Como Sobreviver no Apocalipse Coronado - Capítulo 6
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- Capítulo 6 - Exploração da cidade morta (1)
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Os dias passaram, entre refeições e momentos aconchegantes. Michael estava se soltando e cada vez mais familiarizado com Kay e Ayslan, enquanto que os dois foram cativados pela esperteza, alegria e infantilidade de Michael.
Mas, infelizmente, tudo que é bom não dura muito.
Agora em três, os suprimentos que antes duravam semanas para Kay sozinho, estavam se acabando após cerca de 10 dias. Os dias de paz acabaram e eles precisavam voltar ao modo de sobrevivência.
Encontrando um capacete de futebol americano em um dos quartos, Kay fez Michael usar, e entregou um canivete para o garoto, que aprendeu a estocar e cortar os pontos vitais com a tutela de Kay.
A sua aparência geral era meio cômica, o capacete grande demais ficava folgado e torto na cabecinha de Michael, vestido com uma camisa camuflada do exército que o garoto havia ganho dos pais e um short branco na altura dos joelhos, junto com o tênis de corrida.
— Essa é sua roupa de super herói, gostou? — Lutando para conter o riso, Kay fez uma voz que não soava nada confiável.
— Porra nenhuma, eu tô ridículo, olha isso! — rebateu o garoto fazendo beicinho.
— Melhor ridículo e protegido, do que ser legal e ter sua cabeça arrancada por seu tiozão aqui.
Sem ter como refutar, o garoto conteve a resposta que estava na ponta da língua.
Ayslan riu do diálogo muito “maduro” entre os dois e pegou uma mochila que continha os suprimentos restantes, bem como itens de necessidades básicas e remédios encontrados por todos os APs do sexto andar.
Em suas mãos carregava uma lanterna e a faca amolada por Kay, ele examinou Kay com o canto dos olhos, que usava seu moletom e calça jogger, calçado pelo tênis de corrida e armado com o espeto de churrasco e a outra faca.
— Ok, atenção vocês dois, nós estamos prestes a deixar essa zona segura e provavelmente todos teremos que lutar, alguém pode morrer ou talvez nada aconteça e não encontraremos nenhum zumbi, o que é improvável dada a situação em que estamos.
— Além disso, o radar não é onipotente e se algum zumbi se aproximar enquanto o Michael não estiver com seu radar ativo? Então não fixe suas esperanças apenas na habilidade do Michael — Kay falou solenemente enquanto olhava os dois, mas parecia que ele estava dando um aviso a si mesmo.
Tendo previsto que sairiam em breve e com planos na cabeça, Kay fez Michael usar o radar 2 vezes por dia. Para que pudesse entender o alcance ele realizou experimentos: ele tentou sair da faixa de detecção, depois contou os passos até o garoto que totalizavam cerca de 15 metros.
Portanto nos últimos dias, além de matar o rato com a ajuda de Michael, eles tinham estabelecido 3 andares seguros, sexto, quinto e quarto, e estavam prontos para deixar o apartamento, eles veriam como está a situação fora daqui e com sorte, talvez a polícia ou os bombeiros teriam estabelecido uma base de sobrevivência. Se juntar a uma força era bem melhor do que ficar sozinho, pois eles teriam um local definitivamente seguro e mais força de trabalho.
Nesses dias quando desceram até o quarto andar eles não encontraram nenhum zumbi dentro do alcance e esperavam poder deixar o local sem lutas, mas Kay não era otimista, havia todo tipo de coisas estranhas e se algum infectado conseguisse se camuflar? Sua regra e crença pessoal é: se algo ruim pode acontecer, então vai acontecer.
Abrindo a porta, os três deixaram seu lar temporário. Michael, o único morador original do prédio, olhou para trás, onde estava seu AP e então desviou os olhos com resolução encontrando o olhar de Kay e Ayslan para ele. Sorrindo ele falou:
— Vamos lá.
Ayslan alcançou a mão de Michael e ele fez o que havia praticado ultimamente, ativar o radar em movimento. Fechando os olhos ele se concentrou, no mundo cinza a poeira escura como a noite espiralava em todo o andar e parecia pintar o mundo morto com uma atmosfera bonita, como encontrar a beleza no fim da vida.
— Nada — disse Michael abrindo os olhos e soltando a mão de Ayslan, ele escutou Kay suspirar.
— Vamos. — Por trás deles estava uma cena sangrenta, 6 cadáveres descansavam para sempre, só as portas abertas dos APs ofereciam alguma luz que penetrava as janelas e irradiavam para o corredor que já havia perdido a eletricidade.
Os passos ecoaram passando pelo já explorado quarto andar. Em suas visões estava o “bom samaritano” que havia sido devorado, ele não sobreviveu e só restava seu cadáver ao lado da frigideira que usou naquele dia.
— Ok, deste ponto em diante controlem suas respirações e fiquem pelo menos 3 passos atrás de mim, para que não nos atrapalhemos esbarrando uns nos outros. Preparem as armas. — Tenso, Kay deu a ordem e eles prosseguiram cautelosamente.
O terceiro andar estava como todos os outros, silencioso e sujo de sangue, as paredes eram decoradas com sangue seco, a luz penetrava fracamente do quarto andar para este e dos quatro apartamentos do andar, 2 tinham as portas abertas e 2 fechadas, olhando para Michael, Kay sugeriu que ligasse o radar. Michael fechou os olhos e abriu logo em seguida, balançando a cabeça com um sinal negativo.
Kay entrou no AP mais próximo de porta aberta, olhando ele viu que estava vazio, e com um sinal de mão os 3 se dividiram, pilhando e reunindo as coisas na mochila de Ayslan.
Indo ao segundo AP de porta aberta o chão era pintado de vermelho, e um cadáver meio devorado estava pendurado pelo pescoço.
“Suicídio” pensou Kay. Sabendo que eles veriam esse tipo de cena mais cedo ou mais tarde, Kay não impediu os 2 companheiros de entrar. Eles revistaram, mas não acharam nada útil, talvez esse cara não quisesse enfrentar os infectados por comida, ou estava com fome e desesperado, talvez uma mistura dos dois.
Saindo do AP eles perceberam algo estranho, a porta de um dos 2 APs restantes estava fechada, mas saindo das frestas da porta estava algo.
“Isso é cabelo?” Fios de cabelo preto longo estavam pendurados pelas frestas, igual a como você pode deixar sua mão no caminho ao fechar a porta de um carro e então ficar prensada.
Kay olhou para Michael outra vez, e ele fechou os olhos, porém a mesma resposta veio, um sinal negativo com a cabeça. Com seu coração acelerando Kay encarou a porta e tocou a maçaneta girando-a, ele se afastou e ficou em posição de expectativa afastando a porta com o pé direito, ela rangeu.
Vrrrrrr.
Porém o cabelo que estava preso escorreu e alcançou o chão, com os olhos ele observou das pontas até um pedaço de pele grande com os cabelos saindo dele.
“Isso… o zumbi forçou tanto que o couro cabeludo foi arrancado, o soltando, mas não vi zumbis mulheres além de Milena.”
“!!”
— Para trás, os dois — ele falou sem olhar para trás, nesse momento um vulto se moveu como uma sombra, Kay viu a sombra mudando de direção, e avançando para cima de si, ele desviou para o lado e acabou de ver a situação dos parceiros, Michael caiu de bunda no chão e Ayslan tentava puxar o garoto, a sombra que perdeu Kay os mirava.
— Merda. — Kay avançou rápido e deu um escorão de com o ombro na zumbi, finalmente tendo uma visão dela agora desacelerada, era uma mulher de cabelos negros, porém em sua têmpora havia uma visão nojenta de carne embrulhada, aquele pedaço da cabeça não tinha pele ou cabelo.
— Mãe? — Michael que continuava no chão chamou com a voz trêmula, fazendo o zumbi voltar sua atenção para ele, no entanto Kay empunhou sua faca dessa vez, cortando no braço do zumbi, porém não era o suficiente para decepar o membro.
WRAARR!
Com um som horrível o zumbi atacou ele de volta, seus braços eram como duas lanças, as pontas dos dedos juntas atacando-o velozmente, Kay esquivou do que podia e aparou com o espeto e a faca o que não podia.
— Recomponha-se! — Kay só gritou uma palavra.
O garotinho que estava com o olhar vazio e cheio de lágrimas piscou os olhos, suas bochechas brancas agora estavam molhadas com lágrimas escorrendo, ele mordeu os lábios e pegou o canivete suíço.
Ele atacou pelas costas da sua mãe, cortando inutilmente, pois sua mente não lembrava dos ensinamentos de Kay sobre como brandir sua lâmina, muito menos de respirar corretamente, ele parecia enfurecido, como se atacasse o monstro que fez sua mãe partir.
Prevendo que o garoto não ia sair dessa, Ayslan o agarrou com os dois braços ao redor da cintura e puxou, fazendo as garras da zumbi errarem por pouco o corpo de Michael, e o canivete dele caiu no chão.
Kay aproveitou o momento de distração e enfiou o espeto mirando o pescoço, porém o movimento dela era mais rápido, voltando os olhos para ele depois de errar o ataque, diferente de qualquer zumbi que já tinham visto antes, o ataque que deveria ter finalizado a luta penetrou entre a clavícula e o esterno, atravessando o corpo da sombra que gritou em resposta.
Tendo que soltar a melhor arma que ficou presa no corpo da zumbi, Kay fez o melhor para esquivar o contra-ataque, mas tropeçou por ter dado um passo largo demais e pisado muito diagonalmente, caindo no chão Kay encarou a sombra que vinha finalizá-lo.
Michael que se acalmou, desatou o capacete e atirou em direção à cabeça da sombra com toda a força, e aproveitando a pausa nos movimentos da sombra, Kay bolou no chão, esquivando as garras que atingiam sua posição anterior.
Ayslan já havia jogado sua faca deslizando no chão na direção do seu rolamento bem aos pés de Kay. Agora equipado com as duas facas de novo, Kay ficou de pé com um kick up enquanto a sombra se ajustava e seus olhos refletiam a mulher deformada e com sangue escorrendo dos lábios.
Disparando na direção dele, a zumbi, que era muito mais veloz do que ele, estava com vantagem, sendo assim Kay deixou-a se aproximar e se tornou passivo, recebendo golpes de garra com as facas, felizmente a sombra não tinha muito senso de autopreservação, e na troca de ataques ela foi perdendo sangue, cortes se acumularam devagar e sua velocidade foi caindo.
Kay mirou em seu coração e estocou, e com o pé direito deu um chute frontal na bainha da faca, que atravessou inteiro o corpo da sombra e caiu do outro lado, a zumbi com um buraco no peito deu vários passos para trás, mas não foi derrubada.
Ela mirou em Kay, lutando até a morte, ele esfaqueou com o braço esquerdo o plexo solar bem ao lado do buraco, e girou o corpo dando uma cotovelada com o braço direito de cima para baixo no queixo da sombra, que finalmente desabou no chão.
Com o rosto avermelhado, Kay repousou suas mãos nos joelhos, com sua respiração irregular. Ele virou e viu os 2 companheiros olhando para si, vendo eles estavam sem sinais de ferimentos, ele suspirou aliviado.
— Michael, você…
— Me desculpa, eu perdi a compostura, mesmo você falando para sempre manter a calma e confiar nos comandos do líder, eu… — Quando Kay foi falar com o garoto, ele foi interrompido, Michael apertava as mãos em punhos cerrados e mordia os lábios, desviando o olhar de sua direção.
— Garoto idiota, eu não te culpo, nunca esperei que você fosse ser perfeito, nenhum de nós aqui é, o que eu quero dizer é, essa pessoa era sua mãe?
— Uhum, no dia em que tudo começou, presenciamos 2 lutas antes de voltarmos para casa.
— Na primeira um cara se transformou no meio da calçada e atacou as pessoas, depois de conseguirem matar ele, algumas pessoas que foram mordidas e evacuaram junto conosco também se transformaram, mas como acompanhamos o processo de perto, a mãe percebeu que estava para se transformar e ela saiu do AP sozinha, me impediu de segui-la, e falou com um sorriso: Você vai viver uma vida linda, querido…
Michael parou sua contagem quando foi abraçado de repente, Kay o segurou firme. —Não consigo respirar, tio…
— Escuta aqui Michael, sua família pode não estar mais contigo, mas nós estamos, você ouviu? Você vai viver uma bela vida com sua nova família.
Os olhinhos de Michael que controlava suas emoções voláteis desabou, ele começou a chorar. —Por que? Por que…? Por que ele deixou a gente? Por que ela foi embora? Por que isso aconteceu conosco?
Kay recebeu os socos de fúria do garoto no seu peito, não afrouxando o abraço em nenhum momento, os socos foram ficando mais fracos, assim como a voz que questionava.