Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 4
Inegavelmente, por outro lado, a luz parece se esconder. Só sendo achada por aqueles que a buscam.
Se a luz e as trevas se invertessem, as trevas certamente sucumbiriam;
Qual dos lados possui o poder maior?
O mais alimentado.
As Luminacias até que eram fáceis de aprender, o complicado mesmo era usá-los em combate. Especialmente quando o Prismal era habilidoso, e quanto mais criativo, mais perigoso. Contudo, o que estavam perseguindo não era bem criativo, era bem tolo na verdade: um Antilayon.
Um grupo de Prismais revolucionários que atacam em grupo. Se manifestam destruindo monumentos importantes da cidade, queimando Layonarts e até no pior dos casos… matando Layans.
Idiotas, pensou Ophid.
Mas isso, de certa forma, o movia a transformar suas mortes em algo mais cruel e lento.
Com auxílio de suas asas negras, ele e seu companheiro de equipe voavam, em conjunto, como anjos. Elas flamejavam como fogo, deixando rastros sombrios.
Vestiam um manto totalmente preto, que contrastava de forma magistral com suas pretas asas angelicais.
O Preto até que era bem útil. Já faziam 5 anos desde que ganhara os poderes, já tinha suas habilidades favoritas. E voar era uma delas.
Mergulhavam a toda velocidade, estavam quase se aproximando do alvo. Que também estava voando… Mas não exatamente.
Os Prismais eram irritantes até na forma de poder. Usar água como forma de locomoção áerea? Você tá de brincadeira. Eles ficavam dentro de uma, aparentemente, capsula d’água, que os faziam capazes de nadar no ar.
Nadar não seria a palavra certa pra definir, mais pareciam ter sido lançados por foguetes; eles cortavam o ar. Uma habilidade rídicula mas funcional.
Porém, não podiam respirar debaixo d’água, então uma hora teriam que desativá-lo pra respirar. E por mais que pudessem voltar em seguida, os estoques de Azul iriam acabar em determinado momento.
E nessa hora pegariam ele. Mas isso não seria necessário, Ophid já estava o alcançando. Estava na frente, como sempre. Sempre se movia mais rápido do que qualquer um.
Daquela distância, apostou usar o Cinza, criando uma corrente de metal maciço de sua mão, que quase instantaneamente, numa velocidade absurda, alcançou o alvo. Acorrentando-o firmemente.
O Antilayon continuou a voar relutando contra as correntes, e Ophid começou a ser lentamente puxado. Só bastava segurá-lo por alguns segundos, ele não aguentaria respirar por tanto tempo.
Ophid jazia quase parado no ar, com suas asas queimando o vento, enquanto segurava e puxava o Prismal, que parecia nem se mexer.
Ambos usavam toda a sua força, de forma contrária. O atrito era notório, os dois consumidos em expressões de esforço intenso.
E o Prismal usando o máximo de força que pôde… Quase perdendo sua respiração…
Começou a ver sua vida passar diante dos seus olhos, como flashs. Ele estava morto. Assim que desativasse seu poder.
Era verdade, era impossível mudar esse mundo. Mas Hazar nunca acreditara, achava que poderia. Falava pra sua mãe que iria conseguir, viraria esse mundo de cabeça pra baixo.
Os Prismais teriam o seu lugar por direito. Tinha poder pra fazer isso acontecer, seu maior sonho era fazer com todos tivessem orgulho do que eram.
Mostrar que a Layonart estava errada, ela mentia. Os Luminattis eram as trevas. Os Luminattis eram a escuridão. Eles que ganhavam os poderes… Eles que escolhiam.
Nesse momento, quase desativando o seu poder… Hazar observou seu pai, o espancando diversas vezes. Como sempre fizera, desde o começo de sua vida.
Aberração!, gritava.
Você não é meu filho!
Hazar queria viver o suficiente pra provar que seu pai que estava errado. Mas quem dera pudesse viver como qualquer um outro.
Hazar queria sentir.
Pelo menos uma vez, como era viver como alguém normal. Afinal, ele nunca pediu por isso. Nem nos seus maiores pesadelos.
Mas já vivia em um. E iria morrer nele.
De chofre, voltara pra realidade, dando o seu último dash d’água, de forma poderosa. Ophid ainda o segurando, transformou seus pés em metais pesados.
Suas asas desapareceram, e ele começou a cair em alta velocidade até o chão, no meio da estrada deserta. Caindo com tudo, rachando o concreto. A intensidade da aterrissagem abrupta puxou Hazar com tudo.
Com o poder d’ água desativado bem na hora, fora puxado com força em direção ao chão. E como se não fosse o bastante, Ophid brandiu as correntes, fazendo ele cair com uma força ainda maior.
A estrada explodiu, a medida que o companheiro de Ophid chegava, atrasado.
Ophid soltou a corrente, que se dispersou, indo de encontro ao acorrentado, deixando-a apenas envolta de seu corpo indefeso. O apertando ainda mais.
Pela potência em que caira, Hazar estava quase incapacitado. Nem tentava se soltar das amarras, por mais que não pudesse de qualquer maneira.
Ophid gargalhava.
— Poxa… nem pra me deixar mais forte?
“Era de se esperar. Seu tipinho sempre ladra, mas nunca morde.”
Ophid em direção a ele, agachou-se e segurou sua cabeça pelo cabelo, como uma cabeça recém-decapitada. O pondo sentado.
— Agora tá na hora de eu retribuir o soco que você me deu mais cedo. Qual cor que você usou, mesmo?
Ophid soltou sua cabeça e averiguou as linhas de cores de Hazar, como se estivesse escolhendo. Passou os olhos nas linhas de tinta despadronizadas; laranja, amarela, verde, azul e violeta.
Hazar aquele ponto havia desistido. Iria morrer sozinho. Sem orgulho de seu pai, nem de sua mãe, nem de seu irmão. Longe de todos.
Talvez assim fosse melhor.
— Ophid, sem brincadeira, vamos eliminá-lo agora mesmo — repreendeu o outro Luminatti que se aproximou.
Era parrudo, tinha tons de pele escura e usava um cabelo curto, estilo soldado.
— Não, Thomas. Não sejamos idiotas, ele quase queimou uma escola! Ele terá o que merece — argumentou Ophid, ainda escolhendo a cor no braço do Antilayon.
— Você que manda… — disse Thomas, de forma tranquila.
Então, com suas asas batendo agressivamente, recomeçou a voar, indo na direção contrária.
Enquanto isso, Ophid pareceu se decidir.
— Amarelo não foi?
Olhou para Hazar em resposta, mas ele estava tão atordoado que seus olhos flutuavam. Estava quase morto, antes mesmo que Ophid o torturasse. Foi quando a pupila dos olhos de Ophid desapareceram, e sua íris se tornou completamente branca, tão branca que suas escleras pareciam cinzas.
O Antilayon ergueu levemente sua sobrancelha.
Ãhn…?, intrigou-se Hazar, Esse garoto… possui o Blecaute?
Merda… Vai tentar roubar meus poderes?
Mas… ele só poderia roubar se me visse usando agora um deles.
Ah… provavelmente vai ordenar que eu use. Só pra me torturar da pior forma…
Ophid se mantém sério, olhando fixamente pra cor amarela.
Por vários minutos.
…
Hazar, mesmo atordoado, não pôde conter o riso.
— Novato…? — debochou, com a voz áspera e trêmula.
Era o seu ultimato, precisava fechar sua vida com chave de ouro. Pra si mesmo. Como sua última e única conquista.
— Era melhor ter deixado seu amigo mais experiente cuidar de mim… — continuou com sua voz estava quase rouca.
Estava se esforçando além da conta pra continuar falando naquele estado.
— Cala. A porra. Da boca.
E tiras de coloração carmesim começaram a circundar Ophid. O Antilayon estremeceu, tinha percebido, era ele. Estava de frente pro Reencarnado.
Ophid continuava olhando pra cor amarela atentamente, como se a estudasse. E lentamente a grossa linha amarela nos braços de Hazar começou a desvanecer, se tornando um cinza claro. O amarelo fora roubado.
Os olhos de Ophid instantaneamente voltaram ao normal.
E com uma expressão de ódio, ele ergueu seu braço, e faíscas amarelas começaram a surgir dele, uma eletricidade de alta potência.
Hazar quase engasgando de medo, reuniu toda coragem que ainda restava de dentro de seu cerne, pra fazer sua última pergunta:
— Você é a… reencarnação de Magnus…?
Ophid ainda carregando a carga, assentiu lentamente. Hazar tossia sangue, enquanto Ophid o encarava de forma fria.
— Se ainda lhe resta alguma humanidade… poderia me responder uma última coisa?
Hazar tinha olhos marejados, seu rosto exalava arrependimento. Dor. Era o momento. Finalmente receberia a resposta, da questão que sempre refletiu durante toda a sua vida.
— Deus… odeia os Prismais…?
O silêncio ecoou.
As ruas estavam tão silenciosas que os ventos eram ouvidos claramente, como assobios gélidos. As altas voltagens do braço de Ophid, por outro lado, gritavam.
A expressão fria de Ophid fora quebrada. Ergueu levemente as sobrancelhas, surpreso.
Não esperara esse tipo de pergunta, num momento como esse. Ainda segurando toda a carga elétrica intensa em seus braços, apenas respondeu…
— Sim.
Hazar levou um tempo pra discernir a resposta. Olhou para baixo, pensativo. Lágrimas começaram a cair, como cachoeiras silenciosas.
Fechou seus olhos. E sutilmente sorriu.
Percebendo a deixa, Ophid aproximou lentamente sua mão energizada em seu rosto. Eletrocutando-o brutalmente, numa explosão de volts amarelos.
Hazar não gemia, porém, seu rosto continha uma expressão de agonia. Sentiu a pior dor que sentira em toda sua vida. E ela não foi rápida.
Porque Ophid repetiu esse processo. Várias. E várias. Vezes.