Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 13
Matizais são Spektrais abençoados, completos; Spektrais comuns devem sempre se reunir em bando para utilizarem seus poderes de forma mais funcional e completa.
Por isso, é necessário o trabalho em equipe, grupos, quartetos… precisamos de Paletas. Só assim se tornamos mais poderosos.
E é dever das Paletas Serafins proteger as pessoas que precisam.
Jimin estava morrendo de vontade de ir ao banheiro. Mas havia gente demais na sala, isso o assustava completamente. Apesar de estudar naquela escola desde sempre, nunca se acostumara. E o fato de nunca ter sequer feito amigos não ajudava.
A sétima série era amedrontadora pra ele. E iria se tornar ainda mais; já que, por intermédio de sua mãe, descobriu que a partir do sétimo ano, começaria ter o sistema de quartetos que seu irmão mais velho, Jihyun, sempre comentava. Por meio da matéria nova: Maestria Tática.
Sua bexiga o apertava ainda mais, como se fosse o partir ao meio. Mas Jimin não conseguia se mexer, e não sabia se era medo, ou por conta do tamanho desconforto que sentia.
O que os outros pensariam se ele pedisse permissão pra professora pra ir ao banheiro? A sala toda estava em silêncio. Que constrangedor.
E o que pensariam se ele saísse correndo rápido demais pra fora da sala, logo depois disso?
Ele teria que ir bem devagar. Mas… ainda assim, ele não aguentava mais, não aguentaria disfarçar… Ele precisava fazer algo.
Talvez… mijar nas calças não seja tão ruim…
Direcionou o olhar à suas partes baixas. Sua calça era preta, ninguém ficaria sabendo. A menos que o cheiro denunciasse, o que seria pior. Porém, antes que realmente pudesse raciocinar sobre esse problema, sentiu um frescor quentinho vindo de sua cueca.
Foi tomado por um alívio indescritível. Uma grande mistura de sensação quentinha agradável, de sua necessidade ter sido sanada, e não precisar ter saído da sala.
Em êxtase, apoiou sua cabeça sob o caderno, extremamente satisfeito.
Alguns segundos tendo passados, a realidade bateu em sua porta. Foi quando abriu seus olhos lentamente.
Era um perdedor. Um completo perdedor.
Ele estava com as calças mijadas, no meio da sala de aula. Mais um motivo de bullying dos inúmeros, se todos ficassem sabendo.
E isso definitivamente não iria acontecer, faria de tudo pra que ninguém ficasse sabendo. Mesmo que seja necessário usar o Violeta Básico. A cor da ilusão mental.
Mas não era o suficiente. A cabeça de Jimin estava pesada demais, ele se sentia cada vez mais um lixo.
Sua mãe sempre o disse pra não temer. Ser corajoso. Que a vida era muito difícil para medrosos.
Essas palavras não motivavam nem um pouco Jimin, pelo contrário, se sentia pior toda vez que ela repetia o mesmo conselho.
Afinal, só ele sabe o quanto tentou. Só ele sabe o quanto se esforçou pra que pudesse mudar.
Já teve momentos em que quis superar tudo isso. Porém, quando chegava no fatídico momento, parecia que toda sua determinação era consumida. A grande ironia era que seus poderes poderiam revelar literalmente tudo o que outros pensavam à seu respeito.
Ele poderia saber exatamente o que pensavam sobre ele. Mas isso não era algo bom. Era algo da qual nunca quis chegar perto de saber. E nunca iria querer saber de novo.
Tudo começou quando resolveu testar seus spektris pela primeira vez, e viu o quão rídiculo ele aparentava nos olhares dos outros. Tendo cabelo castanho claro, com trejeitos e gostos completamente esquisitos pra sua idade, não era de se admirar que a garota da qual mais gostava, tivesse nojo dele. E suas amigas o achassem um idiota, estúpido, irrelevante, insignificante.
E seus antigos amigos só andassem com ele, porque foram forçados por suas mães, por pena, pra ele não se sentir só. Esses mesmos amigos que também o achavam esquisito, que não o achavam engraçado, nem bom. Nem… um amigo. Na verdade… sequer lembravam dele, todas as vezes em que se encontravam de novo. Apesar deles fingirem muito bem.
Essas pessoas nunca disseram isso pra ele, claro. Mas ele soube. Ele sempre soube.
Jimin pra todos, era um estorvo. Alguém no qual ninguém se interessa.
A partir desse dia, Jimin nunca mais se tornou o mesmo, passou a nunca mais usar o Violeta Claro de novo. Na verdade, ele já queria a um tempo, nunca usar esse poder. Sempre se lamentava, por ter nascido com um poder inútil. Um poder que só servia pra ele comprovar todos os dias que sempre foi um lixo.
E que a vida dos outros são infinitamente melhores que as suas, por meio das memórias que visitou, com Violeta Escuro. Que eles tinham amigos de verdade, que as pessoas os tratavam bem, que eles elogiados, que eles eram bons, que eles eram felizes… e que haviam pessoas que os amavam.
E o spektri que restava, o único da qual seria útil, nunca conseguira controlar de verdade, o Básico.
Mas precisaria aprender a controlar urgentemente. Porque o cheiro do mijo recém-mijado começou a arder suas narinas.
Fudeu.
Desesperou-se, olhando para os lados. Pelo visto ninguém tinha notado ainda. Mas era por pouquíssimo tempo, tinha que ser rápido. Se concentrou o máximo que pôde e ativou o Violeta rapidamente. Sua mão se preencheu como se tivesse sido mergulhada em tinta Violeta… Escuro.
Merda, não é esse, droga!
A matização era uma das coisas que Jimin mais detestava. Ser um Matizal era uma maldição: ter 3 spektris supostamente deveria tornar sua vida mais fácil, mas a tornava ainda mais difícil.
Spektrais comuns possuíam apenas um spektri, uma cor fixa que nunca muda, então era apenas uma questão de chamar a cor e ativá-la instantaneamente. Porém, com os Matizais era diferente. Bem diferente.
A cor não era fixa, era volúvel. Não se mantinha estática em nenhum momento, ficava constantemente se transformando, num tom indefinido, uma grande mescla do que seria a cor original. A forma da cor na versão mais pura, que possui todos os tons ao mesmo tempo.
E é dever do Matizal convertê-la na matiz que deseja utilizar. Gerando o spektri desejado.
Esse processo de conversão é chamado de matização. A pior coisa pra Jimin nesse exato momento.
Já que se concentrava o máximo que pudera pra gerar a cor básica da qual precisava. Até que, sua mão se tornou Violeta… Claro. E o cheiro do mijo começou a ficar mais e mais forte.
Isso aqui tá muito forte, não bebi água hoje? Droga…
EU TAVA COM VERGONHA DE TOMAR ÁGUA TAMBÉM!!
Se encontrava no meio do exercício que a professora passara pouco tempo atrás, todos estavam em completo silêncio. Se Jimin não resolvesse aquilo naquele exato momento, estava completamente encrencado.
Seu plano era usar o Violeta Básico pra confundir os colegas ao lado pra fazerem eles não sentirem o cheiro, ou até modificar o cheiro pra algo mais agradável. Apesar de ter a consciência que não tinha maestria alguma pra fazer algo tão bem arquitetado e específico com tão pouca experiência com a cor. Não fazia ideia de como usar aquela droga.
Suas mãos começaram a cintilar de variações de violeta, mas Jimin não conseguia converter corretamente na que desejava. Sempre estava errada. Ou clara ou escura. Da qual estava habituado a converter, mesmo que por pouco tempo.
Irritando-se, e em agonia, começou a bater na própria mão, como se aquilo adiantasse algo. Estava em completo desespero.
Quando alguém ao seu lado começou a fungar o nariz, uma garota. Jimin arregalou seus olhos de súbito.
Ela fungava o nariz cada vez mais, e seus olhos caçavam sutilmente onde estava saindo aquele cheiro. Quando a garota se inclinou pra ele, procurando a raíz daquilo tudo, a porta da sala abriu.
Três garotos entraram na sala. Rostos vagamente familiares pra Jimin.
A atenção da garota foi trocada, e seus olhos foram fisgado por eles. A professora que estava sentada em sua cadeira, também focado nos garotos, os julgava levemente.
— Falei que não daria tempo, seus idiotas! — bravejou um dos garotos, de cabelos brancos, olhando para os outros dois. — Era só comer na viagem!!
— Coé, Brine, relaxa. Não precisa tanto. Primeiro dia, tá suave. Né, prof.? — acalmou o garoto de cabelos espetados vermelhos.
Com uma cara de impaciência, como se pedissem pra entrar logo, a professora perguntou:
— Novatos…?
— Sim — Os dois responderam juntos.
— Professora, qualquer coisa, tira o ponto só dele. — O emo de cabelos negros apontou para Yakkito.
— Ei, Naga!!! Eu dividi o lanche com você! — indignou-se Yakkito, procurando seu assento.
Nesse momento, Jimin se lembrou de uma vez, como pudera esquecer. Era a Paleta Serafim: Outline. Da qual era muito fã, não havia acreditado de começo porque era muita sorte e coincidência estarem ali. Mas eram eles, de fato, em carne e osso.
Mas…
Com eles procurando os lugares, Jimin começou a se contorcer de vergonha, adoraria conversar com eles… mas tinha medo. E…
Estava mijado.
Jimin era tão fanático por eles, tinha uma vontade tão imensa que sentia que seria capaz de conversar com eles. Eram sua maior inspiração.
Como se tivesse visto algo estranho, Yakkito parou de súbito do outro lado da mesa de Jimin. Começou a cheirar o ar fortemente.
— Que cheirão de mijo… — intrigou-se. — Coé, Prof, cês não limpam a sala, não?
— Pior que eu também tô sentindo isso, muito forte — complementou Nagashi, parando e perseguindo com o olhar o maldito aroma.
Acho que alguém aqui mijou nas calças. Disse Shikai, dentro de Nagashi. Um ser completamente avermelhado com chifres, uma criatura humanóide com olhos de esclera negra e íris vermelha.
HAHAHA, SERÁ? NÃO É POSSÍVEL. Respondeu Nagashi gargalhando, porém ainda mantendo a expressão indiferente por fora. Você consegue dizer quem?
Bom, se eu pudesse sair daqui sem assustar as pessoas, eu até poderia dizer. Retrucou Shikai.
Achei que pudesse detectar de longe, esperava mais de você, Shikai.
Shikai pareceu levemente incomodado com sua fala.
Do lado de fora, os garotos apesar dos comentários assertivos, logo relevaram e buscaram seus respectivos assentos. Se sentando um ao lado do outro. Alguns alunos os analisavam, provavelmente os conheciam. Eram relativamente famosos.
Aproveitando a deixa, Jimin continuou tentando chamar o Básico. Mas permanecia sem sucesso. Com a alegação ousada de Yakkito, logo os alunos começaram a perceber o cheiro também.
Yakkito continuava inalando o ar cada vez mais forte, era notório, suas habilidades de olfato eram excepcionais, talvez até um incomodo num momento como esse. Se aquele cheiro continuasse, ele não iria aguentar muito tempo naquele lugar.
O nervosismo crescia absurdamente em Jimin, Yakkito com seu olfato com certeza saberia de onde o cheiro estaria vindo. Ele não tinha mais tempo.
Era tudo ou nada. Iriam descobrir, todos iriam descobrir. Ninguém nunca mais o veria da mesma forma. Ele seria mais do que um estorvo…
E seus maiores ídolos… o veriam da mesma forma. Na primeira oportunidade que tivesse.
Eu quero me tornar como eles um dia…
O aviso da professora pros novatos, sobre a atividade que estavam fazendo, foi o gatilho necessário que fazia total sentido na cabeça de Jimin, ele não pensou. Se moveu sozinho. Levantou-se de seu assento desastradamente e passou agachado por todas as carteiras indo em direção à Outline.
Jimin não raciocinava, se seria pior, se passaria mais vergonha, se aquilo era rídiculo. Estava completamente consumido pelo medo, vergonha, queria enterrar sua cabeça embaixo do concreto ali mesmo, no lugar mais profundo, onde ninguém pudesse sequer encontrá-lo. Nunca mais.
Mas ele prosseguiu, chegando até eles, correndo o máximo que pôde pra não espalhar o mijo por toda a classe. Se certificou de segurar com suas duas mãos onde estaria sua cueca, pra ter certeza de que não cairia nenhuma gota.
Sentou-se atrás de Brine, e começou a tremer absurdamente, ofegar ansiosamente.
Estava tendo uma crise de ansiedade…?
Que merda.
Sentia calafrios, suava frio, começou a se sentir completamente ameaçado, sentiu seu coração ser esmagado. Tudo que Jimin mais queria naquele momento, era chorar.
Então tocou em Brine que estava a sua frente. Sim, ele havia tocado no seu ídolo com as mãos mijadas, definitivamente não havia pensado nisso. Porém, percebeu algo estranho… quando foi tocar nele, sua mão direita estava… Violeta Básico. Ele tinha conseguido…? Quando?
Brine se assustou abruptamente.
— Que susto!? De onde você veio, garoto?
Os outros dois olharam pra ele. Yakkito com um olhar mais julgador; o cheiro tinha ficado ainda mais forte.
Jimin tentou falar, mas as cordas vocais pareciam não funcionar ao certo, forçou completamente o que podia.
— E-e-e-eu admiro muito vocês, Outline, vocês são meus heróis, os melhores Artistas de Nonlov, eu admiro muito o trabalho de vocês, eu quero ser que nem vocês um dia — disse, numa tacada só, extremamente rápido.
Surpreendentemente conseguia os encará-los nos olhos. Ele nunca perderia a chance de olhar nos olhos de seus maiores ídolos, independente de quanto medo tivesse. Eles exalavam esperança, segurança.
— Eu… eu… eu… eu… eu preciso de ajuda. — prosseguiu.
— Ah. Foi você que mijou nas calças? HAHAHAHAHAHA — Yakkito gargalhara extremamente alto.
Mas algo inusitado estava acontecendo. Jimin percebeu isso desde que começou a falar com a Outline. Ninguém da sala parecia se importar com o que estava acontecendo. Nem sequer parecia estar ouvindo… Nem se incomodavam com cheiro mais… a professora também havia parado de falar com eles. Ele havia demorado tanto assim?
Nagashi gargalhava junto de Yakkito, porém, ao notar a mão violeta do garoto, rapidamente se adiantou:
— O que você tá fazendo? É inimigo?! — Foi barrado por Yakkito com seu braço.
— Inimigos não mijam nas calças, Nagashi. Eles não… HAHAHAHAHAHA — Yakkito começou a bater na mesa. — HAHAHAHA Cara, você tá de sacanagem!! HAHAHAHAHA!
— Yakkito dá uma apagada no seu fogo, não estamos em casa. — apontou Brine sério, olhando ao redor.
Ele também pareceu notar que estranhamente ninguém estava se importando porque estava extremamente intrigado, vendo a reação indiferente de todos ao seu redor, inclusive da professora.
Esse garoto…
Não… Pra ele fazer esse tipo de coisa envolve muita técnica… é extremamente complexo. Pensou Brine olhando pra mão violeta dele.
Mas… tá esquisito demais… Ele… iludiu com o Violeta a sala INTEIRA?
— Eu… — Jimin prosseguiu.
Completamente no fundo do poço, pra forçar as palavras pra fora que não saíam, se esforçou totalmente pra vomitá-las de uma vez:
— EU MIJEI NAS CALÇAS MESMO, TÁ LEGAL?!! VOCÊS PODEM ME AJUDAR, POR FAVOR, EU NÃO QUERO TER QUE SAIR DA SALA, EU TÔ COM TANTO MEDO. AS PESSOAS VÃO DESCOBRIR E VÃO ME ACHAR UM COMPLETO PERDEDOR PRA SEMPRE!!
Não percebendo que gritara alto demais, arregalou os olhos e fechou eles com toda força. Agora não tinha jeito, de fato todos tinham ouvido. Vacilou absurdamente. Acabou. Acabou.
Nada. Nenhum ruído, ou micro risada. Quando abriu os olhos, ninguém tinha esboçado nenhuma reação.
— HAHAHAHA, QUE DOENTE, ELE FALOU PRA SALA INTEIRA!! — Yakkito olhou empolgado ao redor também. — Que.
— Ele usou o Violeta, Yakkito. Ninguém tá vendo isso. — sanou as dúvidas Nagashi.
— Que?! Mas… é completamente… Que?! Dá pra iludir mais de uma pessoa por vez?!
— Pelo que dá pra perceber, sim. Esse garoto simplesmente, iludiu todos de uma vez só, de forma que nem nós percebêssemos. E pelo visto, sem querer.
“E ainda nos colocou como exceção à ilusão.”
Jimin estava completamente incrédulo. Ele tinha feito isso…?
— Eu… eu… eu consigo sair da sala sem que ninguém me perceba?!
— Er… sim…? — afirmou Brine.
Subindo em cima das cadeiras e esbarrando em tudo que estava no caminho, Jimin saiu da sala com toda velocidade.
Os três continuaram encarando a porta.
— Que garoto esquisito…
— Estamos de um frente pra um prodígio, Brine.
Yakkito não conteve suas risadas.
— Um prodígio? HAHAHAHA, SÓ PODE ESTAR DE BRINCADEIRA!
— O que ele fez é considerado impossível pra qualquer Davinci Púrpuro.
“E ele fez sem esforço algum.”
— Que curioso… — complementou Brine. — Isso me faz refletir sobre o verdadeiro potencial das nossas habilidades.
— Pois é.
Com alguns objetos espalhados, todos os alunos se assustaram simultaneamente de repente.
— Que ventania é essa, a essa hora da manhã? — indagou a professora se levantando. — Melhor eu fechar a janela por enquanto.
— Deve ter sido o Mijão Fantasma, professora.
Brine e Nagashi socaram com força a cabeça de Yakkito.