Conflagratus: Dever e Direito - 2
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- 2 - Capítulo 2 - Há vezes em que algo acontece por pura coincidência, há vezes em que há motivos - parte 2
Luz, calor, Sol. É a primavera. Sinto os raios solares, que passam pelas copas das árvores, atingirem a minha pele, a aquecer-me. Estamos em uma primavera tardia, então o verão já começa a dar as suas caras no clima.
Não me incomoda, pelo contrário, eu diria que é bem agradável. Cavalgar numa floresta tranquilamente… a ser abençoado pelo Sol, a ser abençoado pela natureza. Isso tudo me é agradável. Paisagens bucólicas são as que mais acalmam um pobre coração agitado.
«Coração agitado»? Sim, meu coração está agitado. E também é claro, toda essa sensação agradável não me faz esquecer o que eu acabei de viver.
E por ser bem sincero, COMO EU PODERIA ESQUECER? Eu estou realmente surpreso com tudo que há pouco eu testemunhei, meu coração parece querer pular pela a minha boca.
Parece algum tipo de intervenção divina, uma mensagem dos céus, sabes? Aquele momento em que a luz ilumina a exata parte do livro que te dá a resposta para todos os problemas da tua vida!
Ou quando essa mesma luz esclarecedora se narra como o heraldo do apocalipse e apenas, gentilmente apenas, termina de desandar a tua própria vida… Mas por que pensar que é este o caso? Vamos ser positivos!
Ser positivos? Positivo?! Oras! Quem eu quero enganar, aquilo só pode ser uma intervenção divina… ao contrário. Talvez os deuses de cima estejam a dizer-me algo. Só que uma intervenção demoníaca é o mais provável e apropriado para a situação, a ser sincero.
Afinal… Por que neste mundo verde e azul haveria QUIMERAS em um território civilizado há séculos? Território dos Conflagratus, território da minha família!
Eu fui até a capital para pegar alguma missão aleatória para fazer-me ter o tempo como morto, contudo não queria, e muito menos esperava, ter a possibilidade da agrura de matar o meu tempo!
— Argh… Eu acho que nunca mais irei roubar missões de aventureiros iniciantes…
E quando eu paro a pensar sobre: tudo faz menos sentido ainda. Como eu disse há pouco, nós estamos na primavera. Uma gentil e bela primavera. Se a explicação para aquilo é o movimento migratório padrão de animais então eu digo que é ainda muito cedo para elas migrarem atrás de comidas.
Vou apenas assumir que aquilo foi um evento raro, é o melhor a fazer-se nessa situação. Evento BEM raro, não é?
Bom, eu gosto de dizer que tudo nesta vida existe e há por motivos. Deve haver um motivo de eu tê-las visto, mesmo que eu não saiba ainda agora a porcaria do motivo de haver quimeras por perto.
— E eu não quero ouvir ninguém dizer que o motivo delas estarem ali era comer a minha carne! Sem tempero?! Aposto que o gosto seria horrível! — e não é como se com tempero ao preparo eu fosse aprovar essa receita macabra…
Mas, devo dizer… o Collegium Audacis ficar-se-á deleitado em saber que uma simples missão de reconhecimento e coleta de recursos acabou por transformar-se em algo de proporções grotescas. Uma intervenção para um extermínio dos monstros será necessária, eu tenho certeza disso.
Eu não gostaria, todavia, terei que ir para a capital novamente antes do esperado para reportar tal infortúnio, afinal, essa é a minha obrigaç-
Espera, espera, espera aí só um pouquinho. Estou a lembrar-me dalgo agora… Sinto que era importante, não era? Deixa-me ver, se eu não me engano era…
Era… sobre terminar de ler algum livro importante? Não, não, fiz isso semana passada. Era… sobre ajudar alguma das minhas irmãs com magia? Não. Elas são burras. Não adianta ensiná-las. Então só pode ser…
«Aurelius, depois vai ao meu bureau. Quero falar contigo sobre algo importante.»
— Ah — recordo-me e puxo o cabresto de meu cavalo a fazê-lo parar.
É mesmo, meu pai queria falar algo comigo. Pelo tom dele era algo realmente sério, ele foi todo misterioso e formal, então acho que por essa única informação eu consigo deduzir o motivo da necessidade de conversarmos.
Eu sou o último filho da casa, contudo às vezes eu acho que tenho mais responsabilidades a cumprir do que os primeiros…
— Deixar um velho rabugento a esperar nunca é uma boa ideia, não é? Cavalo — acaricio a crina macia do meu cavalo ao dizer — Ainda mais quando tal velho é o teu próprio progenitor.
Ao ouvir meu comentário, o meu cavalo, que tem como prestigioso nome «Cavalo», relincha e começa a direcionar-se de volta para casa. É infantil dizer que eu sinto que este cavalo me entendeu neste momento? Até mesmo mudou de direção, oras.
E, bem, essa é a vida. Às vezes arranjamos problemas por tentar distrair-se um pouco, outras vezes arranjamos problemas por esquecer-se dos próprios problemas. De qualquer forma, isso é tudo algo bem problemático.
Porquanto isso que eu aprecio sair de casa, olhar este céu azul infinito que cobre a minha cabeça, as folhas mais que verdes que produzem um mar campestre onde quer que eu passe.
O som dos animais, ou até mesmo dos pequenos monstros, que vivem suas vidas despreocupadamente… Tudo isso me relaxa nesta vida tão corrida. Como eu te amo, natureza. Nunca mude.
— Ah… Que inveja! — estico as minhas mãos para cima, isso relaxa um pouco meus músculos.
E assim continuo o meu caminho na estrada de barro. Sozinho, a não ser pela companhia do meu cavalo malhado: o Cavalo.
Ou também pelos olhos dos deuses que nos observam todos os dias. A procurar saber o que seus frutos e caprichos fazem com a vida de pobres mortais como nós.
Tudo nesta vida acontece por motivos…