Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 8
Milagres impossíveis acontecem… A vida realmente é uma caixa de surpresas, onde tudo pode ocorrer. Por isso nunca podemos deixar de tentar. E tentar mais uma vez
Afinal, melhor morrer com certezas, do que arrependimentos do que poderia ter sido.
O sino tinha tocado, era hora de retornar a aula. Em resposta, vários alunos começaram a se levantar, criando ruídos de metais arrastando no chão e sapatos agitados, misturado com burburinhos alheios.
— Tá fechado então — firmou Mitchel. — Irei avisá-la, ela adoraria treinar você.
Eles apertaram suas mãos.
— Você já escolheu uma equipe pra Maestria? — perguntou Aiko. O toque a despertara para assuntos escolares.
Mitchel inclinou a cabeça.
— Como assim escolhi?
— Escolheu o quarteto. Pra Maestria Tática — clareou.
Ele estreitou os olhos, parecendo ainda mais confuso. Passou um tempo antes de responder, curioso:
— Que escola você estudava?
— Hum? Por que? — Aiko fora surpreendida, pensou ter sido a mais clara possível.
— A gente não escolhe a equipe. Isso não faz sentido nenhum.
“A matéria é justamente pra criarmos uma sinergia de grupo do zero, e não, usarmos uma que já existe.”
Aiko engolindo em seco, paralisou. Isso era pior do que imaginava. Quartetos sorteados? Isso vai ser um caos absoluto.
— Então… é completamente aleatório?
— Yep.
Ela permaneceu olhando pra ele, incrédula. Como se ainda esperasse ele terminar de contar que era uma piada.
— Relaxa. As pessoas aqui são fortes, você vai se dar super bem com eles — prosseguiu.
— Não é isso… Mas… e se eu cair com o…
— Impossível. — interveio, sabendo exatamente aonde ela iria chegar. — Fica tranquila, você não é tão azarada assim.
“É mais fácil você cair comigo do que com o Ophid.”
Levantou-se depois da sua fala, como uma forma de encerrar o assunto por ali. Mas principalmente porque o salão estava começando a esvaziar. Aiko o acompanhou.
Mitchel já estava completamente recuperado, andava tranquilamente com as mãos nos bolsos. Nem parecia ter sido esmurrado quase até a morte.
Caminhando até a escada, em meio a alguns alunos dispersos, uma garota se aproximou deles sutilmente.
Tinha um cabelo curto rosa, com raízes naturais crescendo, o que criava uma mescla de tons preto e rosa.
— Ow, ow, Mitchel. A luta foi demais! Mas me explica como você fez o lance do vapor! Sempre que eu uso o dash d’água fico extremamente encharcada, tenho que levar uma toalha comigo o tempo todo, é um saco.
A conversa era normal, mas havia algo incongruente. A menina usava uma faixa de cor violeta no pescoço. Seu spektri era violeta, por que ela estava falando sobre poderes d’água?
Aiko tentando conectar os pontos olhou para o braço da garota, contudo, apesar de estar a mostra, não havia nada.
— Claro.— respondeu Mitchel prontamente. — É só usar o Laranja Escuro, ele gera calor, dá pra esquentar todo seu corpo.
Laranja Escuro? Outro spektri? O que está acontecendo aqui?
Aiko já sabia a resposta, mas ainda assim… Estava relutando a crer.
— Ah, é óbvio — disse a garota, se martirizando de não ter sacado isso de primeira. — Mas, que droga, eu tenho dificuldade em matizar o laranja pro escuro.
“E eu nem ligava tanto assim pra isso, porque, convenhamos, é um spektri meio inútil.
“Mas valeu, Mit, vou treinar isso.”
Todas as teorias se concretizaram, Aiko tinha certeza, mas isso encucou sua cabeça, mais do que deveria.
— Mas lembrando — Mitchel retomou —, só usei isso pra não gastar o estoque Azul, a forma tradicional é reabsorver a própria água com ele — acrescentou Mitchel.
— Ooooooh. Faz sentido. Inclusive, eu nunca achei sentido nisso, por que reabsorver a própria energia não faria ela ser reabastecida? Porque ela gasta ao invés de se renovar??
— Talvez porque criaria energia infinita, e…
— Não existe energia infinita — completou, como se Mitchel fizesse isso o tempo todo. — É, eu sei.
“Mas ei, como você sabe sobre essas coisas das cromacias? Onde você aprendeu?”
Mitchel abrira a boca pra responder, mas logo hesitou.
— Segredo. Minha vida já é arriscada demais, não quero torná-la ainda mais mortífera. Sabe como é, né?
Ela aparentou estar levemente frustrada com a resposta.
— Bem… você é bem maluco pra revelar seus poderes, poderia ser doido o bastante pra revelar esse segredo, hein.
Mitchel deu uma risada. A menina olhou para Aiko em seguida, como se não a tivesse visto.
— Ah, oii!! Prazer, Verônica, seja muito bem-vinda. — Estendeu a mão.
— Obrigada. — Aiko sorriu.
Depois de se cumprimentarem, a garota ficou para trás, conversando com outras amigas. Aiko e Mitchel continuaram subindo a enorme escadaria até a sala.
— Você não disse que não tinha amigos? — perguntou Aiko.
— Não tenho. Foi a primeira vez que ela falou comigo.
— E como ela sabia seu nome?
— Ela é da mesma sala que a gente. Não notou?
De degrau, em degrau, Aiko remoía algo que a importunava.
— Achei que não tinha muitos Prismais aqui.
— Haha, sério? Não é só você que esconde seu poder, isso é algo bem comum.
“Prismais não são tão super raros assim.”
Aiko continuava pensativa. Olhou para os alunos, de diversas idades, a sua frente, e depois olhou para seu braço de canto de olho.
Então… talvez existam mais pessoas como eu aqui. Escondidas.
Na verdade, talvez tenha se deparado com inúmeros Prismais, mas sequer soubera durante todo esse tempo. Se sentiu tola. Entretanto, esse sentimento momentaneamente foi quebrado após Mitchel recomeçar a falar:
— Falando em poderes, a aula de agora é de Maestria Tática, sabia?
— Que?! — Virou seu rosto de súbito. —Mas já?! Eu… Eu nem conheço ninguém ainda.
— Esse é o intuito.
Mitchel abriu a porta. Revelando a classe com todos já sentados, conversando. O professor ainda não havia chegado. Indo em direção aos seus assentos, Mitchel e Aiko se separaram, sentavam em lugares distantes. Ophid estava na sua mesma cadeira de sempre, olhando atentamente para todos os alunos, de forma fria.
Imaginava cenários, prevendo como seria cair com cada pessoa da classe, e como transformaria na melhor equipe possível. Obviamente o pior dos casos, seria cair com o Mitchel. Em todas suas deduções e previsões, essa era a única possibilidade da qual ele não poderia aperfeiçoar a equipe. Apesar de Mitchel ser um combatente excepcional, agir sinergicamente com ele seria impossível.
Porém, até hoje tudo ocorreu bem, nunca caíra com ele. O que era algo péssimo, afinal, quanto mais tempo demorava pra isso acontecer, maior a chance de cair na equipe dele.
Mas a sorte (azar) não é uma ciência exata, o que deixava Ophid despreocupado. Seus olhos acompanharam a porta que foi aberta mais uma vez.
Um Feluman laranja entrara, tinha olhos verdes que preenchiam todo seu globo ocular, com pupilas circulares negras. Usava um bigode espesso castanho, e tinha um certo estilo inexplicável com seu smoking azul, enquanto fumava um cachimbo exótico.
Explicara um pouco sobre si, também explicou como a aula de Maestria era importante para o bom desenvolvimento de uma sociedade, por mais tempo do que deveria. Seu nome era Smith.
— Seguindo em frente, chegou a hora mais importante, que determinará o ritmo das nossas próximas aulas.
“Para o mundo continuar se movendo precisamos nos unir, mesmo com nossas diferenças, precisamos de um time, de um grupo.
“Podemos ir mais rápido sozinhos, mas apenas em grupo, podemos ir mais longe.”
Todos na sala estavam apreensivos, dava pra sentir no olhar de cada um deles.
— Seus nomes matriculados serão embaralhados, e sorteados. E um ponto crucial; a equipe decidida é inalterável, sob qualquer hipótese.
“Se alguém da equipe faltar, você ficará com menos um.
“Se alguém da equipe sair da escola, você ficará com menos um.
“Se alguém da equipe morrer, você ficará com menos um.
“Mas enquanto ainda restar um, a equipe ainda existirá.”
Isso é mais rígido do que eu imaginava. Pensou Aiko receosa.
— Por isso, protejam e cuidem de suas equipes a qualquer custo, criem sinergia, isso definirá a aprovação de vocês na Maestria Tática.
“Sem mais delongas.”
Smith puxou um globo de vidro, com vários papéis escritos.
Foi retirando cada um, e falando em voz alta, seu nome. Alguns vibravam, comemorando; outros trocavam olhares determinados. E a cada nome dito, o coração da Aiko acelerava cada vez mais. O nome de Ophid ainda não tinha sido dito.
Passando vários minutos, seu coração disparou de vez, seu nome finalmente fora mencionado.
— Aiko Tamada.
As patinhas que buscavam o próximo papel, pareciam mexer em câmera lenta. Smith circulava sua mão no globo meticulosamente. Como só haviam alguns papéis, dava a impressão de que fugiam como animais implorando por suas vidas.
— Lestrad Montclair.
Smith olhou para uma aluna, absurdamente atraente, centrada, tinha tons chocolate, usava trançado bem característico e possuia olhos cor de mel.
Argolas douradas dançavam em sua orelha, a medida que se mexia olhando em direção a Aiko.
O Feluman retomou, colocando a mão em busca de mais um papel.
— Mitchel Hammer.
Qual… a chance? Aiko empertigou-se.
Mitchel, por sua vez, deu uma piscadela pra Aiko de longe, e ela leu seus lábios que dizia: — Eu não falei?
— E… — Smith retirava o próximo papel. Esse especificamente pareceu durar uma eternidade. Ele estava no meio daqueles papéis, mas ela não poderia cair com ele.
Sob nenhuma hipótese.
Ela não poderia cair com o…
— Ophid Ekans — concluiu o professor.
Aiko e Mitchel instantaneamente se entreolharam com desespero no olhar.
Impossível.
Não pode ser verdade.
Esse quarteto é um desastre.
Enquanto Smith lia outros papéis, Ophid olhava diretamente pra Mitchel, com desprezo.
Mitchel retribuia o olhar, sorrindo.
— Vai ser um prazer, trabalhar com você, amigo — brincou Mitchel.
— Eu vou matar você.