Chaos Odyssey - Capítulo 1
“Agora entendi, acho que as coisas fazem um pouco mais de sentido para mim. Tenho que fazer isto não é? Se eu não fizesse, mudaria alguma coisa? Posso até ter duas escolhas, salvar você ou não salvar, independe da escolha, você será salva. Isso mesmo é uma salvação? Claro que não, apenas estou lhe condenado. Agora… consigo compreender ela, realmente as coisas estão fazendo sentido. Ela, eu e você precisamos nos condenar, para eventualmente nos salvarmos. Apenas repita amargamente os mesmos erros que cometi e continuarei a cometer. A Verdade, nem sempre é agradável, a melhor escolha é; ignorância.”
Quando estava num lugar o qual não sabia onde ficava esquerda e nem mesmo direita, em uma eterna escuridão, escutei essa voz; me causou diversos sentimentos. Todas não foram boas, angústia, arrependimento, tristeza, solidão. Essa era a voz de alguém que se perdeu. Ela não é a única desorientada.
Estava perdida no vazio de minha consciência, era um lugar escuro e sem mesmo direções cardeais. Não sabia como parei neste lugar, a única coisa que me lembro era quando estava no meu computador resolvendo coisas da faculdade. Quando percebi, já estava neste labirinto obscuro. Foi aqui que escutei essa voz estranhamente solitária, clamando por minha ajuda. Essa voz deveria ter alguma relação ao lugar ao qual estou.
Parecia que passaram anos, parecia que se passou um milésimo segundo desde quando cheguei, o tempo não fazia mais sentido, minutos aqui parecia que eram horas; horas aqui parecia que passavaram minutos. Não sabia que era muito rápido ou lento desde a aparição da luz.
Era um cenário, como posso explicar? Algo como se eu tivesse visto a luz do fim do túnel, como essa luz me levasse ao paraíso. Quando me aproximei, ela me sugou por completo.
Ao abrir meus olhos, não consegui enxergar nada mais do que uma silhueta de uma mulher. Parecia ter um cisco em meus olhos que esbranquiçava tudo o que via. Comecei a piscar freneticamente para ver se essa sensação iria embora, até que finalmente eu consegui observar a figura materna.
Ela tinha por volta de quarenta anos, era nítida as jovens marcas do começo de sua velhice. Quando ria, pés de galinhas se formavam em seus olhos, tinha uma pele não tão elástica quanto alguns anos atrás.
— Olha querida, ela abriu os olhos.
— Como ela é linda! — exclamou a mulher. — Finalmente uma menininha, esperava tanto este dia!
Hã!? Quem é essa mulher? E porque ela me olha assim? Onde estou, aliás?
— Sim. Nossa pequena Bellinxa. — disse o homem.
Mas que caralhos de nome é esse?
Calma, isso é o menor de meus problemas, vamos parar e raciocinar. Vamos pensar desde o começo. Estava fazendo um trabalho de faculdade e quando percebi estava na escuridão, então acordei neste lugar.
Olhei em volta, vi que estava em um quarto completamente feito de madeira, claramente não era meu apartamento. Outra coisa que percebi, foram essas estranhas pessoas. Com certeza não são rostos familiar, nunca nem vi nesta vida… Aliás, por que caralhos eles são tão grandes? Por acaso estou em uma terra de gigantes?
— Posso segurar? — perguntou o homem.
Segurar quem?! Posso saber!?
— Não precisa nem perguntar, ela também é sua filha.
Que filha? Isso é impossível como posso ser filha dessas pessoas, conheço bem meus pais para dizer que essas pessoas não são aqueles que me geraram.
O homem que se denomina como pai me pegou. E aninhou em seus braços como uma nenê…
Não me diga que estou em um Isekai? O sonho de todo otaku punheteiro!
Hum-hum já passei da minha fase de otaku e nem mesmo sou punheteira, afinal sou uma santa menina inocente… mas de fato, não sabia que isekai pudesse existir no mundo real, ao menos que fosse uma ficção… estou em uma ficção?! Impossible!
Seria maravilhoso se eu ainda estivesse em minha mocidade, além de ser uma otaku desocupada que só vive de animes, contudo não sou! Tenho faculdade, uma vida perfeita no meu mundo. Tiro ótimas notas, um emprego em home office, com um chefe dos sonhos — oh claro, sou chefe de mim mesmo. Um namorado amoroso, e-te-ce-te-ras. Essa é a vida perfeita que poucos humanos conseguem ter; sou uma das sortudas! Porém isso tudo acabou!
Namoral, quero chorar. Pensei com lágrimas nos olhos, enquanto essas pessoas sorriam para mim de tanta empolgação de ter um filho.
— Hã!? Por que ela está chorando? O que faço querida?
— Ela está cansada, deixa eu cuidar dela.
A mulher me pegou e disse palavras gentis que começaram a me fazer adormecer. Lentamente perdia a consciência, voltando para o vazio novamente.
Maldito truck-kun nem mesmo morri por essa bosta.
Algo está tocando em meu rosto, porém não me importei, pois, o sono era mais forte. Novamente senti algo tocar minhas bochechas, parecia estar brincando comigo. Nem posso ter um sono decente? Amanhã tenho que acordar 7 horas, para poder entregar o trabalho da faculdade. Será importante devido que o semestre está acabando, faz uns quinze dias que estou trabalhando nisso.
Outra vez algo tocou em meu rosto, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo e de novo, e de novo, e de novo, e de novo…
Caralho me deixa dormir!
Imediatamente abri meus olhos, o qual me deparei com um pirralho gigante cutucando-me com seu dedo. Deveria ter por volta de 6, 7 anos, justo aquela fase de meninos hiperativos que dão trabalho para as mães. Nunca gostei de crianças, ainda mais com cara de pestinha.
Ah! Claro, não estou mais no meu mundo. Tenho que aturar esse tipo de coisa.
Foi como em câmera lenta, quando lentamente constatei a gosma verde saindo do nariz desse moleque. Nunca em minha vida, vi um ranho tão elástico como este, nem mesmo quebrou. Ele fungou o nariz fazendo o ranho voltar. Espero que isso não pingue em mim.
O pirralho sorriu mostrando uma janelinha em sua boca, confesso que foi fofinho, mas logo em seguida ele cutucou seu nariz levando algo verde para a boca. Esse moleque não tem nem mesmo vergonha na cara de fazer isso em público.
— O mãe! — gritou o moleque. — Ele acordou!
— É ela seu idiota! — falou o menino dando um tapa na cabeça do moleque. Nem mesmo havia percebido sua presença.
Ele era mais velho, por volta de 12 anos. Olhava-me com olhos curiosos.
O que foi? Nunca viu uma beldade antes?
A mulher se aproximou e me pegou colocando em seu colo. Ela parecia uma pessoa gentil, porém ela não é minha mãe. Não posso ver essa pessoa como uma mãe, afinal amo muito a minha progenitora original. Essa pessoa é apenas uma desconhecida para mim, nem mesmo sei o nome dela ou o que ela faz da vida, além de ser mãe.
— Ela deve estar com fome. — disse a mulher.
Fome? Eu? Não estou a fim de beber em uma mamadeira. Acho isso um pouco infantil. Me respeite.
…?
O que você está fazendo MULHER? Que coisa indecente! Cobre isso logo! Por favor, não me faça isso… Cadê a mamadeira!? Prefiro sentir o gosto da borracha do que essa coisa…
Então esse é o gosto do leite materno? Acredito que vou vomitar…
— Por que ele tem cara de joelho?
— Ear, é uma menina, então deve se referir como ela. — falou a mulher que me amamentava.
É quente, suponho que está voltando tudo pela minha boca.
— Eca que nojo!
Cala boca moleque! Não vê que estou passando mal?
Bebês vomitarem por n motivos. Claro que eu gorfei pela nojeira da coisa. Sou uma mulher adulta que não deveria provar o leite materno novamente, porém não foi o caso. Ainda mais eu, que não consegue beber leite sem achocolatado.
A mulher me limpou e deu para o menino mais velho. O menino tinha o olhar sério, como uma pessoa madura deveria ter. 99% de seu rosto estava coberto por sardas avermelhadas. Tinha cabelos curtos desalinhados.
— Deixa eu segurar ele? Deixa? — perguntou o pirralho.
— Não.
O menino olhou para mim sem expressão, por causa disso fiquei curioso sobre o que esse indivíduo poderia estar pensando sobre mim. Não muita coisa, não é? Talvez tenha me achado muito fofinha, ou está enciumado por ter toda a atenção de mamãe.
— Gulliver vai apresentar sua irmã para os outros. Eles querem ver.
Outros? Tem mais pirralhos nesta casa?
Enquanto tinha um passeio aos braços do menino, consegui ver um pouco do ambiente o qual essas pessoas vivem. A casa era grande e bastante espaçosa, todavia faltava bastante objetos para ocupar o lugar, por isso dava-se a sensação de vazio e pobreza, porém não era totalmente pobre. Pelas vestes dá para ver que eles não passam necessidades, claro que a roupa do pirralho estava suja e desgastada. Mas isso é algo normal.
O quarto onde eu estava tinha uma cama de casal e o berço para eu dormir. Além que, havia um armário de duas portas e três gavetas. E tudo era feito de madeira.
Pasmem, não vi sinal de eletrodoméstico, ou seja, não tem eletricidade! Não tendo eletricidade, logo não tem o maior fator para a sobrevivência humana! Caralho isso é necessidade básica, como querem que eu viva sem internet?
Só de pensar nisso, meu corpo começou a ter espasmos. O quão longe conseguirei ir sem internet?
Droga! Porque isso tinha que acontecer comigo? Aliás, por qual razão eu morri? Excesso de trabalho? Alguém já morreu por esse motivo? Mais que tente revirar minhas memórias, nunca encontro o motivo do meu falecimento.
Minha família e amigos devem estar sofrendo por minha partida, logo agora que está acabando o semestre! Puta que pariu!
Devo encontrar uma maneira de voltar para o meu mundo. Viver em um universo medieval não é lá essas coisas. Derrotar dragões? Nah… isso é bastante complicado e perigoso, claro que a maioria dos protagonistas é Overpowered, então derrotar dragões é algo fácil para eles, mas aqui é a vida real! Qualquer deslize poderia terminar com o meu fim, nem mesmo sei se teria outra oportunidade de me reencarnar novamente. Prefiro viver no conforto do meu sofá.
Se eu reencarnasse em uma família rica, meu sofrimento seria amenizado, afinal cresceria em uma vida cheia de privilégios e mordomias.
O pirralho abriu a porta para o quintal. Fiquei cega com a luz repentina no sol, mas quando minha visão foi se acostumando, pude ver o lindo cenário caipiral.
O céu estava limpo com poucas nuvens. Não muito diferente do mundo o qual vim, porém, algo não me parecia certo… What the fuck isso são dois sóis? Não sei muito sobre astronomia, porém sei que um planeta com duas estrelas binárias não deveria abrigar vida, devido à temperatura alta. Embora Tatooine seja um planeta habitável, quem sou eu para dizer como a física funciona.
Legal, de qualquer jeito.
Consegui ver um pouco o que estava à minha volta. O mesmo homem que me deu o nome esquisito — nem mesmo lembro qual era.
Ele estava cortando lenha com um machado; pequenos pedaços de madeiras voavam conforme cortava. Ele parou e apoiou seu cotovelo no cabo do machado e com a outra mão, limpou um pouco de suor que escorria de sua cabeça.
Ele tinha por volta de uns cinquenta anos, havia rugas em sua testa de tanto usar seu cenho. Vestia-se com uma roupa xadrez e um chapéu de palha. Se esse indivíduo vivesse no meu mundo, provavelmente escutaria Tião Carreiro.
Ele percebeu a nossa presença se aproximando. Dando um sorriso ao me ver.
— Nossa Princesinha acordou. — Brincou com as mãos o homem.
Ocê é meu painho? Oh lasqueira que vida boâ!
Ok, parei com essas piadas preconceituosas, nem é mesmo engraçada.
— A mãe disse para mostrar para os outros. — disse o menino. — Ear, vá chamar os outros.
— Sim, capitão.— fez uma continência antes de sair correndo.
Em minha esquerda, vi uma plantação, o qual o pirralho foi em direção. Um menino de cerca de 16 á 18 anos se aproximou. Ele tinha uma pequena cicatriz debaixo do queixo.
— Mais um membro para a família. — disse o menino.
Ele ia me tocar na bochecha, mas o homem não deixou. O menino olhou desconfiado para o homem, até ele responder.
— Se quiser tocá-la, tem que lavar sua mão.
— Por que?
— Só sigo ordens.
O menino riu quando o homem disse: só sigo ordens. Provavelmente sua mulher disse para não me tocar quando está com as mãos sujas. Sensata.
O menino da cicatriz, saltitou até o que parecia ser um poço, lavou as mãos na água fria e voltou até mim.
— Deixa eu mostrar a Matilde para a Bellinxa? Veja, lavei as mãos. — mostrou as mãos recém-lavadas. O homem assentiu silenciosamente, então o menino enxugou suas mãos molhadas na sua roupa. O garoto que estava me segurando entregou sem mesmo hesitação. O menino da cicatriz estava sorrindo estranhamente para mim, até deu um pingo de medo.
Ele me levou até uma pequena plantação, de aproximadamente três metros quadrados. Havia de tudo um pouco; tomate, melancia, abóbora, rabanete, chuchu, berinjela, quiabo, couve-flor…
Ele foi até uma macieira e parou em frente.
— Essa é a Matilde. — disse o garoto. — Olha como a Matilde é linda, cheia de maçãs de alta qualidade… Ah! e aquela ali é a Benedita!
Benedita é uma abobrinha?
O garoto que me segurava, tinha uma personalidade um tanto quanto estranha. Ele normalmente gostava de cuidar da plantação e com o tempo começou a dar nomes às coisas que ele cultivava. Lindovaldo era o quiabo que ele acabou de plantá-lo, ao lado dele tinha a vizinha chuchu Claudenize.
Em que deveria me incomodar? Ele falar com as plantas, além de dar nomes a elas, ou a falta de bom senso em dar esses nomes ridículos?
— Número Quatro, a menina quase nem nasceu direito e já está falando sobre suas plantas. — disse uma voz que eu ainda não conhecia.
— Aquela ali é a Wendy Natany e esse aqui é o Clebeson…
O garoto ignorou completamente o dono dessa voz. Olhei de soslaio para ver quem era, ninguém que eu havia visto antes. Era um menino que parecia ser um vampiro devido seus grandes caninos brancos. Estava-se com uma expressão amedrontadora, por causa que foi ignorado. Era só um pouco mais jovem do que o garoto que nomeava plantas.
— Agora é minha vez!
Foi tudo muito rápido, quando percebi já estava nos braços desse menino.
— Ei eu ainda não terminei de apresentar para todos os meus filhos!
— Quem liga para suas plantas? — fez um gesto infantil de mostrar a língua. Sua atenção voltou-se para mim, ele me levantou para o mais alto que seus braços conseguiram. Ele sorriu mostrando seus dentes afiados. — Prazer em te conhecer, número onze, agora você será minha mais nova assistente!
— Nem — rebateu o menino das plantas —,ela me ajudará na criação dos meus lindos bebezinhos!
Estou lisonjeada por ser tão disputada…
Durante o tempo que esses meninos estavam brigando, ao longe, escutei a voz da mulher. Ela estava chamando a criançada para almoçar. Bem, eu já almocei mais cedo, então não precisarei mais.
Enquanto o menino entregou-me para sua mãe, duas crianças exatamente iguais se aproximaram. Cada um, carregava uma cesta que continha alguns cogumelos suspeitos.
A da esquerda, era uma menina que usava lacinhos em sua cabeça, ela carregava a cesta graciosamente, enquanto seu irmão apenas carregava de qualquer jeito.
Não me diga que esses também são meus irmãos… até agora contabilizei cerca de seis crianças. Minha nossa!
Os gêmeos passaram pela sua mãe, nem mesmo olhou para trás, exceto o menino que fiz atiçar sua curiosidade.
— Ela é a Bellinxa? — perguntou o garoto. A mulher assentiu. — Fofa, não é Grey?
— Não acho. Sou mais bonito do que ela. — falou a menina com desdém.
Estou vendo que essa garota será osso de lidar. Mas fazer o quê? Sempre há uma ovelha negra.
Quando ela terminou de dizer, o irmão dela deu de ombros e seguiu com ela para almoçar. A mulher me levou até o berço o qual o sono veio devido ao tédio de ficar olhando para o teto, por mais de meia hora.
Pensei que tudo fosse um sonho que peguei ao dormir em frente ao meu computador. Uma hora ou outra iria apenas acordar e esquecer desse sonho, seguindo minha vida normalmente. Porém, nunca acordei no meu mundo, mesmo que todas as noites eu chorasse se incessantemente querendo voltar para meus familiares, sempre acordava nesse maldito lugar.
A ideia assustadora de nunca mais ver minha família, era semelhante à perda da morte. Isso me doía profundamente.
Já havia planejado toda a minha vida depois que me formasse, ela andava conforme eu queria, no entanto, tudo mudou em um segundo. Essas pessoas que nem mesmo sei seus nomes, serão minha família a partir de agora, e a antiga? A quem vivia há cerca de 25 anos, irei simplesmente esquecê-los? Impensável!
Quero minha família verdadeira. Quero minha vida verdadeira.
***
Estava parado ali, olhando o vento passado como se não tivesse nada para segurá-lo. A única coisa verdadeiramente livre era o vento, não tinha direções para ir nem mesmo um destino a chegar, apenas ele ia para onde quiser.
Grimm gostava do vento, por gostar de ser livre. Em tardes de sábados ele ficava distraído pensando até onde o vento levaria aquelas folhas. Ninguém conseguia ver o vento, isto por não ter tempo para parar e olhar, porém Grimm, ele tinha todo o tempo do mundo, para ver algo insignificante.
O Vento Norte que estava passando, percebeu Grimm olhando para ele. Algumas pessoas diriam que ele estava olhando para o nada, todavia somente os espertos sabiam que ele estava falando com o vento.
O Vento Norte, se aproximou de Grimm trazendo notícias de lugares remotos, ou até mesmo inabitáveis para os seres humanos.
— Grimm — o Vento soprou em seus ouvidos. —,ela chegou.
Ao terminar de dizer, o Vento Norte continuou seu rumo. Grimm sabia o significado da vinda da menina e sabia que tudo era inevitável. Onde a criança passar, a sombra da morte lhe perseguirá.
Ele olhou para a vastidão do céu, dando um sorriso cativante.
— Nós nos encontraremos novamente. Que tipo de presente você me dará? — perguntou ao céu — É a morte, não é?