Chamas Carmesim - Prólogo
“Eram eles sete. E sete caminhavam pelas terras vazias. Sete poderosos que habitavam as terras muito antes da existência dos homens. Os sete Andonah.”
Fragmentos de uma Placa da Era Selvagem
As terras eram frias e escuras. Vastas terras áridas estendiam-se de horizonte a horizonte. Diferente dos outros Andonah, Ostilionus era quente e luminoso. Os outros sentavam-se ao seu redor, apreciando a gostosa sensação de conforto e calor. Ostilionus quis banir toda a escuridão e o frio das terras; na forma de uma esfera de chamas, reuniu sua força e atirou-a ao céu. Chamou-a de sol. As terras passaram a ser quentes e luminosas, mas manter o sol aceso era muito cansativo, e exigia muito esforço. Fergahia, apaixonada por Ostilionus, quis ajudar, e tentou reproduzir a criação de seu amado. Reunindo sua força numa esfera de luz branca, atirou-a ao céu. Não era quente tampouco luminosa como o sol, mas era o suficiente para que Ostilionus pudesse repousar. Chamou-a de lua. Quando o sol enfraquecia, a lua iluminava as terras em seu lugar. Ostilionus amou-a por isso, e tomou-a como esposa.
Agora, iluminada pelo amor conjunto de Ostilionus e Fergahia, as terras podiam ser vistas. Os seres poderosos repararam como esta era triste e vazia. Kahnatis admirava o amor de Fergahia, e sentiu grande inveja; sentada sob a luz da lua chorou. De suas lagrimas rios eram criados, mas transbordavam inundando as terras. Gahktuz, também movido por amor, teve compaixão de Kahnatis, e cavou grandes buracos para escoar as lágrimas. Por muito tempo ela chorou, e Gahktuz continuou a cavar. Enquanto cavava, Finemos soprava as lagrimas em direçao aos grandes buracos. Mares, rios, e vales foram formados. Quando iluminadas pelo brilho do sol ou da lua, refletiam a mais bela cor azulada. Era uma coloração tão linda e serena que a tristeza de Kahnatis esvaiu-se lentamente. Ao lado de Gahktuz e Finemos, a Andonah das águas sentou-se para admirar suas lágrimas que regavam as terras.
A luz do sol e da lua, os vales e montanhas, e os rios e mares de lágrimas tornaram as terras mais vivas e bonitas, mas ainda faltava algo. Namahas, olhando para as áreas áridas, teve uma idéia. Enfiando seu dedo na terra, viu uma pequena muda de arvore surgir. Alegrou-se com sua criação e pediu ajuda a finemos. De suas mãos criava sementes, e Finemos soprava-as para longe. Eram aquecidas por Ostilionus, mas algo estava errado. Finemos e Namahas perceberam que as sementes só cresciam quando molhadas pelas lagrimas de Kahnatis, mas era muito trabalhoso. Ostilionus teve uma ideia e fortaleceu o sol. Iluminadas e aquecidas, as lagrimas de Kahnatis subiam ao céu em forma de nuvem. Ao chegarem perto do sol, desciam novamente em forma de lágrimas. Chamaram isso de chuva. As sementes de Namahas cresceram por toda a terra, que se tornou colorida e atraente.
Uhdin, o pai de todos, ainda que satisfeito com o trabalho dos Andonah, achou pouco. Da mistura de terra e água, criou pequenos seres, e com grande diversidade, povoou as terras com as pequenas criaturas, que hoje chamamos de animais. Os sete poderosos brincavam com elas. Foram tempos de pureza e paz.
Ostilionus e Fergahia geraram a Osfotis, o filho do fogo. Kahnatis uniu-se a Finemos e geraram a Hitinas, a filha do gelo. Sua beleza era a maior já vista, e superava a de sua mãe e Fergahia. Todos os outros seres a desejavam, mas apenas Osfotis brilhava em seus olhos. Por diversas vezes fora rejeitada pelo filho do fogo, e um sentimento ruim crescia em seu âmago. Alimentada por vingança, fez o melhor e mais saboroso dos vinhos, e deu grande festa. Aproveitando-se da embriaguez dos Andonah, deitou-se com Ostilionus, a fim de vingar-se do filho. Fergahia logo descobriu a maldade de Hitinas, e a baniu para longe. Hitinas foi para os cantos da terra, onde permaneceu sozinha; isolada. Arrependida chorou. De suas lagrimas grandes geleiras se formaram.
Uhdin sentiu tristeza pela primeira vez, e chamou Ostilionus para repreendê-lo…
Fim do pergaminho da Criação
(Apenas uma parte foi resgatada)