Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 6
É curioso como os inimigos, forçados por suas ações e desejos, se transformam em engrenagens silenciosas. O impulsionando para frente, como o vento que guia um barco.
Esse movimento é um benefício ou uma maldição?
É algo que só você pode decidir.
Aiko arqueou na hora, segurando firmemente sua marmita, pra não ser atingida pelos dois. Logo, se levantou indo pra longe da mesa, onde a briga se dividia. Todos os alunos do refeitório assistiam comendo, alguns mais empolgados que outros; o embate entre os dois era um espetáculo habitual.
Ophid e Mitchel se entreolhavam de lados opostos da mesa. Ophid com seu exército, e Mitchel completamente sozinho.
Ele é maluco, percebeu Aiko.
Definitivamente ele não podia vencer. Se não conseguia vencer Ophid, quem dirá agora, em completa desvantagem.
— Você não vai sair vivo dessa vez, Mitchel — ameaçou Ophid, com raiva.
Envolvendo seu corpo, tiras escarlates apareceram; sua presença aterrorizante retornara. Contudo, Mitchel continuava o encarando, como se aquilo não fosse nada. Um silêncio enorme percorreu todo o salão.
Aiko observava Mitchel com certo receio.
O medo faz com que sua mente fique vulnerável…
Essa informação era novidade. Isso significava que poderia ler a mente de Mitchel agora. Então, com o olhar preso em Mitchel, manipulou o Violeta.
(…)
Nada.
Aiko franziu o cenho.
Ele… Ele não tá com medo?
O silêncio fora quebrado, Ophid estendeu sua mão criando correntes serpentinas em cima de Mitchel. Num estalo, raios amarelos surgiram das mãos de Mitchel, indo de encontro as correntes.
Ophid soltou-as instantaneamente, numa velocidade impressionante, para que os raios não chegassem até ele por meio delas. Mas antes que Ophid pudesse soltá-las, espinhos de gelo voavam ao seu encontro.
De súbito, as mãos de Ophid se tornaram sombrias e enormes, empurrando o chão impulsionando-o para cima, saltando as agulhas de gelo e atravessando a mesa que dividia os dois. Com o trajeto de suas mãos sombrias deixando rastros como fogo.
Enquanto descia, usou as mesmas mãos gigantes fechadas para esmagar Mitchel de cima pra baixo.
Que esquivou, usando um dash d’água. Ficara envolto, num pequeno instante, em uma cápsula d’água, se lançando para trás, enquanto Ophid destruía o chão. No entanto, não houve tanta destruição quanto deveria, o chão era extremamente reforçado.
Mitchel molhado da cabeça aos pés, magicamente se secou, gerando vapor ao seu redor como uma churrasqueira ambulante. Isso sem sequer se mexer; estava concentrado.
— Você gosta de dar trabalho aos vulpines, hein, Ophid? — ironizou Mitchel, em posição de combate. Em seguida, analisou o cenário.
A gangue do Luminatti estava receosa, ainda parada observando os dois frente a frente. Eles cochichavam uns para os outros, sérios. Já Ophid, encarava Mitchel com ódio.
As grandes fitas escarlates reapareceram, juntamente de grossos metais pontiagudos que emergiram do seu braço indo em direção ao Prismal.
— Você não cansa de querer me matar, né?! — brincou Mitchel, sorrindo.
A mão de Mitchel ferveu, e queimou absurdamente, se moldando em formato de lâmina. À medida que os metais se aproximavam, cortava-os como uma espada afiada.
No entanto, a velocidade aumentava cada vez mais, o que fez rapidamente Mitchel recuar.
Seu estoque uma hora vai acabar, pensou Aiko atenta a situação, ele não pode arriscar continuar isso…
Houve um movimento sútil no canto de seu olho; os colegas de Ophid começaram a se dividir pra pegar Mitchel de surpresa.
Ele precisa de ajuda… Droga.
Não podia fazer nada, não queria acabar sendo inimiga deles, era perigoso demais. Poderia gerar o poder longe de si pra ninguém ficar sabendo, porém, exigia um manuseio abismal pra acertar o timing e o local exato, estava além do seu nível atual.
Havia um certo risco do poder ser gerado perto demais e acabar denunciando sua participação.
Em contrapartida, Ophid e Mitchel trocavam porradas velozes, com suas fitas vermelhas se tornavam cada vez mais intensas. Mitchel agia na defensiva, mais desviava do que atacava.
E de repente, apareceram outras duas pessoas, indo em lados opostos pra atacar Mitchel, em conjunto. Ele usou o dash d’água, porém; dessa vez pra cima. Os dois se socaram simultaneamente. Ophid não perdeu tempo, abriu suas asas negras avermelhadas, com seu poder, e foi em direção de Mitchel antes que ele retornasse ao chão.
Voou com toda sua força, se chocando com Mitchel no ar, o forçando contra a parede do refeitório. Mas antes que pudesse chegar até a parede, o Prismal tocou suas asas, e com o Laranja acionou fogo o mais rápido que pôde.
Imediatamente as asas de Ophid queimaram e desapareceram, o fazendo cair junto de Mitchel que o chutou com toda força, no estômago, o arremessando pro outro lado do refeitório.
Ophid caiu sobre uma mesa com alguns alunos, enquanto Mitchel caiu no chão, logo se erguendo numa pirueta.
Outras 3 pessoas, colegas de Ophid, apareceram ao redor de Mitchel. Agachou-se chutando todos rapidamente. Quando logo percebeu, Ophid descendo com um soco de cima pra baixo, quase esmagando seu crânio.
Esquivou-se no último milésimo, usando mais uma vez o dash d’água. Ophid estava furioso, indo em sua direção sem hesitar, trocando socos novamente. Cego pelo ódio, socou com toda força vapor. Mitchel criara repentinamente uma cortina de fumaça.
Ophid olhou para todos os lados em busca de seu paradeiro. Recuou saindo de perto da cortina, usou inúmeras correntes, com auras vermelhas hostis, saindo de seu braço balançando-as para dispersar a fumaça. Quando foi surpreendido com Mitchel vindo de cima.
Voou para cima depois da cortina de fumaça?!
No instante em que Mitchel iria socá-lo, Ophid se inclinou, usando as mesmas correntes para capturá-lo por trás. Acorrentado, Ophid o girou no ar e esmagou Mitchel contra o piso em fúria.
Depois de ser afundado ao chão, Ophid parecia aguardar algo, não fez nenhuma ação repentina. Permaneceu imóvel por um tempo antes de satirizar:
— Seu raio acabou? Hahaha!
Agora mais confiante, puxou as correntes com toda a força, tirando Mitchel do concreto o trazendo em sua direção. Revestindo seu punho com ainda mais aço, o socou em cheio, fazendo vidros se estilhaçarem pra todos os lados. O óculos de Mitchel fora estraçalhado, junto com sua cara.
Ophid continuou desferindo uma série de socos incansáveis, intermináveis. E a cada soco, Aiko presenciava a confirmação do que pensava.
Por que…? Por que, Mitchel?
POR QUE NÃO ESCONDER, MITCHEL? PRA SE TORNAR FORTE O BASTANTE?
Que piada.
Vamos todos sofrer, até estarmos mortos.
Pensava enquanto via Mitchel ser surrado inúmeras vezes. Até Ophid finalmente reabsorver as correntes, deixando Mitchel caído no chão.
Agachando para olhá-lo mais de perto, sussurrou:
— Aproveite enquanto pode, Mit… Um dia, eu vou matar você.
“Custe o que custar.”
De baixo, Mitchel o fitou com seus olhos entreabertos surrados. Observou a expressão bizarra de Ophid, o olhar que não mentia, olhos de um predador.
Com a voz enfraquecida, fez força ao falar:
— Só por cima do meu cadáver.
Ophid, estranhamente, sorriu. Levantou-se, e foi embora do refeitório, acompanhado de sua gangue que o seguiu passando por Mitchel, como se ele não fosse nada.
Após um tempo, Aiko se aproximou do corpo caído de Mitchel. Ele não chorava, nem gemia; não demonstrava expressão alguma. Todavia, seu estado era grave, seus olhos sangravam, haviam fiapos de vidros enfincados em vários lados de seu rosto.
Vendo sua situação com agonia, estendeu a mão para levantá-lo. Mitchel sorria, com os olhos entreabertos, completamente arregaçados e arranhados.
— Por que continua o provocando? — perguntou sem entender, ainda aflita.
Mitchel só podia ter algum problema, por que alguém faria tudo isso, o tempo inteiro?
— Eu preciso ser forte o bastante — sibilou.
— Você vai morrer desse jeito.
— Eles não podem me matar, Aiko — retrucou, enquanto andava apoiado nela. — Não enquanto eu não fizer algo contra a lei.
— Mas e quanto ao seu estado? Não sei como é capaz de enxergar ainda.
— Eu não tô — respondeu casualmente.
“Mas relaxa, eu cuido disso. Tenho estoque de Verde suficiente.”
Gradativamente, seu rosto voltava ao normal. Alguns cacos enfincados caíam com a regeneração.
— Então, por isso não usou o Verde na batalha?
— Também. Não queria que ele roubasse o Verde, senão eu estaria ainda mais ferrado.
Ainda mancando um pouco, se sentou na mesa onde estavam.
“O pior foi que ele fez isso uma vez. Tive que blefar que conseguia ler a mente dele pra ele roubar o violeta, ou eu não seria capaz de me curar.”
— Ele não sabe que…
— Não. Nossa maior sorte é ele não ser um Prismal. Ele não faz ideia de como funciona.
Aiko começou a refletir. De fato, era uma brecha da qual poderiam usar pra escapar das garras de Ophid.
— Falando nisso, nunca tinha conversado com nenhum Prismal antes… Eu nunca soube ao certo, você sabe quanto tempo leva pra que o Verde Claro não funcione mais numa ferida?
— Isso eu também não sei exatamente. Mas quem dera elas ainda funcionassem independente de quanto tempo tenha passado, isso mudaria completamente minhas estratégias.
“Eu aguentaria a dor, uma hora eu curaria, né?”
Aiko assentiu, olhando para os lados, ainda processando todo o confronto.
— O Ophid é extremamente perigoso, Aiko — comentou Mitchel, com seus olhos completamente sarados.
— É, eu… eu notei.
O desejo de se tornar melhor que Ophid se esvaía, cada vez que a realidade batia na porta.
— Não só isso… Você percebeu? Naquele momento em que ele me acorrentou.
— O que quê tem?
— Por sorte, ele também parece não entender seu poder por completo… mas sempre que ele usa o vermelho com as correntes… ele…
Parecia falar pra si mesmo, tentando entender exatamente como acontecia.
— O que?
Mitchel levantou seu braço direito, e algumas faíscas amarelas foram emitidas dele. Aiko atentou-se pra tentar entender o que ele queria dizer.
— Amarelo…? Você ainda tinha Amarelo?! Por que não usou nas corrent…
— Porque ele neutraliza todos os meus poderes.
— Que?!
— Ele não sabe disso ainda, mas um dia ele vai saber, e quando ele souber… será uma ameaça colossal. Imagina o estrago que ele consegue fazer usando isso da melhor forma?
“Vai ser uma questão de tempo até ele achar uma brecha pra me eliminar com alguma desculpa, quando ninguém estiver olhando.
“Como acontece com a maioria dos Prismais…
“Sempre andei acompanhado por causa disso, mas, um dia ele vai me pegar desprevenido.
“E eu treino todos os dias pra que quando esse dia chegar, eu saía vivo.”
Aiko o encarou por alguns minutos, incrédula.
— Entendeu porque os novatos sempre dizem que serão melhores do que ele, mas nunca conseguem? — prosseguiu, de forma deprimente.
Ela olhou para trás, vendo Ophid de longe, rindo com seu grupo.
Eu vou ser melhor que ele…? Um ser divino que tem poderes de neutralizar qualquer Prismal, tornando-o inútil?
Isso é loucura.
Ainda avistava Ophid quando um gato preto humanóide repentinamente aparecera. Andava em passos lentos e calmos, vestia roupas comuns, e usava um óculos. Os estudantes continuavam conversando, o olhando casualmente.
O vulpine estendeu sua mão para os locais rachados, fazendo todos eles voltarem ao normal, como se regredissem no tempo. Voltando ao passado.
Depois disso, caminhou até Mitchel, consertando seu óculos, usando a mesma habilidade. E os cacos caídos como imãs voltaram à haste, fazendo ele novo em folha.
— Valeu, Night — agradeceu Mitchel.
O felino encarou Mitchel, com um olhar sério.
— Você é um idiota, Mit. — Com um tom fino engraçado. Virando-se tranquilamente, retornou de onde havia vindo.
Esse pequeno tempo fez Aiko refletir profundamente no silêncio de seus próprios pensamentos.
— Mitchel…
Ela permaneceu sustentando o olhar, havia uma certa mudança neles.
Mitchel surpreso a encarou sem responder.
“Avisa sua avô.
“Eu irei treinar também.
“Eu… vou ser a primeira pessoa melhor que o Ophid.”