Bevan - O Divino Império - Capítulo 20
— Já estamos atrasados demais, vamos começar imediatamente os testes do alistamento — ordenou o sargento.
Ao olhar a posição do sol, o sargento supunha que faltavam no máximo duas horas para o meio dia. Ele precisava se apressar, tinha que terminar as instruções antes disso.
As instruções eram simples, o único problema era a quantidade de coisas para explicar. Que, como de costume, achava uma chatice — mesmo que nesse ano as coisas estivessem mais interessantes.
Pensava na possível advertência que ia receber, enquanto caminhava até o pátio. Era necessário conseguir bons novos recrutas, para que a advertência não viesse acompanhada de uma punição.
— Vou decidir sua punição mais tarde. Porém, acredito que seja óbvio que, diferente de você, aquele garoto nobre não sofrerá nada, né?
Aquela era uma provocação óbvia demais, ele queria deixar Pietro nervoso. Não ia facilitar as coisas para os plebeus, mas com certeza ia pegar mais pesado com ele. Aquela situação o fazia pensar nas possíveis armadilhas que teria durante a prova.
O garoto ficou calado, pois não tinha porque responder aquilo. Contudo, não podia deixar aquele homem falar de forma tão presunçosa consigo.
— Isso não vai acontecer. Pois, quando o exame acabar, tenho certeza que você vai ter coisas mais importantes para se preocupar, já que estarei no topo dessa brigada.
O superior gargalhou ao ouvir aquilo. As palavras daquela criança eram cômicas. Não conseguia acreditar que um pirralho, plebeu, tão jovem tinha coragem de proferi-las. Ou talvez, por ser jovem, era que tinha essa coragem.
“Esse garoto não sabe onde está se metendo. Vai ser maravilhoso ver tudo isso de camarote.”
O homem seguiu para o palco, era hora de começar as explicações. Pietro retrocedeu alguns passos, voltando para a área onde as filas estavam se formando.
— Muito bem, não vou parabenizar ninguém pela coragem de se alistar. Pelo contrário, sinto muito por vocês. Tenho total certeza que, aqueles que sobreviverem até o final, vão me odiar. Estou ansioso por isso.
As filas já estavam todas formadas quando o sargento terminou sua introdução. Plebeus para um lado e nobres para o outro. Os superiores em cima do palco os observavam, pensando em como reagiriam ao perceber que não podiam passar no exame sem mudar aquilo.
— Vou explicar as coisas da forma mais fácil possível — começou o oficial, enquanto tirava uma caixa do seu anel de armazenamento. — Para conseguirem fazer parte dessa brigada, vocês devem completar um total de cinco testes. O último é especial, portanto explicarei depois.
Enquanto falava, tirava algumas plaquetas de dentro da caixa. Eram todas iguais, feitas de ferro e não tinham nada escrito. Colocou-as sobre uma mesa que estava no canto do palco e continuou sua explicação.
— Os três primeiros testes são de sobrevivência. Contudo, uma “caça ao tesouro” também estará acontecendo em simultâneo. Encontrar esses tesouros farão de vocês capitães de times dessa brigada. Enquanto estiverem no exército suas recompensas serão baseadas totalmente em seus méritos.
A estrutura do exército de sodoma foi idealizada em cima da meritocracia, onde os fracos obedeciam os fortes. Seu nível de poder definia sua patente e suas contribuições permitiam alcançar altos cargos. Apesar desse sistema ter se perdido ao longo dos anos.
“Mérito minha bunda, isso só acontece se você for nobre. Como o mundo ficou assim?”, pensava Pietro.
O Planeta Terra que ele conhecia era diferente desse Planeta Terra que estava vivendo agora. As diferenças entre ambos ia muito além da fauna, flora e a extensão do planeta.
— Vocês terão de ficar durante um mês na Floresta Sombria, Deserto Maquiavélico e, por fim, mas não menos importante, no Continente Álgido. Em algum lugar desses ambientes estará o tesouro que um de vocês devem encontrar.
“Nunca ouvi falar desses lugares na Terra, mesmo que eu tenha ido nos ambientes mais inóspitos…”
— Senhor, é proibido matar durante os testes? — perguntou um plebeu, levantando a mão.
— Não é proibido. Mas, eu não aconselho a fazerem isso. Nunca se sabe os perigos que esses lugares escondem.
Depois de responder aquela pergunta, o sargento usou sua habilidade para fazer as plaquetas voarem até cada um dos recrutas.
— Essas plaquetas vão ser a identificação de vocês, durante os testes e depois deles. Assim que vocês ibuir mana nela, pensem no apelido de guerra que querem, assim um número e o nome vai aparecer na plaqueta.
Os recrutas fizeram o que o superior disse. Os Nobres ficaram com os primeiros 200 números e o restante foi tomado pelos plebeus. Pietro, nesse momento, estava na 500° posição entre 700 candidatos.
— Acho que tudo foi explicado. Se eu tiver esquecido de algo, só lamento para vocês.
O homem virou-se e começou a andar, voltando para sua sala. Tinha terminado suas obrigações em relação aquilo, o restante estava a cargo do seu assistente, o cabo Fernandes.
— Senhor, eu tenho uma dúvida. O que devemos encontrar? — perguntou uma moça.
— Quaisquer dúvidas que vocês tiverem, saciem com o meu assistente — delegou o sargento.
Fernandes posicionou-se no lugar em que seu superior estava e respondeu:
— O que vocês devem encontrar é um baú com itens de sobrevivência, essa plaqueta servirá, também, como uma chave para abri-lo. O lugar para onde vão é cheio de perigos, como por exemplo: monstros de nível alto, armadilhas naturais e o ambiente hostil, portanto, não se descuidem.
Murmúrios começaram a correr pelo pátio. Era difícil identificar o que todos estavam dizendo, mas era possível perceber que alguns já tinham noção do que precisavam fazer para passar no exame.
O sargento estava escondido perto da saída do pátio, tinha ficado lá para observar os recrutas. Ele já era um homem de meia idade e tinha conseguido bastante experiência ao longo de sua vida, isso afiou seus olhos para identificar pessoas com grande potencial e também desenvolveu uma habilidade de avaliação de status.
Depois das palavras de Fernandes, ele ativou sua habilidade e aguçou seus sentidos. Tinha certeza que dentre os 700 candidatos, alguns deles iam apresentar status muito superiores aos demais. Por isso, ele queria saber quem seriam de antemão para fazer suas apostas.
A habilidade criava uma tela, mostrando informações do indivíduo avaliado. Essas eram seu nome, família ou clã que pertencia e, o principal, seus status de força. Óbvio que a mesma possuía limitações, sendo a principal: não conseguir avaliar a força de um inimigo com nível muito superior.
“O menino do clã Logis, né… Esse é o primeiro ou o segundo filho? Bem, independente de qual seja, tem uma força muito boa para sua idade. Com certeza será um dos líderes.”
Ele continuou avaliando os nobres, um por um. Não tinha pressa, pois não tinha esperança que alguém entre os plebeus pudesse superá-los. E mesmo se tivesse, não seria o bastante para competir com aqueles jovens que fizeram todo tipo de treinamento desde que nasceram.
Algumas pessoas chamaram sua atenção a ponto dele pensar que podiam se tornar líderes. Outros, ao seu ver, com certeza iam se tornar guerreiros de força inigualável e, assim, serem pilares do Reino de Sondom.
“A herdeira da família Juna com certeza merece a fama que tem. Mesmo sendo uma arqueira, tem 60 pontos de força e sua agilidade e destreza são muito superiores a de uma adolescente de 17 anos.”
Outros herdeiros também demonstravam status elevado, como o herdeiro do clã Onro que já entrou no nível cabo de primeira chamada. Ou o herdeiro da família Tanmes que estava a um passo do nível cabo antes do exame começar.
Deslumbrado com a força que a nobreza estava demonstrando, o oficial esqueceu do ponto fora da curva que apareceu de repente e até mesmo desafiou o segundo herdeiro do Clã Samas, Pietro.
— Vejamos qual a força desse garoto arrogante — murmurou o homem.
Dirigiu-se até um lugar onde podia observar os plebeus. Não se importava muito com os outros, mas não ia doer olhar os status de alguns deles enquanto procurava. Pois alguns tinham força superior ou similar aos Nobres.
Até mesmo entre a realeza existia hierarquia, também baseada em força. Sua posição era medida de acordo com a força do patriarca, anciões e força média dos membros. Eram divididos entre alta, média e baixa nobreza e seus níveis eram reajustados numa competição nacional a cada quatro anos.
Mesmo assim, era muito difícil um camponês que não fosse filho de uma família rica, ter uma força tão grande. Existem muitas famílias ricas que não são da realeza, mas recebem o mesmo tratamento já que seus patrimônios se equiparam ao de algumas famílias da realeza média.
“Por serem da ralé, não tenho muita informação sobre essas crianças. Vai ser cansativo, porém, valerá a pena pesquisar sobre elas”, pensava o sargento.
Como eram muitos nomes para pesquisar, ele decidiu escrever ao invés de decora-los. Tirou um caderno do seu anel de armazenamento e começou:
— Sabrina Martins, candidata 501; Mateus Rocha, candidato 620; Ingrid Ophy, candidata 570 e Leandro Ribeiro, candidato 615.
Aqueles quatro candidatos podiam se igualar aos melhores recrutas das famílias médias da realeza. Ninguém ia se surpreender se eles voltassem tão fortes quanto os recrutas da alta realeza, que já possuem nível de cabo.
[ Aviso: uma habilidade hostil está sendo usada em você ]
[ Decifrando habilidade… Habilidade de Avaliação ]
“Alguém está tentando me avaliar? Querem descobrir a minha força ou as minhas habilidades? De qualquer forma, você pode lidar com isso da melhor forma possível.”
[ Entendido ]
Atrás da janela, dentro do corredor lateral que fica a frente do pátio, o sargento estava pasmo com o que viu ao verificar os status de Pietro. Nunca tinha visto algo como aquilo, aquele garoto nem podia ser chamado de humano…
“Monstro…?! Demônio?! O que diabos é esse garoto? Eu deveria expulsá-lo daqui antes que se torne um problema ou…”
O vento soprou forte, interrompendo aquele pensamento. Foi quando uma ideia passou por sua mente o fazendo gargalhar, eufórico. Era uma ótima ideia e com certeza, independente do desfecho, ia trazer ótimos resultados.
“Você vai ser uma ótima peça do meu jogo, Sr. Piovani.”