Ascensão Divina - Capítulo 1
O mundo é uma merda! De todas as vidas que vivi, de todas às vezes que morri, essa, com certeza, foi umas das piores reencarnações! Não consigo enxergar nada nesta caverna escura. Tô todo acabado. Se for parar para pensar, só não é pior que a minha primeira vida, e olha que já foram várias.
Na minha primeira vida, eu era só um garoto que enfrentava problemas econômicos.
Por obra do destino, outro desafio se apresentou. Tudo isso ocorreu devido a um acidente que afetou a minha família.
Bem, para falar sobre isso, acho melhor fornecer mais contexto.
— Boa noite — disse uma jornalista.
— Boa noite. Hoje tivemos uma notícia muito triste que aconteceu em Fukushima — falou outro jornalista do lado.
— Hoje, 11 de março de 2011, após um terremoto e um tsunami no Japão, ocorreu uma séria falha de resfriamento em uma usina nuclear na cidade de Fukushima.
— Houve liberação de material radioativo, causando impactos ambientais e afetando questões de saúde pública. O resfriamento insuficiente levou a dois colapsos nucleares: explosões causadas pelo hidrogênio presente no ar e a liberação de material radioativo. Antes desse desastre, houve um tsunami. Havia uma barragem que suportava um tsunami de 5,7 metros, porém esse tsunami tinha 14 metros. Para mais informações, acesse nosso site…
Havíamos saído do Brasil recentemente devido a problemas financeiros, e você sabe o porquê.
Já sabia um pouco de japonês, mas foi um pouco difícil me adaptar no começo. No entanto, consegui me acostumar.
Ajudei minha família trabalhando em um emprego de meio período.
Tudo estava indo bem, até consegui uma namorada… mas tudo acabou depois da tragédia.
Por sorte ou destino, eu estudava em outra cidade.
Meu cabelo, tingido de vermelho, tornou-se alvo de zombaria por parte dos valentões, que encontraram uma nova forma de praticar o bullying, ao afirmarem que a cor representava a cor do sangue da minha família.
Minha namorada não aguentava mais a pressão e me deixou sozinho. Apesar disso, mantive-me firme, pois ainda tinha meu emprego e não podia desistir.
Decidi sair da escola e me mudar para outra cidade próxima ao meu trabalho.
Consegui uma casinha lá, embora fosse pequena e econômica, como era apenas eu, proporcionava uma tranquilidade.
O único obstaculo era a necessidade de estudar para poder trabalhar.
Resolvi me matricular em uma escola por perto. Já que era apenas o último ano, não representava um grande desafio para mim.
No entanto, um novo problema surgiu: os mesmos que praticavam bullying comigo, de alguma forma, estavam na mesma escola.
Após o intervalo, eles me levaram a um beco e… vocês podem imaginar o que aconteceu. Porém, o desfecho dessa situação reservava uma surpresa que até mesmo vocês teriam dificuldade em acreditar.
Minha ex, a mesma que me largou na solidão, estava nos braços do líder deles. Ela me olhava com uma expressão de desprezo.
Eu não queria acreditar nisso, mas era real.
Perguntei o porquê, e ela admitiu que só namorou comigo por interesse.
Depois dessa humilhação, fui deixado jogado no chão.
Em um estado de desolação, as únicas emoções que ocupavam minha mente eram raiva e ódio.
Com todos esses sentimentos acumulados, levantei-me, sentindo cada músculo dolorido.
— Ah! Merda! — desferi chutes nos sacos de lixo enquanto caminhava pela estrada, onde não havia sequer uma alma. Havia apenas a iluminação dos postes e os latidos e miados dos animais que ecoavam ao meu redor.
Dirigi-me ao meu pequeno apartamento, atravessando lentamente a estrada para o outro lado, foi quando ouvi um som parecido com uma buzina de caminhão.
Devagar, com dificuldade de olhar ao redor, avistei duas luzes brancas vindo em minha direção. Era um caminhão em alta velocidade.
E bem ali… eu perdi minha primeira vida.
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E como continuei vivo? Bem, essa minha habilidade peculiar entrava em ação quando morria. Após minha morte, misteriosamente reencarnava em outro mundo.
Podia haver casos em que permanecia no mesmo mundo, mas com outro corpo.
Neste mundo onde estava, meu grupo procurava um item bem valioso, mas aconteceu algo que não se encontrava nos meus planos: meus companheiros, meu grupo deste mundo, me traíram, me deixaram à mercê da morte em uma caverna repleta de monstros. Mas que ironia do destino, né?
Não sabia se morreria, mas honestamente, nem me importava. Como já havia mencionado a vocês, perdi muitas vidas até chegar a esta e com isso, vivi uma infinidade de experiências.
Já fui escravo, rei, ladrão, mercenário, herói, aventureiro e até animais. Experimentei todo tipo de morte, desde velhice até assassinato, suicídio, envenenamento…
A morte parecia uma liberdade, uma luz no fim do túnel.
Agora que compartilhei o motivo de estar nesta caverna, voltaremos do início, ou seja, o fim.
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Em meio a uma constante luta, um monstro semelhante a um goblin com uma enorme foice vermelha avançava lentamente em minha direção.
Com um sorriso sinistro desenhado em seu rosto ao encontrar meu olhar, levantava seus dentes pontiagudos capazes de dilacerar carnes com extrema facilidade.
Num momento de profunda tensão, a criatura ergueu o braço que segurava a foice, e em questão de segundos, minha cabeça já havia sido arrancada.
“É… parece que morrerei mais uma vez”, pensei enquanto minha cabeça quicava no chão.
Outro goblin se aproximou de mim, desembainhando sua espada no mesmo tempo em que emanava uma aura assassina intensa.
Apontou a lâmina em minha direção e desferiu um ataque contra a minha cabeça no chão.
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[Mortes: 10.000.000.001]
[Vidas restantes: ilimitadas.]
“Bem… Parece que estarei reencarnando mais uma vez”
Enquanto me inundava de pensamentos, percebi estar flutuando. Me encontrava em um lugar totalmente branco.
Coloquei a mão na frente dos olhos na esperança de acostumar com a luminosidade.
De alguma forma, aquela habilidade me prendeu. Não sabia por que a possuía, mas algo estava errado.
Em todas as reencarnações que tive, sempre nasci como um bebê, mas por que isso não continuou?
Será que finalmente morri?
— Onde é que estou? — Cocei a cabeça perplexo.
Em seguida, examinei minha mão em busca de algo incomum. Meu corpo estava nu, mas não havia nenhum ferimento ou cicatriz. Tudo parecia normal; meu cabelo estava até um pouco grande e liso.
De repente uma voz potente ecoou pelo ambiente como um trovão.
— Acorde, criança!
A voz me paralisou, causando um arrepio por todo meu corpo. Rapidamente, me coloquei em alerta, com medo do desconhecido.
— Quem é?! — gritei assustado fazendo ecoar por todo lado.
O lugar mergulhou rapidamente em um silêncio sufocante, a ponto de conseguir ouvir meu coração pulsar e minha respiração soar.
Depois de um longo período sem resposta, voltei ao meu estado normal, sentindo um alívio
— Talvez possa ser coisa da minha cabeça — afirmei coçando o cabelo.
Aliviado, olhei ao redor questionando-me: “Como vou sair desse lugar?”
Lembrei das minhas vidas passadas de que havia algo que sempre me auxiliava, mas por conta de uma discussão boba, parei de chamá-lo.
— Prometi para mim mesmo que nunca falaria com ele de novo. Por conta disso, me chamaram de louco por me pegar falando sozinho, mas como não existe sequer uma alma nesse fim de mundo, dá para usar essa chance. — Levei a mão ao rosto com vergonha. — Certo, Luxion!
Em instantes, uma pequena esfera de aparência robótica surgiu. Ela tinha a aparência de um olho com listras vermelhas em volta de sua carcaça.
— Olha só quem resolveu aparecer. Nem parece que me deu o pé na bunda umas vidas atrás e agora quer ajuda, não é, Aetherius?
— Nem vem! E você sabe muito bem o porquê fiz isso. Mais uma coisa, esse não é meu nome! — exclamei cruzando os braços.
— Que você tinha vergonha de falar comigo? E outra, esse nome está marcado em sua alma, então é assim que irei me direcionar a você. — Rodeava em minha volta.
— Droga! Não distorça os fatos. — Apontei o dedo para o robô — Você sabe muito bem. Só eu te via ou escutava enquanto as pessoas que me olhavam achavam que eu era louco e riam de mim. Até circulavam boatos por todo reino — retruquei com a cara virada.
— Foda-se, rapaz. Você me deixou no vácuo muitas vezes por meros boatos. Olha por tanta coisa que tu já passou e você ainda se preocupa com isso? — Mudou sua cor para vermelho.
— Tá bom, desculpa. Errei, fui moleque.
Com a aparição de um velho companheiro, engoli seco com peso na consciência. Eu só tinha o Luxion que me ajudava nesses tempos. Percebi o quanto fui injusto.
— Aham, você tem sorte por ter a mim como servo. Bem, mudando de assunto, o que você precisa? — Voltou para sua cor cinza.
— Como você está vendo, estamos em um lugar desconhecido. — Apontava com as mãos em direção ao vazio.
— É, tá bem branco. — Espremendo o olho.
— Quero sair dessa porra. Isso tá me deixando maluco. Já estou me achando um cego! — exclamei de um jeito tonto.
— Bem, você agora está em um nível muito superior que todas as suas vidas. Na teoria, se você usar sua força, conseguiria abrir um portal.
“Não sei o porquê, mas estou sentindo um pouco de vergonha alheia ouvindo isso”, levei a mão à cabeça.
— Como você pode ter tanta certeza? — perguntei inconformado com a informação — isso é tão ficcionista…
— Conheço todas as suas forças e fraquezas.
— É, eu lembro disso — disse com uma cara de desânimo.
Arrastando o pé esquerdo no chão, tracei uma medida de área para avaliar o local aonde iria desferir o soco. Concentrei mantendo uma base equilibrada para o ataque.
Com um movimento rápido, desapareci da região onde estava e reapareci na frente, golpeando o ar.
Um vento poderoso saiu pelos meus punhos, criando uma pressão de ar tão intensa que conseguiu abrir uma rachadura no próprio espaço-tempo.
— Realmente deu certo!
— Pensava que seria mais difícil fazer isso. — Minha mão direita saía fumaça.
— Está potente! Agora entra no buraco — falou de um jeito mandão.
A rachadura tinha aproximadamente trinta centímetros de tamanho e largura. Parecia impossível para eu passar em um buraco tão pequeno como esse.
— Tá maluco? Não passa nem na minha cabeça.
— É só abrir mais.
— E se eu perder a mão, hein?
— “Ah e se eu perder a mão?”, larga de moleza e enfia a mão nesta porra logo! Confia!
Assim, cometi essa loucura. Coloquei as duas mãos no buraco e o alarguei até que ficasse grande o suficiente para passar.
Ao entrar no portal, notei que estava numa espécie de deserto de barro, com grandes montanhas listradas em branco, parecidas com o relevo de um canyon.
— Onde nós estamos?
— Segundo meu mapa, estamos no deserto da morte.
Deserto da morte, sei que é um nomezinho clichê, mas esse deserto recebeu esse nome por carregar o sangue de vários mortos, como: guerreiro, demônios, monstros e diversas espécies que guerreavam bravamente neste campo de batalha.
Esse lugar também era a divisa da aliança das raças e o reino dos demônios, basicamente, uma muralha que dividia essas espécies das outras.
— Que sorte a nossa, hein? Spawnar logo no campo das maiores batalhas é algo que eu não imaginaria — indaguei, cruzando os braços.
Era parte do antigo mundo onde havia morrido. No entanto, parecia que eu não estava em outro mundo, mas sim no mundo em que conhecia anteriormente.
“Eu pensava que iria para outro mundo, mas estou no mesmo mundo. Quanto tempo será que se passou desde que morri? Será que os arrombados estão vivos?”
Enquanto eu estava pensando sobre as possibilidades de encontrar meus antigos “parceiros”, algo inesperado começou a se desenrolar e eu não fazia ideia do que era.
A uma distância de 161 quilômetros, de todas as direções, vários exércitos se aproximavam.
UMA GUERRA ESTAVA PRESTES A ACONTECER.