Como Sobreviver no Apocalipse Coronado - Capítulo 7
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- Capítulo 7 - Exploração da cidade morta (2)
07 de setembro de 2023 – 15:01 PM
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Confortando Michael que havia se tornado silencioso, Kay sentiu uma mistura complexa de sentimentos, ele conseguia se ver refletido na figura do garoto, era como ele mesmo aos 11 anos, quando o divorcio dos seus pais o abalou e entristeceu, em comparação, Michael passou por algo bem pior, mas ele ainda sorria e era tão forte que o deixava sem palavras.
Entretanto era justamente por ele ser tão forte que tornava Kay ainda mais triste, pois mesmo a pedra mais dura acaba se partindo se for atingida repetidamente, ele sentiu que deveria ensinar a importância de abrir seu coração com frequência para que ele nunca sentisse que está sozinho.
— Vamos verificar os apartamentos restantes, pegar o que for útil e investigar por que a mãe do Michael era diferente dos outros infectados.
— Kay segurou firme a mão de Michael e entrou no AP de onde a Sombra saiu.
Além de sangue densamente espalhado no chão e dos móveis esparsamente derrubados, havia dois zumbis com os cérebros abertos e espalhados no chão.
Virando para Ayslan, Kay perguntou: —Você acha que a Sombra fez isso? Canibalismo, eu digo.
— Muito provavelmente, isso também significa que os zumbis se tornam mais poderosos, não, eles se tornam mutantes quando são submetidos a cometer canibalismo.
— Kay, eu quero investigar os cadáveres aqui, entender mais sobre isso vai ser útil.
Kay concordou com a sugestão sem perguntar quanto tempo levaria, eles revistaram os APs restantes e juntaram a Sombra e os outros 2 zumbis devorados por ela naquele AP, Ayslan ficou lá realizando experimentos.
Verificando os sinais de decomposição, coloração da pele, atividade celular, e a autofagia, que era o que ele suspeitava que ativava o mecanismo canibal na sombra.
Enquanto Ayslan estava absorto nos experimentos, Kay e Michael continuaram sua busca nos andares inferiores, mas só acharam zumbis mortos, e alguns poucos suprimentos, a conjectura de Kay era de que a Sombra devorou todos os zumbis.
De volta ao terceiro andar, além do “laboratório temporário” de Ayslan, eles também pegaram o AP mais limpo e descansaram lá. Enquanto preparava o jantar, Kay deu uma tarefa para Michael. — Traga o trabalhador modelo com você para comer.
Ayslan que finalmente percebeu sua própria fome quando Michael falou que o jantar estava pronto, interrompeu os experimentos e se higienizou antes de seguir o garoto.
Eles sentaram os 3 na mesa, o humor de Michael ainda era meio sombrio, mas estava melhorando, quando Ayslan zombou da comida de Kay, arrancou umas boas risadas dele.
Pela noite Kay fez questão de dormir com Michael, porém acordou várias vezes com os pesadelos de Michael, ele assistia seu rosto pálido e o abraçava até ele adormecer novamente.
Desde que o apocalipse começou, seu sono se tornou leve, qualquer barulho ou ruído o despertava, isso fez horrores para si nos primeiros dias, mas agora já se acostumou, e até achava melhor assim.
A noite passou assim, até que na tarde do dia seguinte Ayslan voltou e disse que fez o que podia sem equipamentos adequados, reunindo os companheiros ele relatou os resultados.
— Primeiro, todos os zumbis estão bem vivos, são quase iguais aos humanos, exceto que eles são guiados de forma estranha à somente reagir à instintos básicos, como comer. Quando estão extremamente famintos o cérebro ativa o modo canibal e eles consomem outros infectados, como foi o caso da sombra, ainda não sabemos se essa é a única variação de mutação possível, mas pode muito bem ser.
Com os movimentos rápidos e sua capacidade de se esconder até do radar de Michael, Kay apelidou a mutação como sombra.
— E a propósito, a hora da morte deles não corresponde à da infecção, como já era esperado, e sim após morrerem em forma zumbi. A decomposição era quase nula, e talvez retardada, principalmente na sombra.
Kay interrompeu: — Se eles são seres vivos então morrer de hemorragia é possível, nada daquilo dos filmes era verdade, se bem que eu já suspeitava depois de matar tantos haha.
— Você conseguiu descobrir que tipo de doença é essa? E o que havia de diferente na sombra e nos outros?
— Sim, eles todos morreram de coronavírus, eu também achei difícil de acreditar, essa doença pode muito bem ser uma nova mutação, já ocorreu antes, não me surpreende, só não entendo o mecanismo por trás, eu acho que sem equipamentos adequados é impossível ter mais resultados.
— Entretanto não vi diferença entre a sombra e os outros, todos iguais, ao menos macroscopicamente falando, não vejo a hora de conseguir pôr as mãos num microscópio.
Kay começou a ponderar sobre a situação, Ayslan é um não-combatente e Michael ainda é uma criança, não importa se você coloca uma arma na mão dele, isso não apaga o fato de que ele não é suficientemente capaz de lutar.
— Se Ayslan conseguir descobrir algo importante sobre o vírus, talvez possamos criar um antídoto ou reagente que impeça a proliferação. Uma vacina é sinceramente impossível nesse mundo colapsado, talvez os ricaços consigam projetar uma, mas quanto demoraria?
Pensando profundamente, Kay sentia que os próximos passos eram basicamente explorar a situação aqui no centro da cidade e achar uma oportunidade de se esgueirar para as áreas periféricas, onde seria mais seguro e com menos zumbis.
— Se realmente encontrarmos outros sobreviventes podemos dar uma mão, porém o mais importante é descobrir se a polícia ou os bombeiros estabeleceram uma base de sobrevivência, depois disso seria fácil entrar e conseguir melhores armas e ter um lugar seguro para desenvolver o local em um forte.
Decidindo-se, ele virou para os companheiros e discutiu suas ideias, tomando a escolha de sair antes de anoitecer, encontrar um lugar para passar a noite e continuar investigando o centro pela manhã.
Tomando a porta da frente, os três estavam equipados da mesma forma que antes, o sol forte iluminava a rua, na entrada havia uma grande chacina, vários pedaços humanos em decomposição eram fracamente discerníveis e, após Ayslan descobrir que o vírus zumbi pode ser o corona, os três colocaram máscaras, que facilmente poderiam ser encontradas em qualquer casa, o que ajudava de forma mínima a reduzir o fedor e também pode ajudar de alguma forma a não serem infectados, como dizem, é melhor tarde do que nunca.
Kay e os dois organizaram-se em uma formação de triângulo, sendo cada um responsável por um campo de visão, o líder olharia para frente, e os outros dois devem olhar as diagonais direita e esquerda respectivamente, essa seria a formação em terrenos abertos como o que estão agora.
A rua estava como tudo nesse mundo, silenciosa, desolada e fétida, como se o único evento que ocorresse no mundo inteiro fosse a decomposição, se alguém lhes contasse que o próprio mundo havia morrido, não duvidariam disso.
Carros parados, alguns em ferragens depois de acidentes, estavam por toda a rua, os prédios e lojas nas direita e esquerda da rua estavam vazios, Michael já estava ativando sua habilidade por alguns instantes sempre que andavam por 15 metros, desligando logo em seguida.
Se houvesse algo a se prestar atenção ele tocaria o braço de Kay, se o perigo fosse próximo, ele daria um beliscão, se estivessem cercados ele se posicionaria entre Kay e Ayslan, em uma posição de dar suporte a ambos e ser protegido.
Tendo notado um zumbi solitário, Michael tocou o braço de Kay brevemente; em resposta, Kay, que já havia notado o zumbi, o olhou de volta como se perguntasse: — Tem só um?
Michael fez com o dedo o número 1; os três voltaram a atenção para o zumbi que estava andando sem rumo no meio da estrada. Ele vinha na direção deles, então os três se esconderam por trás de ferragens de um acidente de carro e esperaram, Michael seria o único a dar o sinal de ataque.
No mundo cinza, o zumbi cambaleava fracamente, um passo, dois… quinze passos depois, Michael se levantou da posição agachada abrindo os olhos e os outros se dividiram, Ayslan e Michael pela direita do carro e Kay sozinho pela esquerda.
Com Kay tomando a dianteira, o zumbi finalmente reagiu, correndo em sua direção, em resposta, Kay se abaixou e deu uma rasteira, o zumbi caiu de cara no chão e foi finalizado por Michael que vinha por trás, usando o canivete e acertando bem na têmpora do zumbi.
Elogiando Michael silenciosamente com o polegar para cima, eles voltaram à exploração.
“Parece que existem poucos zumbis nessa rua, os zumbis podem ter se reunido onde muitas pessoas estavam quando tudo começou, portanto, a coisa mais importante a se conquistar hoje é delimitar onde estão as zonas proibidas com muitos zumbis, para evitar a todo custo essas áreas.”
— Kay, existem 2 zumbis naquela oficina mecânica, vamos até lá ou rodeamos? — abaixando a voz, Michael expressou a situação.
Kay pensou que eles podem muito bem encontrar mais zumbis a frente, e se os deixar aqui, eles podem vir e cercá-los, portanto, não era uma boa ideia só evitar.
— Matamos — respondeu Kay de forma concisa liderando até o local.
A oficina estava com a porta escancarada, mas pelo lado de fora não conseguia-se identificar onde os zumbis estavam, dentro haviam 3 carros que estavam sendo consertados, com algumas ferramentas espalhadas no chão. Respirando fundo, Kay olhou para Michael que começou a guiar.
Felizmente os 2 infectados estavam distantes um do outro, isso daria uma chance de matarem um instantaneamente o cercando, e depois atacar o outro em pinça ou em um ataque rápido.
As respirações abafadas soavam enquanto eles andavam, Ayslan — que vinha pela parte de trás do grupo — sem querer esbarrou sua mochila em uma caixa de ferramentas.
Bang!!
Wraaar
O barulho foi seguido por dois rugidos dos zumbis, Kay assumiu a liderança e avançou contra um e comandou: — Peguem o outro juntos.
Virando a faca numa pegada reversa, Kay correu enquanto mantinha os olhos no zumbi, ele fez uma pausa repentina no impulso e girou 360º dando um chute no meio dos peitos do zumbi, que voou 2 metros e acertou um dos carros, porém um acidente ocorreu e o alarme do carro disparou — Droga.
Apressado, Kay correu até o zumbi caído e chutou a cara do zumbi que o tentava morder.
Finalizando com o espeto na cabeça dele, Kay virou para ajudar os 2 companheiros.
“A situação está sob controle, o problema é que esse alarme vai atrair muitos zumbis.”
— Kay! Tem 4 vindo pela entrada lateral e 2 pela frente, deixa esse conosco, lute na lateral que é estreita, nós conseguimos dar conta desses 2 da entrada da frente. — Michael, que estava muito mais composto do que durante sua primeira batalha, direcionou Kay, estabelecendo uma formação ao mesmo tempo.
Kay respondeu com um sorriso: — Boa!
Se dirigindo pela lateral Kay avistou os zumbis correndo, um deles usava a farda do supermercado próximo daqui, onde seu irmão trabalha.
Com o canto dos olhos Kay viu uma ferramenta comprida, um pé-de-cabra, ele pensou internamente: isso vai servir para iniciar o ataque de médio alcance e antes que os zumbis o cerquem dá para matar um ou dois.
Sem desviar de seu caminho ele puxou com uma mão o pé-de-cabra da caixa de ferramentas, e colocou o espeto de churrasco no passante de sua calça, segurando firme com as duas mãos, ele exerceu força, o pé-de-cabra passou direto pela cabeça do zumbi na frente quase sem resistência, cortando a metade direita da metade esquerda da cabeça, o zumbi caindo no chão, tudo isso ocorreu em um momento.
Nesse momento os dois infectados mais próximos passaram por cima do cadáver e o atacaram da direita e da esquerda, o tempo parecia desacelerar enquanto ele observava suas faces se contorcendo enquanto suas bocas se abriam quase deslocando os maxilares.
Tomando uma respiração profunda, Kay apertou a empunhadura no pé-de-cabra e realizou um golpe de baixo para cima como uma tacada de golfe, exceto que o que foi acertado era o rosto do zumbi, estourando sua cabeça, sangue respingou para todas as partes.
Soltando o pé-de-cabra profundamente penetrado na cabeça do alvo, ele virou o olhar para o zumbi quase em seu corpo e soltando o ar ele desferiu um gancho no queixo dele, o que fez com que o maxilar fechasse e cortasse a língua a deixando meio pendurada.
Com a cabeça desorientada, o zumbi caiu para trás jorrando um jato de sangue e sendo pisoteado pelo último dos quatro, enquanto puxava o espeto de sua calça para finalizar seus oponentes Kay escutou um grito.
— Ahhh, Michael!
Na entrada principal, Kay viu 5 zumbis, tendo cercado os dois e um deles puxando a blusa de Michael, sentindo-se tonto Kay começou a correr em disparada, mas eles estavam todos longe, longe demais para que ele pudesse salvá-los.
Seus olhos se avermelharam, como se os vasos sanguíneos de seu globo ocular fosse saltar das órbitas, ele sentia raiva, medo, angústia e sede de sangue.
— Solte, filho da puta! — Ayslan desistiu de sua segurança e esfaqueou o zumbi puxando Michael, porém isso o deixou com as costas expostas.
Kay só podia assistir como tudo ocorria, sua mente ficou vazia, a força quase vazando de seu corpo, em seus pensamentos o grito: “matar!” se repetia, dessa vez ele não permitiria que seus amigos morressem, não como Milena, que morreu sem que ele pudesse fazer nada.
O zumbi quase mordendo Ayslan virou abruptamente e atacou outros dois zumbis, segurando-os por preciosos segundos. Kay já havia posicionado o espeto de churrasco em posição de arremesso, sentindo os músculos flexionarem, ele afrouxou o aperto do espeto que voava em parábola apenas para atingir o zumbi livre restante, trespassando o rosto do zumbi.
Continuando em sua corrida ele sacou a faca e observou, dessa vez ele sentia mais forte, aquela sensação de ter um membro extra, que cresceu durante a noite, mas parecia que estava lá por toda sua vida.
O zumbi careca segurou com a mão a boca de um dos zumbis, puxando sua bochecha por dentro da boca, e o outro ele puxou pela roupa e mordeu o pescoço profundamente; os dois lutavam de volta e o atacavam, mas ele ignorou seus oponentes se debatendo, e apertou com ainda mais força, de seus braços o sangue podia ser visto coagulando, como se seus vasos tivessem se rompido do esforço.
Kay podia sentir isso, uma extensão de seus pensamentos se reproduzia em ações, não de seu corpo, mas no de outra pessoa, como uma marionete que era ligada por fios, o zumbi era ligado pelos pensamentos dele.
Ayslan que resgatou com sucesso Michael e matou o zumbi, assistiu a cena atrás de si atônito; Kay correndo para eles empunhando sua faca, com 2 zumbis em seu encalço e os 3 zumbis que o cercavam lutando uns contra os outros.
Não foi até que Kay os alcançou que o zumbi sendo mordido no pescoço desabou, e o outro zumbi finalmente havia comido os dedos do zumbi careca que seguravam sua boca. Livre outra vez, ele parecia indeciso sobre atacar o par de criança e adulto ou o infectado à sua frente, nesse momento de indecisão Kay esfaqueou suas costas, todo o caminho até o coração, o zumbi parecia confuso até o momento em que caiu de cara no chão.
— Kay, atrás de você. — Ayslan puxou Michael do chão e olhou para o zumbi careca que estava lado a lado com Kay.
Sem respondê-lo, Kay encarou os dois zumbis correndo enquanto o careca disparava em direção a eles, colocando seu corpo no caminho da corrida, exceto que ele parecia um ser humano, os movimentos monótonos e instintivos haviam sido substituídos por calculados e executados sistematicamente.
Os zumbis que corriam foram todos atirados no chão por seu ex-companheiro, Kay puxou o espeto que havia arremessado e caminhou devagar, enquanto se dirigia para um dos zumbis, o que havia perdido a língua momentos atrás, e perfurou sua boca até a nuca.
Nesses poucos momentos, o careca já havia ceifado o último zumbi, com um rosto inexpressivo Kay perfurou a cabeça careca de sua marionete que caiu, como um boneco sem as linhas que o sustentavam.