Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Capítulo 9
Por tudo ser imprevisível demais que nos agarramos ao seguro; porém, nem mesmos os mais seguros podem ser considerados previsíveis.
Tudo é um risco. Portanto, tome aquele que importa mais para você.
Afinal, se fracassar; não há arrependimentos.
Era desastroso, não tinha como esse quarteto minimamente dar certo. Aiko estava completamente dispersa, pensando nos vários cenários terríveis que poderiam ocorrer. Como eles passariam? Pra tirar uma boa nota eles precisariam trabalhar em equipe. O que com certeza não aconteceria.
O coração de Aiko estava a mil. Estava nervosa além da conta. Por mais que não fosse revelar sua natureza Prismal pra ninguém, Mitchel descobrira. E se ele vacilasse? Eles estariam com Ophid em sua cola a maior parte do tempo na escola, a partir de hoje. Qualquer passo em falso significaria sua morte.
A feição de Ophid, ao seu lado, não estava nada boa. Ainda encarava Mitchel, completamente focado. Com certeza também estava pensando no que poderia fazer pra tornar esse time funcional. Mitchel, por outro lado, parecia despreocupado, com as suas mãos atrás da cabeça enquanto olhava para o professor. Seu braço colorido a mostra criava um ar de deboche a todos da classe que desprezavam Prismais.
Ainda faltavam alguns papéis antes da seleção dos quartetos acabar; e o caos começar a se alastrar. Smith continuou dizendo alguns nomes diversos. Todos os alunos exalavam nervosismo, mesmo aqueles que já foram mencionados; assim que aquilo acabasse todos se reuniriam e conversariam. Porém, ainda não era hora, mas ela estava próxima. E isso deixava Aiko extremamente aflita.
Entretanto, algo deixara Aiko ainda mais aflita, e este em específico fez ela ter a sensação de quase explodir de dentro pra fora:
— Vinn Kurasaki.
Aiko absorta em seus pensamentos, subitamente, voltou-se a realidade. Sentira um arrepio na espinha, um calafrio profundo. Ficara estática.
O que?!
Vinn?????
De primeiro momento, Aiko se recusara a acreditar nas suas suposições, era muito azar. Mas o sobrenome simplesmente confirmava. Sim. Ela estava numa sequência monstruosa de azar.
Não.
Arrepiou-se ainda mais. Já era. Tudo estava perdido se realmente fosse; e tinha que ser, não havia escapatória.
Ela…
Tá aqui??
Rapidamente, Aiko olhou pra todos os lados, esperando encontrá-la, escondida. Mas ela não estava ali. Era óbvio, ela com toda certeza saberia se estivesse.
Era sua melhor amiga de infância. A pior pessoa que poderia estar naquela sala. O pior dos cenários. Era sua amiga que sabia que ela era uma Prismal, a primeira pessoa na qual revelara seus poderes. A pessoa que a fez esconder isso de todos, por sua aversão. Seu desprezo. Indiferença.
Foi a melhor amiga da sua vida e ninguém tinha superado isso até hoje. Mas agora não passavam de desconhecidas, talvez inimigas, por algo que não tinha escolha.
As coisas estavam piores do que achava. Diferente de Mitchel, que provavelmente respeitaria sua privacidade, Vinn não pensaria duas vezes antes de contar pra todos quem ela era pra todo seu ciclo de amigos.
As pernas de Aiko tremiam. Como ela lidaria com isso? Ophid, Mitchel, Vinn, o quarteto. Sua confidência estava em total risco, ela precisava fazer algo a respeito. Mas o que?
— Qual seu spektri, Aiko?
Aiko pulou levemente da cadeira, se assustara. Por algum motivo, Ophid parecia muito mais amedrontador agora.
— Ah… er…
Antes que Aiko pudesse continuar, Ophid prosseguiu:
— Qual dos 3 spektris do Verde? — Olhava pra faixa verde em seu pescoço.
Logo mais, os olhos vermelhos voltaram a encarar o fundo de sua alma. Eles assustavam mais do que deveria. Se sentia ameaçada, Ophid parecia saber de algo. E isso deixava ela inquieta, precisava responder logo, precisava fugir dali o mais rápido possível.
— Eu… eu sou uma Matizal.
Isso era péssimo. Tinha mentido pra Ophid, e se suas suposições estiverem certas, o assento que tinha sentado desde o começo das aulas, já estava reservada a alguém. E curiosamente a única pessoa que havia faltado dentre todas as pessoas chamadas era a Vinn.
Uma carteira reservada bem ao lado do assento de Ophid. E se isso for verdade, os dois eram próximos. Talvez próximos até demais.
Ophid arregalou levemente seus olhos penetrantes.
— Hm. Interessante. Você consegue matizar precisamente pra todos eles? Qual sua especialidade?
— Eu… o que eu mais sei usar é o Verde Básico. O Verde Claro eu só consigo me curar um pouco… não sei curar os outros.
Tudo que ela conseguia enxergar era um mar violento escarlate, consumindo todo seu ser.
— E o Escuro?
— Eu não sei muito bem matizar pra ele… desculpa, Ophid.
— Tudo bem. Me impressiona saber que consegue matizar conscientemente entre dois spektris, você é interessante.
Cortando a conversa, Smith finalmente finalizou o sorteio dos quartetos.
— E com isso, encerramos o sorteio dos quartetos. Iremos agora pra segunda etapa. Quero que agora todos vocês se reúnam com seu quarteto.
Uma garota levantara a mão, usava uma faixa laranja em seu braço. Tinha cabelos castanhos presos por dois coques e utilizava óculos.
— Professor… mas e eu? Você só falou meu nome no final. Cadê o resto da minha equipe? Você esqueceu de dizer!
O vulpine olhou para a menina com olhos sóbrios, e mãos no bolso. Como se a julgasse severamente.
— Infelizmente, Clare, nossa turma acabou por ser ímpar. Sim. Você está sozinha. Seu quarteto é apenas você. Lide com isso.
Todos os estudantes da sala olharam pra ela.
— Que…?
— Bom, pessoal — retornou como se nada tivesse acontecido. — Se reúnam com seus novos companheiros de classe. Vocês tem 50 minutos pra conversarem. Se conheçam, definam seus líderes, suas funções e montem suas estratégias.
“Após isso, falarei sobre a fatídica e anual Taça das Classes.
“Mãos a obra.”
No sinal do professor todos os alunos se espalharam e se dispersaram. Se reunindo a suas equipes, alguns animados, outros com receio. Mas Aiko permanecia parada em pé, observando os dois figurões. Ophid e Mitchel continuavam nas suas carteiras e não se moviam um dedo. Lestrad também se encontrava na mesma situação que Aiko, esperando pra que decidissem aonde sentariam.
Mas isso demonstrava quem seria o líder. E eles não estavam dispostos a ceder.
Aiko estava nervosa. Precisava tomar alguma iniciativa, ou nem sequer conversariam.
— Ophid… você vai esperar o Mitchel?
Ophid não respondeu. Enquanto isso, Mitchel mantinha os olhos pro alto, com as mãos na cabeça.
Aiko sentiu algo tocando no seu ombro, Lestrad havia chegado ao seu lado.
— Pode vir aqui, rapidinho?
Ela a levara pra fora da sala, pra que nenhum dos dois as visse. O professor não se incomodara, o que surpreendeu Aiko. Essa escola ficava mais extravagante e bizarra a cada minuto que se passava.
— Eles definitivamente não vão tomar uma decisão. E eu não quero tomar uma iniciativa por eles, principalmente se tratando daqueles dois. Eles são fortes.
Frente a frente com a garota, Aiko percebia; ela era tão bela e estilosa. Também bem perfumada, sua presença era agradável, se sentiu sutilmente relaxada. Talvez por ter estado o tempo todo apenas em volta de monstros.
— Demais. Eu também não quero. Mas desse jeito a gente não vai se reunir e nosso quarteto não vai pra lugar nenhum! — Aiko voltou a ficar nervosa. — Vamos sair na desvantagem.
— Eu pensei num plano. — Lestrad olhou pra dentro da sala, avistando Mitchel.
E assim que voltou sua cabeça pra dentro, viu Mitchel a olhando de relance, sorrindo.
— Cada uma de nós, vai pra um deles, conversar sobre e tentar reuni-los. Escolhemos um lugar que não é nem do Mitchel nem do Ophid.
“Assim nenhum dos dois vai ter que ceder, porque fomos nós que fizemos isso. Não afetando o ego deles.”
— Arriscado. E se piorarmos as coisas? Os dois não vão se dar bem, talvez seja melhor eles separados.
“É melhor se reunirmos, apenas nós duas, e eles se resolvem depois.”
Lestrad a encarou, com seus olhos cor de mel, cambiando de olho em olho, como se estivesse pensando.
— É o mais seguro. Mas é seguro demais, desse jeito não vamos criar sinergia alguma.
— Mas a questão é essa, é impossível criar uma sinergia numa equipe como essa, não importa o que a gente faça, é cada um por si!
A trançada sutilmente arregalou os olhos. E olhou pra o lado, pondo a mão no queixo.
— Não importa o que a gente faça… sempre estaremos na pior.
— É…
— Então vamos escolher um.
— Que?! Você é louca!
— Não importa a escolha que a gente faça, a nossa equipe vai estar sempre em dissensão. — Aiko inclinou a cabeça pro lado, o que é dissensão? — Então pouco importa com quem nós decidirmos se sentar. O resultado sempre vai ser o mesmo.
Ela estava certa. Teriam que decidir, não importa as consequências, porque qualquer uma das escolhas tinham consequências parecidas. Eram péssimas.
— Certo… quem?
— Ophid. Com certeza. É o mais forte, o mais poderoso, o Reencarnado.
Aiko sentiu uma pontada de culpa. Deixaria Mitchel sozinho, não poderia. Ele era uma boa pessoa.
— Mas… o Mitchel… ele também é extremamente forte, ele é confiante, seria um bom líder…
— Em comparação, o Ophid é o mais qualificado. Ouvi falar que Mitchel tira as piores notas da classe. Enquanto o Ophid sempre tira as melhores. Ele tem mais capacidade intelectual de guiar o quarteto.
Coitado. Eu não sabia disso.
— Er… é… você tem razão, tem que ser o Ophid.
— Decidido, então. Vamos lá. — Lestrad levantou sua palma.
Aiko retribuiu fazendo um toca aqui. As argolas de Lestrad fizeram leves sons metálicos enquanto se virava pra entrar na sala novamente.
Mas logo parara. Aiko logo apressou-se pra ver o motivo.
Ophid estava sentado na carteira ao lado da de Mitchel. Ele havia ido por conta própria?
Que?!
Ele estava o encarando sério com as mãos cruzadas apoiadas no rosto, enquanto Mitchel mantinha seus olhos na parede, como se não se importasse.
— Interessante — disse Lestrad. — Ophid é muito mais intrigante do que eu imaginava.
Enquanto as meninas se aproximavam dos dois, Mitchel olhou para o lado encarando Ophid.
— Ah. — Agiu como se não o tivesse visto até o momento. — Pensando em várias possibilidades de como me matar? — debochou.
Ophid não respondeu.
— Eu só tenho um único pedido — prosseguiu —, pro quarteto minimamente funcionar, eu só preciso de um único favor seu.
“Me devolve o gelo aí, na moral.”