Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 3
Haja o que houver, as trevas nunca se escondem, aparecem de forma tão óbvia que é facilmente ignorada.
As pessoas, de fato, podiam adquirir poderes, os Luminattis provavam isso. O que servia de confirmação pra alimentar o preconceito que tinham contra os Prismais. Comentavam que Prismais eram Spektrais que se alteravam através de um brutal ritual das trevas, a partir de um sacríficio humano.
Mas e os Luminattis?
Aiko não tinha feito ritual algum, pelo menos que ela se lembrasse. Só começou mesmo a perceber os poderes quando tinha 12 anos de idade.
Se eu fosse pelo menos capaz de entrar na mente de Ophid, saberia na hora como eles conseguiam esses poderes.
Uma coisa ela sabia, pra se tornar um Luminatti era necessário uma série de testes específicos. Em geral, isso não explicava muita coisa, porém, ainda fazia sentido. Servia justamente pra escolher pessoas de mente forte o bastante, pra bloquearem o acesso de Púrpuros e Prismais às suas preciosas mentes.
Mas saber que Ophid, ceifava Prismais, era algo que arrepiava sua espinha.
— Você já matou alguns Prismais? — perguntou Aiko, ainda temerosa. A palavra matar usada assim de maneira tão casual referente aos Prismais lhe causava um sentimento terrível.
— Uns 10 ao todo — respondeu em tom sério.
Aiko engoliu em seco. Eram muitas… Pessoas como ela, com vida própria, carreira, sonhos, amigos…
— Foi fácil? Ou eles relutaram?
— Ha, os Antilayons são uma piada. Apenas vivem de discurso, são presas fáceis — desdenhou.
— Prismais da pior espécie — murmurou um garoto na carteira atrás de Ophid. — Uma vez sabotaram completamente a praça da cidade, ridículos.
“O poder deles são só sobre isso, destruição, incomodar, roubar a paz.”
— Como Layon pode ter permitido seres desse nível existirem — opinou também uma garota sentada atrás de Aiko.
— Haha. Pra que a gente se divirta um pouco os humilhando — retrucou sadicamente Ophid olhando pra frente. — Adoro ver seus rostos de desesperança, seus malditos olhos coloridos, quando morrem..
“Eles ainda não sacaram? São a escória da humanidade.”
Todo esse clima instaurado apertou o coração de Aiko profundamente, fazendo-a quase lacrimejar.
De fato… Ela não era ninguém. E nunca iria ser nada. Seu segredo iria ser descoberto cedo ou tarde algum dia, já sabia que iria viver pouco. Fariam vista fina e até mentiriam crimes sobre ela, só para vê-la morta.
Mas algo era incongruente. Estavam passos a frente de qualquer Spektral comum, os Prismais nunca poderiam ser mortos, A não ser pela existência dos Luminattis.
Possuindo todas as 3 Luminacias ao mesmo tempo, sendo uma espécie de Prismal das Luminacias. Enquanto os Prismais continham todas as Crominacias.
Isso faria total sentido, se nascessem com essa força. Porém, eles serem gerados depois do nascimento, sendo completamente antagônicos aos Prismais era ainda mais intrigante. Isso foi criado manualmente por seres humanos, pra resistir aos Prismais?
Isso abriria margem pra tornar possível criar outros tipos de poderes. É assim que Mystikos surgem?
Os poderes Luminattis serem opostos aos poderes Prismais, significaria ele ter o surgimento contrário? E esse poder não ser gerado de berço e sim ser gerado após seu nascimento?
Isso faria apenas Spektrais específicos, já predispostos ao poder, consegui-lo?
Que curioso…, uma pulga enorme atrás da orelha crescera em Aiko.
Como sequer produziam esses poderes?
Aiko percebeu uma oportunidade, estava de frente pra um Luminatti, finalmente. Poderia perguntar tudo que quisesse. Era perfeito.
— Como… vocês adquirem esses poderes?
Um barulho de sino ensurdecedor começou a tocar. Era intervalo.
Droga.
— Se torne uma. E saberá. — sintetizou Ophid.
Ele se levantou e foi em direção ao amontoado de alunos competindo pra sair da sala. Aiko permaneceu sentada, esperando que todos se retirassem.
É, definitivamente nunca vou saber.
Pelo jeito não haveria nenhum Prismal na sala, com esse cara no caminho. Quer dizer; com ela sendo a exceção.
Nunca havia encontrado alguém como ela em toda a sua vida. Até pensou em conhecer grupos de Antilayons de Nonlov, mas eles eram radicais demais, traziam a mesma carga pesada que todo o mundo trazia o tempo todo.
Além de que, estando na presença deles, revelaria a todos ao seu redor que era uma Prismal, seria com toda certeza taxada como uma, e isso ela não queria.
Após um suspiro profundo, depois de refletir, começou a descer as escadas até o andar de baixo, no refeitório.
Haviam várias mesas retangulares, distantes uma da outra. No final do salão encontrava-se uma grande entrada pro pátio, ao ar livre, ocupada por vários estudantes de diversas idades. O refeitório não estava tão cheio, mas ainda assim era bastante movimentado.
Aiko contemplou o local enquanto olhava a fila pra merenda. As comidas pareciam apetitosas, e o cheiro fazia sua barriga roncar de forma brutal. Parou um tempo, observando as bandejas de alimentos; não estava acostumada com comida de graça.
Achava que as comidas não seriam tão boas, então levara consigo uma marmita deliciosa, preparada por sua mãe.
Amanhã eu experimento a merenda, pensou Aiko meio relutante, trazendo lentamente seu olhar novamente para as mesas.
Procurou por rostos conhecidos da sala nas diversas mesas, pra tentar se enturmar. Quando avistou Ophid. Com seus vastos amigos.
Vastas pessoas, na verdade. Não era possível ter tantos amigos assim, eram inúmeros, ele parecia uma celebridade. Os alunos perguntavam inúmeras coisas a ele; várias piadas internas eram jogadas no ar. Pareciam estar falando em línguas completamente fora da realidade.
Optou em não ir até lá, ser apenas mais uma. Em vez disso, se sentou numa mesa aparentemente vazia perto dali, onde começou a comer sozinha. Nela ainda tinha visão da cheia mesa de Ophid. Propositalmente, queria observá-lo, de longe.
O barulho era notório, haviam mais de 10 pessoas na mesa. Não existiam cadeiras suficientes que suportassem todas aquelas pessoas. Ophid estava de saco cheio. Só queria comer em paz. Contudo, um pirralho repentinamente se aproximou dele.
Era o mesmo pirralho de sempre. E dessa vez, tinha vindo com companhia.
— Ophid, Ophid! Faz aquilo de novo, por favor!!! — clamava empolgado, como se ele fosse uma divindade.
E realmente era. Não no nível que esperara, mas era divino. De certa maneira, odiava ter um dom único. Isso trazia consigo uma fama detestável.
Tinha percebido os olhares contínuos da garota novata. Isso sempre se repetiu. Todas as vezes, todos os anos. Mais uma que se apaixonaria loucamente por ele.
Impaciente com tudo isso, Ophid se pôs de pé.
— Okay… Okay… Só dessa vez!
Ophid respirou fundo, tentando se conectar ao poder. E olhando fixamente pro garoto…
Um poder abruptamente assustador invadiu todo o salão. A adrenalina de Aiko subiu instintivamente, ela queria correr. Do corpo de Ophid pequenas tiras grossas vermelhas dançavam ao seu redor. Como fumaças espessas, lisas.
E naquele momento. Naquele exato instante. Sua presença pareceu ser a única que importava no mundo inteiro.
Era um leão feroz… Não, uma víbora extremamente venenosa, prestes a estraçalhar sua presa a qualquer deslize. E tornar sua morte lenta e dolorosa.
Sentiu como se estivesse de frente pro seu pior medo. O medo mais aterrorizante dentre seus pesadelos mais profundos.
Pavor.
Uma energia tão absurdamente tremenda que todos ao redor também sentiram. Simultaneamente.
V-Violeta?, refletiu Aiko, em total choque. Não… Todos também estão sentindo.
Ele não é um Púrpuro… muito menos um Prismal…
Ele fez isso com a própria presença?
Aquilo era real? Aquelas partículas eram de verdade? Aiko se perguntara se não estava enlouquecendo.
Aiko permaneceu atônita, nunca tinha visto aquilo em toda sua vida. A cor vermelha não existia como cromacia; nem Crominacia, nem Luminacia. O que era aquilo?
O que é esse cara, afinal?