Cambiante: O Segredo do Reencarnado - Prólogo
As árvores balançavam com o vento que os carros em movimento causavam, uma pequena dose de natureza no meio de edíficios, estradas e rodovias. Os prédios pintavam os céus que cintilavam e refletiam suas vidraças. Diferentes carros conduziam seus caminhos pelas circuitarias das estradas, com leves buzinas de alguns motoristas abusados, e alguns pedestres andavam tranquilamente pela avenida.
Dentre estes, 3 crianças por volta dos 12 anos de idade, com uniforme de escola, passavam por essas mesmas ruas, conversando casualmente.
— O Assassi não voltou ainda. Estou começando a ficar preocupado, será que pegaram ele? — perguntou um dos garotos, apreensivo. Possuía grandes cabelos espetados vermelhos, e inocentes olhos alaranjados que lhe trazia um certo tom animalesco.
— Relaxa, Yakkito. Ele sabe se virar — respondeu o outro, este possuía cabelos lisos negros, tão grandes que tampavam completamente seu olho esquerdo.
— Tudo bem, Nagashi, a gente tá ligado que ele é um Prismal — retrucou o terceiro. Seus olhos azuis escuros contrastavam com seus bagunçados fios esbranquiçados. — Mas ainda assim, não consegue entender a proporção disso?
“Bater de frente com um Luminatti já é morte certa, imagina contra todos eles, e levando em consideração os do alto escalão…”
Nagashi repentinamente parara, e se virou lentamente pra ele.
— Isso se ele for descoberto, é claro — disse dando um pequeno sorriso e voltando para a frente, com suas mãos no bolso.
Yakkito mirou Brine com um olhar receoso, que respondeu com uma expressão mesclada de seriedade e incredulidade.
Continuaram caminhando de forma lenta, olhando para os lados, como se esperassem algo. Nagashi olhava atentamente a cada movimento da cidade; Yakkito brincava com uma esfera de fogo, como se arremessasse uma bola, e em contrapartida, Brine parecia impaciente. Após um bom tempo, decidiu cortar esse marasmo.
— É uma missão suicida, não faz o menor sentido. — Sua feição estava cética, completamente séria.
— Brine, escuta — disse Nagashi. — O Assassi é o mais forte, e o mais velho, só ele pode fazer isso. Ele é a chave pra gente descobrir o grande segredo dos Luminattis.
“E com isso, a gente pode ficar ainda mais forte.”
— Não sei, não. Deve ser um segredo por algum motivo, ninguém esconde algo por mero capricho. — Olhara para os lados enquanto pensava.
— Você só tá pensando demais, a resposta é mais simples do que parece, óbvio que é pra tirar o acesso das pessoas a esse poder.
— Não acha que… — disse Yakkito intrigado — seria mais fácil pra eles, se todos fossem Luminattis?
— São essas perguntas que serão respondidas com a volta do Assassi. Só relaxa. Ele não vai perder.
Subitamente, uma mensagem é transmitida, sendo ouvida mentalmente por todos eles.
— Outline! Estão na linha?!
— Ótimo, que maravilha — ironizou Brine.
E todos responderam em uníssono:
— Sim.
— Fomos avisados de um Aberrado nível Davinci a 3 quarteirões de onde estão. Estão em condições de lutar, possuem tinta o suficiente?!
Todos se entreolharam, e assentiram entendendo o recado.
— Afirmativo.
— Conto com vocês.
A mensagem cessou. E os três se encararam parados no meio da rua, como se estivessem decidindo algo.
— Nem vem, eu fui aquela vez — contrapôs Yakkito, balançando as mãos em negação.
Nagashi virou pra Brine em seguida, e Yakkito seguiu seu olhar. Brine, com sua cara fechada, respirou fundo e olhou indignado pra eles.
— Eu tenho cara de avião, por acaso?!
— Você é melhor do que ninguém nisso! — tentou convencer Nagashi. — O ar é simplesmente perfeito pra voo!
— Sei… sei. — Com uma expressão genuína de raiva, puxou os dois pela gola da farda. Suas mãos se tornaram completamente azuis escuro, e o anel em seu dedo repousava como um barco isolado no meio de um oceano vasto. E ainda os segurando, abriu voo num estalar, carregando os dois em alta velocidade.
O vento batia neles com força, a habilidade de Brine era literalmente como andar de avião, com um porém; estar do lado de fora dele. A cidade se tornou apenas borrões, rastros de objetos infinitos que perpassavam a todo instante. E após alguns rápidos minutos, chegaram ao local da cidade, que estava interditada.
A razão estava enorme, bem no centro de tudo isso: uma criatura bestial deformada, com raios de energias circulando por todo seu corpo. Seus olhos eram inteiramente consumidos por amarelo, naturais de um Aberrado. Porém, uma característica nociva, já que assim era impossível prever suas intenções; e cada segundo de hesitação é fatal.
Se movia como um cachorro descontrolado pra cima dos civis que tentavam se proteger com seus poderes. Eles urravam, arfavam, se esforçavam o máximo que podiam.
Ainda voando, repentinamente Brine parou de segurar os garotos, e eles pareceram entender o recado.
Logo abaixo, o bicho partia para todos os lados socando e jorrando poderes diversos em todos que apareciam, até que uma das pessoas que lutava caiu no chão, sem forças. A besta pareceu perceber, pois armara uma grande bola de energia amarela mirando em sua cabeça.
Uma explosão ocorreu, fumaças grossas se ergueram, como uma destruição imensa.
Mas enquanto a fumaça dissipava em sua frente, ele percebia… estava vivo.
Cerrando os olhos pra que pudesse enxergar, ele vira duas crianças, em pose de aterrissagem recente, dando simultaneamente um soco na barriga da criatura que foi arremessada pra longe.
— Outline?! — bravejou com um tom aliviado.
Olhando pra trás, os garotos abriram um grande sorriso.
— Estamos aqui.
E caindo um pouco depois, em cima da criatura jogada contra um prédio, Brine aterrissou bem na cabeça do Aberrado, dando-lhe um chute no rosto, o deformando ainda mais.
— Vamos parar de ceninha? Temos que eliminá-lo.
Yakkito olhou com uma cara de deboche.
— Tá bom, tá bom, máquina de matar.
Ambos, Yakkito e Nagashi foram em direção a grande criatura, correndo o máximo que podem. No meio do caminho, Nagashi segurou o braço de Yakkito e o arremessou contra a criatura que estava sendo socada por Brine.
Berrando como um demônio, o Aberrado criou uma explosão de eletricidade atingindo todos ao seu redor, arremessando Yakkito pra trás e paralisando-os por alguns segundos. Ainda sem se mexer, as mãos de Yakkito se tornaram laranja escuro, e recebera forças pra se recompor; indo com tudo pra cima da criatura. Socando-a várias vezes no rosto, e desviando dos golpes do monstro, numa velocidade diferente do normal.
— Se abaixa!!!!!! — gritou Brine ao longe.
Yakkito se estirou no chão, acrobaticamente, enquanto espinhos de gelos começaram a surgir por todos os lados, imobilizando levemente a criatura e em seguida, com um chicote negro etéreo, Nagashi a segurou usando toda sua força pra arremessá-la para o outro lado.
Os três como uma dança perfeita, sincronizadamente andaram juntos indo em direção ao Aberrado. Yakkito segurando a mãos dos dois, com sua mão alaranjada, arremessou ambos girando todo seu corpo pra criar um impulso maior.
Com dois chutes poderosíssimos ao mesmo tempo, o bicho voou pra ainda mais longe. E antes que Nagashi e Brine pudessem continuar correndo para alcançá-lo, Yakkito como um jato de fogo, passou voando entre eles.
— Exibido — ironizou Brine.
Com um punho mortal fervente, ele atingiu a criatura em cheio, que levemente resistiu. Mas não por tanto tempo, já que seu tronco explodira em mil pedaços. Fazendo Yakkito ser jogado pra frente, cambaleando no chão ao cair.
Observando de longe, relaxados, Nagashi e Brine olharam para os cidadãos, que estavam recebendo ajuda de outras pessoas, curando todas elas.
Já, Yakkito, se levantou todo ralado. Havia uma sombra que se erguia à sua frente. Demorou-se antes de discernir a situação e perceber a figura diante dele.
Os outros garotos também acabaram percebendo sua presença, chocados, completamente boquiabertos. Uma de suas mãos estava amarela clara, como se tivesse acabado de usar um poder. Seus lisos cabelos rosa claro que iam até seu pescoço, suas escleras negras com iris vermelhas, eram inconfundíveis.
— Assassi!! — Os garotos vieram correndo.
— Assassi?! — exclamou Yakkito.
Ele parecia tenso, mas ainda assim tinha um sorriso sádico, que sempre fazia.
— Eai, rapaziada. Eu tenho pouco tempo, não quero meter vocês em perigo, mas tenho muitas coisas pra contar. — Acenou sutilmente pro beco. — Tenho informações importantes pra vocês.
Todos o seguiram, receosos. Assassi só retornara a falar quando estavam completamente escondidos nas sombras do local. Relativamente seguros, Assassi se permitiu desativar seus distintos Olhos Assassinos, voltando a ter seus olhos negros naturais.
— Sim, de fato, o Reencarnado é real. Ele possui um poder completamente diferente que eu jamais vi em toda minha vida, é bizarro.
Brine, completamente ansioso, perguntou rapidamente:
— Eles descobriram você?!
Assassi os encarou, demorando um tempo pra responder.
— Digamos que… eu não tive escolha depois do que vi… e eles acabaram me descobrindo, eu fugi o mais rápido que pude. Me deparei com o Reencarnado e tivemos um pequeno confronto onde eu quase morri, se não tivesse isso aqui.
Levantara lentamente seu braço esquerdo. Mostrando linhas irregulares grossas de cores branco, cinza e preto.
— O QUE?! PERA, O QUE?! VOCÊ CONSEGUIU??! — Todos gritam em uníssono, temerosos, empolgados.
— Eu acho que isso nunca deve ter acontecido com um Prismal antes, porque eles estavam completamente desesperados. Provavelmente daqui a alguns minutos eu serei uma ameaça global, eles querem minha cabeça a qualquer custo. Eu tenho pouco tempo aqui, antes que todos os Luminattis comecem a me caçar.
— Mas… mas, qual é o segredo, Assassi? — perguntou Nagashi. — Como eles adquirem esse poder??!!
Nagashi notou Assassi arrepiar. O que era alarmante, ele raramente fazia isso. Os olhos de Assassi encontraram o chão.
— Lembra do que eu disse…?
“De que se eu descobrisse, eu faria de tudo para que todos vocês consigam obtê-lo?”
— Sim, você prometeu pra gente! — exclamou Brine. — Desembucha!
— Eu não vou poder cumprir essa promessa. É egoísta demais.
— MAS NÃO É JUSTO! VOCÊ TÁ COM ELE AÍ, NO SEU BRAÇO!!
— Eu sei. Mas eu precisava. Eu… eu não tive escolha.
— Então o que é, Assassi? — indagou Yakkito, sedento por respostas.
Assassi fechara os punhos com toda a força, como se esmagasse a coisa mais repugnante que já existiu. Suas veias saltavam, seus braços estavam enrijecidos.
— Só saibam que… eu vou destruir… todos os Luminattis que existem nesse mundo.
“Eu… só preciso me tornar mais forte que ele…
“Eu só preciso…
“Descobrir o seu segredo.”