Cataclysm - Capítulo 1
Capítulo 1: Marionete
No coração da densa floresta, lar de criaturas selvagens, destacava-se a figura imponente dos ursos. Apesar do perigo iminente, dois jovens destemidos caçavam essas feras desde os sete anos de idade. O motivo dessa caça persistia como um mistério; seja por razões pessoais ou algo mais profundo, eles optaram por manter o assunto em sigilo.
Johnny e Denki, amigos desde o berço, viram suas vidas tomarem rumos distintos quando, aos oito anos, Denki se mudou do vilarejo por vontade de seu pai.
Desde então, Johnny continuou a caçada sozinho, mantendo-a oculta de todos à sua volta.
Quatro anos se passaram.
Bip, bip, bip
— Cara, que sono — bocejou Johnny, abrindo os olhos.
— Ei, Johnny, já acordou?! — berrou Sung, batendo na porta do quarto.
Abandonado por seus pais aos seis meses de idade, Johnny foi deixado na porta de uma casa de um vilarejo no interior da Coreia. A casa para onde foi levado pertencia a Sung, o guarda local. Ao abrir a porta, Sung deparou-se com um garoto peculiar, de cabelos azuis-claros e olhos verdes; seu cobertor revelava seu nome: Johnny Sky.
— Johnny, levanta logo dessa cama e vai comprar o pão, você só sabe ficar dormindo até tarde! — gritou Sung, batendo na porta do quarto.
— Poxa, Sung, deixa eu dormir mais um pouco… — resmungou Johnny, cobrindo a cabeça com o travesseiro.
— Nada disso, Johnny! Anda, já é quase meio dia — insistiu Sung, abrindo a porta e puxando o cobertor de Johnny.
— Tá, tá, já vou… — reclamou Johnny, se arrastando até o banheiro. — Mas me diz uma coisa, Sung… — Ele perguntou, voltando com a escova de dentes na boca. — Eu posso ficar com o troco dessa vez?
— Claro que não — respondeu Sung, indignado. — Você acha que eu sou rico, é?
— Ah, Sung, qual é? você é muito mão de vaca, sabia? — protestou Johnny, cuspindo a pasta de dente na pia.
— E você é o cara mais vagabundo que eu já vi na vida! — retrucou Sung, cruzando os braços. — Você só quer gastar o dinheiro com besteiras, como doces e revistas!
— Tá bom, tá bom, mas não custa nada abrir uma exceção de vez em quando, né? — argumentou Johnny, fazendo uma cara de pidão. — Vai, Sung, por favorzinho…
— Nem vem, Johnny, nem vem… — disse Sung, balançando a cabeça. — Quem sabe na próxima, se você se comportar. Agora vai logo, antes que a feira fique uma zona.
Johnny levantou-se e saiu de casa após se arrumar, no entanto, ele não planejava ir à feira tão cedo, pois tinha outros planos em mente. Estava determinado a verificar se sua armadilha havia surtido efeito. Na tarde anterior, ele cuidadosamente montou uma rede cheia de espinhos e a suspendeu em uma árvore, planejando capturar o urso. Com o coração acelerado de expectativa, ele se dirigiu ao local da armadilha, ansioso para ver se sua estratégia havia funcionado.
“Será que consegui? Será que finalmente peguei aquele urso!”
No caminho, ele avistou Jake, seu amigo de escola, que vinha em sua direção.
— Ei, Johnny! — Jake acenou para ele.
— Oi, Jake. O que te traz aqui?
— Eu vim te procurar, cara. Queria te fazer um convite. — Jake sorriu, mostrando seus dentes brancos. — Que tal irmos pescar no riacho?
— Ah, não dá, Jake. Eu tenho um assunto importante pra resolver. — Ele coçou a cabeça, sem jeito.
— Sério? Que assunto tão importante assim?
— É… é uma surpresa. — Johnny tentou disfarçar. — Depois eu te conto.
— Tá bom, então. Mas não demora, hein? A gente se vê na escola. — Ele se despediu, dando um tapinha no ombro de Johnny.
— Tchau, Jake. — Johnny acelerou o passo, deixando seu amigo para trás.
“Eu não posso perder tempo. Preciso ver se a armadilha funcionou.”
Ele entrou na floresta, seguindo o caminho que conhecia como a palma de sua mão. Ao chegar no local da armadilha, seus olhos brilharam: um urso estava preso na rede, debatendo-se e rugindo. Era um urso enorme, de pelos negros e olhos vermelhos.
— Eu não acredito… Depois de tantos anos, eu finalmente consegui?
Ele se aproximou do urso com cuidado, querendo ver de perto sua presa e sentir sua vitória. No entanto, cometeu um erro crucial ao subestimar o urso. Com um movimento brusco, o animal rasgou a rede com suas garras afiadas, libertou-se da armadilha e encarou Johnny com ódio. Furioso e sedento por vingança, o urso avançou sobre Johnny com uma velocidade impressionante.
— Droga, droga, droga! — gritou Johnny, em desespero.
Refletindo, Johnny buscava uma rota de fuga, correndo o máximo que podia. No entanto, é impossível para um ser humano normal ser mais rápido que um urso em uma corrida. Para evitar um golpe na cabeça, ele virou o corpo e foi atingido no peito pelas garras da fera.
— Ah, droga, água! Preciso ir para a água. A correnteza deve ajudar a estancar o sangue.
Johnny se arrastou até o rio, sentindo uma dor lancinante no peito. O sangue escorria pelo seu corpo, manchando a terra. A sua visão estava turva e a sua respiração ofegante. Ele mal conseguia se manter consciente.
— Não posso morrer aqui! — Ele murmurou, com a voz rouca.
Com um último esforço, ele se jogou no rio, esperando que a água fria o aliviasse. Mas a correnteza era forte e o arrastou para longe da margem. Ele tentou se agarrar a alguma coisa, mas só sentiu galhos e pedras arranhando a sua pele.
Ele olhou para trás e viu o urso na margem, seguindo-o com os olhos vermelhos de ódio. O animal não desistia da sua presa. Ele esperava uma chance de atacá-lo novamente.
Johnny sabia que estava em apuros. Se ele continuasse seguindo o rio, iria despencar na cachoeira, onde as pedras afiadas o esperavam. E se ele tentasse sair da água, o urso o pegaria.
“Tem que ter um jeito de escapar”, ele pensou, desesperado. “Tem que ter um jeito de enganar esse urso.”
Johnny identificou uma chance quando a fera se preparou para o ataque. Com uma encenação convincente de fraqueza e vulnerabilidade, ele instigou a confiança do urso. No último instante, com um movimento ágil e certeiro, ele se agarrou a um galho que pendia sobre o rio, desviando-se do ataque e fazendo com que o urso, surpreso, caísse em direção às pedras.
— Eu consegui! — Ele gritou, com uma mistura de alívio e triunfo. — Eu consegui!
— Toma essa, seu urso idiota! — Johnny provocou, vendo o urso ser levado pela correnteza.
Porém, o galho que o sustentava era frágil e se partiu. Johnny caiu na margem do rio, sem forças para se levantar. Ele sentiu o sangue escorrer pelo seu peito e, lentamente, percebeu a vida se evadir de seu corpo.
— Pai… — Ele chamou, com a voz fraca. — Pai…
Ele pensou no seu pai, o senhor Sung, o militar que sempre o ensinou a ser forte e corajoso. O pai que ele admirava e respeitava. O pai que ele não queria decepcionar.
— Pai, eu não quero morrer… — Ele sussurrou, com lágrimas nos olhos. — Pai, me ajude…
Seus olhos se fecharam lentamente, e uma sensação de sono o envolveu.
— Senhor, eu achei ele! — Uma voz distante ecoou pelo bosque, carregando consigo um misto de urgência e alívio.
— O quê? Me espere, estou indo. — Sung gritou, aliviado, em resposta..
— Ele parece estar em estado crítico, temos que levá-lo para o hospital.
Sung se aproximou do local indicado, encontrando Johnny deitado no chão, pálido e ofegante.
— S-Sun…
— O que aconteceu aqui, Johnny!
Enquanto Johnny lutava pela vida em outro país, Denki não conseguia tirá-lo da cabeça. Ele ainda se ressentia da decisão de seu pai, que o obrigou a mudar de país e de vida. Ele não se adaptava à nova realidade, que lhe parecia fria e sem graça. O único que o compreendia era o seu tutor, Leorio, que também era seu amigo.
— Ei, Leorio, você acha que o Johnny está bem? — indagou Denki preocupado.
— E por que ele não estaria, jovem mestre?
— Sei lá, ele sempre se meteu em confusão. Aposto que ele deve estar fazendo alguma idiotice por aí.
— Senhor Sung, ele está perdendo muito sangue. Parece que o corte foi profundo!
Johnny foi levado às pressas para o hospital. Sung tinha responsabilidades como guarda, então não podia ficar com ele durante a tarde. Quem ficou com ele foi seu colega de escola, Jake. Quatro dias depois, ele finalmente acordou.
— Onde… onde eu estou? — suspirou Johnny.
— No hospital. Você quase nos deixou, idiota. — disse Jake.
— O urso…?
— O urso foi encontrado em pedaços na floresta abaixo da cachoeira. Eram cortes de lâmina. Não acho que uma pedra pontiaguda faria isso.
— E o Sung? Ele tá bem?
— Olha, vou ser sincero com você. Quando vi o Sung, ele parecia bem irritado, de uma maneira que nunca vi antes. Acho que foi ele quem fez aquilo com o urso.
— Ah, então ele tá bem…
— O médico disse que deve levar umas 3 semanas para você se recuperar totalmente. Como você ainda é jovem, a recuperação é mais rápida. Você deve receber alta na próxima semana se continuar nesse ritmo.
— O Senhor Sung chegou! — alertou a enfermeira.
— Opa, está na hora de eu ir então. Melhoras para você, Johnny.
— Obrigado, Jake.
Sung entrou no quarto do hospital, ansioso para ver o seu filho. Ele tinha recebido a notícia de que Johnny tinha finalmente acordado, depois de quatro dias em coma. Ele se aproximou da cama, onde Johnny estava deitado.
— Johnny! Então você realmente acordou! — Sung exclamou, aliviado.
Johnny abriu os olhos e viu o seu pai. Ele sorriu, feliz.
— Sung! — Johnny disse, com a voz fraca.
Sung não se conteve e abraçou Johnny com força, como se quisesse protegê-lo de todo o mal.
— Calma aí. Você tá me esmagando. Esqueceu que eu to com um corte no peito. — Ele reclamou, sentindo dor.
— Ah, desculpe, filho. É que eu fiquei tão feliz em te ver acordado. — Sung se desculpou, soltando o abraço.
— Eu também fiquei feliz em te ver, pai. — Johnny disse, sincero.
Alívio e raiva se misturavam no olhar de Sung. Como o garoto pôde ser tão inconsequente? Por causa de um urso, ele quase perdeu a vida. Caso Sung não tivesse chegado a tempo, o que teria acontecido? Ele não queria nem pensar.
Johnny enfrentou uma severa repreensão de seu pai, que se estendeu por um longo período. Mesmo ao tentar se justificar com uma desculpa frágil e pouco convincente.
Três longas semanas se passaram desde o incidente com o urso, mas o eco das conversas sobre Johnny ainda pairava no ar da pequena vila.
— Hey, você ouviu falar daquele garoto, Johnny, né? Parece que ele lutou com um urso.
— Ah, aquele é o idiota que brigou com o urso? Deve ter uns parafusos a menos mesmo.
— Mas olha, eu acho o Johnny bem corajoso. É de se admirar, cara.
Johnny, acostumado com os olhares e os comentários, apenas sorriu e acenou, sem perder sua expressão determinada.
Diante dessa situação. Ele viu uma oportunidade de se aproveitar de sua fama momentânea e vender a pele do urso por um preço exorbitante. Jake, observador como sempre, notou essa situação e começou a se preocupar com o amigo.
— Ei, Johnny, eu acho que você está exagerando um pouco.
— Fica tranquilo, Jake. Quando eu estiver no hall da fama, vou me lembrar de você. Posso até te dar um cargo de gerente na minha empresa!
— Você é muito idiota, Johnny — retrucou Jake, com um sorriso sincero. Ele não podia negar que sentia falta das loucuras do amigo, que sempre animavam o seu dia.
Decidido a vender o couro que encontrou, Johnny se dirigiu à feira do vilarejo e estabeleceu um preço de nove mil para sua mercadoria. No entanto, sua oferta foi amplamente ignorada devido ao preço exorbitante. Em meio à indiferença dos presentes, um indivíduo peculiar, com cabelos pretos e olhos roxos, envolto em um sobretudo misterioso, demonstrou interesse em adquirir o produto.
— Prazer, meu nome é Johnny, está interessado em comprar?
O homem se apresentou como Bartolomeo e disse que estava muito interessado na qualidade do couro, desejando comprá-lo por um preço ainda maior, contudo, há uma condição.
— Estou disposto a pagar quinze mil nele. — O homem disse, sem pestanejar.
“Qual é a desse cara? Eu já coloquei um preço alto, e ele ainda quer pagar mais?”
— Por que você quer pagar mais do que eu pedi? Tá tentando me passar a perna?
— Na realidade, o motivo é muito simples, Bonny.
— Meu nome é Johnny, seu palerma!
— Gostaria de te pedir um favor. Tenho um amigo que está esperando uma entrega no centro do vilarejo, em frente a uma padaria. Teria como você entregar a ele por mim? — perguntou o homem, com um tom persuasivo e um sorriso amigável.
— Se você vai me pagar quinze mil, é mais do que justo eu fazer um pequeno favor.
— Ah, muito obrigado, então, garoto. Seu nome é Johnny, correto?
— Sim, dessa vez você acertou. — Johnny respondeu, relaxando um pouco sua postura, mas ainda mantendo uma expressão desconfiada.
— Então Johnny, tudo o que você precisa fazer é entregar essa maleta para ele. Dentro dela tem apenas alguns documentos pessoais — explicou o homem, estendendo a maleta para Johnny com um gesto confiante.
Após receber o pagamento, Johnny se dirigiu à padaria. Chegando lá, encontrou um homem com um olhar preocupado, percebendo que esse homem se parecia muito com Bartolomeo. Logo, deduziu que eram irmãos.
— Esses olhos roxos… Não tenho uma boa impressão sobre eles — indagou Johnny aflito.
Porém, mesmo com suas más impressões, ele foi entregar a maleta como combinado.
— Ei, senhor, tenho uma entrega para você — disse Johnny, com a maleta preta em suas mãos.
O homem franziu a testa, olhando para a maleta com desconfiança. Ele não estava esperando nenhuma entrega. O que poderia ser?
— Entrega, para mim? — indagou o homem, com uma expressão preocupada.
De repente, um som ensurdecedor ecoou pelo ar e o mundo pareceu tremer. O homem olhou para a maleta, percebendo que não se tratava de uma simples entrega; era algo muito mais perigoso. No entanto, agora, já era tarde demais.
— Garoto, abaixe agora! — gritou o homem, empurrando Johnny para o chão.
Boom, Boom, Boom
— Droga, eu sabia que aquele maldito do Bartolomeo faria alguma coisa, mas usar de uma criança, isso é demais até pra ele.
— E-Ei, o que está acontecendo aqui, tio? — questionou Johnny, visivelmente atordoado.
— Você se machucou, garoto?
— N-Não, mas por que os guardas estão ameaçando a gente?
Johnny e o homem se encontravam cercados por uma fileira de guardas, todos prontos para abrir fogo. Johnny, perplexo, buscava entender o que havia ocorrido. Perguntas sobre a origem da explosão ecoavam incessantemente em sua mente.
— Parados! Vocês estão presos por porte de substâncias ilícitas!
— M-Mas o quê?! — berrou Johnny, desesperado.
Capítulo 1, Fim.