Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 11
Inteligência, sabedoria; ser o mais forte, vai muito além de força bruta. É necessário perspicácia, habilidade, flexibilidade, determinação.
Essencialmente, confiar. Confiar em suas próprias decisões, confiar na força dos seus companheiros, depositar todas as suas fichas no seu líder.
Ser o mais forte é além de acreditar em sua força; é ter amigos que acreditam em você.
As sombras então cessaram. Gradativamente sua aura assassina se resguardou e os alunos retomaram às atividades normais. Assim que tudo aparentemente voltou ao normal, Ophid prosseguiu:
— Certo. Pelo pouco de informação que recebi, eu dividiria o quarteto da seguinte forma:
“Mitchel é a linha de frente, ofensiva. Um chamariz que vai confundir quem quer que estejamos lidando. É volátil o bastante pra lidar com qualquer tipo de inimigo sem muitos planejamentos.”
Os olhos de Mitchel se cerraram.
— Linha de frente porque eu morreria primeiro?
O Reencarnado tornou seu rosto lentamente em sua direção, com semblante indiferente.
— Sim e não. Infelizmente eu sei que você não morreria tão fácil.
— Prossiga. — Apoiou seu queixo em uma de suas mãos, intrigando-se.
— Aiko pelo pouco que percebi, parece ser analista demais, fala pouco, mas o necessário, pra se certificar de que não está pisando em ovos.
“Perfeccionista. Provavelmente pensa mais do que age. O que pode ser um problema, hesitaria demais, definitivamente não poderia ser ofensiva.
“Entretanto; não serviria sendo apenas suporte, curadora, por dois motivos:
“Uma, ela ainda não sabe curar os outros e não temos previsão de quanto tempo demoraria até ela chegar a esse ponto. Duas, isso desperdiçaria o potencial que tem, agiria sempre no mais cômodo, parando de melhorar e evoluir.
“Ela seria perfeita sendo a estrategista. Guiando a equipe, observando os arredores e dando sinais do que possamos fazer. Enquanto cria emboscadas, armando o jogo e antevendo ele.”
Às palavras do Escarlate, o quarteto estava mais do que surpreso. Estavam admirados, a leitura de Ophid era certeira demais. Mais do que deveria, isso pegou Aiko completamente desprevenida.
Como ele conseguiu me ler tão rápido? A gente literalmente acabou de se conhecer.
— Enquanto a mim, eu ficaria de membro fantasma, me infiltrando, adquirindo informações, ou agindo de último momento, pegando o inimigo completamente de guarda baixa. Apesar do fato de eu ser famoso me tornar um melhor chamariz, isso também é uma faca de dois gumes. Não agiriam por achar que eu sou forte demais, e nem tentariam.
“Vamos enganá-los. Fazendo eles nos subestimarem.
“De qualquer forma, de última instância, sou forte o bastante pra assegurar que assim que eu entrar no campo de batalha, a luta estará ganha.”
Imersos, os rostos da equipe focavam totalmente em Ophid, ele não parecia humano. Exalava segurança, confiança. Ele não era nem um pouco arrogante, nem prepotente. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Aiko naquele momento, havia desistido. Nunca sequer chegaria perto de quem Ophid era. Mesmo se treinasse durante toda sua vida. Só restava seguir suas ordens, e nunca incomodá-lo. Era definitivamente um Deus.
Como Mitchel consegue desafiar com tanta confiança esse cara…?
Eu não tinha dimensão. Eu não fazia ideia.
— Por fim, Lestrad — prosseguiu, Ophid, tranquilamente. — Ficará na retaguarda, protegendo nossas costas de possíveis inimigos. Resolverá qualquer tipo de ameaça imprevista ou problemas adversos.
“Servirá de reserva, caso precisarmos de algum tipo de ajuda em um confronto.
“Apesar de não fazer ideia de como ela vai fazer isso, ela parece segura o bastante.”
Esse tipo de função não incomodou Lestrad, tinha confiança total em Ophid. Não pudera acreditar, estava realmente no mesmo time que o Reencarnado.
Mitchel, no entanto, estava levemente incomodado e inquieto.
— Você é irritantemente brilhante.
— Não preciso de seus elogios.
Aiko gostou da sua função, temia ser a linha de frente. Mesmo sendo habilidosa não tinha muita confiança, ainda mais estando num time como esse, envolveria muita pressão. Não queria decepcioná-los. Qualquer líder de quarteto a colocaria como ofensiva por ser uma Matizal, ter um amplo leque de spektris, mas Ophid não. Ele foi certeiro, assertivo, e ele nem sequer a conhecia.
Ele é um gênio. Dizia essas palavras pra si, enquanto observava a Divindade com seus olhos ao chão.
Esse cara definitivamente poderia me matar, a qualquer momento que quisesse.
Não posso tê-lo como inimigo.
Mas isso não duraria muito tempo. Quando se recordou do porquê, voltou a sentir o aperto no coração, o agouro. Vinn estava na mesma sala, sabia o seu segredo.
Ophid seria quem mais adoraria saber quem é Prismal da sala. Seria a primeira pessoa da qual ficaria sabendo, e Vinn faria questão disso. O quão cruel ela poderia ser? Será que no fundo, ela ainda sentia algo pela velha amiga?
Aiko se recolheu levemente, imersa novamente em pensamentos mortais, estava nervosa, tinha medo. O quarteto discutia animado, e Ophid fechado como sempre; Aiko se mantinha desconexa.
Quanto tempo aquilo duraria? Quanto tempo duraria até que tudo fosse destruído?
O quarteto até que não fora tão ruim quanto pensava… Mas e depois?
Após uma longa conversa entre eles, tirando sarro um do outro, discutindo, analisando, decidindo e planejando, estavam finalmente na fila da entrega dos Linkáneis.
Anéis tecnológicos que serviam como comunicação pra toda equipe. As Paletas Serafins os utilizavam pra facilitar nas missões, compartilhando informações e se comunicando em grandes distâncias. Era bastante útil, afinal possuía funções como: ouvir conversas apenas pra si, não permitindo ninguém ao seu redor conseguir escutar; desabilitar seu microfone, e até localização em tempo real, que também poderia ser desativada.
Tudo isso de forma rápida, já que tudo era feito com a mente e intenção, que apenas o usuário poderia controlar.
Os Linkáneis de quarteto escolar, apesar de serem iguais, tinham objetivos diferentes, eram versões menos sofisticadas. Eles tinham que utilizar quase a todo momento, pra medir e avaliar suas performances e realizações de tarefas e missões. Contabilizando suas notas.
Com isso, sabiam quem finalizava mais monstros, aberrações, quem concluiu tarefas, quem esteve mais enfraquecido, se alguém esteve em melhores condições do que outros — dando indícios de não estar colaborando com a equipe —, media o batimento cardíaco, e predizia o quanto o líder conseguia manter a equipe relaxada e calma em momentos difíceis, ou estressadas. E vários outros critérios específicos. Um dispositivo muito bem arquitetado e trabalhado.
Os 50 minutos para decidir o líder eram cruciais, porque era na entrega do Linkánel que se oficializava quem seria o capitão. Pela posição onde o Linkánel é colocado. Enquanto o Linkánel era colocado no dedo mindinho esquerdo, os líderes utilizavam no dedo indicador.
Não era apenas enfeite, alterava a avaliação. Eram analisados diferentes, teriam responsabilidades e funções distintas. Ophid parecia estar acostumado a liderar, já que se posicionava tranquilamente na fila, junto de seus outros companheiros. Aiko que nem sequer seria líder, estava nervosa com a entrega.
Alunos e mais alunos saíam da fila e iam até a saída, onde seriam levados por um instrutor até o local da primeira atividade. O jogo.
— Ei, Aiko — sussurrou Mitchel ao seu lado.
O rosto inocente que encarava os anéis atentamente virou-se pra ele.
— O Ophid tá estranho… ele nunca me tratou assim.
— Talvez por você dois nunca terem conversado antes, sem estarem lutando — sussurrou em resposta.
Mitchel se curvou pra o seu lado, olhando Ophid de canto de olho.
— Que droga. Eu tô começando a achar ele legal.
“Mas ele matou um monte da nossa gente.”
— Ei! Nossa? — murmurou Aiko entredentes, extremamente baixo. — Cuidado com as palavras, Mitchel.
— Foi mal. Perdão. — Fez uma expressão de quem vacilou feio.
Aiko olhou sutilmente pros lados antes de recomeçar:
— Eram Antilayons. Que também matam pessoas da gente dele. Vocês dois tem motivos pra se odiarem.
— Mas ele também quer me matar, Aiko! — cochichou com mais intensidade.
— Você acha mesmo que se ele quisesse de verdade, você ainda estaria aqui?
— Óbvio, EU NÃO DEIXARIA ELE ME MATA-
São interrompidos por um pigarro sarcástico de Ophid, alertando-os que chegou a vez deles de colocarem os Linkáneis. Ambos foram surpreendidos e se ajeitaram instantaneamente.
— Em homenagem ao nosso sagrado Reencarnado, a cor do quarteto de vocês será vermelho — disse o Professor Smith, com seus olhos esbugalhados felinos, apontando pra o conjunto de Linkáneis vermelhos dentro de uma caixa.
— Que conveniente — ironizou Mitchel.
— E então, quem é o líder do quarteto escarlate? — perguntou o vulpine, olhando pra Ophid.
Mitchel revirou os olhos. Era óbvio, e o professor também já tinha certeza.
— Quem será, né, Smith. Pode dar logo pro…
— Aiko Tamada — afirmou Ophid, de súbito.
Rostos em completo choque se formaram simultaneamente. Arregalaram os olhos de forma tão abrupta que pareciam saltar.
Que? O que?
O QUE?!
— O que?? — exclamou Aiko desesperada. — Por que?!!
Os olhos vermelhos radiantes focalizaram nela, serenos. Tão distrativos que Aiko não percebeu as mãos de Ophid lhe entregando o Linkánel vermelho.
— Boas-vindas a Stormpeak, líder. — Ophid sorriu suavemente.