumido novamente.
Senti algo se aproximando rapidamente pelas minhas costas, e prontamente desviei. O punho de Catarine passou pelo meu peito, quase me acertando. Aproveitando esse momento, agarrei o seu braço e a puxei para perto. Durante esse breve instante, tive tempo para encontrar seu olhar surpreso.
Quando ela estava próxima o suficiente, dei um leve toque atrás de seus joelhos e ela caiu. Ao mesmo tempo, soltei seu braço para evitar que se machucasse.
Ajoelhada à minha frente, ela me olhou incerta, com fios de seu cabelo caindo sobre o rosto como um véu. Estendi a mão, e ela a aceitou, mantendo o olhar fixo em mim. Não desviei o rosto, pois senti-me preso pelo amarelo dos seus olhos enquanto a ajudava a se levantar.
— Uau, isso foi intenso — comentou Edgar, o que me fez lembrar que estava sendo observado por vários olhos.
Saindo da minha distração, soltei a mão de Catarine e fui em direção à mesa novamente, evitando qualquer olhar que pudesse.
— Você lutou bem — disse Yoshi quando me aproximei.
— Não… Só ganhei porque ela se descuidou.
— Sério? — perguntou Julia, surpresa.
— Sim, eu só precisei analisar os seus movimentos com cuidado.
Enquanto isso, Edgar se levantou da cadeira e andou até o meio da sala, fazendo suas últimas anotações no caderno.
— Muito bem, crianças, a aula foi melhor do que eu imaginei. — ele fez uma pausa para nos olhar. — Foi realmente divertido, uma das mais divertidas ao longo de anos. Espero que tenha sido o mesmo para vocês.
Sorrisos se formaram com as palavras de Edgar. No fim, tudo parecia algo a mais, algo além de apenas uma aula de combate para eles. O motivo? Talvez o fato de ser a primeira aula que marcava o fim de uma jornada.
Mas, ao refletir sobre isso, por que eu me sentia assim? Não era tristeza ou solidão; era algo mais… profundo. Algo que, não importa o quanto tentasse, não conseguia explicar completamente. Experimentar uma mudança tão radical talvez tenha despertado um sentimento estranho, mas que ainda não sabia compreender.
— Vocês estão dispensados, nos vemos na próxima aula, crianças. Tenham um bom dia.
O tempo após a segunda aula voou. As outras aulas foram incrivelmente passageiras, e agora eu já me encontrava a caminho de casa.
O ar da tarde trazia consigo o frescor da noite, enquanto o sol se punha entre as montanhas distantes. No céu, algumas estrelas começavam a aparecer, emprestando ainda mais beleza à paisagem.
Caminhando pela rua, meus pensamentos vagavam, desordenados, desde a aula de combate. Algo girava dentro de mim: um sentimento, aquele que não conseguia entender, capaz de me deixar perdido no meu próprio mundo.
Não sabia o que aquilo significava, mas tinha a certeza de que a resposta não viria naquele momento. Acredito que seja algo que chegará com o tempo, embora eu tenha as minhas opiniões sobre o que seja. Talvez seja algo que mude completamente a minha visão de mundo ou talvez não seja nada. De qualquer forma, tentarei não pensar nisso. Afinal, o ano mal começou.